segunda-feira, outubro 01, 2007

902.ª etapa


FUGA EM FRENTE

A União Ciclista Internacional perdeu o braço-de-ferro com os três grandes organizadores e corre o risco de vir perder o controlo sobre o Ciclismo Profissional. Não o perdeu já porque, apesar de tudo, alguém, no seu interior, percebeu que isso podia acontecer e encontrou a única saída airosa. O que qualquer aflito faz. Fugiu em frente.

Revelando conhecer as histórias infantis – do meu tempo, quando o grande super-poder era personificado pelo Grilo-que-falava, em Alice, no país das Maravilhas – e porque se lembraram da tal história da Galinha dos Ovos de Ouro, num assomo de lucidez, preferiu do mal o menor e, abrindo a “capoeira” e deixando sair uma dúzia de galinhas, lá conseguiu manter (ainda) as suficientes para lhe garantirem um interessante income económico.

Eu ainda tremi quando li que o ProTour (*) se alargaria a corridas na Austrália, nos Estados Unidos e na China. Só se confirma – como, aliás, adiantei aqui no VeloLuso – o Tour Down Under. De resto… abriu-se os braços a três ou quatro organizações que, vendo a coisa pelo seu lado, nada têm a perder.
Jogada de mestre teria sido Portugal ter metido uma corrida neste calendário.

Só que isso nunca foi pensado e – se mo pedirem – eu explicarei porque, por A+B, isso não aconteceu.

(*) - Intervalo para explicar aos não iniciados e aos que já andam há tanto tempo nisto que confundem a Obra-prima do Mestre com a prima do mestre-de-obras o que significa, exactamente, o ProTour. Que se escreve assim por mero respeito à ideia-marca que foi devidamente registada pela UCI.
Não se escreve, nem Protour, nem protour, nem Pró Tour e não tem nada a ver com… o Tour.
E foneticamente pronuncia-se prôutur.
Pro… de profissional. Circuito Profissional.
Acabou o intervalo.

Como toda a gente de boa-vontade percebeu desde o início, o arranque, extemporâneo, é verdade, do ProTour visava apenas uma coisa: deitar mão às fabulosas receitas, não tanto do Giro ou da Vuelta (que, ainda assim, não são de menosprezar) mas, sobretudo, do Tour.
Tipo… e perdoem-me a comparação, a tua “loja” está a dar lucros fabulosos, contribuis, é certo, para a associação de comerciantes mas, a partir de agora quem recolhe os lucros todos é a associação. Damos-te uma parte, não te preocupes...

Isto só funciona em duas situações diametralmente opostas e volto a pedir desculpa por eventuais comparações menos… urbanas.
A primeira: o dono da loja é otário;
A segunda: usam-se os métodos da máfia calabresa (ou de outra qualquer).

A ASO francesa gere o dobro do dinheiro que a UCI jamais poderá gerir. Porque também não se dá ao trabalho de… ter trabalho. E nunca iria abdicar dos seus fabulosos lucros.

A UCI pode definir um ranking de corridas e, como compensação em relação à corrida “x” aparecer no calendário com uma categoria superior à corrida “y” cobrar um derrame (usando o termo corrente que as empresas sedeadas num determinado concelho têm de pagar à respectiva autarquia) superior.
Assim é que deveria ter sido desde o início… Só o Arséne Lupin (sei que a maioria não compreenderá… mas vejam na wikipédia) se dava ao luxo de… roubos de luxo.

É uma figura de ficção, mas que alimentou uma série de mentes e uma série de sonhos… não o duvidemos.

Mas pronto.
A UCI, num golpe de rins digno do maior contorcionista, deixa de atrair sobre si as luzes dos grandes holofotes e repensou o calibre dos seus “golpes” (em sentido figurado, claro) num nível um poucochinho mais abaixo. E o facto de a única corrida fora do continente do Ciclismo, que é a Europa, sem quaisquer margens para dúvidas, se ter ficado pelo Tour Down Under chega para percebermos que o gatito entrou, pese embora tenha deixado o rabito de fora.

Os australianos andavam “doidos” para entrarem no grande circuito mundial.

Revejam a política de convites a equipas europeias (e do ProTour) que reinou nos últimos anos. Ganharam fama (mesmo que pouca) mas não tinham proveito.

A partir de 2008, acham eles, podem começar a recuperar os investimentos. Via televisão, entendendo isto como televisão em sentido global.

Vão ganhar uns pontos, isso vão. Basta que os adeptos do Ciclismo não se importem de ficar acordados até às 5 da manhã para ver as provas em directo. E se os do ténis o fazem, porque é que não o hão-de fazer os do Ciclismo?

Se isso não acontecer… é mais um passo em falso desta UCI sem rumo e sem norte. Mas os australianos – e eu recebo informações semanais sobre a corrida (documento anexo) – ainda não sabem que o estado de euforia que vivem actualmente se desmoronará dentro de… três meses (a UCI é mesmo mazinha).

É que o seu grande patrocinador é uma marca de vinhos, a Jacobs Creek. E na Europa não se pode fazer publicidade a bebidas alcoólicas.

(Experimentem aceder ao sítio da marca… )

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