sexta-feira, outubro 06, 2006

253.ª etapa


CICLISMO DE PISTA. PORQUE VALE A PENA APOSTAR...

Pois bem, nestes dois últimos dias, e no meio de outras discussões apareceu aqui o tema do Ciclismo de Pista.
Não vou facilitar e vou ser honesto como sempre fui e quero continuar a ser.
Não há, NUNCA HOUVE ciclismo de pista em Portugal.

Não! As chegadas da Volta a Portugal às pistas do Lumiar, de Alvalade, do Lima ou das Antas, bem como as de Tavira e Loulé não têm NADA a ver com ciclismo de pista.

A vertente-pista do ciclismo é um capítulo em tudo à parte do ciclismo de estrada.
Mas, vão perdoar-me, vou, não só pôr o dedo na ferida como carregar. Até doer. Doer mesmo.

Temos que recuar para aí 50 anos.
O ciclismo era praticado por não, profissionais que, na altura da Volta – e só da Volta – apareciam a integrar equipas e a tentarem mostrar o que valiam.

Chegar à frente de todos sempre foi um objectivo de qualquer homem/mulher. Para isso, para além de saber andar de bicicleta era preciso juntar mais uma ou duas características. Vontade de fugir ao anonimato e vontade de aparecer com ídolo, isto numa altura em que a CS dava, de facto, espaço ao ciclismo. Era SÓ na Volta. Haverá muita gente que acha estranho que, hoje em dia, a maioria das provas não tenha o acompanhamento que – eu acho que sim – mereceriam, mas a História diz-nos que a Volta e só a Volta merecia cobertura dos OCS.

Essa batalha para que os jornais estejam em TODAS as corridas é nova. Está a disputar-se agora e, dentro da perspectiva daquilo que o ciclismo é actualmente, o primeiro passo não se pode exigir à segunda, mas pedir para que sejam os organizadores a pensar nisso.

Mas este artigo é sobre o Ciclismo de Pista,
Não é, contudo, possível ignorarmos a vertente-estrada. E esqueçam TUDO o que ouviram falar sobre o ciclismo para se focarem, de forma não engajada, sobre a pista.

Quem aparecia no ciclismo de estrada, da Volta a Portugal e demais corridas, era o trabalhador rural que ia de bicicleta para a fazenda onde trabalhava; era o trabalhador industrial que ia para a empresa onde ganhava a vida.

Já eram “corredores” de bicicleta. Com tantos vícios e tão impreparados que o nosso melhor corredor de todos os tempos, dizem-me os que de perto conviveram com ele… nem sabia andar de bicicleta.

Tem uma história de quedas que suplanta a de triunfos. E estes foram mesmo muitos. Não sprintava porque não sabia andar de bicicleta sem ser sentado… o que conseguiu foi à custa da sua tremenda força e não menos tremenda vontade de mostrar que… não era só um portuguesito.

Limpe-se” a imagem de Agostinho destes dois “pequenos” pormenores e o que nos resta? Um tipo que tinha tremenda força e que, como bom português que era, não gostava de ficar atrás dos outros.

Onde está o ciclista?
Já pensaram que se calhar não houve?

Leiam a história do Agostinho e tentem extrapolá-la para os dias de hoje.
Fica, como eu disse, um homem com muita força física e uma personalidade um pouco para além do português que prefere “chorar” o ser um coitadinho do que morder os lábios até sangrarem para mostrar que é tão bom como os outros.

Mas não quero perder a linha orientadora deste artigo que é sobre o ciclismo de pista.
Entre o Ciclismo de Pista e o de estrada não há nenhuma semelhança. Nenhuma. Nem as bicicletas, se tirarmos o facto de todas terem apenas duas rodas.

O ano passado tentou-se, com a boa vontade da federação – mas foi mesmo só a boa vontade – revitalizar o Ciclismo de Pista. Redundou num tremendo fracasso.
Porquê? Porque NÃO temos corredores de pista. Hellás!... Parece o Ovo de Colombo deitado terra abaixo.
Como foi que se pretendeu dinamizar o ciclismo de pista sem que para tal tenhamos alguma vez tido uma formação adequada?

Querem um exemplo?
Nas provas que se disputaram houve um corredor – peço desculpa por não me lembrar agora do seu nome (eu podia procurar, mas o espírito deste Blog é mesmo o de escrever o que me vai na alma, agora, neste momento, e não o de preparar apuradas “teses”)… - dizia eu que houve um corredor, búlgaro de nascimento, e pertencendo aos quadros do Clube de Ciclismo de Tavira, que pulverizou tudo e todos.

Mas o Ciclismo e Pista tem todo um manancial de possibilidades a oferecer aos jovens portugueses que não dá para perceber o desesvintimento da FPC nele. Ah!... vai ser preciso formá-los primeiro. Isso é verdade. Mas digo eu, não valerá a pena?

Atentem a este exemplo: por ser de iniciativa individual – sem intervenção de clubes, de associações ou da federação – temos m campeão da Europa e campeão do Mundo de… BTT /numa das suas variantes que eu não sou, nem pretendo ser, especialista em tudo).

Mas fazer BTT é tremendamente fácil. Basta uma bicicleta e muitas horas de treino porque terreno para praticar não falta.

E chego à primeira questão. Como queremos ter Ciclismo de Pista se… não temos pistas?
Sei que a FPC luta, há anos, pela possibilidade de podermos construir um velódromo. Ok… E se nas escolas de basquetebol não se tivesse avançado porque não era possível ter um daqueles “marcadores” quadridimensional que apresenta a marcha do marcador e o número de faltas de cada jogador pendurado bem no meio do tecto de um pavilhão?

O que é que quero dizer? Isto: porque é que temos de esperar por um velódromo – a ser construído em Lisboa, está bom de ver – para avançar com a formação de pistards? Não deveria ser prioritário a recuperação das pistas que existem (mesmo más, que o são todas)?

Agora, por favor, tentem seguir o meu raciocínio…

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