quinta-feira, janeiro 31, 2008

1054.ª etapa

UM EXEMPLO, DOIS EXEMPLOS…
CHEGA!... QUEREMOS MUDAR!


Não sei o que os diários desportivos vão escrever amanhã sobre isto – se é que vão escrever alguma coisa –, muito menos o que, pelo menos um generalista que tem vindo a destacar-se pelas gloriosas traduções que faz de tudo o que na imprensa estrangeira sai sobre Corredores dopados, mas tenho, eu, aqui - e terão tido mais dois ou três jornalistas da nossa praça - uma das mais bonitas notícias relativas ao Ciclismo que se nos deparou nos últimos tempos.

Decididos a sair para a estrada e confrontados com a falta de um indispensável segundo patrocinador, o staff da Extremadura-Grupo Gallardo (detentor da marca Spiuk), avançaram como rosto de uma cooperativa que, no entanto, engloba todos os profissionais da equipa.


A Junta da Extremadura cumpre a sua promessa de dar 600 mil euros para que a equipa seja Continental Profissional – o mesmo nível do Benfica – e, no seu total, o conjunto da equipa empenha os restantes 200 mil euros necessários para a saída da equipa.

Isto é, abdicarão, individualmente e no colectivo, de vencimentos e prémios até que se chegue àquela verba. Só a partir dela começarão a ganhar para eles.

É uma loucura?
Não!
É uma quase inacreditável demonstração de vontade, de amor à modalidade.

Claro que, se não fosse assim, quase mais de duas dezenas de pessoas ficavam sem emprego.
Mas quando parece que toda a gente olha para o Ciclismo quase como a fonte de todos os males do desporto, é bom saber que ainda há quem não se importe de pagar para trabalhar.

E com todas as exigências – que são do conhecimento público – que a UCI põe às equipas ProTour e Continentais Profissionais… digam-me, acham que estes homens estão habituados a fazer batota e põem assim o seu único meio de sustento em jogo?

Lamentável, isso sim, é ler que o presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo - para todos os efeitos, toda e qualquer decisão emanada da federação sai com a sua chancela, incluindo a aceitação dos plantéis das equipas inscritas (porque não impediu a sua inscrição?!!!) - acha que é mau para o Ciclismo Português a presença de tantos corredores espanhóis alegadamente ligados à “múmia” – o que é senão isso? - Operação Puerto.

Está na hora, doutor Artur Lopes, de aproveitar o lugar que atempadamente garantiu na superior estrutura da UCI e deixar a Federação Portuguesa de Ciclismo entregue a quem tiver mais tempo e vontade para a ela se dedicar.
Digo-o eu. E sempre fomos amigos.
E não vejo na minha opinião motivo para deixarmos de o ser.

Mas doutor, acredito piamente que é importante a sua presença na Comissão Executiva da UCI, contudo, está na hora de dar o lugar a outro na Direcção da FPC.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

1053.ª etapa

MAS… NÃO PERCEBEM MESMO, OU QUEREM
FAZER DE MIM COMPLETAMENTE PARVO?

Fico, confesso, pasmo perante algumas demonstrações de uma mui pouca modesta ostentação de pseudo idoneidade e de um quase ridículo auto-convencimento assumido por alguns como se só eles fossem donos da inteligência.

Consultando o sítio oficial da Federação Portuguesa de Ciclismo – de onde, com a devida vénia, retiro a foto junto – fiquei ontem à noite a saber o texto do acordo celebrado entre todas as partes interessadas no que respeita à luta, no pelotão português, contra o flagelo do doping.

Que não é a mesma coisa do que a luta contra o flagelo do doping no pelotão português, como, espero eu, todos entenderão.

Quem me conhece – e fico na dúvida se as reacções que recebi foram de alguém que me conhece – saberá com certeza que (talvez seja defeito…) cultivo um certo humor negro, não raro brincando com situações nas quais eu nem sequer me saio tão bem assim. É uma arma. Uma vingançazinha contra as agruras da vida…
É o humor alentejano.

Os britânicos também têm uma forma muito deles de brincarem com algumas situações…

Passei meio-dia no Hospital, como era preciso fazer testes clínicos, só bebi água até ter chegado a casa, já depois das 22 horas. Andar de transporte público é complicado, ainda por cima se for necessário usar vários.

Depois de comer qualquer coisinha, de arrumar as coisas, de estruturar o como e quando ia conseguir, hoje, cumprir tudo o que tinha para fazer, incluindo mais testes médicos, naquela hora de esquecer tudo, de tentar arejar a cabeça – e também porque sabia, porque os serviços da FPC me fizeram chegar atempadamente o anúncio da Conferência de Imprensa de ontem – fui à procura da informação.




Que encontrei, o que aplaudo pois nem sempre o sítio da FPC disponibiliza assim, em tão curto tempo, informações importantes.

Passei os olhos de revés pelo texto do acordo e achei piada àquela parte que foquei na 1052.ª etapa. Reconheçam, os fiéis à boa vontade, que há ali uma discrepância, mas aquilo não foi mais do que um mero exercício de escape. Uma brincadeira…

Ok, sem eufemismos, brincadeira, brincadeira não terá sido, mas também não era para merecer as duras críticas como as que fizeram o favor de me endereçar.

Primeiro, porque menosprezaram a minha inteligência.
EU SABIA que o que ontem ia acontecer era uma Conferência de Imprensa na qual seria divulgada uma decisão, naturalmente já tomada, em devido tempo.
Usei mal a expressão “foi aprovado um documento”.

Usei. Mea culpa!

Mas é tão óbvio que uma decisão destas – e eu sei-o bem, muito bem – foi objecto de apuradas e mais ou menos longas discussões envolvendo todas as partes que pensei que aquele textinho fosse lido na perspectiva em que o escrevi.

Era uma blague… uma inocente provocaçãozinha!
Era! Confesso...

É claro – acho eu - que este acordo foi subscrito em tempo útil de forma a que o seu texto não mereça qualquer reparo. Nem eu o faria.
Glosei aquela pontinha deixada de fora. Só isso!
Caramba!... Criei assim tantos anti-corpos desde que tenho o blog?


Mas quem é que se acha ameaçado com as minhas opiniões aqui, num sitiozinho recôndito na Internet?

Explico o texto da 1052.ª etapa.
Eu sabia que o acordo estava feito; sabia que todas as partes o aceitavam e, ao lê-lo, achei piada – só isso, piada – ao destempo da Conferência de Imprensa. Mas quem é que desconhece que eu… conheço estes desencontros?

Caramba!, acontecem tantas vezes…

Resumindo, e deixando, em definitivo, a 1052.ª etapa para trás: percebi o acordo, percebi o desfasamento, mas, num momento que – foi-o, para mim – de descompressão, num dia bastante problemático, escrevi pensando que qualquer pessoa de bem perceberia a ironia.
E ninguém o negará.


O acordo existia, mas só ontem foi tornado público.
E no seu texto reporta-nos para uma data bem anterior.
O que é caricato, mas não passaria de um fait-divers.
Se calhar não é mesmo, eu é que me estou a chatear com quem não merece o mínimo de importância…

Reentrando nos carris: ainda bem que foi possível chegar-se a um acordo que, parece-me, agrada a todas as partes. Porque eu quero e defendo um Ciclismo desportivamente honesto. Claro que quero. Alguém duvidará disso?
E foi com esse espírito que ontem à noite escrevi aquele texto.

Mas atenção! Desde há quase 2000 anos que repetimos uma mesma frase que tem uma profundidade significativa.
Cito: À mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer

E este acordo agora tornado público não é – não é, não – perfeito.

E isso sim, a mim preocupa-me, no seguimento de outras situações já vividas.
zonas cinzentas, buracos na malha
É como todas as Leis.
Os mais humildes (eu chamo-lhes parvos, se me permitem isso, garantindo que não é no sentido mais depreciativo do termo), podem ver tolhidas futuras decisões em relação aos seus plantéis.

No inverso, os mais… espertos (e aqui não retiro um átomo da carga que a palavra acarreta), até podem vir retirar proveitos desta Lei.

Vou deixar em aberto o desafio aos companheiros no activo.

Há fragilidades na Lei e, se ninguém as perceber – ou quiser perceber – cumprindo religiosamente a Lei vai ser possível… contorná-la.
Eu vou estar de sentinela!...

1052.ª etapa

EU NÃO QUERO SER MUITO CHATO,
SEI QUE SOU, MAS TAMBÉM... ASSIM FICA DIFÍCIL!

Ontem, dia 29 de Janeiro, dois dias antes do final do mês - os meses dividem-se em duas quinzenas e (quem havia de desconfiar de uma coisas destas?) a primeira acaba no dia 15 !... - foi aprovado um documento que diz a dado passo, e cito:

[ipsis verbis]
- Obrigatoriedade de todos os corredores das Equipas Continentais portuguesas realizarem os exames analíticos abaixo referidos nas datas devidamente mencionadas:

1.º Exame Anual (a realizar na 1.ª quinzena de Janeiro...)

No comments!
Mas começou bem...

segunda-feira, janeiro 28, 2008

1051.ª etapa

SEI QUE DE POUCO VOS VALE,
MAS TÊM A MINHA SOLIDARIEDADE


Já ia fechar a loja por hoje – amanhã tenho Hospital outra vez! – quando na habitual ronda de fecho, assim ao estilo de guarda-portões, deparo com uma entrevista ao Pedro Costa, a primeira feita a um corredor que fica desempregado.

Quando consigo ter os neurónios todos alinhadinhos – e muitas vezes não estão – sou capaz de concordar que me excedo um pouco, deixando que o coração se sobreponha à razão. Serei penalizado por isso? Talvez… Mas está escrito, está escrito.
Assumo a responsabilidade.

Um homem é um homem, mesmo que tenha sempre a opção de se travestir em barata, que não tem sangue.
Se o meu, às vezes fala mais alto… responderei por isso.
Como um homem.

Porquê esta lenga-lenga toda?
Porque, se queremos ajudar o Ciclismo temos de tentar fazer alguma coisa por ele.

Se temos amigos no Ciclismo e temos como dar-lhes voz, é incompreensível que todos metam as penas na gaveta.
Se uma equipa acabou de um dia para o outro, isso é notícia.
Porque é que não foi contada… isso já não sei.

Valha-nos, neste caso, o exemplo de um jovem que, creio, não tem 18 anos ainda.
O Rui Quinta, que criou e gere o sítio Ciclismo Digital.

Sem estar a dever nada ao Ciclismo, foi o primeiro a perceber que aquele grupo de homens que formava a equipa Vitória-ASC merecia que lhes dessem voz.

Escolheu um Corredor. O Pedro Costa, no caso.
Sei que não vale de nada, mas todos os membros da ASC merecem a minha solidariedade.

Para os profissionais ainda está em aberto a sugestão de tentarem saber toda a história. Ouvindo o José Augusto Silva e o director do Vitória de Guimarães que decidiu acabar com a equipa.

Não sem antes ter “despedido” o Zé Augusto colocando outro Director-desportivo no seu lugar. Doze horas antes de acabar com a equipa. Isto eu contei aqui... Mas todos se marimbaram!...

Enquanto ninguém se chega à frente, a vantagem está do lado do Rui Quinta.

Leiam aqui.

1050.ª etapa

VUELTA A SAN LUÍS (ARGENTINA)
GARRIDO LÍDER DO PRINCÍPIO AO FIM

Martín Garrido, da Palmeiras Resort-Tavira, sagrou-se ontem vencedor da II Vuelta a San Luís, disputado na Argentina, o seu país natal, ao terminar a última etapa na 19.ª posição, e assegurar uma vantagem na classificação geral de 1.06 minutos sobre o nosso conhecido - já venceu um GP Joaquim Agostinho, ao serviço do Paredes - Gerardo Fernandez (San Luís/Argentina).

Garrido, natural de Córdoba, consegue assim, aos 33 anos, a vitória mais importante da sua carreira, ao serviço do Clube de Ciclismo de Tavira, onde corre desde 2005. Isto depois de o ano passado ter feito quase meia Volta a Portugal de Amarelo.

Martín Garrido não podia estar mais satisfeito com este grande triunfo no seu palmarés: “Esta vitória é a mais alta da minha carreira. Eu queria ganhar esta grande prova e esta é uma boa forma de começar a temporada. Para mim tem um valor incrível já que ganhar aqui é uma satisfação, mas para isso trabalho. O meu próximo objectivo é estar nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008”.

Numa etapa bastante movimentada e com bastantes alterações na frente da corrida, fruto dos constantes grupos que se formavam, Vidal Fitas, Director-desportivo da Palmeiras Resort-Tavira, assegura que “a equipa conseguiu sempre gerir a vantagem que possuía sem nunca colocar em perigo a liderança da corrida. Na parte final e com o interesse das equipas dos sprinters veio a verificar-se uma chegada em pelotão. Este é um triunfo bastante importante, naquela que é considerada como a melhor corrida de ciclismo do continente americano, já que nos permite alcançar prestígio a nível internacional, pois é muito difícil vencer competições deste nível”.


Texto (editado) do GI da equipa; foto do sítio oficial da corrida


PS: Foi também a primeira vitória de uma equipa do Clube de Ciclismo de Tavira, após a morte do seu grande mentor, o engenheiro Brito da Mana. Mesmo que o tenham esquecido, eu não me esqueci e, onde quer que esteja, sei que ele ter-se-á sentido feliz. Um até sempre caro Engenheiro. Amigo Brito da Mana.

1049.ª etapa

É BOM VÊ-LO CRESCER ASSIM, SUSTENTADO

Só hoje me chegou o n.º 13 do Jornal Ciclismo. Não é uma queixa, como o Zé Carlos sabe, semanalmente venho a informá-lo do atraso com o único intuito de que assim possam remediar o problema.
Quem sabe, aquela tua ideia, Zé Carlos, de enviar os jornais de uma Estação Central, no Porto?
Mas o que interessa é que o Jornal nos chega.

Estão certos em “fechá-lo” à 3.ª-feira, porque, logo que comecem as corridas ainda irão a tempo de dar os resultados e fazer os comentários às do fim-de-semana mais próximo. Impresso às 4.ª-feiras, se for possível encaminhá-lo logo na 5.ª e garantindo um tratamento “expresso” – tipo “correio-azul” – devia chegar a Lisboa às 6.ª-feiras. O que seria óptimo. Mas como o Zé Carlos me contou, estão a estudar tudo isto. Não é por nada, é que chegando o Jornal aos seus assinantes à 6.ª-feira… tínhamos o fim-de-semana para o ler e reler.

Em relação à história do José Bento Pessoa, devo dizer que, provavelmente por haver menos documentação, conseguiu-se em dois números (não me digam que ainda vai haver um terceiro!!!) o objectivo que, acho eu, devia comandar esta rubrica: despertar nos leitores do Jornal Ciclismo o interesse em, por eles próprios, procurarem saber mais.

Fui crítico em relação ao trabalho sobre o Joaquim Agostinho mas creio que me perceberam.
Primeiro… como falar do Joaquim Agostinho senão num livro onde, aí sim, se pode ser exaustivo e romanesco, ao mesmo tempo.
E só não gostei mesmo – e disso dei aqui nota – do primeiro, porque, provavelmente por falta de aviso – e por isso eu não levo a mal – parecia que se estava a escrever uma história original do Campeão de Brejenjas quando se estavam a coligir informações sustentadas em várias outras publicações e um jornal não pode deixar de dizer que foi beber esta ou aquela informação aqui ou ali, até porque há uma coisa que se chama… direitos de autor.
Rapidamente isso foi emendado. Ainda bem. E não está mais aqui quem criticou.
A segunda crítica – e esta (pelo menos visto daqui, como leitor) não a atribuí ao colega jornalista que assinava o texto, tendo mesmo tentado adivinhar que fora ele o mais prejudicado.
É que, confessemos, contar metade da história do Agostinho em seis páginas, e a segunda metade em… meia-página, foi feio.
Mas já passou.

Só voltei ao assunto para reforçar que o trabalho sobre o José Bento Pessoa está bem mais airoso, no sentido de equilibrado no seu todo.
Quem se interessou, pode agora, por conta própria, continuar a investigar a história desse que foi, de facto, o primeiro grande Campeão português na Velocipedia.

Devia, na minha modesta opinião, continuar o Jornal assim no tratamento das próximas figuras. Recordar aos mais velhos – ou estudiosos – e apresentar aos mais novos, as grandes figuras que marcaram o nosso Ciclismo.
Aliás, permitam-me uma sugestão. Não é preciso ser-se cronológico.

O próximo número do Jornal Ciclismo vai quase coincidir com a Volta ao Algarve. Avance-se com um nome algarvio… Que acham?

Não é obrigação do Jornal contar a história do Ciclismo – por exemplo, o jornalista que assumiu essa tarefa, ele sim, pode até aproveitar as consultas que tem de fazer para preparar um outro trabalho, esse sim, histórico e cronológico do nosso Ciclismo.
O Fernando Emílio é capaz.

(Eu sei que ele está zangado comigo, mas era só o que faltava eu fazer birrinha e não lhe reconhecer as qualidades que tem; como espero que ele, mesmo zangado comigo, não desdenhe as minhas qualidades…)

Quanto ao resto do Jornal, é claro que gostei.
Eu sei que ao Zé Carlos o irritam estas minhas crónicas.
E sei porquê. Sente-se escrutinado. Mas é só a minha opinião… e paro quando um de vocês os dois me disser para estar quieto e meter-me na minha vida.

Finalizo com a entrevista ao Delmino Pereira.
Antes disso volto 17 anos atrás… DEZASSETE!... Tinham vocês quantos anos? Dez? Por aí…

O presidente da FPC era o Henrique Castro mas, por impossibilidade deste, quando fui à Rua Barros Queiroz, ali entre a Praça da Figueira e o Martim Moniz, para fazer um trabalho para A Capital acabei por marcar a entrevista com Alves Barbosa que era o Director-técnico nacional.
“Sou o único profissional no Ciclismo português!”, disse-me ele. Nunca mais me esqueci.
E, a dado momento da entrevista, no acanhado cubículo que era o principal gabinete da então sede da UVP-FPC, disse-me ainda outra coisa que nunca mais esqueci: “O futuro do Ciclismo está no BTT.”

Podem procurar em qualquer hemeroteca a colecção de A Capital de 2001.

Dezassete anos depois ainda se busca a melhor maneira de enquadrar a variante no seio da FPC. Esperemos que seja desta.


Nota final: Compreendo o incómodo confessado pelo Zé Carlos Gomes. Já lho disse, a minha única intenção sempre foi a de tentar contribuir para a melhoria do vosso projecto, mas se fui, ou estou a ser incómodo… paro por aqui os meus comentários ao Jornal Ciclismo.

domingo, janeiro 27, 2008

1048.ª etapa

SOMOS O QUE PENSAMOS,
NÃO AQUILO QUE PENSAMOS QUE SOMOS

António Dias (CycloLusitano) - Declarações de um corredor ProTour a propósito das novas medidas anti-doping lançadas esta época, nomeadamente o passaporte biológico:
"São mais ferramentas na luta contra o doping. Não são um constrangimento. Pouco importam as vezes que nos teremos de submeter a controlos sanguíneos. Pouca importa os horários e dias em que devemos estar presentes em casa ou noutro sítio qualquer, disponíveis para as autoridades de controlo. Um trabalhador na sua fábrica tem um horário a respeitar e contas a prestar ao seu empregador. Porque não o deve fazer um ciclista ou um desportista?
Para quem defende o habitual discurso de lamentações de alguma classe de ciclistas, aqui está uma boa resposta."

X X X X X X X

Paulão (CycloLusitano) - Imagina a seguinte situação:
Hoje que é domingo estás em casa descansadinho com a tua esposa, amanhã até só trabalhas na parte de tarde e lembras-te de ir ver a neve à Serra da Estrela. Chegas lá, divertes-te e decides ir jantar ao Museu do Pão e como o jantar estava delicioso, já tarde quando acabas e não queres fazer a viagem de regresso a essa hora (até porque bebeste um copito a mais) preferes ficar a dormir no Camelo e regressares a Lisboa amanhã de manhã depois se um bom pequeno-almoço e chegando a Lisboa só lá para as 12:00.
Se te apetecer fazer isso, podes, certo?
Legalmente ninguém te pode impedir, correcto?
Agora a mesmíssima situação só que em vez de trabalhares num escritório és corredor profissional e logo á noite aparece-te em casa um controlo surpresa e como não estás és considerado dopado.
Penso que me fiz entender, certo?
Nem antes do 25 de Abril (segundo ouço dizer) havia limitação de circulação dentro de Portugal, porque será que querem tornar "reclusos" os corredores?
Porque é que não penalizam os responsáveis das equipas (director desportivo e/ou médico) quando um corredor é apanhado?Bem, eu já não acredito no Pai Natal e penso que vocês também não...Mas por acaso acreditam que os corredores que foram apanhados fizeram o que fizeram só por sua iniciativa?
É obvio que não tenho como provar por “a+b = c” esta minha última questão, mas ainda vou tendo o direito de opinião…
Mas vamos aguardar para ver o que vai ser dito na conferência de imprensa que está agendada salvo erro para esta semana sobre o tema.
Bem sei que o título deste sub-fórum é "Ciclismo Internacional" mas quem ler isto vai sempre fazer a comparação ao Ciclismo Nacional, mas por favor, deixem de bater nos corredores que este ano só ficaram sem emprego cerca quarenta corredores e dos que conseguiram contrato muito provavelmente alguns (muitos) nem as condições mínimas financeiras contratuais irão receber.

x x x x x x x

António Dias (CycloLusitano) - Estás a misturar alhos com bugalhos... Uma coisa são os procedimentos normais, outra são abusos que por vezes se têm verificado, caso do caricato controlo antes do jogo da bola dos ciclistas. Sim senhor, aí houve claramente abuso. Mas não confundamos situações... Quem quer cumprir não inventa desculpas, o resto é conversa.... desculpa a frontalidade.
Eu sou pela responsabilidade individual, se uma pessoa faz algo, ainda que constrangida por outros para o fazer, dispondo sempre do livre arbítrio para decidir, tem que assumir a responsabilidade pelos seus actos.
E se a culpa não é só sua que acuse quem de direito.
Caso contrário, isto é uma selva onde ninguém se entende.
Paulão, como é que tu podes penalizar o director desportivo, à luz dos regulamentos, por um seu corredor ter tido um controlo positivo? A menos que o corredor diga alguma coisa em sua defesa e que responsabilize o seu director (não é nos jornais, é junto das autoridades competentes), nada poderá ser feito. Se faz e cala, cala-se para sempre.

x x x x x x

Paulão (CycloLusitano) - Eu sou pela responsabilidade individual, se uma pessoa faz algo, ainda que constrangida por outros para o fazer, dispondo sempre do livre arbítrio para decidir, tem que assumir a responsabilidade pelos seus actos.

António, em que mundo é que vives?
Mas sinceramente, pensava que com a tua paixão assim como o conhecimento pessoal que tens com alguns corredores que terias um pouco mais de conhecimento da realidade do ciclismo.
Mas por favor, deixem de crucificar os corredores, pois se há alguns que são batoteiros a esmagadora maioria não o é.
Quanto aos regulamentos eles todos os anos sofrem modificações, pelo que seria muito fácil prever essa situação.
Mas fiquei contente com o que li no Jornal de Ciclismo em que a Policia Judiciária está já a investigar as presumíveis redes de doping.
Mas tudo bem, tu já mostraste o teu ponto de vista, ou seja, os Corredores são os únicos culpados e eu o meu em que tenho a certeza absoluta que eles não são os únicos culpados não passando pois de meros instrumentos, pelo que podemos dar por encerrado o tema (obviamente que poderá haver excepções muito pontuais).
Mas vá lá que admites que possam ser constrangidos por outros para o fazer e muito sinceramente que na tua actividade profissional quando for constrangido a fazer algo de menos licito te possas negar a faze-lo.
Dou-te um exemplo de uma atitude menos licita na minha actividade profissional, ou seja, tenho um cliente que me pergunta qual a taxa de juro que eu lhe dou num deposito a prazo por exemplo a 90 dias, ao qual eu por exemplo lhe respondo 8% e não lhe explico que a taxa é para um período de uma ano assim como também lhe omito que sobre os juros lhe irão ser deduzidos 20% de IRS (a não ser que ele o pergunte directamente).

o - o - o - o - o - o - o

Ora bem… [agora sou EU] cá estou eu a perverter o que alguns acham ser a suprema verdade. E faço-o com especial gozo, porque – permitam-me o pequeno pecado do orgulho – leio ali sinais de irritante facciosismo.

Refiro-me ao post do António Dias.
Primeiro… porque omite ele o nomo do Corredor?
Se, de facto, alguém afirmou aquilo, há-de ter dito o seu nome.
Há opções. O departamento de Relações Públicas de uma qualquer equipa ter posto na rede de notícias declarações inventadas...

Ou um corredor ter sido obrigado a dizer o politicamente correcto.
Mas aqui onde é que está o nome do Corredor?
E como é que o António, uma pessoa que todos temos como inteligente, lê que… UM CORREDOR afirmou, e para ele isso bastar?
Quem foi o Corredor?
E em que circunstâncias disse isso que ele – António Dias – diz que ele disse?

Perdoem-me o que disto puder ser tido como sobranceiro… Mas o António Dias, enquanto responsável pelo Fórum do CicloLusitano (eu sei que ele diz que já não é… mas foi), permitiu que semi-analfabetos dissessem (escrevessem) as maiores barbaridades e foi lesto, não uma, não duas, mas três vezes em banir-me daquele espaço.

Até pode ser que o António Dias esteja convencido que sabe mais de Ciclismo do que eu.
Não é o único. Mas se o sítio nem era dele – mesmo que fosse responsável pelo Fórum – que se assente que me baniu a mim.
O único que contrariava, com argumentos sustentáveis, as suas teorias de amador.

E, cito a citação do António Dias:
“Um trabalhador na sua fábrica tem um horário a respeitar e contas a prestar ao seu empregador. Porque não o deve fazer um ciclista ou um desportista?"

O António Dias deveria ter percebido duas coisas. A primeira, está certo que um trabalhador na sua fábrica tem um horário a respeitar… agora que o António Dias diga com TODAS AS LETRAS, que o horário de trabalho de um Corredor Profissional começa às 00.00 horas e termina às 24.00… Explique então o A. Dias onde foi buscar a excepção, em relação aos Corredores que, segundo o António Dias, estarão 24 horas por dia de serviço?
A gente às vezes escreve coisas mesmo tontas, não é António?
Como continuo a achar que deve ser um rapaz porreiro, ainda bem – digo eu – que o ridículo não mata!

Cito de novo o angélico Dias:
“Para quem defende o habitual discurso de lamentações de alguma classe de ciclistas, aqui está uma boa resposta.”

Pois é… alguma classe de ciclistas… mas isto é o quê?
O que queres dizer António?
Classe dos Corredores – de uma vez por todas, ciclista é um andador de bicicleta; Corredor é um profissional do Ciclismo e eu acho que é destes que pretendes falar.

Mas como não sei exactamente, não comento agora.
Enquanto o A. Dias não explicar se estamos a falar de andadores de bicicleta ou de profissionais de ciclismo.

Depois vem o ajuizado comentário do Paulo Sousa [Paulão] e o A. Dias volta à carga com esta:
“Estás a misturar alhos com bugalhos... Uma coisa são os procedimentos normais, outra são abusos que por vezes se têm verificado, caso do caricato controlo antes do jogo da bola dos ciclistas. Sim senhor, aí houve claramente abuso. Mas não confundamos situações... Quem quer cumprir não inventa desculpas, o resto é conversa.... desculpa a frontalidade.”

Nem um argumento sustentável em frase tão bonita.

O que são, afinal os procedimentos normais?
Ir, inopinadamente à procura dos Corredores é normal!
Então esse controlo no tal jogo de futebol entre amigos cabe perfeitamente no regulamento.
É ridículo, é chato, é passível de o transformarmos em anedota… mas encaixa nos procedimentos normais.
Houve abuso porquê?
E, nota, EU FUI O PRIMEIRO A DENUNCIAR O CASO – só muito depois alguns jornais pegaram no assunto – mas não disse que era ilegal.
Só que tinha sido de mau gosto.
Não houve abuso.
Foi um controlo inopinado, feito onde o Corredor em questão foi encontrado.
Como mandam os regulamentos.
A. Dias… NÃO SABES OS REGULAMENTOS.

Eu critiquei – e reforço aqui a minha crítica – porque acho desproporcionado o afã persecutórios aos Corredores.
Mas o Corredor em causa – cujo nome não fui eu quem divulgou embora o soubesse desde o primeiro momento – podia, não fora o caso de estar num encontro de amigos – e a alguns (bons quilómetros de casa) ter sido controlado exactamente à mesma hora, no regresso de um treino de estrada. Não havia “caso” aí.
O problema do A. Dias – e de muitos mais – é que não sabendo os regulamentos se perdem algures entre o que eles julgam que eles são e o que eles são de facto.

Mandava o bom senso que, na dúvida – para não falar na ignorância – se mantivessem calados. Mas o desejo de um protagonismo que não justificam e que, mesmo que o justificassem, não mereciam, fala mais alto.

Toda a gente quer botar discurso.
E diz as maiores baboseiras, algumas tão emoooormes que gente como eu até custa a acreditar…

Outra citação do “honnoris causa” em termos de Ciclismo:
“Paulão, como é que tu podes penalizar o director desportivo, à luz dos regulamentos…”
Vergonha!
Distracção ou então… Má fé!
A verdade é que os ACTUAIS REGULAMENTOS – mentira!, os de 2006 já assim o ditavam! - prevêem a responsabilização dos DD no caso de não serem localizados, após as primeiras 48 horas de busca, os seus corredores. [Ver em www.uvp-fpc.pt].

Porque é que o Sapateiro insiste em ir além da Chinela?
Que ao menos tenha a hombridade de confessar que não sabe mais que… um tipo que se deu ao trabalho de ler os Regulamentos.
E ele não os leu porque não quis.

António!... Estás OUT.

1047.ª etapa

JOÃO LAGOS É UM PERSONAGEM ÚNICO

A ÚNICA, revista que semanalmente acompanha o jornal Expresso, oferece-nos esta semana uma longa entrevista com João Lagos.
O motivo é, naturalmente, ainda a anulação da edição deste ano do Dakar mas estende-se o trabalho pelas diversas outras organizações em que a Lagos Premium Events se desmultiplica.

O curioso é que eu, coleccionador militante de recortes de jornais, acho que apenas tenho guardada uma outra grande entrevista a este homem que personifica, em Portugal e sem sombra para dúvidas, o Desporto promovido a partir de uma entidade privada.
Têm como objectivo o lucro? Claro que sim.
Estamos a falar de uma entidade privada.
Mas quem lhe negará o papel de enorme destaque que tem em vários campos do Desporto profissional, do ténis – claro -, ao golfe, do desporto automóvel ao Ciclismo...

O que me impressiona é a sua coragem e isso ficou bem claro agora, com a anulação do Dakar.
O Raid automóvel foi suspenso por razões (que agora acho) mal explicadas e João Lagos – ele não se chocará se tiver acesso a estas palavras -, tem a coragem de dizer com as letrinhas todas: “Posso fazer o Dakar sozinho” – o título do trabalho jornalístico do Expresso, assinado pela colega Alexandra Simões de Abreu e se estende por seis páginas da revista ÚNICA.

Como há uma mão cheia de anos, teve a coragem – ou visão? – de responder afirmativamente ao apelo – desesperado, é verdade – desse outro grande homem, este do Ciclismo e que a memória colectiva parece querer esquecer, que foi Francisco Nunes quando a PAD agoniava e muita gente já se dispunha a festejar antecipadamente a sua morte para o que apenas faltava… desligar a máquina.

Onde todos viam um buraco sem saída, João Lagos viu mais uma oportunidade de se afirmar como o grande – o único – empresário português capaz de fazer dinheiro. Arriscando muito. É verdade.

Aliás… a decisão da ASO deixou-o a arder com 6 milhões de euros…
Não é brincadeira.

Mas volto atrás.
Impressiona-me, para a além da sua coragem, como já referi, a simplicidade como encara qualquer adversidade.

Para ele tudo parece ser simples.
Propõe-se a fazer algo – há-de, com certeza, pensar duas ou três vezes – mas decide rápido (é esse o seu segredo) e chega sempre à mesma conclusão: basta trabalhar (muito, às vezes), mas trabalhando consegue o que quer.

Ok… soube, ao longo dos anos, rodear-se de executivos que cumprem religiosamente as suas indicações. Mas isso é mais um ponto a seu favor.
Ao que acrescento algo que a maioria não se terá ainda dado conta: a sua simplicidade, como homem.

Quando de cada uma das edições anuais do Estoril Open, em ténis, ou do Troféu de Portugal e também, claro, da Volta a Portugal em bicicleta, é evidente que todos os OCS fazem uma pequena peça com o patrão João Lagos…
O que eu escrevi logo no início é que conheço muito poucas, pouquíssimas entrevistas que revelem um pouco do João Lagos, homem.

Tem apenas o antigo 5.º ano do Liceu mas a coragem de “ameaçar” a poderosíssima ASO de que é capaz de fazer o relevo em relação à empresa francesa e assumir por sua conta e risco o Dakar.
Faz bluff?
Não creio!
Não mais do que aquele que qualquer homem de negócios fará sempre em circunstâncias especiais.

Já tive oportunidade de falar duas ou três vezes com ele, sempre informalmente.
Nunca o entrevistei.
E dele tenho a imagem de um homem simples que se distingue dos outros exactamente pela tal coragem que tem demonstrado em aceitar desafios que poucos outros teriam aceitado.
Aliás… dêem-me outros exemplos semelhantes.
Não se preocupem.
Eu também não encontro.

Mas ao ler entrevistas, como esta, da ÚNICA, cresce em mim a admiração por este homem.
Posso estar enganado, claro, mas das duas ou três conversas que tivemos em particular – embora todas em eventos públicos – e daquilo que acho perceber nas entrelinhas das tais poucas entrevistas de fundo que li com ele, parece-me ser um homem que não terá o mínimo problema em ir ali à tasca da esquina beber uma mini e comer um prato de caracóis.
Embora a imagem que dele fazem se encaixe melhor na tulipa de champanhe caro e acepipe a condizer.

Provavelmente sente-se à vontade tanto numa como noutra das situações, o que faz ser mais especial ainda.

Tiro daqui o meu chapéu a este homem que contraria o cinzentismo institucionalizado a nível nacional.

No Ciclismo – que é o que justifica este artigo aqui – da Volta a Portugal (e obrigações inerentes e consagradas no pacote posto à venda pela FPC), rapidamente alargou a sua presença – ou a da sua empresa – a mais duas ou três provas e é neste momento o maior organizador do calendário nacional…

Para além da extraordinária visão – mais uma – de impulsionar, ele próprio, o regresso dos Três Grandes ao pelotão nacional.
Desafio apenas assumido pelo Benfica.
Mas sabem uma coisa?
Acho que ele não desistirá e voltará a insistir.
Quando Sporting e FC Porto voltarem ao pelotão nacional, aí vai ser mais fácil convencer a televisão a tratar melhor o Ciclismo.

Com mais directos, claro. Talvez não de três horas – como a RTP faz com a Volta – mas sabem quem era o director de programas de RTP até há bem pouco tempo?
Sabem para onde ele foi?

A Volta, creio não estar enganado, é da RTP ainda por mais alguns anos…
Mas as transmissões, em directo, nem que seja da última meia hora - com mais meia hora de entrevistas e rescaldo - das voltas ao Algarve, Alentejo, Troféu Joaquim Agostinho, Volta ao Distrito de Santarém ou Grande Prémio de Paredes não têm dono.

Às três e meia ou quatro da tarde os três canais a transmitirem em aberto estão a passar programas com estruturas quase milimetricamente iguais…
Oferecer uma alternativa aos espectadores – vejam as audiências e o share que a RTP consegue em Agosto com a Volta – ainda por cima com a possibilidade de entrar num mercado publicitário bastante direccionado é ou não um desafio para as outras duas estações?

Mas quem sou eu para sugerir seja o que for à João Lagos Sports?
Sei que estou a ser insolente…
Mas faço-o por amor ao Ciclismo.

Pode ser que alguém leia isto...

sábado, janeiro 26, 2008

1046.ª etapa

ÉPOCA 2008 – LUTA ANTI-DOPING

A Direcção da UVP/FPC em conjunto com a ANECP (Associação Nacional de Equipas Continentais Portuguesas), a APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais), o Representante dos Organizadores de Corridas, e o Representante das Associações Regionais irão promover uma Conferência de Imprensa sob o tema “Época 2008 – Luta Anti-doping”, a realizar no próximo dia 29 de Janeiro, às 17 horas, na sede da UVP/FPC.

1045.ª etapa

POR ALGUMA RAZÃO
ERA CONHECIDA COMO ... A "BIBLIA"

Sou do tempo - enquanto leitor - em que ouvia dizer que, se vem n'A BOLA é porque é verdade.

Eram os leitores quem o dizia, até porque não acredito que homens com a estatura dos que então faziam o Jornal tivessem qualquer necessidade de se auto-elogiarem. O povo é que dizia. Naquela casa sabelo-iam e teriam um justificado orgulho nisso. E todos os dias - duas, primeiro, três vezes por semana, depois, faziam por justificar o reconhecimento dos seus leitores.

É grande, em todos os sentidos, a História de A BOLA.

Leio-a desde os meus dez anos. Não vale a pena tentar explicar o que senti no primeiro dia em que, como enviado ao Algarve, escrevi a minha primeira notícia n'A BOLA. E como me senti no dia seguite, bem cedinho pela manhã, quando saí em busca do primeiro quiosque para comprar o primeiro número onde vinha impresso o meu nome.
Concretizara-se um sonho que jamais ousara sonhar.

Contavam comigo - e por isso me foram buscar a A CAPITAL - para reconquistar algum espaço perdido para a concorrência no que respeita ao Ciclismo. Não me pediram o impossível, só perguntaram se estava disposto a dar o melhor de mim. Não me lembro que resposta terei dado, mas nos anos seguintes recuperámos o estatuto do "desportivo" que maior cobertura fazia do Ciclismo. Sempre na esteira a que eu próprio me propusera. O diz-se-que-se-diz não servia. Ou era, ou não era, e se saía n'A BOLA... era verdade. Estava certo.

Numa curva do destino vi-me ausente da redacção que sempre fiz questão de honrar.
Ausência que ainda dura e me perturba e me angustia. Cada dia mais.

Assisto, agora de fora - outra vez apenas como leitor -, a exercícios despidos daquele velho espírito que era "marca" de A BOLA. E, na maioria das vezes, pergunto-me porquê? Porque não mais um pouco de paciência, de forma a que se perpectue o "se vem n'A BOLA é verdade"?

Sempre ouvi dizer que custa tanto fazer bem feito como ser trapalhão...
Então porque é que se é trapalhão?
Acho que é algo que tem a ver com a forma de estar. E pode-se fingir que se está não estando. O contrário é "vestir a camisola", a sério, e suá-la. É viver o Jornal com paixão. É assumi-lo como uma extensão de nós próprios. Confundir-mo-nos com ele. E nunca, mas nunca, permitir que a tal máxima do "se vem n'A BOLA é verdade, está certo..." se perca.
Porque É ISSO A BOLA.

É ser o primeiro a chegar e o último a sair.
É confirmar, por todos os meios possíveis, que jamais alguém terá, seja o que fôr, a apontar ao nosso trabalho.
E há coisas que, de tão simples confirmação, me magoam a sério ver... aldrabadas.
É falta de cuidado. São as pressas.
É, muitas vezes, uma exagerada confiança, como se alguém estivesse, por obra e graça do Espirito Santo, a salvo de cometer erros primários.

Acreditem ou não, A BOLA mantém ainda um significativo número de leitores que vêm quase desde a sua fundação. Eu conheço alguns. Talvez por isso sinta uma responsabilidade acrescida. Talvez por isso, e embora completamente adaptado ao funcionamento da "máquina" raro era o dia em que não sentia sobre os ombros o peso de estar a fazer A BOLA, que não é, nunca será, um Jornal qualquer.

Sempre que preparava um trabalho especial, daqueles que não é apenas consumível no dia em que o jornal sai mas que sei, muita gente guarda para ir consultando ao longo de toda uma temporada, mais cuidado tinha.

A informação tinha, obrigatoriamente, que ser fiável, acima de qualquer reparo, exactamente para que o leitor - que guarda na memória o tal... "se vem n'A BOLA é verdade, está certo" - não perca a confiança no Jornal.

Sai erro. Até se pode emendar numa "breve" nos dias seguintes, mas o documento que o leitor guarda fica irremediavelmente ferido de inexactidão. Sempre foi o meu maior pesadelo. Porque as pessoas sabem tanto ou mais do que nós. E detectam os erros. Ainda por cima, se forem erros primários. Dos tais que um poucochinho mais de paciência, mais um telefonema ou - e esta é uma ferramenta nova que temos à nossa disposição - mais uma confirmação no sítio certo da Internet... -, só mais um bocadinho de trabalho, e não acontecia o erro.
E não estou a falar de gralhas, mas de ERROS.

É esta a lista das equipas portuguesas inscritas na União Ciclista Internacional, com os Códigos certos...

quinta-feira, janeiro 24, 2008

1044.ª etapa

THE WORLD IS A FOOTBALL

Os cotas, assim da minha idade, ainda hão-de lembrar-se de uma canção que, não tendo sido nenhum êxito retumbante, ainda assim passou vezes suficientes na Rádio, nos anos 80 do Século passado, para eu ainda me lembrar dela.

É a que empresta o nome ao título desta crónica e da letra só me lembro dos dois primeiros versos: "The World is a Football, that goes round and round…”

Nascido – na sua versão moderna, porque a sua história multiplica-se em teorias que chegam à China antiga – nas Ilhas Britânicas, o futebol começou por ser um desporto de e para as elites. E foi ainda com este estatuto que chegou a Portugal, trazida por jovens herdeiros de algumas das principais fortunas nacionais que foram mandados para Inglaterra para fazerem os seus cursos superiores e no regresso traziam a ideia e a paixão por esse jogo de cavalheiros.

Foram os filhos das melhores famílias portuguesas que fundaram os principais clubes.

Ou então… cidadãos britânicos residentes em Portugal.

No Porto, foram os britânicos residentes quem fundou o Boavista; logo os filhos da aristocracia local criou o Football Club – sem “e” – do Porto.
O Sporting nasceu sob a protecção do Visconde de Alvalade…

No entanto, rapidamente o novo jogo se propalou e, irremediavelmente, chegou às ruas.

Aos pobres. Ao proletariado.
Equipas como o Grupo Desportivo da CUF (Companhia União Fabril, propriedade dos fundadores do, mais tarde, poderosíssimo Grupo Mello), rasgaram novas fronteiras.


A luta pelo mercado – logo, a necessidade de grande publicidade – não existia, mas era bem uma grande empresa mostrar serviço social.

E a equipa de futebol não era mais do que isso.
Mas os exemplos são muitos, contudo, não é exactamente de futebol que aqui quero falar.


E acredito que, chegados aqui, todos vocês se estarão a perguntar… mas onde é que ele [eu] quer chegar com isto?

Pela expressão que conseguiu, com a abrangência – vai de milionários clubes nas mais diversas ligas profissionais (onde se pagam ordenados completamente ofensivos, em termos sociais), até às minúsculas e puramente populares colectividades onde ainda se joga pelo gosto de jogar – que tem e, principalmente, pela forma como as superiores entidades que o regem, o futebol é hoje um verdadeiro Mundo à parte da realidade social.
Que se dá ao luxo de ignorar, ou mesmo atropelar, as Leis gerais de qualquer país.

A Lei portuguesa proíbe – ou condiciona fortemente - a publicidade ao álcool.

Às bebidas alcoólicas.

E chegamos ao Ciclismo.

Independentemente da história que ainda não se pode contar – como em qualquer outra actividade, também nós, Jornalistas, nos obrigamos a um determinado período de nojo porque não é nosso papel fazer de polícia ou inspector – ainda todos estarão lembrados do abandono da Porta da Ravessa.

Porque, de facto, a legislação portuguesa não permite – ou condiciona fortemente – a publicidade às bebidas alcoólicas.

De uma assentada, e dou só dois exemplos – honestamente… são aqueles que agora me lembro – desapareceram do pelotão internacional a portuguesa a Porta da Ravessa e a italiana Vini Caldirola.

O fim da equipa Cantanhede-Marquês de Marialva (a marca de um vinho da Adega Cooperativa daquela cidade) começou a traçar-se com a incompatibilidade do patrocinador, à luz da Lei vigente.

Sem o mínimo receio de cair no ridículo, diria que o Ciclismo foi, uma vez mais, descriminado.

Porquê? Porque, por exemplo, a principal Selecção Nacional de futebol há anos que é patrocinada por uma marca de cerveja… com álcool.

O ano passado, a mesma marca estendeu-se ao Ciclismo, mas publicitando a versão Zero álcool da mesma marca.

Querem que seja honesto?
Eu sou.

Imaginem que é proibido fazer publicidade ao Vinho Tinto de uma marca que agora mesmo vou inventar: Baco!
Ao tinto.
Mas o Baco branco não tem problemas.
A marca está lá… Percebem?

Longe de mim, no entanto, o querer penalizar a tal marca que, no Ciclismo – por força da Lei – publicita a sua versão Zero álcool.

Mas voltemos um poucochinho atrás.
A mesma marca, com a versão mais comum, patrocina há anos a principal Selecção Nacional de futebol e vai, a partir do ano que vem, patrocinar – dando-lhe mesmo o nome – a primeira Liga do futebol profissional.

Aliás, e não acredito que isso não tenha pesado na decisão, já temos, neste momento, uma competição de futebol suportada por uma outra marca de cerveja, sem que tenha sido necessário recorrer ao subterfúgio da... versão Zero.

Porque é que o Futebol pode fazer publicidade a bebidas alcoólicas e o Ciclismo não?

Porque é que um dos mais famosos festivais de música que se realizam no nosso país leva o nome de uma outra marca de cerveja, ainda por cima tendo em conta que o público-alvo são os adolescentes e pré-adolescentes?

Mas a incongruência é ainda maior se tivermos em conta que uma das corridas internacionais do calendário português – voltei ao Ciclismo, é evidente – tem como patrocinador institucional o… Vinhos do Ribatejo.

E quando o Licor Beirão é (ou já foi) sponsor da Volta a Portugal…

O futebol é, de facto, poderoso.


Tão poderoso que se permite contestar uma decisão do CNAD (vocês sabem do que estou a falar…)
E o Ciclismo é, nestes casos, amorfo.

E de quem é a culpa?

(Um dia destes hei-de contar-vos a história, verdadeira, da “aventura” que foi a participação do Sporting-Raposeira - já era interdita a publicidade a bebidas alcoólicas no ciclismo - na edição de 1994 do Tour de França.)

1043.ª etapa

MARTIN GARRIDO LÍDER NA ARGENTINA

O argentino Martin Garrido, da portuguesa Palmeiras Resort-Tavira, lidera a Volta ao Estado de San Luís - Argentina - após o segundo dia de corrida.

Martin Garrido, reconhecido especialista, tanto no contra-relógio como nas chegadas massivas para discutir ao sprint, fez valer essas suas qualidades, primeiro no prólogo, depois na primeira etapa, ontem disputada, e vai liderando uma das principais corridas do seu país, com reflexos colaterais capitalizados pela formação de Tavira, liderada por Vidal Fitas que começa a ser um caso sério na América do Sul.

Embora a Argentina não seja, exactamente, um país onde haja muitos portugueses, o impacto não deixa de ser importante pois estamos a falar de uma das principais corridas do calendário do Circuito sul-americano da UCI.

1042.ª etapa

QUEM POR CÁ ANDA PELA
"COISA" E NÃO PELA "CAUSA"

Estive há pouco a falar com um dos muito amigos que fiz no Ciclismo.
Está destroçado. Sente-se traído e abandonado. Ainda não percebeu o que lhe aconteceu. Balança entre o deixar tudo… e o ficar e provar que não era apenas o “verbo de encher”.

E falámos de desconsiderações com as quais lida mal, porque sempre foi um homem frontal.
É preto, é preto… é branco, é branco!
Não há espaços para cinzentos.

“Ponha lá, como você sabe [obrigado amigo, pelo reconhecimento], que fui maltratado".
Aqui vai.

A língua portuguesa pode ser, como diz o anúncio, traiçoeira.
Uma frase pode ser lida de mais do que uma forma e todas elas estão sujeitas a diferentes interpretações.

É aqui que se corre o risco de se ser traído.
Neste caso… perder o “capachinho”, que é como quem diz, descobrir-se-lhe a careca.

E há disso!
Quem “mame” de uma determinada “teta” e todos julgamos que é por especial "devoção" à “vaca” em questão.
Mas não é, pois logo que lhe surja outra “vaca” com potencialidade para melhor saciar a sua sede… vira-se “a casaca”.

Sem o menor pudor.

Os amigos de ontem passam à história e, com uma extrema facilidade, entram numa “outra”…
Ui!... E o historial é tão grande…

O que querem mesmo é o “leite” e vão mudando a cor das “vacas” à sua particular medida.
O que interessa é que haja uma “teta” onde chupar…
De onde chupar.

E dizem que andam no Ciclismo por gostar.

De “mamar” - o que, afinal, fizeram toda a vida - digo eu!

terça-feira, janeiro 22, 2008

1041.ª etapa

CENTRO DE CICLISMO DE LOULÉ COM ESTATUTO
DE COLECTIVIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA

Foi publicado ontem, dia 21 de Janeiro de 2008, em Diário da República, a declaração de Utilidade Pública do Centro de Ciclismo de Loulé.
Este reconhecimento concedido pela presidência do Conselho de Ministros foi aprovada, conforme se pode ler no documento, pela forma continuada que o CCL vem prestando “com grande dinamismo, relevantes serviços à comunidade ao promover o desporto, mais concretamente o ciclismo, junto da população, em geral, e das camadas mais jovens, em particular; contribuindo assim para o incremento da formação desportiva”, para além de organizar e participar em eventos desportivos de carácter local e regional e “por cooperar com as mais diversas entidades públicas e privadas”.
A atribuição do estatuto de pessoa colectiva de utilidade pública ao Centro de Ciclismo de Loulé garante assim benefícios fiscais a todos os que colaboram com o CCL através de donativos financeiros e de géneros, designadamente, os patrocinadores das actividades desta colectividade.

(in, SuperCiclismo)

1040.ª etapa

O CRONO DA VOLTA AO ALGARVE
VAI SER MESMO A “DOER”


À medida que vamos tomando conhecimento dos pormenores, mais fácil fica formar uma opinião e, se já aqui escrevi que não via nada de mais no facto de a primeira corrida por etapas da nova temporada incluir um contra-relógio individual, com mais de 30 quilómetros, tenho que confessar que só sabia isso mesmo: que o crono teria 34 quilómetros.

Entretanto, já com os percursos disponíveis, sou surpreendido com um traçado bastante original.


Como explicou o Rogério Teixeira (presidente da associação algarvia), para fugir à confusão - ok… também para não condicionar durante três ou quatro horas um eixo rodoviário fundamental – da Estrada Nacional 125.

Imaginara um traçado junto ao mar… sai-me uma incursão pelo interior, por estradas municipais que, honestamente, não conheço. Mas não é isso que está em causa aqui.

Nos primeiros dez quilómetros sobem-se 120 metros; não é muito, pois não, são dez quilómetros em subida, ligeira mas constante, a fazer mossa; e ainda se subirá mais, até aos 250 metros, sensivelmente a meio do percurso. Pronto. Depois é sempre a descer até Tavira.

Outra novidade – pelo menos para mim – é o facto de o crono terminar na Pista do Ginásio. Ideia de aplaudir.

Num contra-relógio individual, se bem que os espectadores possam ver todos os corredores, espaçados entre eles, falta qualquer coisa de espectáculo. E as tradicionais chegadas num arruamento qualquer não conseguem oferecer condições ideais a mais do que duas ou três dezenas de pessoas.

Não sei quantas pessoas leva o Estádio de Tavira mas serão com certeza muito mais. Adivinho uma tarde de grande espectáculo, sabendo da afficion dos algarvios, em geral, e dos tavirenses, em particular.

Parabéns à Organização e, apesar da surpresa que foi para mim o traçado escolhido para o crono, mantenho que não tenho nada contra. São 34 quilómetros, os mesmos 34 para todos.
A não ser que as condições meteorológicas sejam adversas, instáveis… o que espero não venha a acontecer.

E reforço o que já antes escrevera. Pela primeira vez – desde há muitos anos a esta parte – todas as equipas nacionais têm nos seus quadros verdadeiros especialistas na luta contra o cronómetro.

Nessa altura, creio lembrar-me, deixei duas equipas de fora quando falei neste assunto. A Barbot-Siper – que ainda não tinha contratado o David Bernabéu – e o CC Loulé. Aqui, grande falha a minha. Não referi o Renato Silva. Desculpa lá Renato.
O Renato Silva é, sem favor nenhum, um dos melhores contra-relogistas nacionais e cabe na lista dos favoritos. Também não falei, na altura, do Isidro Nozal (Liberty Seguros). Eu que o vi vencer, e surpreender tudo e todos, dois cronos numa Vuelta imprópria para cardíacos.

Claro que estamos no início da temporada, alguns corredores – pelo peso que vão ter na estratégia global das suas equipas, tendo em vista a temporada [leia-se: a Volta] – não vão aparecer já nas suas melhores condições, mas não podia continuar a acontecer o que aconteceu nas últimas temporadas quando os especialistas chegavam à Volta a Portugal, onde o contra-relógio final tem vindo a ser quase decisivo, com um crono de pouco mais de 10 km e depois os Nacionais. Nem mais uma oportunidade para se baterem contra o cronómetro.

Ainda bem que este ano, parece, as coisas vão mudar. Pelo menos as voltas ao Algarve e ao Alentejo têm contra-relógio… e com quilometragens muito mais próximas das dos Campeonatos Nacionais e do da Volta a Portugal.


Nota: A imagem é tirada do Google Earth, o traçado desenhei-o eu.

Pode não ser exactamente asism.

domingo, janeiro 20, 2008

1039.ª etapa

JUÍZOS DE VALOR E PALAVRAS NA MODA
(MAS QUE TÊM UM ENQUADRAMENTO QUE É ATROPELADO, CERTAMENTE POR IGNORÂNCIA)


Não sei se as ensinam nas faculdades onde se “dá” Jornalismo, mas a profissão, que é anterior, em bem um par de séculos, aos cursos superiores de Comunicação Social, é rudimentarmente – mas com siso - “explicada” com uma mão cheia de expressões até engraçadas.

Quem nunca ouviu, por exemplo, que “um cão que morde num homem não é notícia, mas se for o homem a morder no cão, aí sim, temos notícia”?
Ou, como dizem os anglo-saxónicos, “good news, no news; bad news, good news”?

Aparentemente, e em relação ao Ciclismo, tem sido este o conceito seguido.
O que eu sempre considerei gravoso e extremamente penalizador para a modalidade mas, principalmente, para a esmagadora maioria dos seus praticantes. E por isso, aqui, num espaço que é pessoal, assumi sem rebuços a sua defesa.

Alguma vez eu escrevi aqui que não, não acredito que haja doping no Ciclismo? Claro que não. Não o poderia ter feito porque não estaria a ser honesto. Há. Como o há noutras modalidades, como várias vezes também aqui insisti.

O que eu defendi, defendo e defenderei é que, primeiro, é abusador alguém, indivíduo ou instituição, envolver TODOS os Corredores sob o mesmo manto de suspeição;
depois, se há forma de apanhar os batoteiros, se há legislação aplicável, se apanham alguém a passar para além do risco e essa mesma legislação prevê penas concretas, consoante a dimensão do “crime”, e o prevaricador é julgado e condenado, cumprida a pena tem o direito de voltar a ser respeitado.

Mais, é intelectualmente (e não só, também o é socialmente) desonesto pretender julgar à luz da actual legislação “desvios” acontecidos há anos, quando a legislação da altura não previa esses casos como passíveis de penalização.

Porque nem eram conhecidos? Claro, também por isso…
Os primeiros Códigos da Estrada não previam a proibição de se andar a mais de 120 km/hora, simplesmente porque não havia, na altura, carros que conseguissem atingir essa velocidade.
Por isso as Leis se actualizam. Se adaptam às novas realidades.

Por isso, grande parte dos meus comentários, aqui, nos últimos dois anos – desde a famosa Operação Puerto – se tem centrado na defesa do direito que todos os Corredores têm ao bom nome.
Insurgindo-me contra quem, individuo ou instituição, insiste em olhar – e não raro, a tratar – todos pela mesma bitola.

Ou quando, à luz da actual legislação, querem à viva força condenar – porque acusações veladas, essas têm-se somado – práticas de há 10, 15, 20 anos, quando já havia legislação (houve sempre) e o que então se fazia não a contrariava.

Andavam à frente dela? Provavelmente. Isso sempre foi reconhecido.

O ónus terá de ser assumido pelo legislador. E se há tantos anos se sabe isso, que legislem, de uma vez por todas, a pensar no futuro, não em sequência do que aconteceu no passado. Não sei se os cientistas do doping são mais espertos ou se, pelo contrário, os que o querem controlar… menos inteligentes. Não sei.

Mas que há doping, ah!, isso há. Houve desde sempre, embora, como creio ser compreensível, tivesse sempre vindo a mudar de forma e conteúdo.

Portanto, não creio enquadrar-me naquele grupo de “entendidos que querem tapar o sol com uma peneira”, muito menos pretendo “contrariar todas as medidas que se possam tomar para combater o doping”. Não. Não caibo aí!

Isto tem a ver com aquela parte do “Juízos de valor”, que vai no título.

Passemos então à segunda parte do título.
Ciclicamente, e provando que a língua está viva e evolui, vão aparecendo novas palavras e expressões. Umas colam à primeira, outras custam mais a entrar no nosso léxico.

Introduzida há relativamente pouco tempo na linguagem do dia-a-dia através do Código Penal (na erudita linguagem do Direito), a palavra PRESUMIVELMENTE caiu no goto dos portugueses que, o que nem é raro e acontece com tantas outras, passaram a usá-la a torto e a direito sem fazerem a mínima ideia do que ela etimologicamente significa.

Curiosamente, o termo casa na perfeição com as minhas mais teimosas insistências: o direito ao bom nome e a presunção de inocência.

O Direito moderno teve – para respeitar aquilo que as também modernas Constituições dos vários Estados consagram no capítulo dos Direitos do Cidadão – que introduzir a palavra presumivelmente, culpado (por exemplo), mesmo que individuo seja mais do que suspeito, porque nos Direitos dos Cidadãos está consagrado que toda a gente é inocente até provado o contrário e ditada sentença em Tribunal – ou transitada em julgado, depois dos sempre possíveis (e previstos) recursos.

O presumível culpado da morte do vizinho à sacholada, mesmo que tenha sido apanhado de sachola na mão e o outro estendido à sua frente de cabeça rachada, só passará a assassino quando provado, por um Tribunal, que foi a sacholada que matou o outro. Este podia, ao tentar desviar-se, ter tropeçado e batido com a cabeça numa pedra. O primeiro seria reenquadrado numa acusação de homicídio na forma tentada.
Chamar-lhe assassino logo à primeira seria uma clara violação dos seus direitos enquanto cidadão e, demonstrado que afinal não matara ninguém, pelo menos directamente, assoma outro direito inalienável, o do bom nome, pelo que ficaria em posição de pedir a quem o acusara a devida compensação por danos morais e/ou materiais que tais acusações pudessem ter constituído.

Daí a introdução da palavra-chave PRESUMIVELMENTE, logo na linguagem do Ministério Público para que não seja o Estado – que se quer de Direito – o primeiro a atentar contra os tais direitos dos seus cidadãos.

É presumivelmente culpado quem, comprovadamente – com testemunhos ou provas concretas e válidas em tribunal – pode ser envolvido num caso previsto como crime.

O que eu continuo a ler e a ouvir é “os presumíveis implicados na Operação Puerto”…

Vejam como a ARD (etapa anterior) se viu na necessidade de pedir publicamente desculpas.

É que nenhum Tribunal julgou nenhum processo ligado a essa operação. Nem sequer está previsto que o venha fazer e, se ainda assim, isso vier a acontecer, sê-lo-á enquanto processo cível, nunca desportivo. Creio que isto está claro há mais de um ano.

A nova legislação referente ao combate ao doping (o legislador, pela primeira vez, lá conseguiu dar um passinho à frente dos magos da trafulhice) já prevê que um atleta possa vir a ser alvo de castigo mesmo que não acuse positivo.

Mas essa Lei há-de ter uma data de quando foi aprovada, publicada e a partir de que data entrará em vigor. Sempre para a frente. Não se pode agarrar numa Lei nova e voltar atrás no tempo para punir ninguém.

Então… a Operação Puerto acabou. Morreu.

Deixe-se de falar na Operação Puerto como o lobo-mau que ainda há-de devorar uma mão cheia de Corredores.

Porquê o presumivelmente implicado numa coisa que juridicamente é nada?!!!

A única consequência prática que pode vir a ter – aliás, já teve – é a de as equipas negarem trabalho a determinados Corredores, ou a de organizações imporem a sua não presença.
Mas a partir daqui terão a palavra os advogados das diversas associações nacionais de Corredores.

Todo a patrão é livre de escolher os seus empregados, mas conseguindo-se provar que aqueles agem em cartel – concertados, combinados entre eles –, o Corredor poderá alegar que lhe estão a usurpar um direito inalienável que é o acesso ao desempenho da sua profissão.
Lembrem-se do caso-Bosman…

Quanto às organizações imporem às equipas que Corredores é que hão-de escalar… é outra vez caso para os advogados, agora os das equipas que são instituições privadas com direito a gerirem os seus efectivos de forma a conseguirem os melhores resultados porque se trata, de facto de uma indústria.

Que move milhões de euros e envolve terceiros, que são os patrocinadores.

1038.ª etapa


quinta-feira, janeiro 17, 2008

1037.ª etapa

FALECEU OCEANA ZARCO,
A MENINA CICLISTA DE SETÚBAL


Caíu-me hoje na Caixa de Correio mais uma notícia triste e que volta a cobrir de luto a Família Ciclista. Faleceu - já na passada sexta-feira mas, aparentemente ninguém deu por isso - a pioneira do Ciclismo Feminino em Portugal, Oceana Zarco. Ninguém, não. O Setubalense, jornal da cidade do Sado deu a notícia. Que só hoje me chegou.

Curvo-me ante a sua memória e, com a devida vénia, atrevo-me a transcrever aqui a notícia assinada pelo colega António Elias.

Oceana Zarco tinha quinze anos quando venceu, no Outono de 1926, a III Volta a Lisboa em bicicleta, pedalando ao lado de rapazes e homens por estradas agrestes e calçadas. Foi pioneira do ciclismo feminino em Portugal, ousando afrontar usos e costumes, não só portugueses, que remetiam as raparigas para os lavores ou para desportos mais gentis.

Com a camisola do Vitória, Oceana Zarco, enfrentou o pó dos caminhos e despertou o aplauso das gentes. Faleceu na última sexta-feira, em Setúbal, aos 96 anos de idade, com a sua imagem já gravada na história do Desporto.

A menina que, corria o Outono de 1926, com mimosos quinze anos, venceu, na sua categoria, a III Volta a Lisboa em ciclismo e a I Volta ao Porto, vindo três anos depois a conquistar a Volta de Setúbal, repousa desde o passado sábado no cemitério de Nossa Senhora da Piedade, em Setúbal, cumpridos que foram 96 anos de uma vida que, pelo Desporto e pelo exemplo de mulher, já estava gravada na memória das gerações presentes e não deixará de ser lembrada pelas vindouras.

A ciclista do Vitória Futebol Clube foi pioneira em Portugal – ousamos até dizer que na década de 20 terá integrado, universalmente, como atleta de competição, uma élite muito reduzida de raparigas que se dedicava a uma modalidade que ainda hoje é maioritariamente masculina – a enfrentar os caminhos de então, pedalando ao lado de rapazes e homens, arrebatando prémios e granjeando a admiração e o carinho das pessoas que, na época, tinham o ciclismo como uma modalidade verdadeiramente sua, por radicalmente popular.

Em 1991, no Dia Internacional da Mulher, o Movimento Democrático de Mulheres e o Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal editaram em homenagem de Oceana Zarco em que se pode ler: «… O seu mérito, os vários prémios que alcançou, a medalha de ouro que conquistou, dignificaram sem dúvida o ciclismo português, dignificaram também a mulher portuguesa. Abriram-se caminhos para novas esperanças, novos sonhos, novos projectos. O ciclismo feminino foi um sonho de Oceana, é ainda um sonho das ciclistas portuguesas neste fim de século».

O século em causa (XX) já virou e corre já o oitavo ano de um novo, mas as palavras que acabamos de lembrar mantêm-se sem margem para dúvida como uma boa síntese da pedrada no charco que representou há cerca de oitenta anos a ousadia da rapariga que quis ir mais longe, viver mais intensamente, do que aquilo que lhe estava destinado pelos padrões da sociedade de então.

Ao grito de rebeldia que foi o ciclismo, Oceana Zarco, viria noutra altura da sua via a aliar um sentimento altruísta ao enveredar por uma profissão, a de enfermeira no hospital da Misericórdia, em Setúbal, marcada pela entrega ao sofrimento alheio.

Viveu a última década, um pouco mais, no Centro de Apoio a Idosos da Santa Casa da Misericórdia e faleceu, cremos que tranquilamente, na passada sexta-feira.

Fica a memória, que muito dificilmente se vai esfumar, da menina que «nos anos 20 pedalava aos lado dos seus companheiros homens e com eles travava o duro combate das subidas, das calçadas difíceis», como diz o texto a que atrás recorremos.

( Podem ver a notícia original AQUI)

Para quem não sabe quem foi Oceana Zarco vejam aqui...

http://www.youtube.com/watch?v=bIISJxIKzZE

quarta-feira, janeiro 16, 2008

1036.ª etapa

DESCULPA TIAGO,
ESPERO NÃO ESTAR A PREJUDICAR-TE


Após quatro meses e meio de silêncio, depois de eu ter transcrito aqui um texto que fora publicado no sítio oficial da sua equipa, hoje, finalmente, soubemos que o Tiago Machado foi castigado pelo CD da FPC em cinco meses de suspensão por ter faltado a uma convocatória para integrar uma Selecção Nacional.

Permitam-me um ligeiro desvio ao assunto, de forma a conquistar uma pequena base de sustentação para os meus argumentos.

No futebol, onde – acho eu (embora não ponha o pescoço no cepo por ninguém) – todos sabem que há apenas 17 regras, costuma-se dizer que a mais importante é a décima oitava.
Coisa estranha, olhada assim.
Como é que pode a 18.ª ser a mais importante se só há 17?

Grandes nomes do nosso jornalismo desportivo (ok, jornalistas de futebol, para sustentar o caso), gente que, pela sua cultura desportiva e não só, que com uma irrepreensível neutralidade – o que hoje é cada vez mais difícil -, abreviando num nome, o do Vítor Santos, por exemplo, naquelas suas duplas páginas – sem fotos ou ilustrações -, onde o que valia e valia só por si, era a opinião de um JORNALISTA que ninguém se atreveria a contestar (porque não havia margem de manobra para isso), instituíram essa tal “lei” ausente dos regulamentos.

A Lei do Bom Senso.

E é de bom senso que aqui venho falar.


Sendo que sei perfeitamente que essa coisa do Bom Senso é algo que tende a ser superiormente apagado e veja-se o caso da malfadada ASAE.
O seu director é tão cego que, se por acaso alguém se tem lembrado de pôr na Lei que para ser reconhecida, a nossa assinatura teria de ser feita com tinta rosa-choque, ele nem hesitaria e lá se ia o negócio das esferográficas de tinta azul ou preta.
Isto é falta de bom senso.

Recuperemos então o tema desta opinião.
Opinião, repararam?
É a minha e apenas me vincula a mim.
.
Quem foi, durante as duas últimas temporadas, o melhor Corredor português com menos de 23 anos? Não, desculpem lá, mas recorram aos vossos apontamentos que eu não vou aqui escalpelizar os resultados conseguidos pelo Tiago Machado.

Alguém consegue arranjar argumentos que contrariem isto?
Claro que não!
Pergunta parva, a minha…
Cinjamo-nos aos factos.
O Tiago que, mais uma vez, fez uma extraordinária Volta a Portugal e que sonhava poder apresentar-se ao seu melhor nível nos Campeonatos do Mundo, tenha ou não sido aconselhado por terceiros, comunicou ao Seleccionador Nacional que, estando numa fase de necessária e compreensível descompressão, após a Volta, não sentia que, fisicamente, pudesse ser uma mais-valia para a Selecção Nacional que ia disputar a Volta a França do Futuro.

Aliás, acho eu, Manuel José Madeira, que devidamente atento às prestações dos Corredores passíveis de serem convocados, o primeiro a aceitar aquele argumento deveria ter sido o Seleccionador Nacional.

A (quanto melhor possível) participação na Volta a França do Futuro era algo de carácter decisivo para a nossa presença nos Mundiais, mas se o Tiago lhe comunicou que precisava de algum espaço para destressar e reganhar fôlego, e tendo em conta a categoria do Corredor em causa, o José Poeira só poderia ter feito duas coisas:
ou nos demonstrava que percebe, de facto, alguma coisa de Ciclismo – a tal regra do bom senso - ou, de imediato denunciava a quem de direito – mas não é ele o Seleccionador Nacional? – a “recusa” do jovem boavisteiro.

Provavelmente, mesmo contrariado, o Tiago, que queria mesmo estar nos Mundiais, informado que a não ida a França significaria o afastamento de Estugarda, teria feito das tripas coração e ter-se-ia apresentado.
Mas não...

Posso eu dizer que houve má fé por parte da FPC, em relação ao Tiago Machado?
Reconhecê-lo significaria um ónus dificilmente defensável por parte da instituição.
Mas não foi o que aconteceu?

Partimos para França com menos um elemento – prejudicando intencionalmente outro jovem Corredor que poderia ter tido a chance de representar Portugal -, escondendo, ao mesmo tempo, que o Tiago não perderia pela demora.
Iam-lhe fazer a folha um mês depois.
Como fizeram.

O que é que as DUAS Selecções nacionais ganharam? Nada!
O que é que a federação ganhou? Nada!

Era bom que alguém lhes viesse a perguntar qual o interesse que a FPC teve em apresentar DUAS selecções abaixo da qualidade que poderiam ter mostrado.

Só para castigar o Tiago Machado?
Honny Soit Qui Mal y Pense.

E não, professor José Santos, eu não me passei, definitivamente, para o seu lado, mas tenho a coragem suficiente para escrever o seguinte: se o Tiago fosse de outra equipa… teria isto acontecido?
Pois é...
Aí estamos de acordo. Sem hesitações.

Tramaram o Tiago e beneficiaram de uma crítica amorfa, hipotecada até, que não soube ou não quis ler o que estava perfeitamente claro.

E o exemplo é sublinhado pelo que comecei por escrever.
O sítio oficial da equipa perguntava-se porque é que o processo estava a levar tanto tempo, provavelmente ainda há muita gente que desconhece a página mas, ao transcrever para aqui o desabafo lá colocado… 72 horas depois saiu o resultado do inquérito.

Cinco meses de castigo por o Corredor, convocado por telefone, ter manifestado, através de um telefonema, a sua intenção de renunciar à Volta a França do Futuro porque estava focado nos Mundiais.

E só soube que não ias aos mundiais uma semana antes, quando leu nos jornais o nome dos convocados.

Ok… há, há mesmo, um artigo nos regulamentos que obriga os Corredores a responderem por escrito no caso de não estarem disponíveis para a Selecção!
Agora... não, não irei pedir à FPC que me mostre – e enquanto Instituição de Utilidade Pública, e solicitado esse pedido por um jornalista, teria que o satisfazer – os documentos escritos por todos os outros Corredores que seriam seleccionáveis - não estou agora a falar dos sub-23 - e que, se o não foram, só pode ter sido com um pedido de escusa.

Esta merda é fodida!
Ser sério, definitivamente não basta; é obrigatório que se pareça ser sério também.
E não creio que tenha havido seriedade neste processo contra o Tiago Machado.

Acumulam-se os tiros nos próprios pés.
Até quando?