terça-feira, outubro 31, 2006

306.ª etapa


MAIS COISAS QUE NÃO INTERESSAM A NINGUÉM (... MAS QUE EU ACHO IMPORTANTES)

Embora esteja convencido (realmente convencido) que esta mania que eu tenho pelos números estatísticos é capaz de não interessar (mesmo) nada a ninguém, não resisto ao impulso.
Desculpem-me aqueles que não gostam (mesmo nada)!

Num trabalho de formiguinha (passe qualquer eventual auto-elogio que isto possa parecer) pus-me a juntar factos. No caso, pus-me a contabilizar as localidades de Portugal que, este ano, tiveram chegadas e/ou partidas de corridas de ciclismo.
É um mero exercício para passar tempo, aceito. Mas não deixa de proporcionar leituras interessantíssimas.

E com isto chego a uma conclusão - que se me escapou aquando da atribuição dos Troféus VeloLuso, mas que ainda posso recuperar - e que tem a ver com a eleição da cidade/localidade mais amante do ciclismo. Claro que seria sempre qualquer coisa de retórico. Há muita terra que gosta de ciclismo mas que, por uma razão ou outra, não teve oportunidade de... ter o ciclismo ali à porta. Sem ser de pasagem. E outras que nem isso.

Mas estou a brincar com números reais.

E a RAÍNHA DO CICLISMO, neste Portugal de 2006, foi...

... a cidade de FAFE.

Três partidas, quatro chegadas... sete oportunidades para os fafenses (minhotos e todos o que lá acorreram) de ver o pelotão ali mesmo à mão...

Fico contente. Primeiro, porque Fafe é uma cidade bonita (onde se come muito bem - olha eu a fazer concorrência ao Fernando Mendes, do Preço Certo!), depois porque - e é apenas um acaso - a edilidade de Fafe até deu um prémio a A BOLA (prémio de conteúdo apenas institucional - medalhão da cidade e literatura que conta a história da mesma) aquando da Volta de 2004 e, finalmente mas não com menos importância, porque lá tenho um grande amigo, amigo verdadeiro. O meu caro Manuel Guimarães que, só por causa das coisas, coloco na foto, junto ao Pedro Cardoso.
Então, Fafe recebeu o pelotão ciclista por sete vezes.
E quem se lhe seguiu?
Santa Maria da Feira, com CINCO (duas partidas e 3 chegadas); Alenquer, Póvoa e Meadas, Póvoa de Lanhoso e Castelo de Vide, QUATRO (duas partidas e 2 chegadas); Vila Nova de Gaia (três partidas e 1 chegada), também com quatro, e Tavira (duas chegadas mais o Festival de Pista)...

Ah!, mas quantas foram então as localidades que tiveram uma partida e/ou chegada de corridas? CENTO E SETE! Não foi mau, pois não?

segunda-feira, outubro 30, 2006

305.ª etapa


SÓ NÃO ENTENDO... PORQUÊ?!!!

Hoje, pela enéssima vez, fiquei a saber, por terceiros – sempre por terceiros –, que muitos dos meus comentários, aqui, no VeloLuso, têm desagradado, em particular a uma pessoa. Pessoa que eu admiro e respeito. E em relação a quem, posso garanti-lo, e empenho nisso a minha palavra, me referi aqui sempre com total lisura e sem objectivos persecutórios.
Calhou, porque abordei determinados temas, que ficasse subjacente o seu nome, que raras vezes citei, se é que citei mesmo. Porque em causa nunca, mas nunca esteve a pessoa em si, pessoa, e repito-me, que só me merece admiração até porque tem, ao longo destes anos todos que eu ando no ciclismo, muitos menos do que ele, claro que sim, mas que já não são tão poucos assim, sempre foi A VOZ mais crítica em relação ao sistema reinante. E quantas vezes discutimos, os dois, isto mesmo? Muitas, também.

Ora, o que me toca de sobremaneira é que a mesma pessoa que entende por bem – e ainda bem – não se calar ante situações que ele considera discutíveis, fique, de alguma forma melindrado por alguns dos meus comentários. Por não lhe agradarem.

Para quem se assume abertamente como contestatário é, no mínimo, estranho que tenha tanta dificuldade em aceitar opiniões que, é a ilação que sou obrigado a tirar, a ele não lhe agradam.

Não é, nunca foi, minha intenção tomar-lhe o lugar de “voz contrária ao establishement”. Por aí pode ficar descansado.

Então, sobra o quê? Dificuldades em conviver com quem não é obrigado a concordar com ele? Será isso?

A mim parece-me que me está a dar mais importância do que aquela que eu tenho. E que de certeza não mereço. Sou um simples jornalista que, de ano a ano faz o balanço das temporadas e julga, enquanto crítico, o trabalho mostrado nas estradas por A ou B. Só isso. Faço-o com a ingénua intenção de tentar contribuir para um melhor ciclismo em Portugal.

Que, acho eu – e espero não estar enganado, ao fim de tantos anos – é o mesmo que ele pretende quando publicamente critica o tal establishment. Então, qual será o motivo pelo qual, aparentemente, eu sou neste momento o “inimigo n.º 1”.

E repito. Não será que me está a dar uma importância que eu não fiz por merecer?

Acredito que é uma situação que resolveremos na primeira oportunidade que tivermos para estar juntos. Como já estivemos tantas vezes e como já falámos tantas vezes. Cada um defendendo os seus pontos de vista e, civilizadamente, acabando por aproximar razões. Porque não há razão que valha este hostíl virar de costas. Até porque isso não fará, de certeza, que cada um de nós deixe de pensar exactamente como pensamos hoje. Pensámos ontem e continuaremos a pensar amanhã. Porque ambos somos coerentes.

304.ª etapa


QUE ESTRANHO PODE SER O CICLISMO EM PORTUGAL!...

Hoje recebi o telefonema de um amigo que, dita o acaso, é também presidente de um clube de ciclismo.
Que teve uma equipa no pelotão profissional nas duas últimas temporadas e que, neste momento, passa por grandes dificuldades até porque terá de refazer, praticamente a partir do zero, todo o projecto que lhe deu vida. Garante-me que não é um homem batido, antes se sente um pouco… abatido.

Construiu, com muita paixão pelo ciclismo, durante alguns anos, pondo pedra sobre pedra porque sempre foi assim que esteve na vida, uma equipa de sub-23. Há dois anos tocaram-lhe à porta. Na mão, traziam um novo e ambicioso projecto. Projecto esse que significava, assim, de um momento para o outro, o “atalhar” caminho em direcção à meta que há muito traçara. Levar o seu clube até ao pelotão profissional.
Hoje confessou-me que foi “obrigado” – atenção que coloquei a palavra entre aspas – a decidir tudo muito rapidamente. E como recusar aquilo por que vinha a trabalhar há já vários anos? Não foi difícil “arrancar-lhe” o sim.

Voltei a usar as aspas. Em ambos os casos usei-as para sublinhar, figurativamente, situações que ele aceitou sem condições.

No primeiro ano as coisas não correram… nem bem, nem mal. Tudo precisa de passar por alguns patamares, até para que todos se habituem à nova realidade. Foi partindo deste pressuposto que se avançou, com mais ilusões do que nunca, para o segundo ano.

Agora já não é do discurso dele que falo. É da minha análise.
O segundo ano voltou a não agradar, principalmente no campo desportivo, mas ainda havia espaço. O contrato com o patrocinador “almofadava” estes dois anos para a equipa crescer e o projecto se solidificar.

Dois meses antes da temporada acabar… tudo ruiu.
De repente, viu-se em piores condições do que estava em 2004 e com a preocupação acrescida de ainda ter à sua responsabilidade a solvência financeira de mais de meia dúzia de famílias cujos “chefes” são, ou corredores, ou pessoal auxiliar.
Voltou a viver a angústia de ficar “preso” ao telefone à espera que alguns dos contactos dêem sinal de vida. Com uma resposta positiva – o que lhe permitiria respirar de alívio – ou que o desenganem de vez, de forma a ainda ter tempo de partir para outra possibilidade.
Passam os dias, passam as semanas… Começa a ficar curto o tempo.
Algures por Alcobaça mora um homem que ainda mantém acesa a esperança, mas começa a preparar-se para experimentar o desânimo que cada vez mais se adivinha.
“A verdade é esta, Madeira!” – disse-me – “Como a Madeinox e o Loulé se fundem… neste momento há menos duas equipas no nosso pelotão.”
A segunda… a segunda é aquela que ele criou e vinha a fazer crescer, talvez lenta, mas seguramente. E que depois de dois anos entre os profissionais, à cautela, é melhor ir pensando começar a reconstruir… do zero.
Que estranho pode ser o ciclismo em Portugal!...

303.ª etapa


FALAR DE "DOPING" É ANDAR NO "FIO-DA-NAVALHA"

Na peça – desculpem-me a linguagem de redacção, mas eu próprio chamo “artigos” às minhas “entradas” (o termo certo para um Blog) - que escrevi e que foi para o Céu dos Blogs (ou para o Inferno… “morreu”), eu tentava retomar o assunto Operação Puerto.

Não vale a pena estarmos todos, agora, a lamentar o facto de presumíveis implicados numa “teia” que tem de tudo para ser mal quista por quem realmente gosta de ciclismo, mas como eu não sou juíz nem júri, não posso continuar a exigir a “cabeça” de Corredores que, de facto – e é mesmo um facto, e contra estes não há argumentos – não foram apanhados pela Justiça Desportiva. É a tal história – que toquei ao de leve no Cyclolusitano – de que eu não posso ser autuado pela Brigada de Trânsito da GNR que tem gravadas imagens minhas tiradas numa Loja de Conveniência, a comprar uma garrafa de JB de 12 anos se, soprando para o balão, eu não acusar uma taxa de alcoolémia superior à permitida por Lei.
Nada podem fazer contra mim.

Mal comparado foi o que aconteceu na Operação Puerto.
De facto, nenhum dos presumíveis “batoteiros” foi apanhado nos controlos pelos quais passou. E a coisa de a Polícia ter em seu poder ficheiros completos que os dão como presumíveis compradores – ou utilizadores – de produtos proibidos, ou métodos ilegais, vala ZERO uma vez que no equivalente ao “soprar do balão” eles não acusaram coisíssima nenhuma.

O problema – e o que deve envergonhar as autoridades desportivas – é que agora, e como leio no Todociclismo, até o Manolo Saíz se prepara para tirar alguns proveitos – legais – do facto de ter sido apontado a dedo. Confiram. Por favor, em
www.todociclismo.com. “No se puede olvidar todo el daño que han hecho”, diz o senhor Saíz e, ah!, mas isso é certinho, ele vai accionar tudo o que puder, em termos legais, para não sair disto de mãos a abanar…

Entretanto, o dia de hoje fica marcado por mais duas notícias. A do regresso de Santi Perez que, cumpridos os dois anos de suspensão, volta a ter uma oportunidade, agora na Gam-Relax (e não na Relax-Fuenlabrada – há jornais que parece tratarem os seus leitores como analfabetos, como se, numa modalidade cujos adeptos primam por se manter bem informados, isso não significasse a obrigação de os jornalistas o estarem… ainda melhor) e a saída para a estrada de uma nova equipa Continental em Espanha, a Fuerte Ventura-Canárias que não será outra que não a “velha” Kelme, queimado que foi o apoio da Generalitat da Comunitat Valenciana.

Estou, daqui, a ver os puristas a torcerem o nariz. Em relação ao Santi Perez, um corredor que, jovenzinho e acabado de chegar aos profissionais, ganhou uma etapa com chegada à Torre, ao serviço da então Barbot-Gondomar, porque, em vez de olharem o seu regresso como uma forma de “reabilitação” do corredor e do homem, “só” vêem o retorno de um “dopado”.
Em relação à equipa de Vicente Belda, que, uma formação drasticamente marcada pela tal Operação Puerto, aparentemente “resolve” o problema mudando de nome e de cores.

Não acho. A verdade – e lá estou eu a fazer um carrossel, andando à volta, à volta, sem sair do mesmo sítio… – é que os corredores estão “limpos” à luz das Leis desportivas porque nenhum deles foi apanhado. E se nos cingirmos apenas às Leis desportivas, a ex-Comunitat Valenciana foi a equipa mais penalizada. É que, não sendo uma formação do ProTour não estava sujeita ao tal Código de Ética – e por isso mesmo não auto-suspendeu nenhum dos seus corredores – mas foi liminarmente escorraçada do Tour. Que depois haveria de ver o vencedor deste ano, esse sim, apanhado nas “teias” do doping.

E aqui deixo uma palavra de solidariedade para com a JLS-PAD, na pessoa do Joaquim Gomes, que terá sido das poucas organizações que pensou pela sua cabeça. E o Joaquim tinha razão. Não havia motivos – desportivos – para não convidar e para não manter esse convite à Comunitat Valenciana. Infelizmente para o ciclismo português – mas só no campo desportivo – acabaria mesmo por ser um corredor dessa equipa a levar a Volta.
Por outro lado, e mantendo-se coerente, deve estar satisfeito porque, de certeza, a vitória na Volta a Portugal foi o grande trunfo que Vicente Belda usou para conseguir um novo patrocinador.

E termino recuperando para aqui algumas das questões que levantei no Cyclolusitano.

Falar de doping é movermo-nos um pouco sobre o fio-da-navalha. Principalmente e muito antes de tudo o resto, porque as pessoas que nos lêem não têm um conhecimento de causa suficiente para poderem compreender. É preciso olhar para o problema mas com os dois pés bem assentes no chão e com a cabeça despida de preconceitos. Existe, como escrevi na altura, uma “zona cinzenta” e se ela existe é por alguma razão.

Para quem não teve oportunidade de ler o que escrevi no Cyclolusitano: Se, em condições normais, o nosso corpo não produz um número de hematócrito muito para além dos 44%, por alguma razão o limite máximo permitido – aos corredores – é de 50%. Há uma margem de seis por cento que, é evidente, “convidam” a um tratamento específico deste “pormenor”. Uma semana de estágio em altitude, ou o uso, não proibido, de uma Câmara Isobárica, pode, controladamente, levar aquele nível aos 49… 49,5%.

Neste tempo, daqui a pouco um ano, que me encontro de baixa, e nas sucessivas análises que fiz, o meu nível de hematócrito variou dos 40,7 aos 45,5% de hematócrito. Esta diferença terá sido potenciada por alguns dos medicamentos que tive de tomar… – na brincadeira, porque é preciso levar isto com alguma dose de boa disposição, eu dizia sempre ao meu médico: “Não sei como estou, mas ainda posso continuar a correr porque o hematócrito está dentro do permitido!”

Não simplifiquemos situações que não são para simplificar. Têm de ser olhadas como são. Sem desvios. Claro que quando se “joga” com atletas sujeitos, aqui e ali, com esforços muito para além do normal, correm-se riscos. Atente-se ao acontecido com o Nuno Ribeiro. Mas ainda há quem não distinga “impedimento de correr” com qualquer tipo de análise positiva!

E é porque isso acontece – e só acontece por falta de formação de quem apenas é adepto – que eu acho este terreno difícil de pisar. É preciso muito cuidado e, já agora e porque nem custa tanto assim – na internet há dúzias de sítios que podem ser consultados –, convinha que quem quer usar da palavra tentasse, ao menos, estar informado. Para que não subsistam situações mal julgadas.


(Coincidência!!!... acabei de passar para a 2: e está a dar um programa com o Lance Armstrong...)

302.ª etapa


FERNANDO MENDES - UM DOS GRANDES NOMES DO NOSSO CICLISMO - MORREU HÁ 5 ANOS

Numa altura em que o Benfica está prestes a voltar à estrada, acho por bem recordar aqui um dos corredores mais marcantes da História das águias no Ciclismo.
Faz hoje precisamente 5 anos que, em consequência de um malfadado acidente de viação, faleceu Fernando Mendes.

Se recuarmos um pouco no tempo constataremos que muitas das páginas da História do próprio Ciclismo em Portugal se confundem com a História de dois grandes clubes, o Benfica e o Sporting. Desde logo, na rivalidade entre Alfredo Trindade e José Maria Nicolau, no início dos anos 30 do século passado, rivalidade que viria a ter, quatro décadas depois, outros protagonistas: Joaquim Agostinho, pelo lado dos leões e Fernando Mendes, da parte dos encarnados.

Se, em relação ao primeiro duelo e numa observação imparcial, a luta ficou ela-por-ela, no segundo a superioridade de Agostinho “abafou” todos os rivais. Aliás, vários excelentes corredores – muitos deles ainda vivos – contemporâneos de Agostinho, só não conseguiram um maior destaque exactamente porque o corredor de Brejenjas era de tal forma superior que não lhes deu grandes hipóteses. E Fernando Mendes foi um desses corredores que teve a “infelicidade” de coexistir no mesmo pelotão com o maior corredor português de todos os tempos.

E, tal como acontecera com Nicolau e Trindade, também Agostinho e Mendes foram sempre amigos muito próximos, quando não estavam na estrada, a lutarem, cada um, pelas suas cores. Agostinho foi, aliás, padrinho de baptismo do primeiro filho de Mendes, o que os fez compadres. Mas, mais do que isso eram mesmo amigos!
Fernando Mendes, natural de Rio Meão, ali para os lados da Feira, começou a correr como profissional com 19 anos, na Ovarense, mas no ano seguinte (1966) mudou-se para o Benfica clube que defendeu, ininterruptamente, durante dez temporadas, tendo ganho a Volta a Portugal em 1974. Passou ainda pelo FC Porto e, pela mão do seu amigo e compadre, deu ainda algumas saltadas ao estrangeiro onde representou a Flandria, a Kas e a Teka, entre outras - todas equipas de primeiro plano, na altura - tendo, por isso, corrido a Vuelta e o Tour onde, em quatro participações, terminou em 18.º, em 1973, e 27.º, quatro anos mais tarde.
Entretanto, viria ainda a ganhar outra Volta a Portugal, já como técnico, em 1990, com Fernando Carvalho (Ruquita-Feirense). E era com Fernando Carvalho que ainda trabalhava no Ciclismo, sendo um dos monitores da Escola de Ciclismo que tem o nome do vencedor da Volta de 1990, quando morreu.

Já não tive oportunidade de conhecer o Joaquim Agostinho, mas ainda conheci o Fernando Mendes, nos meus primeiros anos de jornalista a acompanhar o Ciclismo. Era um homem simples, um bocado reservado…

Mas não é este artigo para falar do palmarés de Fernando Mendes…
É para o recordar, no dia em que se cumpre o 5.º aniversário sobre a sua morte.
Mas como acontece com os grandes campeões, o seu nome jamais será esquecido. Pelos benfiquistas e por todos os que andaram no ciclismo e com ele privaram de mais perto.

domingo, outubro 29, 2006

301.ª etapa


VELOLUSO - ANO.2 (PORQUE NÃO O DOPING?)

A Operação Puerto anuncia a sua própria morte mais ou menos na mesma altura em que os arrogantes franceses apresentam a edição do Tour de 2007 ignorando, ambos, o vencedor (na estrada) da edição de 2006 e o seu natural substituto.
Temos que dar o devido desconto ao emblemáico - pela pior das razões - chauvinismo francês.

De Espanha chega-nos aquilo que a grande maioria teimou em aceitar como único desfecho: as autoridades desportivas não podiam - e é bom que não possam, que mais não seja para que não fiquem à espera dela - fazer uso daquilo que as autoridades policiais tinham conseguido.
Vergonha para as autoridades desportivas, claro!

Mas já volto a falar disto. Ainda hoje.
(Infelizmente, concerteza mais por azelhice minha do que por "culpa" do Blogger, eu escrevi mesmo a continuação deste post, só que o fiz aqui, directamente e, quando o ia editar... pufffffffff! Desapareceu. E agora vou ter que puxar pelas meninges de forma a tentar reescrevê-lo o mais perto possível daquela versão... Custa-me sempre muito reescrever de imediato um artigo com 5000 caracteres... Peço desculpa e não mais voltarei a usar este estratagema do... "não perca os próximos episódios" porque, reconheço, é enganador... Espero que me desculpem.)

300.ª etapa


O PRIMEIRO DE QUANTOS ANOS? VOU ATÉ ONDE PUDER IR…

Completa-se hoje, 29 de Outubro, 1 ANO desde que nasceu o VeloLuso. Há muito que eu desejava ter um espaço meu para escrever sobre ciclismo, modalidade sobre a qual escrevo em jornais desde 1991, primeiro n’A CAPITAL – infelizmente já desaparecida – e depois, desde 2000, n’A BOLA.
Contudo, este espaço (aparentemente ilimitado) que a Internet me vinha a acenar era, cada dia que passava, mais apelativo. Fiz algumas tentativas, mas as minhas limitadas – para não dizer quase totalmente nulas – capacidades em termo do seu uso (da Internet) foram adiando aquilo que eu sentia ser inevitável.
Nem que tivesse que ir aprender informática!

Depois aparecem os Blogs (que eram, e são, “oferecidos” já formatados e tudo) e abriu-me finalmente a porta que me fez voltar à ideia de ter um espaço meu, no qual pudesse, sem que estivesse limitado no número de caracteres, escrever, escrever, escrever…
Que é do que gosto mesmo de fazer.

A ideia de criar um Blog foi crescendo e, depois de duas ou três tentativas, no início da madrugada do dia 29 de Outubro do ano passado “postava” os dois primeiros “artigos” que eram os primeiros passos de uma coisa que nem eu sabia muito bem no que haveria de dar.
Estava de férias. Poucos dias depois voltei ao trabalho e, naturalmente, foi lento o arranque. Mesmo quando, cerca de um mês depois, fui obrigado a recolher a casa com problemas de saúde, o VeloLuso nada ganhou com isso. As preocupações eram outras e bem mais absorventes.

Mas, alongando-se o perío de inactividade, a vontade de escrever começou a ser irresistível. E chegava Fevereiro. Começava a temporada de Ciclismo. E eu aqui fechado. Em 4 meses – que Outubro estava no fim, quando comecei –, até final de Fevereiro escrevi 26 artigos.
No mês de Março escrevi… 36!
Estava encontrada a melhor forma de passar os entendiantes dias. E escrever ajudou-me bastante a “matar” o tempo.

Entretanto, o que começara por ser apenas – e quase só – um lugar onde eu “descarregava” a minha vontade de escrever, passou a, pouco e pouco, a ser conhecido por mais e mais gente ligada ao ciclismo. Uns, com vontade de participarem – e fizeram-no – outros preferindo ir acumulando “engulhos”.
Sem os engolir – e também a isso não eram obrigados – mas também sem a coragem de vir aqui rebater ideias.
E fui sabendo que isto que eu criara para me manter entretido, crescia e ganhava o seu próprio espaço. Hoje, passado um ano desde as tais primeiras pedaladas, ainda não pretendo que ninguém olhe este cantinho como, digamos, um “parceiro de diálogo” dentro da família do ciclismo.
Mas já há quem tenha reconhecido o VeloLuso como parceiro de pleno direito nas discussões sobre a nossa modalidade. Em relação aos que ainda estão renitentes… vou fazer exactamente o mesmo que fiz em relação aos primeiros.
Da minha parte não vão ver nenhuma “vontade” de que seja aceite. Ou é, ou não é.
E respeitarei, sempre, ambas as correntes de opinião.

Mas o VeloLuso JÁ EXISTE.
E MEXE.
Por isso, quem o quiser ignorar há-de estar, em alguma coisa, enganado.
Entretanto, desde essas primeiras horas do dia 29 de Outubro de 2005, até ao momento em que coloquei aqui este artigo, para trás ficaram outros 325. Cerca de 1.300.000 caracteres. Sete “jornais”. Quase um por mês, desde Março até hoje, período em que a actividade aqui foi muito intensa.

O meu prémio?
Os cerca de 30.000 visitantes, com uma média de 82 visitantes/dia, número que nos últimos meses aumentou muito.
Só desde 5 de Setembro último é que tenho, diariamente, resultados concretos, fornecidos por uma empresa espanhola cujos serviços subscrevi e que me permitem saber exactamente o número de visitantes/páginas lidas e até de onde é que o VeloLuso é acedido, tendo já tido algumas surpresas.
Por exemplo, no período em que as Selecções Nacionais estiveram na Áustria, eu tive diariamente visitas provenientes desse país. Uma era previsível, a do Fernando Emílio, mas, pelo menos mais três computadores – de corredores? quase de certeza – entravam no VeloLuso.

E pronto, não levarão a mal por eu fazer a minha própria festa. Não houve foguetes, não há canas para apanhar… Só uma cada vez maior vontade de trazer a discussão do Ciclismo para o Fórum público.
E uma pequena alteração no visual do Blog, personalizando-o ainda mais.
Sou eu, sempre dando a cara, recusando liminarmente a opção de me esconder atrás de um nick

sábado, outubro 28, 2006

299.ª etapa


ATÉ QUE OS DEDOS ME DOAM!...

Mais dos que as quase três centenas de etapas
- num total somado de 325 postagens -
o VeloLuso está a poucas horas de comemorar outra efeméride. Destes 325 artigos, dois são da autoria da Verm. - que, entretanto, "desapareceu", não tendo mais dado sinais de vida (espero que tudo esteje bem com ela!) - e coloquei como artigo três mensagens que me enviaram, pelo que 300 são de minha autoria. Contudo, estou longe - muito longe - de estar "cansado".
É para continuar, o VeloLuso.
De preferência com uma maior intervenção por parte dos meus leitores.
É só isso o que quero.

298.ª etapa


UM HOMEM NÃO MORRE ENQUANTO HOUVER QUEM O RECORDE


O ciclismo de Hoje é, parece uma barbaridade dizer isto, feito pelos homens de Hoje. Mas não nos podemos esquecer nunca daqueles que antes contribuiram para que o ciclismo, ainda que uma forma particular, tivesse progredido no tempo. Não há História sem memória e não há, também, quem consiga perdurar na memória curta dos Homens se não tiver tido uma vida que o tenha destacado do comum dos seus pares.
É o caso.

Lembro, hoje, aqui, e numa singela homenagem que não poderia deixar de lhe prestar, um dos homens que mais lutou, e de si deu, para que, há vinte anos… vinte anos e alguma coisa (e mais, daí para cá), o Ciclismo português saísse de vez do “faz-que-é-mas-não-é” que ficara desde depois da Revolução de Abril, em 1974.

Estou a falar de Manuel Francisco Branco. “Maduro”, para os amigos do Ciclismo.
De Manuel Maduro.

Tive a felicidade de ainda ter chegado a tempo de ser seu amigo. Não vou abusar desta designação. O Manuel Maduro era um homem que andava “há séculos” no Ciclismo quando eu cheguei, mas às vezes acontece a gente chegar e conseguir “trepar” vários degraus de uma vez. Acho que foi o que aconteceu entre mim e o Manel Maduro.

Foi director do Sporting, tal como o seu grande amigo, Artur Lopes – o actual Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo – e também do Lousa, equipa da zona em que nascera e vivia. Depois, e ao mesmo tempo que a Sicasal embrionava com a “ajuda" do Torreense, lançou o que seria o protótipo das equipas de hoje.
Uma marca acima do clube.

Ao mesmo tempo que a Sicasal o fazia em Torres Vedras, ele, que até era natural de bem perto – um homem do Oeste – dava a cara pela equipa suportada pelos empreendimentos Vale do Lobo e ligada ao Louletano.

Já fora Director-desportivo do Lousa (bem mais perto, geograficamente, do seu rincão natal), depois do Sporting. Apareceu assim no primeiro plano ao serviço do Louletano. Havia um elo de ligação que, não o escamoteamos, continua hoje como uma das primeiras figuras do ciclismo nacional: Joaquim Gomes.
Com ele, e por ele, mudou-se do Sporting para o Louletano-Vale do Lobo. Com ele e por ele, passou de novo ao Lousa – então, Calbrita-Lousa – em definitiva “guerra”” com a Sicasal. Depois do falhanço deste projecto, retirou-se. Pôs-se a sim mesmo de lado.

Até que, em 1986 – faz agora dez anos – e quando o “seu” corredor, que era Joaquim Gomes, estava sem equipa porque a Sicasal acabava, não resistiu ao apelo. Voltou e, com Gomes, então já com outras preocupações para além do correr, formaram, assentes no apoio de Luís Almeida (LA) uma nova equipa.

Foi por essa altura que o conheci.

Depois, o trato fácil e um pormenor que terá escapado à maioria dos colegas jornalistas de Ciclismo – ele gostava de futebol (e ia várias vezes a Alverca, que já estava na I Divisão, e onde nos encontrávamos) – aproximou-nos. Eu lembro-me dele e do Vítor Paulo (pouco-mais-que-um-menino) à entrada do Campo do FC Alverca, instantes antes de entrarmos, eles, para verem o jogo, eu para escrever a crónica para a A CAPITAL.

O Manel Maduro morreu faz hoje oito anos.

Infelizmente, nenhum jornal recordará a data.
Mas é, também para isso, que o VeloLuso serve.
Para que, quando eu um dia morrer, haja alguém que, mesmo que fosse só por o ter lido aqui, não esqueça que houve pessoas que, antes de nós, deram o que tinham e o que não tinham pelo Ciclismo.

Porque isso de ser adepto de sofá até que é giro!...
Mas não deixa testemunhos.



A festa que Manuel Maduro já não pode viver...


sexta-feira, outubro 27, 2006

297.ª etapa


ELE HAVER UMA NOVA SUBIDA, HÁ! MAS...


Há dois dias atrás ligou-me o Joaquim Gomes a dizer-me que, por intermédio do Teixeira Correia - que lhe mostrou impresso o artigo que aqui escrevi - ficara a saber da nova subida à Torre e que, porque tinha assuntos a tratar no Norte do País, ia lá dar uma espreitadela.
Hoje ligou-me outra vez.

"É uma bela subida. Novinha em folha.

E como levei comigo o altímetro, pude confirmar que o pendente médio é mesmo de 7% mas, em dois pontos, qualquer deles com um a 1,5 quilómetros de extenção, a inclinação ronda os 10 a 12%."


Perfeito para uma subida que se quer sempre selectiva. Mas o Joaquim Gomes não estava totalmente satisfeito. E explicou porquê.
"É que, sendo uma estrada nova, quase toda ela tem, a delimitá-la, rails de segurança..."
O que rouba a possibilidade de estacionamento aos que quiserem lá deslocar-se para ver uma etapa de ciclismo.
"Os dois últimos quilómetros, antes de a nova estrada entroncar com aquela que vem de Seia e passa pela Lagoa Comprida, são espectaculares... mas não há lugar para estacionar viaturas..."

Claro que não está decidida a passagem, ou não, por esta nova estrada numa futura etapa na estrela, mas Joaquim, em Espanha e em França e em Itália, também há estradas às quais não se pode aceder num carro, o que não impede as pessoas de, pelo amor ao ciclismo, subi-las a pé... Neste caso até podem descer, se forem por outra estrada, até à Lagoa Comprida, onde há lugares para estacionar... O Anglirú ão se pode subir de carro em dias de etapa...

Mas isso agora não interessa. O que interessa é que á, de facto, uma nova e mui aproveitável subida. Peço desculpa aos corredores por ter chamado, aqui, a atenção para ela, e agradeço, primeiro ao Teixeira Correia por ter levado a ideia até ao Joaquim Gomes, e a este por se ter dado ao trabalho de lá ir ver pessoalmente.

E, só por isto, não consigo - perdoem-me todos a imodéstia - deixar de ficar orgulhoso pelo facto de o VeloLuso ter, de verdade, criado uma certa dinâmica com outros parceiros do ciclismo.

296.ª etapa


"RELENDO" A SONDAGEM DE A BOLA

Ontem fui traído pelo Blogger que, de repente, entrou e manutenção, ou lá o que foi, e o artigo que estava a escrever directamente na página… evaporou-se. Acontece.
Estava a voltar à sondagem feita por A BOLA.

Perdoar-me-ão todos os que votaram no Hóquei em Patins mas aquele resultado não me “cheira”. Certo que, dentro das modalidades disputadas em campeonato, o Hóquei é, n’A BOLA, a única da qual damos os resultados da II Divisão – o que abre consideravelmente o leque de interessados – mas, ainda assim, conseguir um resultado, em votos, que é 54% superior à segunda escolha – a diferença entre os que votaram Hóquei e os que escolheram os desportos motorizados foi de 130 (!). Este número ganharia o 6.º lugar naquela sondagem, ficando à frente do ténis, atletismo, râguebi, vólei e radicais.
Portanto, mais do que o 1.º lugar, são os números conseguidos pelo hóquei que me fazem desconfiar. Não houve batota, porque o sistema só permitia um voto/pessoa, mas houve um claro arregimentamento de pessoas para darem corpo à vontade de verem a sua disciplina preferida bem colocada na sondagem. Conseguiram-no.

Com tão clara vantagem para o hóquei, parti para outro exercício. Refazer as contas deixando os seus resultados de fora.
Como se vê no gráfico, o Ciclismo ficaria muito mais perto das duas modalidades que o antecedem.
Entretanto, e como eu sei bem como as coisas funcionam em termos do jornal, avanço ainda com um novo exercício.
Em relação a algumas modalidades existe – no jornal – uma clara distribuição nacional/internacional. Assim, se no andebol 99,9% do noticiário é nacional (é residual a informação sobre a modalidade além fronteiras), já noutras não é assim.
A começar pelo Ciclismo. Digamos que metade do noticiário sobre Ciclismo é de carácter internacional, com as Três Grandes (Giro, Vuelta e Tour) à cabeça. Retiremos, então, metade dos votos conseguidos e passamos a ter 101 votos no Ciclismo.
No atletismo, e porque temos quase sempre representações nacionais nas grandes provas internacionais, digamos que apenas 10% do noticiário é mesmo referente apenas a eventos internacionais, sem portugueses.
O atletismo teria portanto, no fim do desdobramento entre noticiário nacional e internacional, 103 votos no exclusivamente nacional.
O basquetebol tem sempre uma boa cobertura nacional mas, e se por dedução, pensássemos que a influência da NBA na votação – até porque dá quase todos os dias na TV, embora de madrugada – seria responsável por 50% dos votos. Tal como no ciclismo e no que respeita ao noticiário exclusivamente internacional. O basquete ficava com 115 votos só para os eventos nacionais.
Já nos motores, é enorme a diferença de noticiário entre o nacional e o internacional, com a Fórmula 1 e o Mundial de Ralis a ficarem com a grande fatia de informação. Diria… 90%. Assim, os automóveis/motos, no que se refere exclusivamente a noticiário nacional, não passariam dos 24 votos.

Pegando apenas nestas 5 modalidades e nestas contas que se refeririam apenas ao peso que o noticiário nacional teve na sondagem, ficaríamos com algo pomo se vê neste segundo gráfico.
É, como referi, apenas um exercício académico, que parte da experiência que tenho em relação à divisão e peso que cada modalidade tem n’A BOLA. Mas, como disse, a interpretação dos números de qualquer sondagem é quase ilimitada. E eu fiz apenas uma leitura pessoal.

quinta-feira, outubro 26, 2006

295.ª etapa


CICLISMO EM 4.º LUGAR EM SONDAGEM "A BOLA"


O Jornal A BOLA levou a efeito uma sondagem entre os leitores da sua versão electrónica aos quais perguntava "qual a modalidade amadora favorita num jornal desportivo".

Os resultados foram hoje disponibilizados e, surpreendentemente, o Hóquei em Patins foi a amadora que recebeu mais votos, com o Ciclismo a surgir na 4.ª posição, atrás (mas muito próximo, em votos) dos Desportos Motorizados e do Basquetebol.

Surpresa mesmo foi, ainda mais que o primeiro lugar, a vantagem, em número de votos, que o Hóquei em Patins conseguiu. Mais de 54% (130 votos), em relação aos Desportos Motorizados, que ficaram em segundo lugar. A diferença entre os votos conquistados pelo Hóquei e os recolhidos pela segunda modalidade mais votada foi superior à votação conseguida pela... 6.ª modalidade (em dez) na ordem de preferências.

A diferença entre os Desportos Motorizados e o Ciclismo foi apenas de 38 votos e o Basquetebol teve somente mais 27 votos que o Ciclismo que, por sua vez, recolheu mais 30 votos que o Andebol, 5.ª modalidade mais votada.


294.ª etapa


SEGUROS E CONFUSÕES (EXCLUSIVAMENTE MINHAS)

Recebi esta mensagem do Pesidente da Associação Portuguesa de Corredores Profissionais (APCP) e, pela importância que tem, transponho-a para aqui.

Parece que fizeste alguma confusão no artigo sobre os seguros. O fundo de solidariedade da UCI (os tais 13.500 €) para os corredores de equipas ProTour e Continentais Profissionais foi alargado para os corredores de equipas Continentais, mas para estes só em caso de morte ou invalidez.

Já foram utilizados dinheiros desse fundo, para alguns corredores que faleceram desde 2002 (o mais falado foi o Andrei Kivilev, reverteu a favor da viúva) mas para os que deixem de correr (fim de carreira) só no início do próximo ano é que começarão a ser pagas as primeiras indemnizações. O Seguro teve primeiro de capitalizar durante 5 anos antes dos primeiros pagamentos.
(Abriu-se excepções aos que faleceram pois já havia algum dinheiro).

Este fundo não tem nada a ver com os seguros obrigatórios que as equipas têm de fazer a favor dos seus corredores (Seguro de Acidentes de Trabalho, Seguro Desportivo de Acidentes Pessoais e Seguro de Responsabilidade Civil). É, digamos, mais um seguro e uma indemnização de final de carreira, a favor deles, constituído pela UCI e com a contribuição dos próprios corredores que revertem 5% dos seus prémios para o mesmo.

Também convém dizer, e penso que saberás, que os ciclistas são os únicos desportistas que revertem 2% dos seus prémios para a luta anti-doping. Portanto, nada disto tem a ver com a AG da UVP-FPC, os corredores das equipas continentais, por enquanto, só recebem deste fundo indemnização em caso de morte ou invalidez permanente (foi o que nós, APCP, conseguimos demonstrar para os gestores do fundo que os corredores das equipas continentais tinham que ter direito a algo uma vez que nas provas internacionais também descontam 5% dos seus prémios.

Paulo Couto

O que eu tinha escrito – e anulei a “etapa” por não fazer sentido – recoloco-o aqui porque não escrevo agora para, quando “abrir os olhos”, apagar tudo por “arrependimento” e era isto:
O seguro, que serve para cobrir eventuais impedimentos – de ordem física (lesões prolongadas) ou mesmo de morte de um corredor – de sustentar, pelo menos temporariamente, as suas respectivas famílias, incluindo-se ainda aqueles que, por motivo de idade, são obrigados a pôr termo às suas carreiras, e que já era de 13.500 € para os corredores das equipas PtoTour e Profissionais Continentais, foi agora alargado às equipas Continentais.

Acho que ficou perfeitamente explícito, no esclarecimento do Paulo Couto, que isto NÃO PODIA TER SIDO DISCUTIDO na última Assembleia-geral da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Aqui fica, juntamente com a reposição dos factos, o
“mea-culpa”…

quarta-feira, outubro 25, 2006

Neutralização

UMA AULA DE JORNALISMO


A convite de um amigo, professor, estive numa aula de uma turma cuja maioria dos estudantes mostra vontade em, chegados à Universidade, virem a tirar o curso de Comunicação Social. Querem ser jornalistas.
Já ia preparado para isso, porque previamente informado, e, tentando ser honesto, disse-lhe que não há mercado de trabalho para as três ou quatro centenas de formados que saem, em cada ano, dos cursos que lhes podem permitir isso, nas diversas faculdades, pelo País fora. Isso não os desanimou e passámos às generalidades.

O que é uma notícia?
Notícias são factos que o jornalista transcreve. Não há maneira de o contornar, muito menos de o adornar. É um facto. Aconteceu. O jornalista relata exactamente o que aconteceu eximindo-se de quaisquer “toque” pessoal.
Por exagero, daquilo que pode ser uma notícia eu disse: “Caiu um avião com 200 pessoas a bordo, não houve sobreviventes”. É isto a notícia. Notícia, no seu estado mais puro, é uma coisa que dispensa quaisquer adornos. Que interessa saber o nome da companhia aérea? Caiu um avião e morreram todos os que lá iam. Número apenas serve para dar maior ou menor força à notícia. De onde levantou o avião e para onde se dirigia… É importante, sim senhor, mas estreitámos consideravelmente o alvo da notícia. Isso só interessa a quem tinha alguém de família, ou conhecido, que poderia ter embarcado nesse vôo. Nada altera à notícia em si.
A notícia ideal tem três, quatro linhas.
É evidente que jornais e televisões vão ao mais pequeno pormenor que puderem atingir. Mais, fazem comparações entre esse desastre e outros anteriores. Façam um exercício: se o acidente acontece num país estrangeiro, longe até das rotas habituais dos nossos vôos diários e, se a pessoa foi “presa” pela notícia, por mais que se "estique" o assunto, ouvindo pessoas, ou comparando o acidente com outros do género, no ouvido da pessoa, ou na cabeça, se for lida, só uma coisa fica “gravada”. Exactamente: “Caiu um avião e não há sobreviventes.” O resto é acessório e é usado pela CS para “encher”.

Da notícia passámos ao comentário.
É muito raro um comentário acrescentar seja o que fôr a uma notícia. Na melhor das hipóteses, o comentador, sendo especialista – e dei o exemplo da economia – dá-nos a leitura que faz. Todos os economistas perceberam a notícia. Mas nem todos somos economistas, por isso, a leitura que um especialista faz vem sempre acrescentar, até com exemplos, dados que não acrescentando nada à notícia, ajudam os leigos em economia a percebê-la.

Mas qual a diferença entre um comentário e uma opinião?
O comentarista, mesmo que “estenda” o seu depoimento, nunca foge ao corpo da notícia.

E a opinião?
A opinião é outra coisa e são muito poucos os jornalistas que podem exprimi-la. Não é censura. É que, numa opinião não basta “comentar” usando um ou outro conhecimento que escapa ao grande público.
O opinador tem que ser ainda mais especialista que o comentador. E tem que, para além de dizer o que na sua opinião não está (ou esteve) certo, que adiantar as soluções. Quer dizer, o opinador tem que saber fazer melhor do que o alvo criticado. Se a opinião for contra. Se for favorável, tem que mostrar, por A+B que outra coisa não poderia ter sido feita.

Mas as opiniões são quase sempre contra.
É verdade. Até porque é mais fácil apontar erros alheios, principalmente se não fôr possível – seja porque razão fôr – fazer o opinador trocar de posição com o alvo da sua opinião.

Então os opinadores são menos credíveis que os comentadores…
Não necessariamente. Mas é por isso mesmo que há menos opinadores que comentadores. Porque chegar-se ao nível de opinador, na CS, significa ter-se passado por muito, ter, pelo menos, tentado pôr-se no lugar do alvo da sua opinião e, para ser honesto, ter a certeza de que faria melhor.
E é por isso que, seja em que suporte for, na rádio, na televisão ou na imprensa, qualquer espaço de opinião é perfeitamente identificável. Com separadores, nos dois primeiros casos, ou num grafismo que não deixa margem para dúvidas, no terceiro.

Mas não pode acontecer que um jornalista na mesma peça dê a notícia, comente e opine?
Claro que é possível, mas, mais do que incorrecto, é deontologicamente – aqui tive de fazer uma pausa para tentar explicar o que é a deontologia –, errado. Mais do que errado, é condenável porque induz o ouvinte, ou leitor, em erro, confundindo-o com o que é só a notícia e com o que será o “seu” comentário e, ainda mais grave, “com a sua opinião”.
Achei por bem dar um exemplo da vida... vida: "As opiniões não se dão, pedem-se!"

Claro que tive que "cortar" caminho e tentar faze-los entender que na CS não se pode esperar que TODOS os ouvintes ou leitores peças a "sua" opinião. Seriam milhões! Por isso se avança por iniciativa própria, partindo sempre do presuposto de que... alguém nos está a perguntar.

Persistiam dúvidas.
A notícia não é discutível. O comentário pode ajudar à sua explicação. A opinião fica de fora disto. É algo à parte. Porque, seja qual fôr o comentador que se convide, o desenvolvimento que faz não vai nunca fugir ao essencial. Isto já não é aplicável ao opinador. A notícia pode ser visível de vários ângulos, mas cada um deles - da dela, a notícia -, tem uma perspectiva diferentes. O que for dito, ou escrito, por um opinador ficará indelevelmente marcado com o seu nome. E não sendo provável – nem seria viável – que se encontrem opinadores que abrangessem todo o espectro em que a notícia se pode desmúltiplicar, haverá sempre ouvintes/leitores que não vão rever-se no comentário produzido. Por isso, nunca! jamais! uma opinião pode integrar o corpo da notícia. Isso é deontologicamente inaceitável porque, sem haver lugar ao tal famoso contraditório, uma opinião pode passar travestida de notícia. Ou dizendo de outra forma, a notícia pode sair ferida de credibilidade porque leva a opinião apenas de um dos muitos lados pelo qual pode ser vista.

No fim, parece que todos compreenderam o essencial.
Então, na notícia o jornalista não pode por a sua opinião!

Nem mais!... É isso mesmo.

terça-feira, outubro 24, 2006

293.ª etapa


ASSOCIAÇÃO DE CORREDORES MARCA POSIÇÕES


Não tem, ao longo da sua existência, merecido talvez o destaque que já provou merecer, mas nunca é tarde e fico contente por dar aqui, no VeloLuso, o pontapé de saída que, pode ser, venha a ter consequências positivas.
Estou a falar da Associação Profissional dos Corredores Portugueses (APCP) – não, caro Paulo Sousa, nunca pus em causa a vontade e determinação da Direcção da APCP – que vem, a pouco e pouco, conseguindo representar a contento os seus associados, no lugar onde deve faze-lo, na Assembleia-geral (AG) da FPC.

O Paulo Couto, o presidente, não mo pediu e deverá, não duvido, ter canais próprios para dar conhecimento aos associados da APCP das decisões da AG mas, para além dos muitos corredores – um grande abraço a todos! – que sei que são leitores assíduos do VeloLuso, tenho outros visitantes a quem poderá ser útil esta informação e como não se trata exactamente de um segredo de estado, aqui vai:

Ponto 1. As equipas Continentais poderão formar equipas Mistas, com 2 corredores, no máximo, de equipas de Clube [vulgo, sub-23 – uma designação que, por acaso é correcta, em Portugal, mas que pode não ser porque a real seria de Amadores, seja qual for o seu escalão etário].
Enquanto isto, as equipas de Clube, e no que concerne às provas .13, só podem formar equipas-mistas entre elas [aqui já há distinção entre sub-23 e elites]. Nas provas.12, as equipas de Clube podem formar equipas Mistas com o máximo 2 corredores até aos 25 anos de uma equipa Continental ou de uma equipa Profissional Continental.

Ponto 2. A FPC entregará 50% da verba proveniente das multas e protestos desportivos à APCP.

Ponto 3. O número de corredores de cada equipa Continental não poderá ser inferior a 10 (dez) nem superior a 16 (dezasseis).

No texto aprovado pontua ainda que a idade da maioria dos corredores deve ser inferior aos 28 anos (sendo que, quem fizer 28 anos entre os dia 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2007, conta como se já tivesse 28 anos).

No mesmo ponto ficou definido que não é possível a inscrição de corredores da categoria sub-23 do 1.º ano por equipas Continentais ou Profissionais Continentais. A APCP defendeu o impedimento da inscrição como profissional (o que as equipas Continentais já são) de corredores sub-23 de 1.º e de 2.º ano [só o poderiam ser depois de passar a elite], mas esta pretensão da APCP não foi aprovada.

[Ainda há mais alíneas neste ponto mas, porque acho que dizem respeito apenas aos interessados, reservo-me o direito de não as citar.]

Ponto 4. Aumenta a tabela mínima de prémios aos corredores fixando o valor total de 900,00 € diários, quer em corridas por etapas ou provas de um dia. O valor em causa, foi de 800,00 €, este ano.

Há ainda uma alínea que a APCP não viu aprovada e sobre a qual tenho a opinião da sua direcção mas que porei aqui mais tarde.


Uma nota: Quem conseguiu ter a formação mínima em Língua Portuguesa sabe que os parentises rectos – [….] – servem para se inserirem comentários e o contido entre eles não é parte de documentos, ou das declarações citadas.

segunda-feira, outubro 23, 2006

292.ª etapa


CORREDORES SUB-25 PODEM REPRESENTAR O BENFICA NAS PROVAS NACIONAIS


Um dos pontos que a Associação Portuguesa de Corredores Profissionais (APCP) viu serem aprovados na última assembleia-geral da Federação Portuguesa de Ciclismo tem a ver directamente com o Benfica. Relembro que, depois de um diz-que-não-disse, a versão que corria era a de que as equipas de Clube (sub-23), só poderiam constituir uma equipa-mista com profissionais desde que estes tivessem menos de 23 anos. Já falei disso aqui.

Ora, o que agora foi aprovado é que essas equipas mistas podem ter corredores profissionais desde que tenham menos de... 25 anos, o que vai proporcionar a Benfica poder utilizar nas corridas do calendário estritamente nacional, Hugo Sancho, Rui Costa e o espanhol Didac Ortega (na foto), três dos elementos da equipa profissional. Dois de cada vez, claro [vide artigo acima].

291.ª etapa


CONSELHO DOS CORREDORES


Na mesma reunião da APC, que referi dois artigos atrás, foi decidido e aprovado, pelo que está desde já em funções, a criação de um Conselho dos Corredores Profissionais de forma a que estes tenham representação legal nas discussões que, às vezes, só a eles dizem respeito.

Assim, este Conselho é formado por Jens Voigt e José Luís Rubiera (que já eram membros, efectivo e suplente, respectivamente, do Conselho ProTour da UCI), juntando-se-lhes Matthias Kessler, Michael Rogers, Philippe Gilbert, Iñigo Cuesta, Cédric Vausser, Thomas Dekker, George Hincapie, Filippo Pozzato, Fabio Cancelara, Roger Hammond, Dario Cioni (suplente) e José Azevedo, como representante dos corredores pertencentes a equipas Profissionais Continentais. Denis Menchov e Thor Hushovd também foram designados, faltando que dêem uma resposta positiva ao convite.

É objectivo desta nova associação - que não surge para substituir a APC mas, antes, para ser desta delegada no seio do pelotão internacional - analizar os principais problemas que regularmente se põem aos Corredores e recolher destes sugestões que depois possam ser discutidas - e defendidas - pela APC junto da UCI.

De destacar aqui o prestígio de que é credor o Zé Azevedo pois foi convidado para ser o representante dos corredores do principal escalão abaixo do ProTour.

290.ª etapa


NOVA SUBIDA PARA A TORRE


Daqui chamo a atenção do meu caro amigo Joaquim Gomes para - conforme documento aqui ao lado - o ter recentemente sido aberta mais uma subida para o alto da Serra da Estrela. Quem sabe se não pode ser já "inaugurada" para o ano, na Volta (ou noutra corrida qualquer, o que só por si já seria benvindo).

A notícia, pequenininha, vinha na página 31, do semanário "Expresso" que este dedica a uma rubrica chamada "rede Expresso" e na qual publica notícias de jornais associados. No caso, o "Diário das Beiras".

Pelo que se pode ler, a subida, de 10 quilómetros, vence um desnível de 700 metros, o que dá, exactamente, uma pendente média de 7%.

É, assim, a sexta alternativa para se subir à Torre: a partir da Covilhã, vindo de Manteigas, subindo de Gouveia, , iniciando-se em Seia, passando por São Romão e agora esta, de Loriga até à Lagoa Comprida. Só temos uma montanha que se aproxima dos 2000 metros de altitude, mas podem-se fazer seis etapas diferentes nela. Bem bom. Digo eu que não tenho de subir de bicicleta...


(o mapa não se "vê", mas experimentem "gamar-mo" - se clicarem nele descobrem que o podem copiar - e depois vêem melhor...)

289.ª etapa


EM CAUSA O "CÓDIGO DE ÉTICA"


Recebi hoje, através da Associação Profissional de Corredores Portugueses (APCP), um comunicado da Associação Profissional de Corredores (APC). Pela sua importância, e porque é, também, objectivo do VeloLuso contribuir para a discussão do ciclismo no seu geral, como, aliás, está em epígrafe, transponho para aqui o essencial desse documento.

A APC, em assembleia-geral (AG) reunida no passado sábado, dia 14, em Como (Itália) reiterou a sua oposição em relação ao Código de Ética adoptado pela Associação Internacional de Equipas Profissionais – AIGCP.
Os acontecimentos das últimas semanas confirmaram efectivamente
[que nele existem] lacunas graves: arbitrário, incoerente e inaplicável, o Código de Ética permitiu que alguns corredores estejam a ser perseguidos apenas na base de [meros] indícios e suposições, [isto] enquanto outros, sendo objecto de procedimentos disciplinares, poderem seguir normalmente a sua actividade.
Desejando que todas as autoridades actuantes na luta contra o
doping (COI, AMA, UCI e laboratórios nacionais) consigam finalmente coordenar os seus esforços, pondo de lado desentendimentos e rivalidades, a AG da APC pede à AIGCP que suprimia do Código de Ética, antes do início da nova temporada, todas as disposições e normativas que actualmente permitem suspender um corredor, incluindo a figura de autosuspensão por parte das equipas.


O meu comentário:
De facto, e na sua essência, o Código de Ética revelou-se, antes de tudo, como uma ferramenta de punição dos Corredores. Decidido pelas equipas, serviu, antes de mais, para que estas, tal Pilatos, “lavassem as mãos” fingindo-se virginalmente atingidas por um mal do qual jamais seriam culpadas.
Esta situação tocou-nos bem de perto quando, ainda no primeiro terço da temporada passada, uma equipa espanhola suspendeu e apressou-se a anular o seu contrato, ao abrigo desse mesmo Código de Ética, um dos seus corredores, que por acaso era português. Corredor esse que, sujeito, nos termos e ao fim do prazo previsto pelos regulamentos da União Ciclista Internacional (UCI), a novos testes, saiu ilibado de toda a história. Ilibado mas sem contrato e atirado para o desemprego.
Em relação à Operação Puerto, e como já aqui referi, os resultados da investigação e, posteriormente, da acção policial levadas a cabo pelas autoridades judiciais e policiais não foram em vão. Serviram para que o grande público ficasse a saber que e utilizando uma expressão bem espanhola, “no creo en brujas pero, que las hay, hay!...”, isto é, não estou disposto a enterrar a cabeça na areia, como as avestruzes, e fingir que não sei nada, mas a Lei geral de Espanha – como a portuguesa, por exemplo – não contempla punições para o que poderia chamar de ilícitos no campo desportivo e as autoridades desportivas – tal como refere o Comunicado da APC – têm vindo a perder-se em questínculas entre si, sempre com o objectivo de, entre elas, medirem quem é que terá mais força, em termos de projecção pública, em vez de unirem esforços numa real luta contra o flagelo do doping e a verdade é que só quem não tem o mínimo de conhecimento de como funciona um Estado de Direito poderia querer usar em seu proveito aquelas provas que foram conseguidas como foram. Com escutas e vigilâncias, coisa que, naturalmente, está vedada a qualquer instituição que não seja a judicial que depois encarrega as polícias de o fazer.
A actuação das autoridades desportivas espanholas – neste caso – fazem-me lembrar a do aluno que se balda às aulas e depois quer apresentar como seu o “trabalho de casa” feito por quem teve a iniciativa de o fazer. Não pode e revela ser batoteiro.
Mas… - dir-me-ão – batoteiros são os que recorrem a produtos e métodos ilícitos. De acordo. Mas então que sejam aqueles que têm a responsabilidade de manter o desporto limpo que façam alguma coisa.

Claro que, olhando o problema pelo lado dos Corredores, sou obrigado – obrigado não, concordo plenamente com eles – a aceitar esta tomada de posição.
É que o Código de Ética, ainda e sempre por iniciativa das equipas, está à beira de sofrer alterações. Quer agora a AIGCP passar a ser juíz em causa própria, pretendendo que sejam as equipas a suspender os corredores eventualmente apanhados em casos de doping para “evitar que os outros colegas de equipa não sofram as consequências”. Isto é o que diz, mas o que deve entender-se é isto: “para que as equipas, apesar de poderem vir a ter casos de doping no seu seio, possam continuar a correr, utilizando os outros corredores". Em concreto, o que se pretende é culpabilizar apenas e só os Corredores.
Para que possam continuar como se nada se tivesse passado, para tentarem livrar-se do estigma e “livrar” o nome dos patrocinadores, para que não se vejam depois aflitas em arranjar quem pague, as equipas pretendem que o odioso da coisa recaia apenas sobre os nomes individuais. Querem que se deixe de dizer que a equipa ABCDE teve um caso de doping e passe a dizer-se que “Fulano de Tal” foi apanhado nas malhas do doping. Reconheço, pois, toda a legitimidade à APC para exigir que... assim, não!

domingo, outubro 22, 2006

288.ª etapa


TROFÉUS "VELOLUSO"


Esta é apenas a MINHA apreciação.
Subjectiva, como é compreensível e como quero que a olhem.
Uma temporada, mesmo que, como fiz, tivesse deixado correr algum tempo até me pronunciar, é algo que não podemos “julgar” no espaço de um momento.

Pesei bem o que havia de escrever, até por respeito a TODOS os que andam na estrada. Porque todos eles me merecem a maior das admirações.

Pelo meio, tive que escolher e escolhi. Em consciência, sabendo que as minhas escolhas – apesar de não fugirem muito ao que o normal adepto escolheria – são sempre passíveis de discussão. Mas aqui sou eu quem escolhe.

Aos “escolhidos”, o meu abraço forte.

Pelo menos para mim, merecem este destaque.
Aos que ficaram de fora, não olhem isto como qualquer acto de “má vontade” ou coisa que se pareça. Para o ano haverá mais escolhas e espero poder contemplar-vos.

Vamos então às escolhas do VeloLuso, para 2006.



Nota 1 - Este trabalho é ilustrado com fotos de: João Fonseca, Costinha, Rosário Botelho, PAD e do meu arquivo pessoal.

Nota 2 - Se os meus caros amigos acharem por bem comentar as minhas escolhas, estejam, ou não de acordo, para que estas não fiquem dispersas pelos SETE artigos que originaram, AGRADECIA que o fizesem APENAS neste. Desde já, o meu muito obrigado.

287.ª etapa


TROFÉUS "VELOLUSO" - 1

Começo exactamente por quem é mais importante no Ciclismo.
Bem que pode existir gente que,
mais ou menos em picos dos pés, tente sobressair ou chamar para si o foco dos holofotes, ninguém, nunca, será mais importante do que os Corredores.
É deles o esforço, é deles o suor… é deles o sangue e são deles as lágrimas que molham o asfalto. Escaldante, no estio alentejano; molhado e traiçoeiro quando a Primavera
ainda não arrumou de vez o “general” Inverno.

SÉRGIO RIBEIRO (Barbot-Halcon)
É uma escolha consensual. Foi o corredor com mais vitórias ao longo da temporada (10) e que mais vezes subiu a um pódio (29). Ganhou três corridas por etapas: a Volta ao Alentejo, o GP Barbot e o GP Vinhos da Estremadura, uma prova de 1 dia – a Clássica da Primavera – e chegou ao fim da temporada como líder do ranking nacional.
Em provas por etapas fez ainda um 3.º lugar (GP Rota dos Móveis), ficou ainda por duas vezes em segundo – e outras tantas em 3.º – em corridas de 1 dia; ganhou 6 etapas nas provas de regularidade e ficou 8 vezes em segundo e 3 em terceiro. Venceu ainda três classificações por pontos, noutras tantas corridas.
A um mês (mais ou menos) de completar 26 anos, Sérgio Ribeiro é o mais completo dos nossos jovens corredores.
Regular, como foi demonstrado pelos resultados nas provas por etapas, e com uma propensão muito própria para as chegadas em grupo, desde que a chegada ofereça dificuldades e não seja apenas explosiva (basta que sejam um pouco mais técnicas e ligeiramente a subir), a Sérgio Ribeiro falta apenas ser trabalhado nos terrenos de média/alta montanha para poder ser a nossa próxima figura a merecer a cobiça de equipas estrangeiras. Os contra-relógio são um problema, mas como em Portugal só se disputam dois (nos bons anos) por temporada…
Sérgio Ribeiro é, pois, o primeiro vencedor do Troféu VeloLuso para o melhor corredor.

Com apenas 21 anos, completados há poucos dias, TIAGO MACHADO (Carvalhelhos-Boavista) é uma das grandes revelações desta temporada. Ainda falarei de outras, mas, para já, fiquemos com este jovem que o professor José Santos está a trabalhar e que, no que concerne a subidas ao pódio, foi o segundo, esta temporada, só atrás de Sérgio Ribeiro.
Generoso, no trabalho no pelotão, para a equipa, abnegado, quando tenta a sua sorte em fuga, Tiago Machado ganhou este ano duas corridas por etapas (Troféu Fernando Mendes/Volta a terras de St.ª Maria e GP Abimota), duas provas de 1 dia – um dos circuitos de fim de temporada e, antes disso e bem mais importante, o Campeonato Nacional de contra-relógio (sub-23), tendo ainda ganho uma etapa no GP Vinhos da Estremadura, num total de 5 vitórias e 19 subidas ao pódio, 5 delas como vencedor do Prémio da Juventude o que demonstra que, entre os da sua idade, é um dos melhores.
Todos esperamos muito deste jovem corredor que, contudo, já tem um “pequeno” palmarés que fala por ele.

O segundo destaque vai para PEDRO CARDOSO (Maia-Milaneza). Corredor “maduro” não deixou, por isso, de este ano ter sido, de alguma forma, posto à prova.
Habitual elemento da “brigada de sapadores” da equipa de Manuel Zeferino, num ano em que a equipa apareceu na estrada (quase) totalmente redefinida, com muita gente jovem, ao Pedro Cardoso foi pedido, mais do que trabalhar para a união interna do grupo, que mostrasse aos mais novos como é que se faz. E o corredor de Barcelos não se atemorizou. Foi o terceiro corredor nacional com mais vitórias e com mais pódios, tendo ganho, no que respeita a provas por etapas, o GP Rota dos Móveis e, de enfiada, o Grande Prémio do Minho, corrida exigente, em todos os terrenos, e na qual o Pedro mostrou que, afinal de contas, Manuel Zeferino tinha, nestes últimos anos, uma opção bem portuguesa entre os “ases” que preferiu jogar. As vitórias em três etapas e ainda mais 4 segundos lugares e dois terceiros são o suficiente para demonstrar a regularidade de um corredor que, já não é jovem, é verdade, mas que, digo eu, ainda tem muito para dar ao ciclismo português. Assumiu-se, em definitivo, com o líder desta nova Maia.

O algarvio RICARDO MESTRE (Duja-Tavira) é o meu terceiro destaque no capítulo dos corredores. 23 anos apenas, fortíssimo na média/alta montanha, regular no “crono” – onde, na Volta a Portugal “roubou” a Tiago Machado o título de melhor jovem – Ricardo Mestre mostrou este ano ser um digno sucessor de outros grandes nomes do ciclismo algarvio. De Cabrita Mealha a Jorge Corvo. “Só” ganhou uma etapa, esta temporada. A chegada a Fafe, da Volta a Portugal, no final da qual envergou a Camisola Amarela. Pujante de força, sagrou-se também “rei” dos trepadores na principal corrida do nosso calendário e não o fez amealhando pontitos nas subidas de 3.ª ou 4.ª categoria. Quer dizer… também aí conquistou alguns, mas chegou ao “trono” na subida para a Torre e isso não pode ser escamoteado.
Foi inteligente em ter decidido ficar-se por Tavira ainda mais um ano (apesar de ter contrato por mais 4, não acredito que ali fique além de 2007). Porque às vezes não é mais importante o nome da equipa, mas a liberdade que se tem naquela que se está a representar. E Ricardo Mestre vai poder confirmar, para o ano, o extraordinário corredor que é.

(Continua)

286.ª etapa


TROFÉUS "VELOLUSO" - 2


A seguir aos corredores, o que é que pode ser mais importante? Claro. Sem corridas não havia hipótese de haver ciclismo. Vamos então à minha selecção daquelas que terão sido as corridas que se destacaram. Esta ano, e como é do conhecimento dos meus leitores, estive totalmente fora de actividade. Fui ver, no total, 5 etapas de três provas, em todo o ano – 3 da Volta ao Algarve; uma do GP CTT e a segunda da Volta. O resto segui à distância, mas isso não me impede de julgar a qualidade de todas elas, globalmente, porque sempre fui estando informado.

VOLTA A PORTUGAL
E escolho, sem espaço para dúvidas, a Volta como a melhor corrida do ano. Por tudo. Quer dizer… quase tudo.

(Já perceberão…)
A João Lagos Sports/PAD vem a consolidar a sua posição de “major-organization” de ano para ano, de prova para prova. Não se lhe pode ser retirado esse crédito e, de ano para ano, de prova para prova, as coisas vão aparecendo, cada vez mais naturalmente… isso mesmo, naturalmente. É inegável a força que já têm as escolhas de Joaquim Gomes para os percursos e, em relação à Volta – que é do que estou a falar agora – desde que soube do seu traçado antevi (passe a imodéstia, mas isso pode ser verificado, aqui, neste mesmo espaço que é o VeloLuso) uma corrida prenhe de emoção. Não errei nem um bocadinho.
Não há na memória, mesmo dos mais velhos, uma Volta assim. Dez dias: nove ganhadores de etapas; nove líderes. A indecisão, em relação ao que podia acontecer, ali, latente, dia após dia… Espectacular.
Há anos que não tínhamos uma Volta assim e só desejo que o que vivemos este ano se possa repetir nas próximas edições.
Há a tal coisa do protagonismo dado a quem não tem nada a ver com o ciclismo, mas fico-me pelo lado desportivo e aí… tivemos Volta!

O primeiro destaque, neste campo, vai para a Volta ao Algarve. Foi, uma vez mais, a corrida portuguesa com o melhor pelotão (aqui está a explicação para aquelas reticências de ainda há pouco, em relação à Volta) e outra vez com um traçado muito, muito equilibrado. O meu amigo de peito, Rogério Teixeira, tem nas suas mãos aquela que bem podia ser umas das grandes corridas de arranque da temporada. O ProTour sonega-lhe essa possibilidade e, depois, um incompreensível alheamento das autoridades e forças económicas da região deixam-lhe nas mãos um “menino” que ele tem conseguido ajudar a manter de pé, faltando-lhe, contudo, que possa aprender a dar os primeiros passos.
Não sou eu, daqui, deste pequenino canto, quem pode tentar “abanar” as chamadas “forças vivas” do Algarve de forma a que vejam o filão que têm ali, à frente dos seus olhos.
No aspecto desportivo, vimos, em “primeira-mão”, algumas das figuras que mais tarde haveriam de ganhar etapas no Giro e no Tour ganhar em Faro e em Portimão. E vimos um soberbo João Cabreira (Maia-Milaneza) arrebatar a vitória final na exigente dupla subida ao alto do Malhão. Depois de os estrangeiros terem dominado o GP Costa Azul – e parte da mesma Volta ao Algarve – testemunhei, no local, a primeira vitória de um português. E foi uma vitória brilhante.
Só não se me viram as lágrimas porque estava à chuva e sem qualquer protecção, ensopado até aos ossos, como se diz no Alentejo.

E por falar em Alentejo (parece coincidência mas não é), a “minha” Alentejana merece aqui o segundo destaque.
Teve um pelotão para o pobrezinho – como aquela região, ao fim e ao cabo – mas uma corrida vivíssima. Tão viva que, no final, os três primeiros classificados ficaram empatados em tempo e só o “puntómetro” desempatou a favor do, também ele, mui português Sérgio Ribeiro.
No Alentejo não podemos esperar corridas muito diferentes daquelas que temos ano após ano. Montanha… só em Portalegre e a etapa deste ano era demolidora. Por acaso acabou ao “sprint”, mas o sobe-e-desce da Serra de São Mamede deixou mossas.
Grande etapa fez nesse dia o José Rodrigues (Carvalhelhos-Boavista)!...
E a etapa final, com chegada a Beja parecia um elástico estendido de tensa que foi, sempre na expectativa de quem soltaria uma das pontas. Soltou-a Sérgio Ribeiro nas últimas centenas de metros, para a segunda vitória de um português numa das nossas corridas internacionais, depois do previsível desfecho do GP Costa Azul e da desilusão (em termos desportivos e para as nossas cores) que foi a Volta a Santarém.

O terceiro destaque vai para o GP Paredes-Rota dos Móveis. Porque levou mais ciclismo à região Norte do País, porque nele vimos, pela primeira vez, o Cândido Barbosa (LA Alumínios-Liberty), porque o Sérgio Ribeiro voltou a mostrar-se capaz de ganhar e porque, no final, o triunfo foi para um Pedro Cardoso “mandão”, senhor das suas forças e capacidades. Foi uma corrida muito bonita, que fez por merecer a sua promoção a internacional para o ano que vem. Com o histórico GP do Minho condicionado à sua condição de corrida doméstica, o Norte merece uma oportunidade para ver algumas equipas – e alguns corredores – de renome, como espero aconteça em 2007.



(Continua)