neste momento a querer cruxificá-lo!... mas
QUE RICCA PRENDA!...
A verdura dos seus 24 anos não chega para justificar a clara falta de tino, mas a verdade é que estamos perante uma figura talhada para dar nas vistas. Pode ser tudo fruto de uma bem pensada campanha de imagem. Pode!
De certeza, e apesar de algumas enormidades que proferiu, o italiano Riccardo Riccò estava a conquistar já uma legião de admiradores.

Pelo seu jeito irreverente, mas também pelas capacidades desportivas que já mostrara no Giro, onde terminou em segundo, atrás de Alberto Contador, e neste Tour onde já vencera duas etapas e era, em simultâneo, o líder dos prémios da montanha e da juventude.
Ontem, quando logo pela manhãzinha passei os olhos, a correr, pelas páginas dos três desportivos, o destaque de uma passagem de uma frase sua cumpria o objecto para os quais foram inventados os destaques…
prendeu-me e levou-me a ler todo o artigo até encontrar aquela passagem dentro do contexto real.
Franzi ainda mais o sobrolho e logo nessa altura decidi que, mal voltasse a casa, escreveria aqui sobre este novo enfant-terrible das estradas que prometia dar que falar.
Infelizmente, a meio da tarde todos ficámos a saber que ainda se irá falar dele mais duas ou três vezes, mas pelo pior dos motivos.
Estranho o desvairio que, aparentemente, tomou conta do pelotão.
Três casos positivos ainda a prova não vai a meio e os três ligados à eritropoietina.
Não sendo difícil de adivinhar que as autoridades francesas iriam andar em cima do pelotão… custa a crer como Triqui Béltran, Moises Dueñas e Riccardo Riccò são apanhados num controlo anti-doping.

Consta que já não é exactamente EPO, aquilo com que estamos a ser confrontados, mas um produto seu sucessor, que ainda agora estará a ser testado. A verdade é que está no pelotão.
E, com a maneira de ser dos franceses, agora sou eu quem o diz, não aposto nem um cêntimo em como as coisas não vão ficar por aqui. Só espero que a Corrida saia o menos machucada possível.
Mas pronto, é para isto que servem os controlos anti-doping e, provada ou assumida a culpa, lavre-se a devida acusação e pronuncie-se a respectiva sentença. Cumpram-se os castigos.
Riccò ainda só tem 24 anos… Ainda vai ter tempo para mostrar que, é o mais provável, porque tem mesmo pinta, é um excelente trepador sem necessidade de recorrer a truques sujos.
Isto, para mim, é assim: linear.
Provada, ou assumida a culpa, façam-se cumprir os regulamentos e ponto final.
Não se tome é a árvore pelo todo que é floresta.
Volto então ao assunto que, parecia já estar destinado, me traria sempre aqui para falar de Riccardo Riccò.
Então o moçoilo não é que se saiu com esta preciosidade, e cito-o: “Para mim, 90 por cento do pelotão são corredores inúteis. Estão na partida e limitam-se a chegar á meta, dia após dia, ano após ano. Eu chamo-lhes ‘vegetais’… estão ali, mas nunca servem para nada. Nunca serei assim. Gosto e atacar e, se algum dia for como eles, será o momento de retirar-me.”
Chocante, esta declaração.
Apenas, e como disse – e mesmo para isso seria preciso demonstrar ter-se uma grande dose de boa vontade -, justificada por uma saltitante imaturidade.
Como Corredor, mas também como Homem.
E cheguei, ainda antes de se saber da “notícia” do dia, a dizer a alguns camaradas de redacção que, se eu fosse seu companheiro de equipa, na etapa de hoje [de ontem, de ontem, que já passa da meia-noite] o rico, de cada vez que precisasse de um bidãozinho de água, ou de alimentar-se, ah!... tinha que descair até ao carro porque nem eu lha dava nem permitiria que nenhum outro companheiro de equipa o fizesse.
E até desejei que ele tivesse um furo – um simples furo, que não sou de desejar mal a ninguém – e que eu, sendo seu companheiro, estivesse mesmo atrás dele. Provavelmente com um sorriso dir-lhe-ia “aguenta só um bocadinho, que o carro deve estar a chegar e eles trocam-te a roda”. E ia-me embora.
O… pormenor que faz a diferença entre as várias grandes equipas, nos vários pelotões e, naturalmente à escala destes, é exactamente o valor do bloco de operários; daqueles que são pau para toda a obra, que raramente ganham alguma coisa mas sem os quais, e sem o seu impagável contributo, nenhum chefe-de-fila ganharia fosse o que fosse.
E eu, de memória escreveria aqui – remetendo-me ao pelotão português – duas ou duas dezenas e meia de GRANDES corredores, daqueles a quem o Riccò chamou de… ‘vegetais’ (e não o faço porque tenho a certeza de que iria esquecer-me de alguns, o que seria de uma injustiça tal que opto por não enunciar nenhum.)
Mas muitos de vocês sabem de quem estou a falar.
Cá para mim, que abomino insinuações não sustentadas e acusações de baixo teor moral, mas porque o espírito desta parte do artigo é mesmo o de gozo, diria que o rapaz acusou EPO na urina, mas se lhe fizessem outros testes, provavelmente descobririam que costuma tomar daquelas pastilhinhas que os putos de hoje tomam e que os fazem continuar a ver os jogos de luzes reflectidos pelas bolas de espelhos, mesmo depois de terem abandonado a discoteca depois de uma noite de copos.
Mas repito, não ponho de parte a possibilidade de tudo o que ele disse não passar mesmo de um truque publicitário, para que se fale dele. Para que todos os dias o procurem na esperança de caçarem qualquer outra declaração bombástica.
Infelizmente, como escrevi lá atrás, neste Tour não vai ser mais possível. Fez batota e foi apanhado. Será bonito se vier a público assumi-lo. E agora que cumpra o castigo.
Eu não exijo cabeças em bandejas de prata.
E espero que, cumprido o castigo, se voltar ao pelotão, o respeitem como Homem.
Um homem que um dia deu um passo errado.
Cumprido o castigo terá o direito de exigir a todos que o tratem com o maior dos respeitos.
Não lhe perdoou é a desnecessária demonstração de falta de respeito para com colegas do mesmo ofício.
Meu caro
ResponderEliminarSó uma achega. Esta molécula desta EPO, criada pela Roche, actua no corpo durante muito mais tempo que a de primeira, que foi desenvolvida pela Amgen. Também foi desenvolvida para tratar anemias graves, neste caso provocadas por insuficiência renal, mas, como uma dose desta EPO equivale a várias da mais velhinha, isso também a torna mais apetecível. A EPO da Roche (CERA) entrou no mercado norte-americano em 2007 e no europeu já este ano, sob a marca Mircera.
Eu imagino que quem usou esta EPO pensava que não seria detectável. Mas cometeu um erro: primeiro porque dura muito mais tempo no corpo, logo, há maiores probabilidades de ser detectada; segundo, porque as dezenas de variedades de EPO são detectáveis e, nos primeiros meses, só não dão origem a processos porque a comissão de laboratórios da WADA tem de adaptar os critérios de positividade.
Correndo o risco de me estar a adiantar aos acontecimentos – faltam as contra-análises e só depois os testes são declarados positivos – é pena que, com um passaporte biológico em andamento e os avisos feitos antes do Tour, de que haveria testes mais aleatórios e “targeting” dos suspeitos, estes ciclistas tenham corrido riscos (se bem que eu acredito que não sejam eles os únicos responsáveis; no mínimo alguém os teve de aconselhar a usar CERA).
Um abraço
Duarte Ladeiras
P.S.: Eu sei que nós os dois nem sempre vimos os assuntos da mesma forma, mas gostava que houvesse mais rigor nos nossos colegas. Ainda procuro entender porque é que toda a imprensa, nacional e internacional, fala em testes positivos, quando um teste só é positivo após contra-análise ou se o atleta abdicar deste exame.
Comentário esclarecedor. Obrigado Duarte.
ResponderEliminarFixem duas coisas: esta "nova" EPO ainda não tem "limites" definidos;
"Positivo" é como o Duarte diz... só após a contra-análise...
(Do mesmo modo que, acrescento eu, "culpados", só depois de produzida uma acusação legal e os presumíveis implicados verem um juíz deliberar a sua culpa. Ainda assim terão direito a recurso e só quando esgotados todos os meios juridicos e a condenação transitar em julgado, só então são culpados.)
Meu caro.
ResponderEliminarQuero só deixar uma correcção. Esta EPO - a CERA - tem já os critérios de positividade definidos. Sem isso acontecer, mesmos que os laboratórios detectem a substância, não podem declarar a análise como adversa. Foi o que aconteceu no ano passado com o Rasmussen e uma série de pessoas do atletismo em França, com outra EPO, a Dynepo.
Essses critérios têm de ser amplamente estudados e têm de passar pelo crivo igual a qualquer outro estudo que seja publicado em revistas "per review", ou seja, revistas e analisadas por outros cientistas.
Se chumbarem não são publicadas, logo não podem ser implementadas. E sem serem reconhecidas pela comunidade científica nunca passariam nos tribunais. Já soube de vários estudos financiados pela WADA que esta decidiu não implementar por não serem suficientemente sólidos.
É que não se trata de uma brincadeira. Uma técnica anti-doping má pode destruir carreiras e vidas. Por isso, na dúvida, é preferível deixar fugir pessoas que fazem batota a implementar técnicas pouco credíveis ou declarar análises positivas duvidosas.
Um abraço
Duarte Ladeiras