domingo, julho 08, 2007

644.ª etapa


OS BRITÂNICOS NÃO LÊEM JORNAIS...

É evidente que não vou aqui escrever “crónicas de etapas”, mas é o Tour. A maior corrida do Mundo; o terceiro mais importante evento desportivo a que podemos assistir.
E vejo. Vou ver sempre que puder.
E vou escrever – também quando puder – algumas notas soltas.
Para manter a flexibilidade nos dedos…

Os britânicos – no caso de Londres temos, obrigatoriamente que considerar o facto de que será, a par de Nova Iorque, a cidade mais cosmopolita do planeta, pelo que, não me admiraria que todas as nacionalidades dos corredores que arrancaram para mais uma edição do Tour tenham tido… adeptos especiais; seus concidadãos –, mas escrevia… os britânicos não devem ler jornais desportivos. Não devem perder tempo a ler editoriais.

Não me admiraria muito. Primeiro, porque na Grã-Bretanha não há a figura de “jornal desportivo”, depois, porque, em termos de interesses, o Ciclismo não estará entre as primeiras opções. Devem, por isso, ignorar toda a negra onda de notícias que tente a submergir o próprio Ciclismo, enquanto modalidade desportiva.

A alternativa é que o público, o “povo”, as pessoas que realmente gostam de Ciclismo não o deixa cair.

Dizem os jornais de hoje que ontem terá estado cerca de um milhão de pessoas espalhado ao longo dos 7,9 quilómetros do percurso do Prólogo. Hoje, outra vez muita gente à beira da estrada e, se no caso de ontem, em Londres, ainda se poderia dizer que podiam estar 500 mil de cada lado da avenida… à espera para poderem atravessar para o outro lado, hoje essa teoria já não seria aplicável.

A minha teoria é a de que o público, o “povo”, continua a amar esta modalidade única e ama-a aquilo que, especialmente nós, os portugueses, não somos capazes de ver: o espectáculo.

E não poupam aplausos. Querem lá saber se o Basso, o Ullrich, o Petacchi… por aí a fora, não estão e porque não estão!
Gostam é de Ciclismo, por isso acorrem a aplaudir… os que estão.
Todos os que estão.

Vimos hoje, pela televisão, algo que é de todo anormal no Tour. Uma queda, que se ficou a dever a alguma desatenção, é verdade, mas numa situação quase única: um obstáculo não assinalado, bem no meio da rota do pelotão. Preciosa a explicação de Marco Chagas, ainda e sempre sem rival em termos de comentador, pelo tanto que sabe de Ciclismo.
Ao contrário do que acontece em Portugal, no Tour são os próprios polícias quem tem a tarefa de assinalar, com a tradicional bandeira amarela e o apito, os obstáculos daquele género. Ora, enquanto na Grã-Bretanha, os gendarmes não podem cumprir essa tarefa. E não havia ninguém.

Isto leva-me a fazer aqui um pequeno grande destaque, direitinho para os motards que, em Portugal, quer sejam pagos pela organização, quer sejam voluntários, têm essa tarefa. De uma importância enorme, no que respeita à segurança da corrida.

Normalmente, ninguém fala deles. A não ser que aconteça algum acidente… por “culpa” deles. Daqui um abraço apertado para todos, nas pessoas de dois dos mais carismáticos motards que fazem as corridas em Portugal, o Carlos Santos e o Paulo Sousa. Paulão, para os amigos…

Outra das notas que não podia ignorar respeita ao facto de, a dada altura termos visto… um comboio parado na passagem de nível à espera que passasse o pelotão. Normalmente, este é que tem de pôr o pé em terra.
Claro que não era um comboio qualquer e o que vimos foi apenas… folclore. Mas foi giro.
O apito do sacana do comboio é que era irritante!

Também reparei que ontem, no Prólogo, a Discovery Channel se apresentou com um novo visual, onde o verde aparecia em proporções significativas no equipamento. Não é inédito, a antiga US Postal chegou a alinhar com um equipamento diferente na última etapa, quando foi para consagrar Lance Armstrong. Contudo, hoje lá estavam de volta as camisolas que a equipa apresenta este ano, mas nos calções ainda havia algum verde.

E por falar em cores… estranhei – e apressei-me a tomar nota, mas o Marco Chagas também o não deixou escapar – o facto de a Saunier Duval se apresentar com o seu equipamento habitual: amarelo. Ok, é significativa – estou a repetir-me!!!!! – a proporção do branco nas camisolas, mas nunca (*) antes a organização havia permitido camisolas amarelas no pelotão.

Por isso, a ONCE tinha de mudar, e usou, muitas vezes, o rosa como alternativa e, pelo menos um ano, correu de preto.
(*) - Este nunca é relativo, porque, confesso, me falta informação em relação aos primeiros anos da corrida. Como por exemplo foi exagerado o que li, algures (não me lembro e não interessa), e que dizia que PELA PRIMEIRA VEZ não havia dorsal n.º 1 no Tour. A verdade é que a "moda", primeiro, e a obrigação, depois, de se usar um dorsal apareceu muito DEPOIS de 1903, quando se disputou o primeiro Tour, pelo que, de certeza, este não é o primeiro ano que o Tour não tem o dorsal n.º 1. Houve mesmo muitos em que não havia... dorsais!

Terminando por hoje…
Gostava de se mosquinha e poder ouvir os comentários daqueles que, não raro, erguem a voz contra as condições das estradas portuguesas em algumas provas. Aconteceu hoje e vai voltar a acontecer, mesmo depois de se chegar a França, o pelotão rolar por estradas onde tinha que se “comprimir” de tão estreitas que aquelas eram.
Que sirva para se aceitar que os Corredores correm nas condições que se lhes apresentam. Não é obrigatoriamente necessário que o seja por vias rápidas.

2 comentários:

Paulo Sousa disse...

Madeira,

Quer em meu nome, quer em nome dos restantes (e esta semana vão estar muitos de forma voluntaria no Joaquim Agostinho) motociclistas que fazem o que sabem e podem para manter a segurança da caravana (não é só a dos corredores) colocando muitas vezes a nossa propria segurança em risco, o nosso obrigado pelas tuas palavras de reconhecimento.

Upps, já não me lembrava de estar 100% de acordo contigo.

mzmadeira disse...

Caro Paulo,
nós gostamos ambos da mesma coisa, que é o Ciclismo. Isso é o FUNDAMENTAL.

Tudo o resto é apenas acessório.
Abaço,
MJM