domingo, dezembro 25, 2011

ANO VII - Etapa 7

PERDEMOS A 'VELHA RAPOSA'
EMÍDIO PINTO FALECEU

NA NOITE DE NATAL

Parece o bater sempre na mesma tecla, mas que outra forma há de dar uma notícia assim?
Perdemos um Grande Amigo, um Grande Homem do Ciclismo... um dos maiores.

Emídio Pinto, a Velha Raposa, corredor do FC Porto, o seu clube de sempre, nos anos 40 e 50 do Século passado, e depois Técnico sabedor e... ganhador, era uma das figuras mais consensuais do pelotão onde, que me lembre, só tinha amigos.

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Ontem à noite o coração traiu-o aos 79 anos e a morte afastou-o, fisicamente, de todos esses amigos aos quais me orgulho muito de pertencer.

Tantas horas de conversa que repartimos... quer dizer, em que ele contou milhentas estórias e eu, quase embevecido o ouvi.

EMÍDIO PINTO FOI O PRIMEIRO
E, ATÉ HOJE, O ÚNICO TÉCNICO PORTUGUÊS
QUE VENCEU UMA ETAPA NO TOUR


Foi em 1984. Joaquim Agostinho tinha regressado a Portugal e ao Sporting e bastava o seu estatuto para que a equipa fosse convidade a participar na Grande Boucle. Entretanto, e como todos ainda recordamos, Agostinho faleceu em Maio desse ano. Trenendamente abalado com o sucedido, Manuel Graça, que orientava a equipa cedeu o seu lugar a Emídio Pinto que então comandou a equipa Sporting-Raposeira cuja principal figura era Marco Chagas, mas foi um jovem, à altura praticamente desconhecido, Paulo Ferreira, quem, no final de uma fuga e aproveitando o desentendimento entre os seus dois parceiros de aventura, dois franceses, mas de equipas diferentes, num último esforço ganhou a etapa sobre a meta. Em nome da memória de Agostinho, mas a sapiência - a tal que lhe valeu o cognone de Velha Raposa - de Emídio Pinto a ter um papel fundamental nesse histórico triunfo.

E AQUELE SORRISO SEMPRE NO ROSTO...

Conheci-o quando apareceram umas corridas abertas a formações amadoras, dirigia ele o Canelas, equipa de Gaia que, alguns anos nais tarde e com o apoio de um bom sponsor passou para o pelotão profissional tendo por lá ficado enquanto a Madeinox a apoio.

O momento mais alto desta fase da sua vida terá sido a vitória, em 2005, na chegada a Santa Maria da Feira, do seu jovem pupilo Bruno Neves (também ele já desaparecido) que bateu num renhido sprint o super favorito Cândido Barbosa.

SÓ MESMO UMA 'VELHA RAPOSA'...


Outra das mais reluzentes páginas da História do Ciclismo português e da Volta a Portugal volta a ter Emídio Pinto como protagonista.

Aconteceu em 1981. Comandava ele o fortíssimo conjunto do FC Porto com Marco Chagas como chefe-de-fila, mas também com Belmiro Silva, vencedor da Volta três anos antes como pontas-de-lança quando logo à segunda etapa, que ligava Évora a Vila Real de Santo António (204 km) um míudo de 20 anos apenas, de seu nome Manuel Zeferino se escapou e conquistou uma vantagem tal que Emídio Pinto nem pensou duas vezes. A ordem foi a de dar o máximo e chegar à frente com o maior tempo possível sobre o pelotão. Ao mesmo tempo teve, logo ali, que 'convencer' os líderes da equipa que... passavam a trabalhar para defenderem a liderança do rapaz. Que venceu a Volta.


Caro Mestre (como eu lhe chamava), que esta nova etapa seja percorrida em Paz. É grande a tristeza que nos envolve a todos, mas guardaremos para sempre nos nossos corações a sua boa disposição e o seu sorriso. E todos os seus 'meninos' - que era como tratava os rapazes que orientou ao longo da sua carreira - se hão-de lembrar sempre de si.



Fez por merecer um lugar imorredouro na História do Ciclismo português por isso não será favor nenhum que o seu nome seja eternamente recordado.

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