quinta-feira, agosto 31, 2006

218.ª etapa


AH, G'ANDA SÉRGIO!!!


Ontem não tive oportunidade de escrever isto, mas não seria possível deixar de, aqui, sublinhar a espectacular etapa feita pelo Sérgio Paulinho. Fabuloso.

Ficou demonstrado que, motivado pelos seus técnicos e companheiros de equipa o português tem condições para não ser apenas mais um no pelotão. Nós não temos dúvidas acerca disso, mas nestes dois últimos anos parece que os responsáveis pela ex-Liberty nunca se mostraram muito abertos à possibilidade de lhe darem uma oportunidade para se mostrar.

E o Sérgio não se limitou a escolher a melhor fuga. Mesmo depois de ter perdido algum tempo com o que pareceu uma pequena avaria mecânica, ainda recolou ao grupo e mais, atacou na frente.

Foi ousado. Isso é bom. E ninguém terá autoridade para dizer que depois falhou. Não. Terá pago pelo facto de não conhecer devidamente a subida – a fuga aconteceu muito cedo – mas, sobretudo, depois só foi ultrapassado por algumas das figuras que têm legítimas aspirações na corrida.

E o tempo que ele mereceu o protagonismo, por parte da realização da televisão espanhola? Que bom foi ver, outra vez, um corredor português a ser figura numa das grandes voltas.

O Sérgio está bem. Gostei de o ver no Domingo e na 2.ª feira. Chegou bem, apesar das dificuldades das etapas, principalmente por causa do calor. Mas ele estava bem, e confiante.


Força Sérgio!!!


NOTA: Já não dá para “chorar”, passou-se dessa fase, agora só me posso rir das tais malfadadas “medalhas”. Então… num dia em que um corredor português, não um corredor qualquer, o vice-campeão olímpico de fundo, em título, faz uma etapa admirável e a “medalha de ouro” vai para… um futebolista??? Que fez ele ontem para merecer este destaque? Marcou dez golos? 4? 2?... Fez fintas de deixar qualquer um de olhos em bico? Não… assinou contrato com uma equipa espanhola. Não, não foi o Barcelona nem o Real Madrid… Do Sérgio, devem estar à espera que ele tenha algum azar na corrida para lhe darem a “medalha de lata”.

terça-feira, agosto 29, 2006

217.ª etapa


AINDA AS RÁDIOS LOCAIS
(Reeditado a 31 de Agosto de 2006)


Este tema começou - ou foi reatado - na 210.ª etapa, mas achei que faria pouco sentido colocar lá mais esta mensagem do meu caro Teixeira Correia. Porque foca aspectos bastante pertinentes, que merecem ser discutidos, coloco-a aqui. Entretanto, porque directamente visado no primeiro post, também o Fernando Emílio me enviou um e-mail. Fica assente que estas duas situações são de excepção, porque, afinal, o Blog serve para eu postar as minhas opiniões, havendo um local próprio para o contraditório. Os meus amigos alentejanos estão a deixar-me ficar mal... Se todos os outros conseguem colocar as suas ideias, porque será que eles não? Mas pronto, acrescento agora a posição do Fernando Emílio...

Teixeira Correia
Meu caro Madeira, voltando “à vaca fria” das 33 rádios locais na Volta a Portugal, deixa-me explicar que tal não será tão linear.
A PAD, há três anos que criou a figura da “Rádio e Jornal Local”, para divulgarem a volta nos finais de etapa. Ou seja, 20 órgãos de comunicação local, são da responsabilidade da organização. Se a eles juntares um colega que passou a corrida na Sala de Imprensa e que estaria credenciado, pelo menos por duas, para não dizer três rádios, sobram dez: Gilão (Tavira) Horizonte (Olhão), Voz da Planície (Beja), Portalegre, Oeste (Torres Vedras), Antena Miróbriga (Santiago do Cacém), Alenquer, Oásis (Porto Alto), Cister (Alcobaça), Matosinhos e Lidador (Maia).
Mas grave, é o pai de um ciclista do Vitória/ASC, estar credenciado como comunicação social, com os respectivos autocolantes e rádio volta e com credenciais para ele, mulher, filhos e pais ou sogros, faltou só o caniche ter cartão ao pescoço. Isso é que é de acabar, isso é que deveria fazer parte do relatório da AIJC. Isso é que é de lamentar. Quem foi que credenciou esse senhor e qual o seu órgão de informação. Mas Manuel sabes porque é que este senhor teve acesso a tudo ? É que paga as jantaradas no Minho e oferece as caixas de vinho verde, por isso não pode ser desmascarado e vai continuar a ser credenciado. Chamei a atenção para o facto, tenho fotos do carro do senhor, mas o representante da AIJC, não ligou patavina.
Sabes o que deveria fazer parte do relatório da AIJC, é a falta de nível de alguns jornalistas, quando colocam “Coisas” nas salas de imprensa destinadas a todos e alguns “arrabanham” as deles e as dos outros. Não sou daqueles que anda na Volta na “micar”, mas o que se passou em Beja é no mínimo vergonhosos.
A PT colocou uns sacos destinados aos jornalistas credenciados, e ai juntamos os tais 33, que continua o livro do Guita júnior e um rato para o PC. Sabes o que aconteceu. Quando cheguei à Sala de Imprensa já não havia. Porque que passou o dia lá fez o “favor” de guardar às “paletes”. E olha que dos 33, poucos lá estavam.
Saudações amigas e alentejanas
Um abraço,Tx.Correia
Fernando Emílio
Afim de esclarecer as pessoas que têm feito alguns comentários sobre o representante da A.I.J.C. convém informar o seguinte:

Em finais de Setembro de 2005 no decorrer dos Campeonatos do Mundo realizados em Madrid, a direcção deste organismo solicitou-me que fosse o seu representante em Portugal, situação que não tive qualquer relutância em aceitar.
No decorrer do mês de Novembro foram realizadas duas reuniões com o presidente da UVP/FPC Dr. Artur Moreira Lopes afim de se clarificar a situação da acreditação dos jornalistas conforme o regulamento da UCI, seguindo-se uma outra em Janeiro.
No mês de Novembro e no mês de Janeiro, na sede da empresa PAD-João Lagos Sport mantive idênticas reuniões com o Sr. João Moreninho, Administrador da Empresa. Na primeira foram apresentadas algumas sugestões e na segunda foram feitos alguns acertos que não alteravam aquilo que estava a ser alvitrado e que tinha merecido o apoio da UVP/FPC.

Dispensando-me de colocar aqui todos os assuntos e situações que forma sugeridas (mas que posso disponibilizar), o facto principal baseava-se na obrigatoriedade de todos os jornais ou rádios que solicitassem acreditações para jornalistas que não possuíssem Carteira Profissional, cartão AIPS ou cartão AIJC, a obrigatoriedade do Director desse Órgão declarar por escrito em papel timbrado e assinado, em como os enviados à Volta a Portugal pertenciam e exerciam funções no órgão de comunicação em causa.
Esta situação não sendo legal, tinha como objectivo em 2006 não criar problemas a nenhum órgão de comunicação que pretendesse efectuar a cobertura do evento.
A questão foi colocada à A.I.J.C. que a título excepcional autorizava tal situação mas unicamente para o ano em curso e o presidente Gilles Le Roc’h, colocava a seguinte pergunta: Se em Portugal se cumprem os regulamentos da FIFA e da UEFA porque não se hão-de cumprir os da UCI ? É por se tratar de ciclismo ou existem outros interesses menos claros ?

As sugestões apresentadas na UVP/FPC e na PAD-João Lagos Sport, foram enviadas aos restantes organizadores de provas internacionais. Na Volta ao Algarve, Volta ao Alentejo e Troféu Joaquim Agostinho não surgiram problemas e a situação resolveu-se, excepção a uma situação que vem sendo habitual em que a mesma pessoa conseguiu nas três provas ser acreditada duas vezes, provavelmente julgando que enganava quem passava as acreditações.

Significa que em nenhuma prova da PAD foram cumpridos os regulamentos e muito menos o que havia sido alvitrado, na medida em que a organização ignorou sempre que existia um delegado da A.I.J.C..
Embora presente na Volta a Portugal como jornalista, apenas me limitei a pedir a lista com o nome dos Órgãos de Comunicação Social presentes no evento (nem todos lá constavam), a qual anexei ao relatório em que são assinalados os diversos tipos de cobertura feitos pela Comunicação Social.
Fica portanto claro que o delegado da A.I.J.C. não exerceu qualquer função dentro da Volta a Portugal, pelo que recuso todo e qualquer comentário a esse respeito. As acreditações foram passadas pela organização às pessoas e entidades que muito bem entendeu e só ela poderá justificar qualquer situação ou reclamação.
Existiram Órgãos de Comunicação que nunca poderiam ser acreditados, além de outras situações que não vale a pena focar neste espaço.

Foi elaborada uma informação detalhada com a situação ocorrida na Volta a Portugal a qual foi enviada para a sede da A.I.J.C., independentemente do "relatório".
Convém esclarecer os menos bem informados que o "relatório" referente a cada prova, serve para mencionar o tipo de cobertura e quem esteve presente no evento.

quarta-feira, agosto 23, 2006

216.ª etapa




DESPORTO OU ESPECTÁCULO (INDÚSTIA)?


Mal acabe de colocar isto no Blog, juro que corro a esconder-me na sub-cave do prédio, rezando a todos os santinhos que façam dela um “bunker” ao estilo daqueles que os israelitas têm para fugir dos mísseis dos inimigos (que estes nem bunkers têm).


Discute-se no Cyclolusitano (ou pretende-se discutir) o que há-de fazer-se para “limpar” o ciclismo da imagem negativa do “doping”. À imagem do que acontece em qualquer Órgão de Comunicação Social, continuam, no Cyclolusitano (e até dou isso de barato porque é um espaço onde se fala de ciclismo, e só de ciclismo) a tratar o “doping” de maneira totalmente diferente, sejam os casos relacionados com o ciclismo ou com qualquer outra das modalidades.

E vem-me à memória o que um dos meus grandes amigos, jornalista, homem com várias voltas feitas, entre algumas dezenas de outras corridas (e que só por acaso eu acabei por “substituir” nos escalonamentos d’A BOLA para o ciclismo) disse numa das conversas que tivemos.

Olhando, sem “palas” nos olhos, para a realidade dos nossos dias, será que faz algum sentido escamotear que as modalidades de Alta Competição deixaram de ser desporto puro, para se tornarem, primeiro, num espectáculo cujos principais artistas são pagos a peso de ouro, e logo depois numa Indústria?

Sejamos então honestos connosco próprios.
O DESPORTO, actividade lúdica com inegáveis proveitos em termos de saúde para os seus praticantes, aquele desporto que o barão Pierre de Coubertain resolveu – começando, nessa mesma altura, a matá-lo – reunir na recuperação dos Jogos Olímpicos da antiguidade, “semente” a partir da qual haveria de crescer mo desporto actual, ainda existe?

Será que a divisa «mens sans in corpore sano» ainda faz algum sentido?
Comecemos por aqui…
O que é que procuramos num ESPECTÁCULO desportivo?
(Repararam que não é NO DESPORTO?)

Reduzamos isto à sua unidade básica.
O que é que queremos ver quando vamos a um jogo de futebol, por exemplo. Não é OS NOSSOS ganhar? P’rás malvas com o desportivismo. Os NOSSOS ganham nem que seja para além da hora, num lance off-side e com a bola metida com a mão. QUEREMOS é que OS NOSSOS ganhem.

Não foi por acaso que escolhi o futebol como exemplo. Foi até por mais do que uma razão. E a primeira é mesmo a de que AQUILO, nos nossos dias, É UM ESPECTÁCULO, caro, com artistas caros e… que depende sobretudo dos resultados. Um pequeno passo, para saltarmos do ESPECTÁCULO para a INDÚSTRIA, onde se investem milhões com UM ÚNICO OBJECTIVO: recuperar o investimento. E isso só os resultados (os BONS resultados) conseguem.

Do futebol podemos passar ao basquete (atenção ao mui singular caso da NBA), ao andebol, à natação, ao atletismo… ao CICLISMO. Porque haveria de ser diferente?

O público, aficionado ou não, procura ESPECTÁCULO, os investidores não podem deixar de pensar em… INDÚSTRIA.

O desporto que o barão Pierre de Coubertain sonhou já não existe. Aliás, nos últimos anos “implodiu” mesmo. Desporto são as corridas de “jogging”, as bicicletas de montanha que pedalamos no jardim e, mesmo aí não vou ser eu a jurar que a ideia de Pierre de Coubertain não tenha sido adulterada.

Voltemos então atrás, para já só à parte do ESPECTÁCULO.
O que é que qualquer espectador quer quando se dispõe – pagando ou não – a assistir a um espectáculo? A sobreposição de palavras pode parecer redundante, mas querem é… ESPECTÁCULO.

Compra-se um bilhete para ver (rever) os Rolling Stones. O que é que se quer? Assistir a um grande ESPECTÁCULO. Os nossos preferidos são os Pink Floyd? Não muda nada. Queremos… ESPECTÁCULO. Não, o que gostamos mesmo é do belo canto. Compramos bilhetes para ver o Luciano Pavarotti. E o que é que queremos? Assistir a um grande ESPECTÁCULO.

E na Fórmula 1 é igual; e na EuroLiga de Basquetebol, a mesma coisa; na Liga dos Campeões, em futebol, idem, idem, aspas, aspas… até nos Jogos Olímpicos o que queremos ver é ESPECTÁCULO: recordes a serem batidos.

Porque é que no ciclismo insistem que não querem exactamente a mesma coisa? Porque se assume tantas vezes o papel de “virgem” assediada por maléfico violador?

Então não é ESPECTÁCULO o que se quer quando, deixando tudo para trás se fica em casa para ver as subidas do Mortirolo, do Alpe d’Huez, do Anglirú… da Senhora da Graça?

Não é sempre à espera de ver os campeões anunciados vergados sob o peso de um dia mau e, ao mesmo tempo, ver surgir novos campeões?

O Espectáculo constrói-se sempre de forma a agradar ao espectador. Por isso desde os dramaturgos da Grécia Antiga, passando por William Shakespeare, por Luís de Camões, até aos dias de hoje… os protagonistas tiveram pela frente tarefas IMPOSSÍVEIS de ultrapassar mas que eles… passaram. E foi essa “trama” que os tornou imorredouros. Preservou os seus nomes até hoje como grandes autores.

Como a “estória” do soldado de Maratona que correu mais de 42 km para dar a notícia da vitória conseguida pelos seus. Como os navegadores que “dobraram” (anote-se a analogia com VENCER) os cabos Bojador e da Boa Esperança.

A História conta-nos feitos só possíveis de terem sido vividos por personagens um tudo-nada além do… meramente humano.

Nos nossos dias as “estórias” contam-nos histórias diferentes mas que não deixam de ter, cada uma delas, um pouco das velhas “estórias”.

No período que, no século passado, marcou a nossa história e que ficará para sempre conhecido como o da Guerra-fria, as principais potências – que haviam imposto a si próprias o deixar de lado as armas convencionais – inventaram outros “campos de batalha”. E o DESPORTO foi um dos preferidos.

Desde 1936, em plenas Olimpíadas de Berlim, quando Jesse Owens “provou” a Hitler que um negro podia ser mais forte que a “superior” raça ariana, que a grande roda do desporto-muito-mais-que-desporto não parou de girar.

Esse meu amigo, por acaso, viveu na antiga RDA. Mas não era só a Alemanha de Leste que queria bater os seus irmão ocidentais. A ex-URSS “tinha” que ser superior aos Estados Unidos e estes superiores àquela.

E criaram-se campeões de laboratório,

E isso extravasou para todas as modalidades. Para todos os países.

O desporto transformou-se em “campo de batalha” onde, como é natural, uns e outros viveram brilhantes vitórias e humilhantes derrotas.
O DESPORTO deixou de ser o que era antes. Malgrado os Jogos Olímpicos que, na antiguidade grega mereciam uma trégua na guerra bélica mas que apenas transferiam para as pistas a mesma guerra entre povos.

Aligeirou-se, nos nossos tempos, essa carga bélica, mas jamais as grandes competições deixaram de ser um medir de forças entre as principais potências. E esse clima de “guerrilha” sem armas inflectiu para o interior dos próprios países.

As grandes competições não existiriam sem grandes clubes/atletas e estes sem que tivessem uma legião de seguidores cegos, tão cegos como os que queriam apenas ver derramado o sangue dos inimigos nos tradicionais campos de batalha.

E houve alguém que viu ali uma possibilidade de, da mesma maneira em que os romanos transformaram em espectáculo a morte de um dos gladiadores no Grande Circo de Roma – depois com “cópias” por todo o Império –, transformar essas rivalidades em espectáculo. Coisa que as pessoas não só queriam ver como pagavam para ver.

A sociedade evoluiu, mas o Homem não é muito diferente daquilo que sempre foi.

Os duelos de gladiadores mudaram de formato. São onze contra onze, num relvado campo de futebol; cinco contra cinco num pavilhão da NBA, um contra… todos, nas estradas por esse Mundo fora, montados numa bicicleta. Uns assumem abertamente a sua condição de espectáculo… outros vão tentando enganar todos. Melhor… os espectadores a quem esse espectáculo é dirigido, e para isso montado, recusam-se a olhá-lo como tal. Talvez porque não pagam bilhete. Mas não é isso que o faz ser menos espectáculo que os outros.

E quando se vai assistir a um espectáculo – estou a recuperar o que já antes escrevi – quer-se ver grandes actuações.

Alguém se preocupa com o que Mick Jager toma ou deixa de tomar para, aos sessenta e muitos anos se apresentar em palco com a vitalidade de um “miúdo” de 20?
Não! Querem é rever os Rolling Stones que sempre conheceram. Se possível, ainda melhores, que isso da idade… já diz o povo que o vinho quanto mais velho melhor.

Alguém se pôs já a pensar como é possível a estrelas da NBA, como Shak O’Neil, só como exemplo, “obrigadas” a actuar sempre ao mais alto nível, com jogos separados por 48 (às vezes só 24) horas, em locais tão distantes que obrigam as equipas a terem jactos privados que de outra maneira seria impossível ir de Nova Iorque a São Francisco em tempo útil, conseguem aparecer jogo após jogo, após jogo, após jogo… sempre como “man of the match”?

Como os Powell (ou Obikwelu) chegam a cada uma das provas em que participam e batem recordes atrás de recordes? E isto repete-se na natação e em todas as modalidades de Alta Competição? (Por esta altura já devem ter interiorizado que Alta Competição significa “Ipsis Verbis”… ESPECTÁCULO.)

Então, se ninguém se preocupa com o “como” é que aquelas estrelas/atletas se preparam para aparecerem todos os dias mais “frescos” do que no dia anterior… por que raio é que pretendem que no ciclismo seja diferente?

É um espectáculo como os outros e cobramos bem caro às estrelas de quem esperamos o máximo. Então… vemos um lado da moeda e recusamos liminarmente olhar para o outro?

Por ser a “nossa” modalidade preferida queremo-la (fechando os olhos a tudo) virginalmente limpa?
Fazemos como alguns pais que recusam ver os defeitos dos filhos mas apontam a dedo os defeitos dos filhos dos outros?

E se a pressão que cai sobre os atletas porque SÃO, DE FACTO, actores num espectáculo que o público não admite ter falas… isso potencia-se se, sendo completamente honestos connosco próprios aceitarmos que do espectáculo já passámos à fase seguinte. Hoje, o DESPORTO É UMA INDÚSTRIA.

Que move muito dinheiro, dinheiro que é investido por terceiros que não querem saber de “porquês”, querem é ver os seus investimentos aumentados, seja de que forma for. Ou com as receitas de bilheteira ou com o retorno publicitário que o espectáculo gere.

E exige-se mais aumentando o investimento que só tem um fito: conseguir mais receitas e mais retorno. E de cada vez que isto é conseguido, investe-se um pouco mais e exige-se um pouco mais. É a Lei do Mercado.»
Se tu não me dás o que quero, encontrarei quem dê…», e porque o dinheiro é necessário… a resposta tende a ser um pouco mais acima do esperado. Para que o novo investimento seja um pouco maior. E neste caso as exigências são também maiores… e porque o dinheiro faz falta…

Prosseguiríamos “Ad Eternun” neste Círculo Viciado…

Agora, o ESPECTÁCULO só existe porque há espectadores.
E serem estes, que, ao fim e ao cabo, são OS “RESPONSÁVEIS” pela existência de toda esta máquina trituradora a quererem ser mais papistas que o papa… isso é que não faz sentido.

Ou se aceita (cuidando dela) a “besta” que se criou…




P.S.: Adivinho naqueles que conseguiram ler tudo até aqui uma vontade irreprimível de me lapidarem até à morte, mas estes 10.800 caracteres posso resumí-los numa frase: Não esperem que o Desporto que temos na actualidade seja comparável ao mui infanto-juvenil "jogo-da-corda" praticado por dois grupos de escuteiros.

215.ª etapa




SÉRGIO PAULINHO CONFIRMADO NA VUELTA


Depois de, no ano passado, Portugal só ter estado representado na principal corrida espanhola por José Azevedo, e quando, por muitas razões, chegámos todos a temer que este ano não teriamos representação de todo, já está confirmada a participação do Sérgio Paulinho, com as cores da Astana. Vai ser a primeira prova de três semanas que o Sérgio corre e, daqui, aproveito para lhe desejar as maiores felicidades. Portugal vai estar de olhos e ouvidos naquilo que ele vai fazer.

É este o cominicado da equipa que oficializa a participação do corredor luso.

«EQUIPO ASTANA PARA
LA VUELTA A ESPAÑA

23-8-2006

El equipo Astana para la Vuelta a España, que comienza el próximo sábado en Málaga, estará integrado por los siguientes corredores: Carlos Barredo, Assan Bazayev, Andrey Kashechkin, Aaron Kemps, Sergio Paulinho, José Antonio Redondo, Luis León Sánchez, Alexander Vinokourov y Sergey Yakovlev. Son reservas José Joaquín Rojas y Eladio Sánchez.
Directores deportivos: Herminio Díaz Zabala y Neil Stephens.

Astana Team / Oficina de Prensa
Jacinto Vidarte / tlf: +34...
Calle Princesa, 25 – 2º, 1 / 28008 Madrid-ESPAÑA»



Entretanto, como já passaram alguns dias e acredito que os meus caros leitores não vão andar para trás todos os dias, foi colocada, na 210.ª etapa, uma mensagem que me enviaram por e-mail.

sexta-feira, agosto 18, 2006

214.ª etapa




PRÉ-CONVOCADOS PARA OS MUNDIAIS DE SALZBURGO


O Departamento de Selecções da Federação Portuguesa de Ciclismo fez esta tarde sair o nome dos 21 corredores pré-seleccionados, grupo de onde sairá a representação lusa para os próximos Campeonatos do Mundo de Estrada.

Assim, estão pré-convocados 10 ciclistas Sub 23:

Filipe Cardoso, Tiago Machado, Rui Costa, André Cardoso, José Mendes, Afonso Azevedo, Vítor Rodrigues, José Martins e António Jesus.

Os corredores
Elites pré-convocados são 11:
Sérgio Paulinho, Rui Sousa, Nuno Ribeiro, Bruno Neves, Nélson Vitorino, José Azevedo, Sérgio Ribeiro, Pedro Cardoso, José Rodrigues, Hélder Miranda e Pedro Lopes.

213.ª etapa



VOLTA - RESCALDO I


Vamos lá então ao meu balanço desta 68.ª edição da Volta a Portugal.
Tenho que começar por justificar o porquê do atraso. A verdade é que, pela primeira vez em mais de década e meia, eu não estive lá. A distância, sendo boa conselheira, até porque retira alguma emocionalidade à escrita, não deixa de ser distância, principalmente para quem nos últimos 15 anos sempre viveu o acontecimento por dentro.

Claro que fiquei logo com uma ideia, mas faltavam-me dados. Por isso esperei. Não quis e não quero, ser injusto na minha apreciação, e corria sempre o risco de ver “cobradas” algumas análises com um simples – mas “demolidor” – «Tu nem sequer lá estiveste!».

Por isso esperei. Revi imagens, ouvi de novo os comentários e li hoje os “rescaldos” feitos na imprensa desportiva. Não mudei em quase nada a minha opinião, mas há aspectos que, por terem sido reforçados nas análises de quem lá esteve, eu posso abordar mais à vontade.
Gostei muito desta Volta.
Gostei, principalmente, da atitude das equipas portuguesas. Todas elas. Cada uma deu o que tinha para dar, embora seja justo sublinhar que algumas deram mais do que se esperaria delas.

O curioso é que tomo como mote duas coisas escritas por duas pessoas que lá não andaram. Mas que eu “perfilho” porque são dois “instantâneos” que quase por si só definem aquilo a que todos pudemos assistir. Não lhes pedi permissão, mas acho que não ficarão chateados comigo por usar as suas palavras.

Disse-me, em mensagem privada, o Diogo Martins, que «parecia que estive a ver dez clássicas»! Dez corridas de um dia, sem estratégias a prazo, pelo menos visíveis, e que redundaram numa corrida espectacular.

Escreveu o António Dias, num dos fóruns (o
www.pedaladas.info) de ciclismo que podemos consultar (e participar), que «quem faz as corridas espectaculares são os corredores, não o traçado».

Começo então pelo traçado.
Logo que fiquei a saber o mapa desta Volta escrevi aqui que gostava dele. Não mudei de ideias. Foi um traçado muito competitivo – e isso, creio, ficou demonstrado – no qual se nota, mesmo de olhos fechados, o dedo de alguém que sabe muito de ciclismo. Mesmo condicionado em relação aos acordos comerciais, o Joaquim Gomes “desenhou”, não a Volta perfeita, porque essa não existe e porque, creio que todos, incluindo o Joaquim, achamos que sem uma chegada à Torre não há hipóteses de o traçado da Volta se aproximar da perfeição. Mas esta Volta foi muito bem definida.

Volto a recuperar o que disse na altura (vou fazê-lo muitas vezes), o traçado convidava a uma Volta “aberta”. Claro que não vou agora dizer que já esperava que fosse TÃO aberta como foi. Isso surpreendeu-nos a todos. A começar pelo Joaquim Gomes…

Foi, tal como eu tinha previsto, uma Volta que se jogou na rectaguarda do pelotão, nos carros de apoio. O que aconteceu e, principalmente, o que NÃO ACONTECEU, teve origem nas maiores ou menores capacidades tácticas dos directores-desportivos (DD).

Por exemplo – eu sei que é fácil falar depois de as coisas acontecerem, mas o balanço não pode ser feito antes da corrida – foi notória a estratégia da Maia-Milaneza que fez do “minar” da auto-confiança da LA Alumínios – exactamente como fizera no Troféu Joaquim Agostinho – a base a partir da qual tentaria construir espaço para si própria. Não vale? Claro que vale. Cada um joga os trunfos que tem.

Em relação à volta da equipa de Vítor Paulo Branco e Américo Silva, não percebo como não houve alguém – principalmente os mais velhos - que não tenha visto a similitude entre o que lhe aconteceu e o que aconteceu durante vários anos com a Sicasal. A equipa de Vila Franca do Rosário era – foi quase sempre – a autêntica “selecção nacional”, tendo nos seus quadros os melhores corredores portugueses reforçados com reais valores contratados no estrangeiro, contudo, nos dez anos que esteve no pelotão SÓ GANHOU UMA VOLTA. E conheceu vários directores-desportivos. O que aconteceu então, e parece estar a repetir-se com a LA, é que não conseguem “desligar” daquilo que a concorrência faz ou deixa de fazer. Até parece que monta o seu plano de acção em função do que é previsível os adversários fazerem e, actuando estes de forma diferente ao previsto, não existe o chamado… “plano B”.

A LA Alumínios trabalhou incansavelmente, deu o peito à luta e a cara ao vento mas, quanto a proveitos… tendo em conta o que dela se esperava, ficou aquém do que se lhe "exigia". É que o “tribunal” da opinião pública é exigente e pede-se à equipa mais forte que ganhe tudo… A Sicasal, ou as pessoas que trabalharam na Sicasal, sabem bem do que eu estou a falar.

Curiosamente, nos anos em que a Maia dominou claramente o pelotão… não falhou. Mas não se esqueçam que a Maia só ganhou a sua primeira volta em 2001 e, nomeadamente na altura em que tinha nas suas fileiras o Zé Azevedo, pediu-se-lhe muito, mas resultados na Volta nem vê-los!...

Há circunstâncias que acabam sempre por condicionar a corrida dos apresentados como favoritos, daí o facto de haver quem prefira não ser “penalizado” com o ónus de “ter de ganhar”. Eu percebo porquê.

Não vou fazer uma apreciação equipa a equipa, até porque, como deixei num artigo escrito há dois ou três dias, não se podem julgar todos pela mesma bitola. Mais do que isso, há circunstâncias atenuantes que quase sempre escapam ao grande público mas que um analista não deve ignorar.

Dou um exemplo.
A equipa de José Augusto Silva, um técnico arguto, com sentido estratégico e que tem sabido nos últimos anos mostrar que é um dos bons DD do nosso pelotão levando corredores da segunda linha a ganhar etapas e até a vestir a camisola amarela… este ano foi infeliz.
Curiosamente, logo no ano em que parece que todas as outras equipas “jogaram” à Zé Augusto.

O facto de ter um plantel muito curto, ao que teremos de lhe juntar a tardia incorporação de Victoriano Fernandez, os problemas burocráticos que retiveram na Colômbia o Jeobany Chacón, a lesão, grave, de Paulo Barroso e depois a infelicidade de perder também Pedro Costa, afinal, a única “arma” de que dispunha, logo na primeira etapa… deixou a equipa arrasada. Que é que se pode pedir a um técnico de uma equipa pequena que tem de lidar com todas estas contrariedades?
Foi com grande pena minha – até pela amizade que nos une – que assisti à pálida prestação da equipa vitoriana e espero, sinceramente, que não deixe de ser dada ao Zé Augusto uma segunda oportunidade. Seria lamentável que se avaliasse a existência da equipa apenas pelo que aconteceu na Volta, tendo os seus responsáveis pleno conhecimento de tudo aquilo que atrás deixei escrito.
Seria como exigir a uma equipa da Divisão de Honra, sem o guarda-redes titular, sem o capitão, sem o habitual organizador de jogo a meio-campo e sem o seu único ponta de lança, fosse ganhar a casa do FC Porto. Toda a gente tem o direito de sonhar, mas convém que, nestas situações, se olhe para a realidade e com os olhos bem abertos. Não há milagres.

212.ª etapa



VOLTA - RESCALDO II


Em consciência, o que é que a LA Alumínios poderia ter feito, e não fez, para ganhar esta Volta? Eu digo… nada!
Achei arriscado, e escrevi-o logo na altura, a equipa ter assumido o controlo da corrida logo ao primeiro dia. Mais porque assim “aligeirava” a concorrência da obrigação de trabalhar na frente do pelotão do que por achar que não tinha capacidade de ela o fazer. Tinha. E teve.
Ah!, mas permitiu que acontecessem, pelo menos, três fugas que “deram” em três camisolas amarelas para outras equipas. Sim, é verdade, mas naquela altura quem é que não sabia que as referidas lideranças eram a prazo? Por acaso aconteceram em sequência – até ao cúmulo de ser uma por dia – mas estariam previstas como uma possibilidade a acontecer. Nunca, até à etapa da Guarda, a LA deixou de estar numa posição previlegiada para poder decidir a corrida a seu favor.

É verdade!, acho que a “chave” desta Volta esteve na etapa da Guarda. E, mais do que a Maia – que tinha a camisola amarela – quem mais saiu a perder nesse dia foi a LA.
A estratégia de meter o Cândido numa fuga, enquanto o seu homem melhor classificado, o Hector Guerra, ficava no pelotão junto ao João Cabreira, foi talvez o grande erro de Américo Silva. A concorrência SABIA que o homem da equipa para ganhar a Volta era o Cândido e não morderia o isco. Na verdade, ao colocar-se à frente do seu chefe-de-fila na Senhora da Graça, o espanhol baralhou todos os planos da equipa. Melhor, dinamitou o plano da equipa, que mostrou não ter mesmo um "plano B".
Atenção que eu digo ter sido a etapa da Guarda a “chave” da Volta, mas digo-o agora, depois da corrida ter acabado. Também eu, naquele dia, não percebi que o David Blanco era, de facto, candidato à vitória final.
Foi deliberada, aquela parte final da etapa, com o Blanco em fuga, ou aconteceu? Isso jamais saberemos. O Vicente Belda é um dos técnicos mais astutos do pelotão internacional e, tomando como boa a hipótese de nada ter sido planeado, a partir daquele momento soube gerir a situação com mão de mestre. Como? Mantendo a equipa, e o David Blanco “escondidos” no pelotão. A “guerra” era entre a LA e a Maia, ele, com a “presa” no laço, não o puxou de imediato, deixou-a “comer” o resto do isco e só no fim a apanhou. Se alguém no pelotão percebeu isso só pode ter sido Manuel Zeferino, não só porque é o técnico português que mais vezes teve de medir forças com a equipa valenciana, mas, acima de tudo, porque tanto Belda como o próprio Zeferino tiveram um “mestre” comum… Álvaro Pino que, por sua vez aprendeu com Rafa Carrasco que, se a memória me não engana, chegou a orientar os três na Zor, nos anos 80, quando Zeferino correu em Espanha.

Mas voltemos à LA. Creio não me ter enganado quando escrevi que Cândido Barbosa “fez questão” de ganhar a primeira etapa para ser o primeiro líder oficial da corrida. E a LA deu, nessa etapa, mostra de ser capaz de lidar com o pelotão… se as etapas tivessem sido todas semelhantes. Aliás, à chegada a Lisboa a sua estratégia voltou a funcionar. Mesmo a eventualidade de um dia perder a camisola amarela estaria de todo prevista. Até a Maia dos anos 2001/2004 não se “atreveu” a assumir a corrida do primeiro ao último dia. E os seus responsáveis certamente aceitarão que esta LA está ainda longe do poderio daquela Maia. Quando Zeferino saía com três chefes-de-fila e seis homens que controlavam a corrida a seu belo prazer. Nos próximos anos não teremos nenhuma equipa com um grupo de operários como Gonçalo Amorim, Renato Silva, Paulo Barroso, Rui Sousa, Pedro Cardoso, Victoriano Fernandez, Carlos Carneiro… (vou-me sempre esquecendo de algum!...). Todos se lembrarão ainda que em 2002 a Maia chegou ao “crono” final com três homens nos primeiros três lugares e que nesse mesmo “crono” Claus Möller “roubou” a amarela a Joan Horrach. Rui Sousa foi o 3.º classificado.

Na etapa da Senhora da Graça era mais do que previsível que a Maia ia atacar. E era quase certo que ganharia a etapa. Manuel Zeferino mostrou, outra vez, que é o melhor estratega do nosso pelotão e jogou tudo na generosidade de João Cabreira que, atacando no Viso, “despistava” a concorrência que ficou à espera – principalmente quando ele se deixou ficar para trás e permitiu a recolagem do grupo onde vinha antes – que o trunfo para a subida final seria outro. No género do «queres que a gente marque o miúdo, mas a mim não enganas». Enganaram-se.

E acredito que o Américo Silva também quis jogar no “bluff” quando no dia seguinte lançou o Cândido na fuga. Mas porque havia a Maia – apesar de ter posto na mesma fuga dois corredores, mostrando que estava atenta – de correr atrás do Cândido, mais do que o necessário, se o melhor colocado da equipa rival ia no pelotão junto com o camisola amarela? Lançar o Hector Guerra para a fuga, isso sim, teria originado grandes dores de cabeça para a Maia. Apesar dos exemplos dos dias anteriores, não acredito que ninguém tivesse previsto que a corrida ia mudar de etapa para etapa. Por isso as fugas seriam para ser controladas à distância. E o Américo Silva ficou à espera do próximo lance do Zeferino, na etapa da Torre, e este à espera que a LA batesse as suas derradeiras cartas na mesma etapa. E o facto de a camisola amarela ter ido parar ao tronco do austríaco Christian Pfannberger só veio ajudar a manter as coisas som aquela espécie de manto de nevoeiro. No qual Vicente Belda se manteve escondido, e David Blanco à vontade. Ninguém olhou para ele até reparar, depois da chegada ao Fundão, que podia vir a ser um perigo real. Como foi.

E o que aconteceu na etapa da Torre só vem provar que a LA não tinha mesmo o tal "plano B". A sua estratégia estava certa. Tirando o golpe de asa da DUJA-Tavira, os comandados de Américo Silva seguiram à risca o que estava planeado… desde Portimão. Provavelmente esperavam que na Senhora da Graça tivesse sido Pedro Cardoso ou Danaíl Petrov a ganhar, mesmo a vestir a camisola amarela, mas confiavam que, controlando, como fizeram, a etapa da Torre, ao Cândido chegaria o contra-relógio para ganhar a Volta.
Petrov perdeu 2.17 para o Cândido, no “crono”, e Cardoso 2.39.
E o Hector Guerra à frente do Cândido também atrapalhou muito.

Tentando resumir.
Não me parece que a LA não tenha feito o que podia para ganhar a corrida, à excepção daquela tal jogada furada da fuga do Cândido; e não creio que o Manuel Zeferino tenha feito “bluff” continuado acerca da juventude da equipa. Era verdade. O que ele fez foi desviar constantemente a atenção de todos dos seus homens com quem contava para discutir a Volta, “obrigando” toda a gente a “olhar” apenas para os mais novos que, nessa etapa da Guarda até foram os três últimos a cortar a meta. Um deles fora do controlo. Mas o técnico da Maia sabia até onde podia contar com eles, e não contava, certamente, que eles estivessem na frente a controlar a corrida. O que ele queria era que a LA se mantivesse na frente, desgastando-se o mais possível. Mas a LA teria sempre essa responsabilidade.

211.ª etapa



VOLTA - RESCALDO III


“bati” muito no famigerado “plano B” mas tenho que continuar a fazê-lo. É que, numa leitura bem à posteriori – a que eu mesmo me obriguei – chego à conclusão que mais nenhuma outra equipa o tinha, à excepção da DUJA-Tavira que, digo eu, SÓ tinha mesmo o “plano B”… Confusos? Explico. O Vidal Fitas – que está a ser uma agradável surpresa enquanto DD – tinha as duas opções da ordem: entrar nas fugas para mostrar as camisolas e… atacar nelas. Era o “plano B”. Não se ficar pela tentativa de pontuar nas metas intermédias, mas, a partir delas, quando as fugas têm tendência para de diluírem, partir para o ataque à vitória nas etapas. Vejam o que aconteceu na etapa que terminou em Lisboa… O "plano A" não era plano, era “obrigação”: entrar nas fugas; o "plano B" era aquele que tão bons resultados deu. E ainda podia dar-se ao luxo de enfrentar chegadas em pelotão compacto porque tinha, e ele sabê-lo-ia, um Martin Garrido em grande forma. Como se viu em Viseu.

Foi enorme a corrida dos Tavirenses. Ricardo mestre mostrou, na etapa de Fafe, que tem uma “alma até Almeida”, depois voltou a estar bem na senhora da Graça, mas ele é, acima de tudo, um trepador. E aquela jogada na Torre foi de mestre. Só pecou num aspecto. É a minha opinião, claro. Se o Ricardo Mestre tem sido o terceiro no alto igualava e ultrapassava, à luz dos regulamentos, o Hélder Miranda e ficava em segundo na montanha, precavendo a equipa contra qualquer azar que pudesse vir a acontecer ao Nelson Vitorino, e este seria o líder da classificação dos trepadores. Merecia-o, pelo trabalho que fez, simplesmente “monstruoso” e, com a hipótese – que ele, Vidal Fitas – já teria em conta, a de Ricardo Mestre bater Tiago Machado no “crono”, teria tido três homens no pódio e teria feito justiça ao trabalho de Nelson Vitorino sem beliscar as possibilidades de a equipa ganhar a montanha.
Foram este lance mal medido e aquela inexplicável cena de ver a DUJA à frente do pelotão a perseguir… Luís Bartolomeu que acabaram por macular uma corrida quase perfeita da formação algarvia.
Isto enquanto em prova, porque já sei que a cidade acolheu com festa a equipa, que tinha um mar de gente à sua espera mas, continuo “desconfiado” – e peço desculpa se estiver enganado – que não se lembraram da grande “alma” do CC Tavira, o engenheiro Brito da Mana. Espero, sinceramente, estar enganado e pedirei desculpas ao Jorge Corvo e ao Vidal Fitas, mas, pelo contrário, a confirmar-se este… “esquecimento”, é imperdoável.

Quanto às outras equipas nacionais – já tinha dito que me escuso a fazer apreciações uma-a-uma – partiram para a corrida concerteza com o mesmíssimo "plano A" do Tavira. Sair para fugas e esperar que alguma coisa desse. Sem "plano B", outra vez. E andaram nas fugas. Andaram todas elas nas fugas. E algumas conseguiram ainda mais, conseguiram chegar à camisola amarela, como a Carvalhelhos-Boavista e a Madeinox. Todas as outras conseguiram, pelo menos uma vez, ter um corredor seu no pódio. À excepção de uma. Estavam alcançados os seus objectivos. O caso mais “doloroso” acabou por tocar à Riberalves-Alcobaça – Vítor Gamito deixará o comando da equipa no final da temporada – mas, apesar da sua abnegação, Hélder Miranda – que fez o que pode – não era a melhor opção para ganhar a montanha. Isto apesar de, no ano passado, a DUJA-Tavira ter conseguido esse feito com Krassimir Vasilev. Mas o búlgaro, ainda assim, é significativamente mais trepador que o Hélder.

Termino esta parte com uma breve alusão às equipas estrangeiras.
A Comunitat Valenciana acabou por ser feliz. Ninguém ligou muito à escapada de David Blanco – lembram-se de eu, nessa etapa, ter escrito que não percebi porque no grupo deixaram ir o galego e depois “caçaram” impiedosamente o Claus Möller? Lembram? Pois é… – e depois foi a “ratice” de Vicente Belda a fazer o resto. A verdade é que o Blanco foi sempre com o grupo da frente, na etapa da Torre e só “deram” por ele quando saíram as classificações e se puseram a fazer contas. Tinham dado “boleia” ao inimigo. E eu também escrevi – perdoem-me a imodéstia – que só dois corredores não “caberiam” num eventual grupo que tomasse a dianteira, o austríaco Pfannberger e… David Blanco. Mas ser treinador de sofá é muito mais fácil do que sê-lo no terreno. Eu sei.
A CV não fez NADA durante a corrida, mas viu sorrir-lhe a sorte. Que acabou por saber merecer. Quanto às outras… foram paupérrimas. Não vieram acrescentar nada ao pelotão. A Barloworld parece que “queimou” todos os cartuchos na primeira chegada. Mas aqui eram precisas as tais informações que eu, não estando no terreno, não podia saber. Parece que os italo-britânicos foram dizimados por uma onda de problemas de saúde com os seus corredores. O mesmo aconteceu à Vitória-ASC, por isso não se pode ser completamente rígido quando se faz um balanço só a partir do escalonamento das etapas e da classificação final.
A Kaiku ainda chegou à camisola amarela, tal como a ELK, mas apenas aproveitaram a conjuntura do momento. Sim é claro, o mesmo aconteceu com as portuguesas que chegaram à amarela, à excepção da LA e da Maia.
A Cerâmica Flamínia, sendo Profissional Continental está ao nível das nossas continentais da segunda linha, como a ELK, e a Relax foi uma completa nulidade. E o que dizer da ProTour Lampre? Não vale a pena gastar mais caracteres com estas.

210.ª etapa



VOLTA - RESCALDO IV


E só resta falar alguma coisa da organização. Já aqui lhe deixei algumas críticas que, espero, sejam olhadas pelo lado construtivo, mas ainda falta falar de alguns outros aspectos.

Começando pelo princípio.
O traçado. Já disse que gostei dele. A história da chegada à Torre tem que ser resolvida, mas sei que a principal responsável por não haver na Volta a rainha das subidas não é a Organização. E como Joaquim Gomes explicou, ainda antes da corrida, a PAD não se pode dar ao luxo de arcar com todas as despesas inerentes a uma chegada. Como ele explicou muito bem, para ser a PAD a “pagar” a chegada à Torre teria de desviar para essa etapa 10% dos ganhos nas outras nove etapas e se ele diz que não há hipótese é porque mesmo as outras chegadas estarão ela por ela, no que diz respeito ao ganho e gasto. Não sobrará muito dinheiro. Não o suficiente para pagar essa tal chegada sem um forte patrocinador local.
O estranho é que seria possível juntar quatro autarquias (Gouveia, Seia, Covilhã e Manteigas) mais uma Região de Turismo para, com a contribuição de todos, se chegar à verba necessária. Mas, como já disse, o problema é mais complexo. Contudo, se o Joaquim Gomes praticamente assegurou que em 2007 há chegada na Torre é porque as negociações estão no bom caminho.
De resto, ficou demonstrado que os traçados das etapas foram, desportivamente, os correctos e proporcionaram uma Volta brilhante.

Só estive numa chegada, a de Lisboa, mas deu para perceber que reina por ali – no seio da Organização – alguma confusão, ao que não é alheio o facto de a “feira” ser armada no mesmíssimo local da chegada. Na Vuelta também há “feira”, mas se às vezes à partida não há grande preocupação em separar as duas coisas, essa separação é respeitada nas chegadas onde só há lugar para uma classe de artistas: os corredores. Escolhe-se sempre um outro local da cidade – e reconheço que em Lisboa não daria muito jeito, o que já fica mais fácil nas outras localidades, mais pequenas – para essa realização que, como já escrevi, é paralela à corrida em si, logo, jamais se deviam encontrar. É a definição de paralela. Até porque naquela zona há vários monitores pelos quais se pode seguir a corrida e a maioria dos “colunáveis” nem tem intenção de se misturar com o “povão” tentando ganhar o seu espaçozinho junto às barreiras.
É bom que esta iniciativa continue, que a organização tente alcançar uma maior visibilidade, oferecendo outra espécie de “atracções” que, não duvido, acrescentam um maior leque de potencial material informativo, mas já completamente à parte da corrida. Não “joga” esta mistura entre desporto, que é a corrida, e social.

Outra coisa que precisa mesmo ser mudada. Não se compreende o porquê de, para além das três rádios nacionais que cobriram o evento, tenham sido acreditadas mais… preparem-se: 33 estações locais. Se cada uma levar três pessoas – e há várias que levam mais – no final havia mais gente da Comunicação Social do que corredores.
É preciso adoptar-se em Portugal aquilo que a UCI e a AIJC aconselham.
O problema está mesmo em separar quem, eventualmente e pelo trabalho que mostra, possa vir a ter permissão para acompanhar a Volta e quem ali não tem lugar porque só lá vai passear o microfone. A cobertura da Volta acaba por ser um negócio rentável para essas rádios, e só por isso lá vão.
Mas a questão mais pertinente é mesmo: qual a da necessidade de rádios de Freixo-de-Espada à Cinta, de Alguidares de Baixo e de Alcabideche de Cima andarem na Volta? A maioria limita-se a por os microfones à frente dos corredores, não conhecem os corredores, não fazem mais qualquer espécie de tratamento informativo a não ser intervenções nos noticiários e depois “directos” das chegadas. A difusão da Volta, via rádio, está mais do que garantida com as três rádios nacionais que cobrem todo o País. Os outros não acrescentam mais nada, antes pelo contrário. Então, se não estão lá só para mostrar os microfones, andam a passear-se, mostrando os carros. Estão a auto-promover-se usando para isso a Volta. Não é esse o objectivo da Comunicação Social. Disse eu que fazem apontamentos nos noticiários… Pois! A maioria delas à hora certa põe no ar os noticiários, ou da RDP, ou da RR, ou da TSF. Podem, e devem, fazer o mesmo no ciclismo. Nomeadamente na Volta.
Com mais de 90 (!!!) jornalistas de rádios locais, aos quais há a acrescentar os da Imprensa, nacional e regional… em Bruxelas (foi enviado para a sede da AIJC o relatório obrigatório) vão ficar boquiabertos. E se fosse eu, pensaria: Caramba… os portugueses que não são empregados de mesa nas centenas de restaurantes no Algarve… são jornalistas!

Há ainda a questão de não se estarem a cumprir na íntegra os regulamentos para uma corrida internacional da Classe HC.
No Livro Oficial, e sendo que a tendência é para que se retirem os jornalistas da corrida, até porque o departamento de apoio à Imprensa funciona, falta a indicação de uma rota alternativa (a mais curta, ou mais rápida) de ligação entre a partida e chegada. Falta, no “mapa” das chegadas, a localização das Salas de Imprensa – eu tenho aqui duas dúzias de Livros Oficiais de corridas em Espanha, na Bélgica, em França e em Itália, posso mostrar –; falta um segundo livro com a listagem dos hotéis onde ficam as equipas, também ele com as plantas das cidades e a localização exacta dos hotéis. Para distribuir às equipas mas também aos jornalistas.
Houve falhas no posicionamento das “bandeiras amarelas” – viu-se na televisão –; foi grave o que aconteceu no “circuito" de Fafe, com os pórticos de aproximação à meta; quando uma corrida de bicicletas passa pela meta antes de a etapa terminar, funciona a regra das corridas em circuito: tem de ser assinalada, com um placarde e com um aviso sonoro – uma sineta – que falta uma volta para a etapa estar cumprida; os receptores de televisão, na Sala de Imprensa, têm que estar sintonizados ANTES de os jornalistas chegarem; tem que lá estar, em permanência, um técnico habilitado para resolver na hora eventuais problemas; as folhas dos Comunicados Oficiais TÊM de ser em papel de cores diferentes para o filme da etapa, para os resultados da etapa e para as classificações gerais; os comunicados são entregues às equipas, na noite anterior à etapa, DEVIAM ter a previsão meteorológica para o dia seguinte.
E o Fernando Emílio escreve hoje (ontem, que já é sexta-feira a esta hora) que devia haver um circuito de vídeo-conferência. Hoje em dia isso até já nem é tão difícil assim.
Na Vuelta, quando chego à Sala de Imprensa, às vezes antes ainda de a etapa ter começado, já se está a testar o circuito directo para a vídeo-conferência. Os jornalistas na Sala de Imprensa ouvem as perguntas dos colegas que vão à chegada, ouvem as respostas e podem fazer perguntas…
Enfim… há ainda uma série de coisas a fazer, e urge que sejam concretizadas. Algumas delas são tão fáceis de solucionar.

E pronto. Fico por aqui nesta análise, atrasada, é verdade, mas que, por isso mesmo, espero ter sido mais ponderada, àquela que foi a Volta mais espectacular dos últimos 16 anos.
Parabéns a TODOS os corredores, a TODOS os DD. Parabéns à Organização por aquilo que de bom já consegue mostrar. Deixei algumas críticas, é verdade. Tomem-nas como uma tentativa da minha parte para colaborar para que a Volta seja melhor a cada ano que passa.
Para o ano lá estarei.

quinta-feira, agosto 17, 2006

209.ª etapa



SEGURANÇAS(?)


Sou do tempo em que ainda não era preciso haver "seguranças" na Volta. Havia, isso é verdade, uma meia dúzia de figuras contratadas - pelo menos pelo seu aspecto - no cais da estiva do porto de Leixões, de volumosa barriga fora da camisola suja e transpirada que, mais pelo aspecto e pelo cheiro do que por outra coisa, afastavam as pessoas das "portas" de entrada na zona de chegada. Até essa porta, a uma boa centena de metros da meta, corríamos - não me excluo porque também fiz isso - então atrás dos corredores para, sem lhes dar tempo sequer a respirar querermos à viva força uma declaração que, naquelas circunstâncias, nunca passava do "foi duro e difícil mas estou contente..."

Já no fim da era JN a segurança chegou a ser feita por um grupo de pára-quedistas. Era mais funcional. Os portugueses sempre respeitaram (e temeram) as fardas.

Agora as coisas são diferentes, mas contratar uma empresa de segurança até nem é original. A primeira vez que isso aconteceu, ainda no tempo do JN - creio até que seria a mesma empresa que fez a segurança este ano, pelo menos, tanto quanto me lembro, os uniformes eram semelhantes - e no primeiro ano, quem comandava a equipa na Volta era o pai do corredor Paulo Ferreira.

Só estive uma tarde na Volta. Foi em Lisboa. Apesar de ser o jornalista da escrita, em actividade, com mais voltas feitas, de nos últimos 16 anos ter coberto mais de uma centena de corridas e de toda a gente me conhecer, quando cheguei ao recinto da chegada, e apesar de levar colocada uma "pulseira" azul a dizer VOLTA-LISBOA-6 DE AGOSTO, ainda foi preciso o Fernando Petronilho, responsável pela montagem e organização das Salas de Imprensa e pelas informações oficiais da corrida, para os jornalistas, dizer ao senhor da "porta" que «é um convidado, tem acesso aonde quiser ir...»
Dali passei!

Mais à frente, junto ao camião de onde trabalham as rádios, já não me foi permitida a passagem. O Joaquim Vieira, o Alex, o João Carlos Garcia tiveram de vir cá fora e debruçar-se no varandim para me abraçarem. Para eu os abraçar. A minha última intenção seria a de prejudicar os colegas que estavam a trabalhar, mas...

Depois, tive, de facto, acesso à zona VIP onde pude estar com alguns dos muitos amigos que tenho no ciclismo, e foi aí que vi a etapa, num dos vários monitores de televisão. Até tive direito a uma garrafa de água, mas podia ter pedido qualquer outra coisa, que era à borla. Mas eu agora estou a água.

Mais tarde, já depois da etapa terminada, o Fernando Petronilho combinou comigo - tinha ido com ele e regressaria com ele à Sala de Imprensa, que ainda ficava longe - encontrar-mo-nos junto ao camião onde funcionava a sala das Conferências de Imprensa. Para lá me desloquei mas não pude entrar. Apesar de vários colegas terem tentado dizer ao segurança que eu podia entrar, o home foi inflexível: «Aqui... só jornalistas!»
Jamais eu faria uso dos meus documentos para entrar ali. A não ser, se ele mos tivesse pedido para ver se me deixava entrar ou não. Não o fez. Mas tudo bem. Se não tinha o "crachat" ao pescoço é porque não pertencia ali.

O mesmo aconteceu na entrada para a zona do pódio, onde ainda fiz intenção de entrar mas da qual me afastei ao ver que o centro de todas as atenções era o senhor José Castelo Branco. A esse não barraram a entrada, como me fizeram mais tarde, já depois da cerimónia de pódio e quando só queria ir ter com os meus companheiros de A BOLA que cobriam a corrida. Acabei por entrar, sim senhor, mas porque o Joaquim Gomes deixou a pessoa com quem estava a falar e me veio buscar quando eu já me afastava.

Ao contrário do que possam estar a pensar, EU não sou a personagem desta história e os exemplos atrás até são de reconhecimento pelo trabalho dos homens da segurança. Dizem-lhes: «Aqui e ali só entram estes...» e eles cumprem. Óptimo. Nada contra.

Toda esta lenga-lenga para chegar aonde quero. Ao objectivo desta crónica.
De entre os vários homens que compõem a equipa de seguranças, deu para ver na televisão que há dois com uma missão bem específica: escoltar o vencedor da etapa, afastando-o dos chatos dos jormalistas. Ok. Já escrevi lá atrás que também eu corri atrás deles, mas hoje mudei de ideias e acho perfeitamente disparatado o querer-se que um corredor, depois de 180 km e de um sprint a 70 à hora, diga seja o que fôr com o mínimo de discernimento. Até porque depois há um espaço para uma conferência de Imprensa. E que interesse terá, seja para quem fôr, ouvir um corredor que apenas rolou no pelotão mas porque, sendo o que está mais à mão, não escapa ao microfone quase a esborrachar-lhe o nariz?

Agora é que vem a verdadeira questão. Aquilo que originou este artigo.

Dizem aos homens: «Vocês vão a correr (e eles vão) apanham o vencedor e trazem-no para aqui e não deixam ninguém chegar ao pé...»
E eles querem fazer isso mesmo. São funcionários da empresa, querem fazer o que lhes é mandado para que o chefe, e depois o próprio patrão, não tenham nada a dizer do seu trabalho. Pudera. Não é fácil arranjar emprego nos dias de hoje.
Mas, por exemplo, na etapa do Fundão, o pobre do Nentcho Dimitrov, técnico adjunto da DUJA-Tavira e búlgaro como Krassimir Vasilev, o vencedor da etapa, quase não conseguiu abraçar o seu corredor, ainda que usasse um equipamento da formação algarvia vestido. Caramba! Para obedeceram ao SEU chefe, os seguranças não deixavam nem um dos CHEFES do corredor cumprimentá-lo. Nem os companheiros de equipa que vinham dar-lhe os parabéns. Também, não levem a coisa tanto à letra.
Para "salvarem" o corredor do sufoco dos jornalistas, "sufocam-no" eles os dois sozinhos!!!
Não era mais fácil por mais uma barreira, ao fundo da zona de desaceleração, com uma porta por onde os corredores passassem? Os corredores e os seus massagistas, que em algumas etapas mal conseguiram chegar ao pé deles? Os jornalistas não passavam dali e pronto!

Algumas chegadas foram "adornadas" destas cenas caricatas. Nem os massagistas, que sempre estão depois da meta para receberem os corredores, dar-lhe uma água, qualquer coisa que eles necessitem, podiam tocar no vencedor da etapa que os dois seguranças se mostraram - creio que eram sempre os mesmos dois - demaziado zelosos.

E dei comigo a pensar "que falta de sensibilidade, se os mandassem tirar a chucha a um bebé eles faziam-no". Sem pensarem. Aquela cena da chegada ao Fundão não me sai da cabeça. Se os homens pudessem andar armados de pistola, ai não sei... mas o pobre do Nentcho, que só queria abraçar o SEU corredor, o seu amigo, o seu compatriota... ainda via uma pistola apontada ao nariz. E houve corredores, que por serem de estatura maior, se viram e desejaram para pedalem ao ritmo da corridinha dos seguranças porque iam todos atrofiados debaixo dos seus braços. Pareciam ladrões apanhados em flagrande delito. E os seguranças polícias.

Revejam lá essa postura. Se fizerem favor.

quarta-feira, agosto 16, 2006

208.ª etapa



NÃO POSSO FAZER SÓ... UM BALANÇO


Despido da minha função de jornalista, olhando para a corrida apenas como espectador, não sou capaz de, na divisão do “ter&haver” apontar derrotados.

Vou explicar.
Todos os observadores foram unânimes em reconhecer que esta Volta foi completamente aberta. Todos os dias ganhou um corredor diferente – ok, à excepção do David Blanco, para ser preciso – TODOS os dias mesmo houve mudança de líder, todos os dias houve fugas e nem todas “pegaram”, todos os dias houve luta e empenhamento, ora, isso abrangeu todas as equipas. Houve só uma, e a isso não posso (nem quero) fugir, que, de facto, não mereceu estar neste pelotão: foi a Relax-GAM. Não fizeram absolutamente NADA. Não se tinha notado se cá não tivessem estado e isso diz tudo.

De resto, dizer que esta ou aquela equipa esteve abaixo do que delas se esperava… é um pouco redutor. De todas se espera que FAÇAM a corrida, e qual delas (principalmente entre as portuguesas) o não fez?

Ah!... ganhar é outra coisa, mas isso já eu dissera: com 17 equipas e só dez etapas, muita gente vai ficar de fora dos pódios. Ainda assim, só houve UMA equipa portuguesa que nunca subiu ao pódio. Se não me falha a memória que eu escrevo isto de coração, sem a preocupação de ter a meu lado todos os papéis da corrida. Mas já agora… vou confirmar!

É… só uma não subiu ao pódio.

Mas, já agora, puxamos o “filme” todo até ao princípio, mesmo ao princípio, ao arranque para a temporada, e procuremos aí um “culpado” para algumas exibições menos “coloridas”. Estão a seguir-me? Ok…

A que conclusão chegaram?

A mesma a que eu cheguei? Não?

De quem é a “culpa” de em Portugal ser possível inscrever equipas só com 9 ou 10 corredores? Depois, chega-se à Volta e usando como “desculpa” a míngua dos seus plantéis – sujeitos a lesões e abaixamentos de forma, claro que sim, que isso é incontrolável – ou da juventude da equipa, justifica-se, tanto a falta de resultados como a corrida menos “visível”.

Pronto! Chegados a este ponto, a “culpa” só pode ser da Federação Portuguesa de Ciclismo! Ou dos seus regulamentos, o que vem dar na mesma coisa.

Demos mais um passo em frente neste “descascar da cebola”. E se a FPC – ou os seus regulamentos – não fossem tão permissivos… quantas equipas teríamos no pelotão?

(Não estou a falar daquilo que eu penso, que sempre disse que acho termos equipas a mais…)

Quem perdoaria à FPC não ter aceitado uma, duas… três equipas porque só inscrevia 9 ou 10 corredores, sendo alguns deles, neo-profissionais? Eu ajudo: seria o aqui d’el rei, que a federação está CONTRA o ciclismo.

A federação estabeleceu um número mínimo de corredores, como um orçamento mínimo, como um número de auxiliares mínimo, em cada uma das equipas. Se estas se cingem pelo “mínimo”, ainda por cima, sabendo que o barómetro da temporada é a Volta, que só aparece em Agosto, sabem que podem ter em mãos um (ou mais) problema(s). Corredores lesionados, corredores cansados – porque correram todas as corridas da temporada -, corredores em baixa de forma, isto porque o facto de terem na Volta ciclistas inexperientes, isso foi opção – talvez “obrigada” sim pelos pequenos orçamentos – mas foi opção dessas equipas! Ou não?

Quem “joga” só para não “descer” não pode ser julgado pela mesma bitola de quem arranca para vencer o “campeonato”. Esta é outras das situações que não pode ser ignorada num balanço à Volta.

Como é que vou aqui escrever que a Vitória-ASC fez uma corrida baixo do que se esperava… se já não esperava nada desta equipa? Abaixo de nada não há… nada!

Custa-me muito apontar a dedo que esta ou aquela equipa não acrescentam coisíssima nenhuma ao pelotão, mas… se existem é porque garantiram ter as condições mínimas para correr. Ora, entre quem tem 300 mil euros de orçamento e quem tem 950 mil… há um espaço no qual caberiam três equipas iguais à primeira.

Mas há que acrescentar aqui ainda mais um dado. Ninguém pode responsabilizar a FPC por manter demasiado baixa a fasquia daquilo a que é preciso responder no que respeita aos regulamentos. Não cabe à FPC a responsabilidade de traçar objectivos para as diversas equipas. Todos nós aceitamos que é a Volta o que mais interessa à maioria das equipas, mas a FPC não tem, não deve nem leva isso em conta. Eu posso querer fazer uma equipa com 300 mil euros com mil e uma intenção. Se for para cumprir todo o calendário e ainda chegar a Agosto para fazer alguma coisa que se veja… isso é responsabilidade minha.

Resumindo: o ideal era que se subissem os parâmetros dentro dos quais seria necessário apresentar o projecto de uma equipa profissional. O que acontece agora é que TODAS as equipas cumpriram o obrigado pelos regulamentos, logo… foram aceites. A partir daí a FPC não é tida nem achada. Mas é ela a responsável por não condicionar, de uma forma mais realista, a inscrição das equipas. Só íamos ter 4 ou 5? Se calhar só. Mas não serei eu a responsabilizar-me pelas dezenas de pessoas que ficavam desempregadas. Isso é que não.

Há regulamentos, são cumpridos… ok… força, para a frente.

207.ª etapa



GOSTEI MUITO (NA GENERALIDADE) DA COBERTURA DA VOLTA


Afastado do terreno, fiquei estes dez dias agarrado à televisão e aos jornais. E assim fui complementando as minhas ideias muito próprias.
É verdade! Confesso que nunca sintonizei a rádio. Não sei porquê… normalmente são ajuda preciosa mas, talvez porque não me era prioritário saber que ganhara esta ou aquela meta intermédia… e porque no fim tinha as declarações dos principais personagens na TV… não liguei a rádio.

(Mas aproveito para daqui enviar um estreito abraço ao “Quim” Vieira e ao Alex, da Renascença – que pude cumprimentar quando fui à chegada a Lisboa – e ao João Carlos Garcia, da Antena 1, com quem também troquei um abraço. Não cheguei a descortinar a equipa da TSF. A propósito… que saudades Carlos Severino… quantas voltas fizemos? E o Jorge Gabriel, hoje figura pública graças à TV… foi meu companheiro de muitas jornadas na Volta de 1992…)

Em relação aos jornais, li todos os dias os três desportivos – hábito enraizado e que não tenho intenção de mudar – e algumas vezes também os outros, os generalistas.

No que respeita aos desportivos, não sei quantas mais pessoas têm por hábito ler os três, diariamente, o que notei e aqui sublinho é que, se calhar pela primeira vez, sendo que a parte da crónica da etapa, mesmo vista por olhos diferentes não fogem muito umas das outras, no resto complementaram-se muito bem. Gostei.

Lendo os três, ficava todos os dias com uma visão abrangente. Quer ao tratamento do noticiário, com as declarações dos “homens do dia”, quer com os trabalhos feitos à margem da Volta.

Mesmo n’A BOLA – que tínhamos sido o Jornal Oficial nos dois últimos anos, logo, com mais espaço, mas também com a quase obrigatoriedade de, para fazer um retrato do País, encontrar reportagem fora do pelotão – este ano achei a reportagem bem mais… coesa no seu conteúdo.

O Record também encontrou “escapatórias” bem interessantes à simples narração da etapa, e O JOGO prendeu-me todos os dias com as diversas rubricas fixas.

Creio que, em termos de desportivos, o público ficou muito bem servido. E no fundo, também acabei por gostar dos trabalhos publicados no JN, no Diário de Notícias e no Correio da Manhã. Acho que o público não se pode queixar da cobertura da Volta. Pena é que, nas outras corridas, estes sejam completamente ausentes e, mesmo entre os desportivos, só A BOLA fez todas as corridas.

Quanto à televisão…
Quanto à televisão, temos que dividir as coisas em duas partes. Três, talvez…
Dividamo-la em três.

A primeira, a realização.
Quase sem mácula, digo eu.
De facto, creio que não ficou nada por mostrar. E muitas (mas muitas) vezes com imagens de uma qualidade que não ficou nada a dever às realizações das grandes corridas internacionais. A RTP não faz mais nenhuma corrida em directo, por isso faltam referências. Mas, só como exemplo, refiro uma pequena passagem a que pudemos assistir na etapa da Torre.
A dada altura Nélson Vitorino faz com insistência o sinal de que precisa de beber. Logo a moto que o seguia nos deu uma imagem preciosíssima: no quadro da sua bicicleta os suportes para os bidons de água estavam vazios. Melhor do que mil palavras.

Aqui, se calhar, é preciso dizer que os operadores de câmara e os motards são os da empresa que faz o Tour.


(Já agora, nas "empresas" que nasceram que nem cogumelos e vão vendendo os seus serviços às diversas organizações ao longo da temporada, para realizarem aqueles resumozinhos que passam no sábado a seguir ao fim da corrida, já vi - vi, não o podem negar - "operadores" de câmara montados na moto... ao contrário, de costas, de frente para a corrida o que é ABSOLUTAMENTE PROÍBIDO por todas as regras de trânsito e mesmo da corrida - aqui não entra a tal coisa de o espaço da corrida ser neutralizado. Os cameramen têm de montar a moto regularmente, agora, se não são capazes de filmar sem ser virados de costas... se calhar bão são profissionais!)

Voltando atrás, não acredito que o operador de câmara (francês) tivesse percebido os comentários do estúdio, na chegada, mas a verdade é que, na altura exacta, as imagens mostraram aquilo que se dizia. O corredor estava sem água. O operador é experiente e sabe de ciclismo.

A segunda parte vai para o João Pedro Mendonça e o Marco Chagas.
Estiveram à altura daquilo a que nos habituaram. O Marco sempre bastante sóbrio, sem, uma vez que seja, fazer um comentário que não fosse explicado, naquilo a que o João Pedro ajuda de uma maneira que já é quase imagem de marca. Nenhuma das questões que o João Pedro põe “cai” do ar sem justificação…
E não duvidem que ele sabe perfeitamente as respostas, mas ali tem o papel de fazer as perguntas que os espectadores fariam. Perfeito. Muito bom.
Qualquer deles deixa perfeitamente claro que faz aquilo com muito “gozo”, e o resultado final não é bom, não é óptimo: é “bótimo”. Sem nunca se arvorarem em estrelas.
Toda a gente sabe que o Marco venceu quatro Voltas a Portugal, mas são raríssimas – a não ser em algumas respostas ao João Pedro – as vezes em que ele diz que foi corredor. E quando o faz marca as distâncias. Quase sempre lá vem o… «no meu tempo!...»

A terceira parte, nesta análise ao trabalho da RTP, tem a ver com as intervenções dos outros “pivots”. Primeira nota para que não fiquem dúvidas: nenhum deles era estreante. Antes pelo contrário.

Um deles cometeu demasiados erros para escaparem nesta análise.
Desde o Manuel “Severino”, logo no dia de apresentação das equipas, ao “David Blanco fez menos 4 segundos que o seu compatriota…”, quando ELE ERA OBRIGADO A SABER que o Martin Garrido é argentino e não espanhol… foi um rosário de… imprecisões. O grave nisto foi o ter ficado plenamente provado que a maior parte desses erros foi devido à falta de… ter feito o “trabalho de casa”.
Algumas das suas “tiradas” foram de exemplar mau gosto.

(Estou a rever o resumo de todas as etapas.)
Ainda agora disse que o Lizuarte Martins “teve a oportunidade de passear a camisola amarela perto de casa”. Fosse o Lizuarte, fosse qual fosse o corredor, merece um pouco mais de respeito. Que ele não seria o vencedor da Volta… ok, qualquer um diria, mas naquele dia ninguém mais do que ele quereria manter a camisola e não a envergou apenas para… a passear.
Mas pronto. Está dito, está dito… já passou.

A 4.ª parte (eu tinha dito que eram só três!...) tem a ver com o Há Volta.
Eu sei e compreendo a razão da sua existência.
Quando vende uma chegada a uma autarquia a PAD junta como “bónus” um espaço – que a PAD comprou à RTP, que também cobra pela transmissão – na televisão. Um espaço onde o senhor presidente e os senhores deputados municipais podem aparecer, mostrando as coisas bonitas que fizeram. Juntam-se-lhe uns nomes da música pimba (que, afinal de contas, é o que o povo gosta) e um ou dois grupos da terra, mais uns concursos e está a festa montada.
Agora, começarem o Há Volta num canal ao qual todos têm acesso, à hora em que num outro canal da própria RTP começam a transmissão em directo da etapa… faz algum sentido? Quem fica em casa para ver o ciclismo e tem os dois canais nem sequer hesita.

Que audiência terá então o Há Volta? Alguma, acredito. Há uma série de diásporas dentro deste regtângulozinho e há gente de Beja e Viseu, e Guarda e Castelo Branco um pouco por todo o país, nomeadamente nos grandes centros urbanos onde, afinal de contas, a audiência é medida. Até confesso que numa chegada a Serpa eu era capaz de fazer um “zappingzinho” e ir alternando as imagens em directo da corrida com algumas imagens da minha terra, de onde saí menino e moço…
Mas porque é que esse programa não é retirado do horário em que coincide com a transmissão da corrida em directo? Lembro-me de, há uns anos atrás, uma Grande Prémio Telecom ter tido direito a… directos e, logo após o términus da etapa ia para o ar um País, País – que agora se chama Portugal em Directo – emitido da localidade onde a etapa terminara e com os mesmos autarcas e ranchos folclóricos… Ideia genial. Porque foi posta de parte em favor deste formato que não me parece seja o mais adequado?


Volto atrás com um pequeno pormenor.
Em Portugal (para elém da teimosia de alguns em não perceberem que, quando nos referimos aos espanhóis, termos de ter em conta que o apelido usado é o penúltimo, não o último), até porque somos, de facto, bons para as línguas estrangeiras, às vezes cometemos erros convencidíssimos de que "sabemos tudo".
Logo que vimos escrito pela primeira vez o nome da equipa Kaiku, logo "decidimos" que a sílaba tónica seria a primeira. Daí termos sempre falado na Káiku... Valeu-nos a experiência em Espanha do Orlando Rodrigues - que se calhar até teve de comprar alguma vez aquela marca de leite - para sabermos que a sílaba tónica é a segunda, pelo que Kaiku se deve ler - e dizer - Kaíku. O contrário aconteceu - e acabo de ouvir nos resumos das atapas que estou a rever - com o colombiano Feliz Cardenas. O nome do homem diz-se "Cardênas" e não "Cárdenas"...

Isto leva-me a lembrar uma das tais conversas (verdadeiras lições) que antigamente podíamos usufruir nos longossssssssss jantares após a etapa terminada e o trabalho posto nas redacções, assunto que o Fernando Emílio chamou à sua crónica pessoal na passada terça feira.

É verdade. Ficávamos se não todos, pelo menos muitos, à mesa, a ouvir as "estórias" dos mais velhos e aprendendo a admirá-los. E lembro-me muito bem de uma vez o Fernando Correia (agora na TSF, quem não conhece?) - um dos "monstros" da nossa rádio, com o qual ainda fiz algumas voltas - ter compartilhado connosco isto, que tento agora recuperar:

Contou, nessa noite, o Fernando Correia que, estando num estádio português, prestes a iniciar o relato de mais um jogo internacional, foi surpreendido por um colega do país da outra equipa que lhe pediu que lhe explicasse a pronúncia correcta dos nomes dos jogadores da equipa portuguesa. E ele fê-lo, tendo o outro colega reescrito a composição da equipa, agora tendo em conta a sua pronúncia correcta.

Nós temos a mania que sabemos tudo. Óbikwelu, Obikwélu, Obikwelú... estamo-nos nas tintas. Cada um diz à sua maneira. E bastava perguntar ao atleta como se diz o seu nome. E, se no futebol, não sendo impossível, não é fácil falar com todos, no ciclismo isso é a coisa mais fácil que há. Há dúvidas? Procure-se o corredor em causa e pergunte-se-lhe. Perguntar não ofende.

E deixemos de chamar DANIEL ao Danaíl Petrov, por exemplo.

206.ª etapa



CURIOSIDADES E OUTRAS COISAS... QUE NÃO INTERESSAM A NINGUÉM

David Blanco ganhou a Volta. Não foi grande surpresa, foi, isso aqui eu posso dizê-lo “contra” a vontade de grande parte de nós que, confessadamente, assumíramos que era importante para o nosso ciclismo a vitória de um corredor português na Volta. O pior é que, ao contrário do ano passado, quando nos ficou a ideia de que faltou “só um bocadinho assim…”, este ano nem essa ilusão nos ficou.
Ganhou o David Blanco e ganhou Bem. Ponto final. Também, apesar de ter nascido na Suíça, o rapaz até é galego – o que quer dizer: quase português! - começou a correr cá e até representou equipas portuguesas de Norte ao Sul do País… Vamos “nacionalizá-lo”!!! Então? Se o Obikwelu e o Deco podem…
Estava a brincar.

O pior é que nos últimos dez anos só dois portugueses – Vítor Gamito (2000) e Nuno Ribeiro (2003) – ganharam a Volta. Nesses mesmos dez anos, é a quarta vez (segunda consecutiva) que o vencedor é de uma equipa estrangeira. Mas, com tantos jovens que deixaram bem demonstrado o seu valor… vamos ter esperança de que a tendência destas duas últimas edições seja contrariada. Já em 2007.

Vamos a algumas curiosidades desta Volta.

Apesar de não ter conseguido o seu objectivo, Cândido Barbosa conseguiu feito digno de destaque. Foi o único corredor que, do primeiro ao último dia esteve no top-10, na classificação geral, e só não esteve todos os dias no mesmo top-10 das chegadas, devido à tal desqualificação, em Lisboa. Mas, graças à “pressa” da organização em despachar a cerimónia, esteve TODOS os dias no pódio (em Lisboa chegou a envergar a faixa de vencedor da etapa); andou três dias de amarelo – contando com o primeiro – e os demais de branco, símbolo da regularidade, embora na 3.ª etapa a tivesse usado... “emprestada”.

O segundo corredor mais regular, dentro dos dez mais (final de etapa), dia-a-dia, foi Danaíl Petrov que esteve lá no final de 5 das etapas. Manuel Cardoso, Pedro Cardoso, Ruggero Marzoli, David Blanco e Christian Pfannberger estiveram no mesmo top-10 quatro dias. Neste no top-10, relativo a cada uma das chegadas, estiveram 49 corredores, embora 24 deles tivessem estado apenas uma vez. A LA Alumínios-Liberty, graças a 5 dos seus corredores, teve 16 vezes homens nos dez mais da etapa, mais duas que a Maia-Milaneza (com 5 corredores também), com a Carvalhelhos-Boavista na terceira posição com 4 corredores a garantirem 10 lugares entre os primeiros dez de cada etapa, o que, estatisticamente, podia ser convertido em um homem nos dez-mais todos os dias. As equipas estrangeiras com mais presença no mesmo grupo foram a Comunitat Valenciana e a Lampre, com sete lugares nos dez mais, os mesmos que a Madeinox-Bric e menos um que a DUJA-Tavira.

No que respeita aos primeiros dez primeiros na classificação geral individual, dia-a-dia, Cândido Barbosa fez o pleno – foi o único – 2x no 1.º lugar; 2 nos 2.º, 3.º e 4.º lugares e 2 no 6.º posto. Nunca baixou daí. O seu companheiro de equipa, Rui Sousa foi o segundo mais assíduo neste top-10, com 7 presenças, mas a sua melhor posição na tabela foi o 5.º lugar, à 5.ª etapa. Danail Petrov (melhor lugar: 5.º), Pedro Cardoso (4.º) e David Blanco… o vencedor final, estiveram seis vezes nos dez melhores.
Contabilizando por equipas, a LA Alumínios-Liberty, com 4 corredores esteve 23 vezes no top-10 da classificação geral individual, a Maia-Milaneza, também com 4 corredores, esteve 18 e a Barloworld, com três corredores, 11 vezes.

Voltando ainda ao Cândido, uma curiosidade: só venceu uma das 27 metas volantes da prova. Foi a de Manteigas, na 9.ª etapa, a última que tinha metas volantes. David Blanco ganhou duas: a primeira, na terceira etapa, em São Miguel de Poiares, e a 2.ª na oitava etapa, em Lageosa do Mondego, de onde arrancou para a vitória na Guarda (e quem sabe… na Volta).

Em termos de domínio quase total, temos a LA-Liberty, que comandou a classificação por equipas em 9 das dez etapas (só a DUJA-Tavira se intrometeu na sua liderança), e Cândido Barbosa que foi durante 9 dias o líder dos pontos (só perdeu o primeiro lugar na chegada a Lisboa, em favor de Manuel Cardoso).
A classificação do Prémio da Montanha teve 5 líderes e a da Juventude, quatro.

Com 148 corredores à partida, este foi o décimo maior pelotão de sempre, na Volta (o maior foi o de 2000, com 179 corredores). Houve 44 abandonos (o ano passado só 29) e 17 (38,6%) aconteceram na etapa da Senhora da Graça. Na jornada para a Guarda ficaram pelo caminho mais 9 corredores e a etapa da Torre “só” fez 6 baixas…

LA Alumínios-Liberty e DUJA-Tavira foram as únicas equipas que chegaram ao fim completas. Carvalhelhos-Boavista e Maia-Milaneza foram as outras equipas que não sofreram desistências. A baixa nos axadrezados ficou a dever-se à expulsão de Hélder Magalhães (na etapa da Senhora da Graça), e a dos maiatos à eliminação de Bruno Lima, na etapa da Guarda.
No pólo oposto, as mais dizimadas foram a Vitória-ASC e a ELK, que terminaram só com três corredores, mas a equipa portuguesa alinhou com 9, à partida, e a austríaca apenas com sete.

Uma curiosidade nas 15 equipas que sofreram baixas: em nove delas o seu último corredor, o que tinha o dorsal a terminar em 9 (em 8, no caso da Relax, e 7, na ELK) não chegou ao fim… e só três perderam o seu número 1.

As outras curiosidades foram “batidas” todos os dias por toda a Comunicação Social: em 10 etapas houve 9 vencedores – só David Blanco bisou – e nove líderes, só Cândido Barbosa vestiu por duas vezes – ainda que não consecutivas – a camisola amarela. Portanto, todos os dias a amarela mudou de dono.

Classificação final dos nove líderes:
1.º, David Blanco
3.º, Cândido Barbosa
4.º, João Cabreira
8.º, Carlos Pinho
9.º, Ricardo Mestre
17.º, Christian Pfannberger
49.º, Lizuarte Martins
53.º, Gustavo César
e
93.º, Manuel Cardoso

O último classificado, Pablo Urtasun, perdeu 2.14.17 segundos.
Se “agarrássemos” nele e o colocássemos na estrada, por exemplo, na etapa que acabou em Lisboa, quando o pelotão chegou à meta estaria ele ainda à saída do Porto Alto, a 86 quilómetros da Praça do Império!!!

terça-feira, agosto 15, 2006

205.ª etapa



SÓ PODE SER UM HOMEM DO NORTE, CARAGO!


É delirante o "Editorial" de ontem n'O JOGO. Quando não há assunto, ou quando o mais "quente" do momento é o abandono do treinador da equipa de futebol do FC Porto, mas não convém "bater" muito no estranho facto de nas últimas épocas, depois da saída de Mourinho, a equipa já ter conhecido quase meia dúzia de técnicos e, por duas vezes, ter ficado sem treinador durante a pré temporada, enquanto se assobia para o lado lá se descobre um tema para preencher a coluna.

Pois o articulista em causa resolveu "implicar" com a mancha de bandeiras... vermelhas, que dão colorido às zonas de partida e chegada da Volta. Só fala das dos CTT, mas por acaso a EDP também coloca nesse espaço muitas meninas vestidas de... vermelho!

Bem, o homem não o faz por menos e vai buscar, para exemplo, as bandeiras da mesma cor, com as esfingies de Lenine, Mao Tsé Tung e Estaline (esqueceu-se dos Kmher Vermelho), desenterrando algo que a memória colectiva já quase não recorda.
Quem se lembraria de ver na festa de cor, na Volta, retratos das "manifestações" cumunistas de Leste?

Ele lembrou-se. E só viu as bandeirinhas dos CTT, pelo menos só falou nelas - no final justifica o texto com a preocupação sobre o dinheiro gasto pela empresa pública naquelas bandeirinhas -, mas já deve ter reparado também nas fatiotas das meninas da EDP.

Ora, o vermelho é a cor institucional de ambas as empresas, como o é de muitas, muitas mesmo. Desde a Vodafone, por exemplo, até à cadeia de hiperes do Continente do mui nortenho Belmiro de Azevedo.

Olhando para o pódio, o vermelho é predominante e até há duas equipas no pelotão que vestem de vermelho. Deve ser uma tortura para o homem, se segue as etapas da Volta.

Mas porquê implicar com as bandeirinhas vermelhas? Só vejo uma explicação:
Aquele coração só tem UMA cor. O azul-e-branco, claro! :-)

204.ª etapa




PRATA FOI HÁ DOIS ANOS


15 de Agosto de 2004, cerca das 5 e meia da tarde. Sentados nos seus sofás, milhares de portugueses, fãs do ciclismo, emocionámo-nos com o que vimos através da televisão. No segundo degrau do pódio, de medalha de prata ao pescoço estava Sérgio Paulinho que minutos antes se sagrara vice-campeão Olímpico de ciclismo, em estrada, prova de fundo, só batido pelo então consagradíssimo italiano Paolo Bettini.

O nosso sonho começara pouco depois da entrada na última volta quando Bettini atacou no grupo da frente e só Sérgio Paulinho o seguiu. Havia que vencer ainda a difícil subida que marcava o percurso e, por momentos, Paulinho desapareceu das imagens. «Já foi bom ter aparecido assim na frente», pensámos muitos de nós, mas no tempo que levou termos este pensamento, o Sérgio recolava à roda do italiano. E não se limitou a segui-lo. Revezaram-se na frente, dividindo esforços, até poucas centenas de metros do risco final. Axel Merckx vinha na terceira posição mas já sem hipóteses de chegar aos dois corredores da frente. Apesar de ciente da força do adversário, Sérgio Paulinho portou-se com galhardia e foi ele quem lançou o ataque à meta. Bettini bateu-o com relativa facilidade, mas a medalha de prata era do português.

Faz hoje dois anos. Parece que já foi há tanto tempo… Para que não esqueçamos esse momento, dos maiores do ciclismo luso, aqui fica a recordação.