sexta-feira, agosto 18, 2006

210.ª etapa



VOLTA - RESCALDO IV


E só resta falar alguma coisa da organização. Já aqui lhe deixei algumas críticas que, espero, sejam olhadas pelo lado construtivo, mas ainda falta falar de alguns outros aspectos.

Começando pelo princípio.
O traçado. Já disse que gostei dele. A história da chegada à Torre tem que ser resolvida, mas sei que a principal responsável por não haver na Volta a rainha das subidas não é a Organização. E como Joaquim Gomes explicou, ainda antes da corrida, a PAD não se pode dar ao luxo de arcar com todas as despesas inerentes a uma chegada. Como ele explicou muito bem, para ser a PAD a “pagar” a chegada à Torre teria de desviar para essa etapa 10% dos ganhos nas outras nove etapas e se ele diz que não há hipótese é porque mesmo as outras chegadas estarão ela por ela, no que diz respeito ao ganho e gasto. Não sobrará muito dinheiro. Não o suficiente para pagar essa tal chegada sem um forte patrocinador local.
O estranho é que seria possível juntar quatro autarquias (Gouveia, Seia, Covilhã e Manteigas) mais uma Região de Turismo para, com a contribuição de todos, se chegar à verba necessária. Mas, como já disse, o problema é mais complexo. Contudo, se o Joaquim Gomes praticamente assegurou que em 2007 há chegada na Torre é porque as negociações estão no bom caminho.
De resto, ficou demonstrado que os traçados das etapas foram, desportivamente, os correctos e proporcionaram uma Volta brilhante.

Só estive numa chegada, a de Lisboa, mas deu para perceber que reina por ali – no seio da Organização – alguma confusão, ao que não é alheio o facto de a “feira” ser armada no mesmíssimo local da chegada. Na Vuelta também há “feira”, mas se às vezes à partida não há grande preocupação em separar as duas coisas, essa separação é respeitada nas chegadas onde só há lugar para uma classe de artistas: os corredores. Escolhe-se sempre um outro local da cidade – e reconheço que em Lisboa não daria muito jeito, o que já fica mais fácil nas outras localidades, mais pequenas – para essa realização que, como já escrevi, é paralela à corrida em si, logo, jamais se deviam encontrar. É a definição de paralela. Até porque naquela zona há vários monitores pelos quais se pode seguir a corrida e a maioria dos “colunáveis” nem tem intenção de se misturar com o “povão” tentando ganhar o seu espaçozinho junto às barreiras.
É bom que esta iniciativa continue, que a organização tente alcançar uma maior visibilidade, oferecendo outra espécie de “atracções” que, não duvido, acrescentam um maior leque de potencial material informativo, mas já completamente à parte da corrida. Não “joga” esta mistura entre desporto, que é a corrida, e social.

Outra coisa que precisa mesmo ser mudada. Não se compreende o porquê de, para além das três rádios nacionais que cobriram o evento, tenham sido acreditadas mais… preparem-se: 33 estações locais. Se cada uma levar três pessoas – e há várias que levam mais – no final havia mais gente da Comunicação Social do que corredores.
É preciso adoptar-se em Portugal aquilo que a UCI e a AIJC aconselham.
O problema está mesmo em separar quem, eventualmente e pelo trabalho que mostra, possa vir a ter permissão para acompanhar a Volta e quem ali não tem lugar porque só lá vai passear o microfone. A cobertura da Volta acaba por ser um negócio rentável para essas rádios, e só por isso lá vão.
Mas a questão mais pertinente é mesmo: qual a da necessidade de rádios de Freixo-de-Espada à Cinta, de Alguidares de Baixo e de Alcabideche de Cima andarem na Volta? A maioria limita-se a por os microfones à frente dos corredores, não conhecem os corredores, não fazem mais qualquer espécie de tratamento informativo a não ser intervenções nos noticiários e depois “directos” das chegadas. A difusão da Volta, via rádio, está mais do que garantida com as três rádios nacionais que cobrem todo o País. Os outros não acrescentam mais nada, antes pelo contrário. Então, se não estão lá só para mostrar os microfones, andam a passear-se, mostrando os carros. Estão a auto-promover-se usando para isso a Volta. Não é esse o objectivo da Comunicação Social. Disse eu que fazem apontamentos nos noticiários… Pois! A maioria delas à hora certa põe no ar os noticiários, ou da RDP, ou da RR, ou da TSF. Podem, e devem, fazer o mesmo no ciclismo. Nomeadamente na Volta.
Com mais de 90 (!!!) jornalistas de rádios locais, aos quais há a acrescentar os da Imprensa, nacional e regional… em Bruxelas (foi enviado para a sede da AIJC o relatório obrigatório) vão ficar boquiabertos. E se fosse eu, pensaria: Caramba… os portugueses que não são empregados de mesa nas centenas de restaurantes no Algarve… são jornalistas!

Há ainda a questão de não se estarem a cumprir na íntegra os regulamentos para uma corrida internacional da Classe HC.
No Livro Oficial, e sendo que a tendência é para que se retirem os jornalistas da corrida, até porque o departamento de apoio à Imprensa funciona, falta a indicação de uma rota alternativa (a mais curta, ou mais rápida) de ligação entre a partida e chegada. Falta, no “mapa” das chegadas, a localização das Salas de Imprensa – eu tenho aqui duas dúzias de Livros Oficiais de corridas em Espanha, na Bélgica, em França e em Itália, posso mostrar –; falta um segundo livro com a listagem dos hotéis onde ficam as equipas, também ele com as plantas das cidades e a localização exacta dos hotéis. Para distribuir às equipas mas também aos jornalistas.
Houve falhas no posicionamento das “bandeiras amarelas” – viu-se na televisão –; foi grave o que aconteceu no “circuito" de Fafe, com os pórticos de aproximação à meta; quando uma corrida de bicicletas passa pela meta antes de a etapa terminar, funciona a regra das corridas em circuito: tem de ser assinalada, com um placarde e com um aviso sonoro – uma sineta – que falta uma volta para a etapa estar cumprida; os receptores de televisão, na Sala de Imprensa, têm que estar sintonizados ANTES de os jornalistas chegarem; tem que lá estar, em permanência, um técnico habilitado para resolver na hora eventuais problemas; as folhas dos Comunicados Oficiais TÊM de ser em papel de cores diferentes para o filme da etapa, para os resultados da etapa e para as classificações gerais; os comunicados são entregues às equipas, na noite anterior à etapa, DEVIAM ter a previsão meteorológica para o dia seguinte.
E o Fernando Emílio escreve hoje (ontem, que já é sexta-feira a esta hora) que devia haver um circuito de vídeo-conferência. Hoje em dia isso até já nem é tão difícil assim.
Na Vuelta, quando chego à Sala de Imprensa, às vezes antes ainda de a etapa ter começado, já se está a testar o circuito directo para a vídeo-conferência. Os jornalistas na Sala de Imprensa ouvem as perguntas dos colegas que vão à chegada, ouvem as respostas e podem fazer perguntas…
Enfim… há ainda uma série de coisas a fazer, e urge que sejam concretizadas. Algumas delas são tão fáceis de solucionar.

E pronto. Fico por aqui nesta análise, atrasada, é verdade, mas que, por isso mesmo, espero ter sido mais ponderada, àquela que foi a Volta mais espectacular dos últimos 16 anos.
Parabéns a TODOS os corredores, a TODOS os DD. Parabéns à Organização por aquilo que de bom já consegue mostrar. Deixei algumas críticas, é verdade. Tomem-nas como uma tentativa da minha parte para colaborar para que a Volta seja melhor a cada ano que passa.
Para o ano lá estarei.

2 comentários:

mzmadeira disse...

O meu caro amigo Teixeira Correia, por não ter conseguido colocar um post aqui, enviou-me a mensagem via-email e, como tenho todo o gosto na sua colaboração, claro que acedo ao seu pedido e a tranfiro para aqui...


Meu caro Madeira, discordo total e completamente da tua opinião sobre rádios locais e rádios e/ou jornais nacionais.
Segundo o último estudo da Marktest as rádios nacionais perderam 300.000 ouvintes. Não morreram, mudaram-se para as locais.
Permite-me que te diga que nas “locais” há gente (jornalistas) com mais capacidade e conhecimentos que muito boa gente que anda nas nacionais, Antena 1, TSF, RR, porque a Comercial e a Nacional e outras do grupo, não existem.
Quanto à AIJC, como é que o seu representante pode ao mesmo tempo ser um jornalista a acompanhar a corrida ? Quantos sócios tem ? E a Delegação em Portugal fica onde, em Curralinhos de Cima, ou na secretária do Delegado ?
Meu caro Madeira, não sou obrigado a ler A Bola, com análises parciais, normalmente beneficiando a Maia, pelos motivos que tu sabes tão bem quanto eu.
Não me digas que a Vuelta nas chegadas é um primor, há mólhadas como cá. Nem todos podemos ser o José Maria Garcia, mas muitos temos tanta ou mais capacidade do que muita gente das (rádios) e dos (jornais) nacionais. Então porque não retiras o Público, o Expresso e outros que fazem ciclismo uma vez no ano e com pessoas que vão para a Volta, como prémios por serem miúdos bem comportados e afilhados dos directores.
Como nas rádios locais não temos subsídios do Estado para pagar muitos profissionais dos nossos quadros, temos de fazer da Volta um negócio comercial. Com excepção da RDP, será que todos os outros vão para a Volta sem publicidade ?
Temos um alvará, somos controlados pela ANACOM. Pagamos IRS, IVA e Segurança Social, logo não somos “piratas”, temos os mesmos deveres e absolutamente os mesmos direitos que todos os e as outras.
Em Beja ou na Cuba, em Alenquer ou Torres Vedras, em Tavira ou Alcobaça, em Matosinhos ou na Feira, ninguém é obrigado a ouvir o Vieira ou o Garcia, a ler o Emílio ou o Santos.
Depois da "fauna" que inundou a Volta (os ditos VIP's), para acabarem com o resto devem retirar as rádios locais da corrida e deixarem a Volta para um ou dois como defende o Fernando.
Não concordo minimamente com a tua posição, porque não me incluo no grupo dos ignorantes do ciclismo. Manel, não me troco por muita gente dos e das Nacionais.
Um abraço.
Tx.Correia

(Caro Teixeira, deves aperceber-te que fiz uma pequenina alteração no teu texto, transformando num bem mais prudente "fauna" as palavras que usaste. Não é censura, mas já agora... mantenhamos este espaço a um nível que seja aceitável. Um abraço. MJM)

mzmadeira disse...

Caro Teixeira Correia,

respeito, como é evidente, a tua opinião, mas no meio dos teus argumentos confundes-te e podes confundir terceiros.
Isso de rádio "piratas" é coisa passada e é evidente que hoje todas as que se mantêm no ar estarão legalizadas. Percebo que usaste a imagem para reforçar a tua opinião, mas eu não chamei nem chamarei "pirata" a nada ou ninguém.

Em relação à falta de presença de inúmeros Órgãos de Comunicação Social ao longo da temporada, resumindo a sua aparição à Volta a Portugal, sabes bem o que penso e não deixei ninguém de fora, não estou é para fazer uma lista exaustiva, e se o fizesse, as rádios locais estariam em grande força nessa lista de ausentes. Não defendo que à Volta só vá quem tiver feito todas as outras corridas, gostava é que, pelo menos, a maioria dos outros fosse também às outras provas. Só ganhava o ciclismo e, naturalmente, os seus leitores/ouvintes.

Quando tentas demonstrar que na Vuelta também há "molhadas", escamoteias (propositadamente?) o facto de que não vês lá - e tu já lá andaste - rádios locais. Mas assim até parece que eu estou contra as rádios locais. Não estou. Acho é que cada um tem o seu lugar. Mais nada.

Agora, em relação à AIJC - a tal instituição que para muitos "nem existe" mas que lhes causa um "nervoso" inexplicável.
Outra vez, sabendo eu que tu sabes, voltas a ignorar uma coisa que é de extrema importância. Se a AIJC é uma associação de jornalistas... é evidente que, desde o presidente de direcção aos delegados nacionais, os seus membros são... jornalistas. E podem estar no activo sim!
Ora, diz-me lá se não viste na sala de Imprensa da Vuelta, e com ele falaste e trocaste impressões, o Jacinto Vidarte que era - antes de se afastar para chefiar o Gabinete de Imprensa da Liberty/Astana - jornalista d'A MARCA e, ao mesmo tempo, delegado da AIJC para... a Península Ibérica porque em Portugal não havia um número suficiente de associados para termos a nossa própria delegação?

A história da sede da delegação é apenas um "fait-divers" que usas para distrair as atenções daquilo que deve, realmente, ser discutido.

Um grande abraço,
Manuel José Madeira