quarta-feira, outubro 10, 2007

923.ª etapa


OS TESOURINHOS ESTÃO DE VOLTA

Sei que gostam de ir recordando passagens, ainda que soltas, da história recente do Ciclismo nacional que por aqui vão desfilando. O chato há-de ser a mesma explicação que vou repetindo. Mas ela é imprescindível para evitar más interpretações. Comecei – há já uns meses, é verdade, mas de vez em quando esfuma-se-me a vontade e páro – por arrumar, ano a ano, mês a mês, cronologicamente por dias, A BOLA. Depois passei ao Record e agora cheguei a O JOGO. É o único motivo porque agora estão a aparecer recortes deste jornal.

Hoje – ainda que com um dia de atraso, ontem dediquei-me aos anos de 1998, 1999 e 2000 – recordo os CAMPEONATOS DO MUNDO DE LISBOA, em 2001.

Foi em 1998 que a Federação Portuguesa de Ciclismo viu serem aprovados os Mundiais em Portugal e a cidade candidata sempre foi Lisboa. O que gerou, vindo de diversos quadrantes, grandes polémicas.

Primeiro, e a memória dos Homens não será tão curta assim, pôs-se em causa a oportunidade de Portugal realizar os Mundiais; depois… depois iam caindo o Carmo e a Trindade pelo facto de a cidade escolhida pela FPC ter sido a Capital.

Primeiro, porque o País não precisava nada de gastar um dinheirão na organização de uns Mundiais; depois, outra vez, porque Lisboa não era o local indicado.

Escrevi muito sobre isto, na altura. Mais quando a decisão da UCI foi ratificada e eu já estava n’A BOLA.

Ui!... o que eu fui criticado por desde logo ter assumido a defesa, tanto dos Mundiais em Portugal, como da sua realização em Lisboa.

Eu sabia que havia outras localizações que poderiam atrair mais gente à estrada e devo ter falado nelas, já não me recordo. Mas testemunhei, por exemplo e em três anos consecutivos, que um dos locais que muita gente preferia, a zona de Santa Maria da Feira, nunca correspondeu em termos de público nos três Nacionais que aí se realizaram.

E sabia também, pelas vezes que a Volta a Portugal já tivera etapas da Volta – até Voltas – a terminarem em Lisboa a adesão do público não tinha sido por aí além. Etapas da Volta mas também do Grande Prémio A CAPITAL, do GP Correio da Manhã… até do Troféu Joaquim Agostinho.

O que eu sonhava era que a vinda das principais grandes figuras a Lisboa cativasse os lisboetas… Por isso me mantive na minha.

Depois, depois implicaram com a zona escolhida para palco das corridas.
Fiz entrevistas ao doutor Artur Moreira Lopes, ao Manuel Amaro, o “executivo”, ambos me mostraram planos, me falaram com tal entusiasmo que me contagiaram. E visitei, pelo menos duas vezes, o percurso, muito antes da data da prova.

Antes destes Mundiais já havia feito os de 1999, com as provas de crono em Treviso e as corridas de fundo em Verona e fiquei com poucas dúvidas que o traçado dos Mundiais de Lisboa não lhes ficavam a dever nada. Em nenhum aspecto.

Mas a polémica durou, durou, durou…
Ainda agora, quando arrumava – e relia – as páginas do jornal pude constatar que a mesma pessoa, um renomado técnico nacional que manteve uma coluna de opinião ao longo dos mesmos, “arrancou” com muitas dúvidas para terminar com o reconhecimento de que os Mundiais tinham sido um sucesso.

Lisboa não correspondeu?
Eu ainda viria a fazer os Mundiais de Zolder, no ano seguinte. Que, atenção, como sabem fica na Bélgica. E foi sempre a mesma coisa. O último quilómetro penhado de gente e, depois, ao longo do restante percurso – porque todos eles foram em circuito, com “molhinhos” de pessoas aqui e ali… Houve mais estrangeiros em Portugal do que propriamente portugueses?
Houve.
Mas eu ainda não me esqueci de figuras proeminentes do Ciclismo nacional que, a uma hora de Lisboa, de carro, fizeram questão de não aparecer.

Concluindo esta parte.
Defendi, com unhas e dentes – e vi-me envolvido numa polémica chata com um dos jornalistas que era um dos meus gurus, na altura (continuo a respeitá-lo muito, mas ele já não faz ciclismo há uns anos) – os Mundiais, em Portugal e em Lisboa e se fosse hoje tomaria a mesmíssima posição.
Porque sou teimoso?
Sim. Também.
Mas porque manda a tal regra da sensatez que se um produto se vende bem – até esgota – num ponto “x”, a obrigação de quem tem que controlar a sua venda é experimentar outros locais onde não seja tão habitual ter… clientes.
E se não se tivesse experimentado jamais o saberíamos.

Em desacordo, quanto a outros assuntos, mantenho-mo fiel ao apoio que então dei à decisão da Federação Portuguesa de Ciclismo e ao seu presidente.

De resto, e desportivamente, a prova correu de forma a ninguém botar defeito – muito devido ao trabalho de algumas dezenas de pessoas que ficaram sempre na sombra – mas aconteceram dois pequenos casos.

Primeiro, convocado para os sub-23, Nuno Ribeiro, então corredor do Gondomar, foi descartado – as palavras são dele e estão nos jornais da altura – às 23.30 da véspera do arranque dos Campeonatos.
Eu estive com ele, nessa tarde, num hotel ali para Sete Rios, onde a Selecção montou o Quartel General e, nunca o tendo conhecido como um rapaz exuberante – antes pelo contrário, sempre muito fechado –, já se adivinhava que seria ele o preterido.
E só falo neste episódio porque ainda não há 15 dias o Nuno foi o português mais bem classificado em Estugarda!

O outro caso não foi caso. Foi barraca mesmo.
No domingo, no dia da corrida principal, que haveria de consagrar Oscar Freire, pela segunda vez, Campeão do Mundo… a RTP, que garantiu a transmissão do evento para todo o Mundo, fornecendo as imagens às suas associadas e também à EuroSport… a RTP que teve mais de 150 efectivos no campo, ao longo dos quatro dias – ainda não havia dia de descanso – NÃO TRANSMITIU a corrida, passando um qualquer festival que eu, naturalmente não vi porque nas Salas de Imprensa as imagens que vemos são as de um circuito interno, sem pausas ou interrupções.

Na verdade, só soube depois de arrumar a tralha no final do dia de trabalho que fechava um ano louco, em que fiz, com pouquíssimos dias de intervalo entre elas, a Volta a Portugal, ganha pelo Fabian Jeker, da Maia; a Vuelta – onde Claus Möller (Maia) triunfou no Alto de Aitana e que foi ganha no último dia, no crono, por Angel Casero (Festina), crono no qual a camisola dourada – creio que a primeira Camisola Dourada – foi envergada até à Plaza de Cibeles por Oscar Sevilla… e depois o Mundial.

Definho – passe o exagero – só de recordar esse ano no qual, em menos de dois meses e meio fiz 50 dias de Ciclismo no exterior. Apetece-me desistir. Deitar a toalha ao chão. Morrer!...

Campeões (e medalhas) em Lisboa-2001
Elites Masculinos
Corrida de Fundo

OSCAR FREIRE (ESP)
Paolo Bettini (Ita)
Andrej Hauptmann (Esl)
(Rui Sousa, foi 24.º; Gonçalo Amorim, 37.º, Rui Lavarinhas, 63.º e Nuno Alves, 64.º)
Contra-relógio individual
JAN ULLRICH (ALE)
David Millar (GB)
Santi Botero (Col)
(Joaquim Andrade foi 26.º e Joaquim Gomes, 31.º)
Sub-23 Masculinos
Corrida de Fundo
YAROSLAV POPOVICH (UCR)
Gianpaolo Caruso (Ita)
Ruslan Gryschenko (Ucr)
(Sérgio Paulinho foi 23; Gilberto Martins, 57.º; Hugo Sabido, 61.º; Hernâni Brôco, 63.º e Hélder Miranda, 73.º)
Contra-relógio individual
DANNY PATE (EUA)
– (lidera, pelo menos até hoje, a Volta ao estado de Chihuahua!...)
Sebastien Lang (Ale)
James Perru (AfS)
(Sérgio Paulinho foi 5.º - haveria de ser 3.º no ano seguinte, em Zolder -; e Hernâni Brôco, 14.º)
Juniores Masculinos
Corrida de Fundo
OLEKSANDR KVACHUCK (UCR)
Niels Scheuneman (Hol)
Mathieu Perget (Fra)
(António Jesus foi 29.º)
Contra-relógio individual
JURGEN VAN DEN BROECK (BEL)
Oleksandr Kvachuck (Ucr)
Niels Scheuneman (Hol)
(Filipe Cardoso foi 28.º e António Jesus, 32.º)

Elites Femininos
Prova de Fundo
RASA POLIKEVICIUTE (LIT)
Edita Punciskaite (Lit)
Jeannie Longo (Fra)

Contra-relógio individual
JEANNIE LONGO (FRA)
Nicole Brandli (Sui)
Teodora Ruano (Esp)

Juniores Femininos
Contra-relógio individual
NICOLE COOCK (GB)
Natalia Boiarskaia (Eus)
Diana Elmentaite (Lit)

1 comentário:

Anónimo disse...

apenas umas curiosidades..

Em 1999 disputaram-se no percurso apresentado, com chegada a Belém, os Campeonatos da Europa de sub23, femininos e masculinos.

Foram transmitidos pela RTP2 em directo e ainda guardo as gravações.

Estive lá presente, até andei nas boxes das equipas estrangeiras, e foi nessa altura que me voltei a interessar pelo ciclismo que já há muitos anos (desde o falecimento do meu irmão em 1987)tinha posto de lado, limitando-me a ir ver a Volta na Estrela, ou em Portalegre.

O percurso que serviria de teste para os Mundiais de 2001, foi "chumbado", porque perturbava o transito da zona dos Jerónimos e Belém.

mas não terá antes sido uma manobra política do presidente da Camara na altura, porque havia ali um troço novo de via rápida por estrear em Benfica ?

Estive em 2001, a assistir a todas, mas todas mesmo, as provas.

Para tal, em especial nas provas de estrada, tive que me levantar da cama às 6 da manhã, para conseguir entrar com o carro na zona da corrida, ali em Monsanto, via Alcantara, pois o trânsito era cortado às 8.

havia mais estrangeiros no percurso porque provavelmente dormiram lá dentro. é que nem transportes publicos para lá havia.

O Eurosport transmitiu a prova na integra, ainda tenho as gravações, não estavam dependentes (e ainda bem...) da RTP, que deu uma barraca monumental.

foi também a minha estreia como "fotógrafo" curioso, (eheh), tinha comprado uma maquina digital há dias, e só sabia disparar em modo automático, nem sabia focar, não tinha lido sequer o manual.

foram uns dias muito cansativos.
além de ter que levantar cedíssimo, ainda tinha que levar o almoço e o lanche, pois não havia onde "abastecer". mas foram dias que nunca esquecerei.

o que me "doeu" mais é que havia tanto sítio para estacionar carros, e foram cortados os acessos. poderiam ter colocado placas a dizer "só para ver o ciclismo." e ainda assim não encheriam, nem de perto, o espaço disponível (nem no parque da Serafina, onde deixei o carro para ver os contra-relógios, nem no Alvito, onde vi as provas em linha). neste aspecto esteve mal a organização. não havia necessidade.
ou então aquilo era mesmo só para os cámones verem.

na zona da meta havia bancadas, pagas a peso de ouro.. e que estiveram quase sempre às moscas.

e aquelas barreiras horrorosas... bom sobre essas muito haveria a dizer.. eheh ainda duram, aquilo deve ser como o vinho do Porto, quanto mais velhas melhores...


e pronto, só queria dizer isto... recordar um pouco. esses dias foram especiais.