sexta-feira, fevereiro 24, 2006

21.ª etapa


A temporada de 2006 arrancou sem novidades de maior.
A Maia-Milaneza segurou-se com unhas e dentes, graças ao rigor de um senhor chamado Aires Azevedo e à coragem de outro senhor, Manuel Zeferino, que não teve medo de baixar ao ground zero e avançar com uma equipa sem estrelas e radicalmente rejuvenescida.
Apesar do excelente contrato com a multinacional Liberty Seguros, a LA (e chamo-lhe assim em memória de outro grande homem, Manuel Maduro e, já agora, do Luís Almeida que desde o primeiro minuto se empenhou no projecto), a equipa da Charneca apenas fez duas contratações. Dois jovens com provas já dadas mas que vão precisar de um certo tempo de adaptação a este escalão, contudo, Américo Silva saberá gerir estas preciosidades que reforçaram um plantel do qual se espera alguma predominância ao longo da época, com o cada vez mais novo (e cheio de ilusões) Cândido Barbosa, coadjovado por Nuno Ribeiro, atirada que está, para trás das costas, a patifaria de que foi vítima em Espanha. E há o Hernâni Brôco e o Luís Pinheiro mais o Hector Guerra... Uma boa equipa, que não nos envergonharia se tivese oportunidade de medir forças com o grande pelotão internacional. Mas isso, este ano é ainda mais miragem que o ano passado e, no futuro, tudo o indica, não passará mesmo de sonho.
Vítor Gamito também fez uns arranjos no plantel e ganhou o concurso de um grande profissional, que é Andrei Zintchenko. Só que a idade não perdoa, nem Portugal oferece corridas onde a sua experiência acumulada pudesse ser potencializada. Corre semprer o risco de, feitas as contas no final, parecer que não fez nada. Seria uma tremenda injustiça se alguém dissesse isso.
A Barbot manteve Claus Möller - está mais ou menos como Zintchenko mas tem um trunfo que jogará a seu favor nas alturas próprias... não há, ainda, neste pelotão português, um contra-relogista tão fiável como ele. E a idade aqui não conta. Manteve também Sérgio Ribeiro que terá a oportunidade de confirmar tudo o que prometeu o ano passado; o eterno Carlos Pinho e meia dúzia de jovens que garantem a continuidade do projecto. Mas Carlos Pereira vai sentir a falta de Alberto Benito.
A equipa de António Campos e José Augusto Siva parece ter herdado a aflição que já parecia imagem de marca do Tavira... andar no fio da navalha a cada defeso. Nenhum dos dois o merecia, pela paixão de que já deram provas para com a modalidade. O regresso do nome do Vitória de Guimarães (do nome e do apoio consequente) acabaram por garantir a permanência do grupo no pelotão nacional. A equipa é modesta. A possível. Mas atenção à especial queda do José Augusto para as surpresas menos esperadas e a verdade é que nos últimos 4 anos corredores delem andaram de amarelo na Volta a Portugal. Aliás, começa a urgir que o José Augusto possa comandar um projecto bem mais ambicioso, não que duvide da sua competência, antes pelo contrário, mas há coisas que é preciso provar na prática. Numa comparação, talvez abusiva, diria que ele é o Jesualdo Ferreira do nosso ciclismo. Competência e saber comprovados, mas sempre ao serviço de emblemas de menos grande dimensão (sem nada de perjurativo nisto). Um dia ia gostar de ver o Zé a comandar um grande projecto... Posso estar redondamente enganado, mas acredito que seria capaz de mostrar o grande estratega que é.
A Madeinox e o Tavira irão, concerteza, dar continuidade àquilo que já fizeram em 2005.
Emídio Pinto conseguiu manter a jóia da coroa e Bruno Neves já mostrou que têm que o ter em conta. Vidal Fitas recuperou Nélson Vitorino, mas desconfio que o vai guardar para a Volta a Portugal. Tirando ests nomes, ambas as equipas não têm alternativas. Mas só assim acontecem as surpresas, quando ninguém espera. Não é?
Paredes e Imoholding resistem no pelotão. Ambas sofreram grandes alterações nos respectivos efectivos e as ambições são, naturalmente, reduzidas. Mas, como eu próprio já escrevi, o pelotão (e o ciclismo, no geral) não é feito só com candidatos às vitórias...
Dentro do mesmo padrão temos o Boavista. 25 anos no pelotão, algumas vitórias - e grandes vitórias - a preencherem o seu historial, mas a sensação desagradável de que, nos últimos três a quatro anos, se vem a desinvestir na qualidade. Sobrará, não o ponho em causa, a boa vontade, mas a saída de Pedro Soeiro é exemplo da lenta mas continuada perda de qualidade da equipa, que, ainda por cima, parece não perceber o valor de alguns dos seus ciclistas e não ser capaz de os potencializar. Olhe-se para os últimos 5 anos e anote-se o número de corredores, medianos, sob a camisola xadrês que, depois, noutras equipas, mostram ser capazes de aparecer a um nível bastante superior. Um caso a estudar.

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