ATÉ SEMPRE, EZEQUIEL!...
Senhor Ezequiel!
Meu Caro Amigo,
escrevo-lhe esta Carta com a maior das dores dor por saber que já não vou a tempo que o meu Amigo a lei-a.
A Vida é assim. Dizem!
A Vida...
'Sacudido' pela mensagem que me chegou ao telemóvel paralizei.
A Vida... é assim! Num instante vai-se sem que alguém [ou alguma coisa, na qual, peço-lhe desculpa, não acredito] nos pergunte se queremos, ou estamos preparados. E é sempre a mesma questão que me atormenta: Porque é que os Bons terão de partir primeiro?!
Sei que na sua imensa e desconcertante humildade se bateria na defesa de que não era melhor do que ninguém. Isso sempre fez de si um Homem diferente e, indissossiável disso, um Homem querido por toda a gente. E como não?
Conhecemo-nos há mais de 20 anos, a nossa amizade foi-se cimentando e, como sempre foi desinteressada, era genuína. O Ezequiel, aliás, não era Homem para ter amigos a 'fingir'. Eu sei disso. E lembro-me das muitas e longas conversas que tivemos. Segredos que guardarei em nome dessa amizade.
Calcorreámos milhares de quilómetros por essas estradas fora. Desde o 1.º Grande Prémio 'A Capital', em 1991, até... que interessa? Não será a morte física que nos separará. Quando muito, e porque não acredito em mais nada, até que eu me vá igualmente. Até lá, como se diz, "ninguém morre enquanto houver quem o recorde" a isso, meu Caríssimo Ezequiel, estou irredutivelmente comprometido. O Ezequiel há muito que faz parte do restrito grupo de Amigos - que foi minguando, confesso-o - que escusa de "fingir" que já cá não está. Claro que está! E estará sempre enquanto eu o recordar.
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Como recordo aquele jantar - num GP Correio da Manhã - no Rossio ao Sul do Tejo (Abrantes)...
Como recordo aquela etapa de uma Volta ao Alentejo que fiz a seu lado, no Carro Vassoura, desde Valência de Alcântara, em Espanha, ao Alto da Pena, em Castelo de Vide onde chegámos quase duas horas depois do vencedor da etapa. (E aqueles moços espanhóis que não andavam!... E o almoço de sandes compradas à beira da estrada!)
E as Voltas a Portugal? Das 15 que eu fiz só me lembro de uma que o Ezequiel faltou. A 'máquina' pregou-lhe uma peça, mas logo, logo voltou para junto da Grande Família.
Do desgosto que sempre calou por ser preterido no Troféu Joaquim Agostinho àquela 'confissão' por alturas da passagem - muito especial, porque não está aberta ao trânsito comum - pelo paredão da luso-espanhola barragem de Cedillo [Volta ao Alentejo]...
«Sabes Manel quanto venho ganhar este ano? Pois digo-te: o dobro do que ganhei o ano passado; ora, se o ano passado não vim ganhar nada... faz tu as contas. Mas não estou a queixar-me. Eu até nem cobro o combustível que gasto. Arrangem-me uma caminha para dormir, almoçar não posso... venho pelo jantar, para estar juntos dos amigos.»
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Conheci largas dezenas de pessoas - estiquemos até às centenas - durante os 15 anos que andei na estrada. Nenhuma como o Joaquim Ezequiel.
Há anos que a saúde - a falta dela - ameaçava que, mais dia, menos dia, mais ano, menos ano, a morte no-lo havia de roubar, mas ele foi resistindo e ensinando-nos a resistir. Com a bonomia e com um espírito de juventude interior - que nada tem a ver com a idade - que muitos, com um terço da idade dele jamais saberão demonstrar, soube ser feliz.
Há já alguns anos - 'mea culpa' - que não falávamos.
Desde que que fui 'cuspido' do Ciclismo por egozinhos medíocres, que nunca deixaram de o ser... mesmo vendo a sua vontade cumprida.
Não chegou para que a minha Amizade pelo Senhor Ezequiel fosse 'mordiscada'.
Nem mesmo depois, quando egos ainda maiores tudo fizeram para me manter afastado da Minha Família [mas falharam redundamente na sua OBRIGAÇÃO de dar esta notícia].
Família que, para que conste, não era, nunca foi, a dos doutores mas as dos Homens simples.
Como o Joaquim Ezequiel.
Amigo, não choro a sua partida porque sei que prefere assim.
Agarro-me à sua memória.
À memória de uma Família que já não existe - pelo menos por cá - e espero que... esperem por mim. Onde quer que estejam!
Até breve e um Abraço apertado.
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