quarta-feira, abril 25, 2012

EXTRA

ANO VII - Etapa 33

SE ATÉ ESTE O DIZ!...

Trinta e oito anos depois da nossa emblemártica 'Revolução dos Cravos' nos ter devolvido a Liberdade de decidir e de Pensar pela nossa própria cabeça - o mal é que se passaram mais de 30 anos até percebermos que não foram suficientes para muitos (e ainda há alguns, que eu posso apontar a dedo), que o não perceberam... o Dia de Hoje está tão distante daquilo em que, por breves meses acreditámos, que ainda ontem, dia 24, li no insuspeito 'Correio da Manhã? - página 26, em roda-tecto, mais ou menos 'escondido' - que o, hoje, general Pires Veloso, uma das principais figuras do contra-golpe de 25 de Novembro de 1995, na altura ainda coronel e chamado... e reconhecido como o 'Rei do Norte', líder assumido na luta contra os radicais [nessa altura, a palavra ainda não tinha sido inventada] obedientes a Otelo Saraiva de Carvalho.

Ora, há aqui umas semanas - não sou capaz de precisar, agora, mas fazendo as contas, mais de quatro passam a ser um mês, mais de oito... meses - Otelo defendeu publicamente que é precisa uma nova Revolução! Todos estão lembrados, não vou aqui repetir as suas palavras...

A sociedade portuguesa dividiu-se.
Chegou a correr no espaço net uma petição para levar, de novo, o Otelo à presença da justiça. A mesma que se esfalfa para livrar o Sócrates da prisão? Provavelmente.
Mas, ao mesmo tempo, houve quem lhe desse razão.

Estou a falar de Otelo Saraiva de Carvalho.
Primeiro, ídolo de TODOS. Incontestado e inconstestável logo após os acontecimentos que hoje deveríamos estar a comemorar;
depois, quando os políticos, como o inefável Mário Soares - a mais perversa figura da nossa História contemporânea - ou o esfingico Álvaro Cunhal (mil vezes mais inteligente e clarividente do que o 'bochechas', pelo que «o perigo de Portugal tornar-se a 'Cuba' da Europa» nunca lhe passou pela cabeça), ou ainda Francisco de Sá Carneiro - eu sei reconhecer o mérito a quem, honestamente 'se dá', mesmo sem concordar com as suas ideias, e ele não morreu por acaso...

Mas voltemos um pouco atrás, para concluir.
Na sua edição de ontem, o 'Correio da Manhã' - mesmo que discretamente - deu voz ao general Pires Veloso, um dos principais 'culpados' - mesmo a esta distância temporal não faço juízo de valores - pela queda em desgraça do Otelo.

E o que diz Pires Veloso?
Isto:



(cliquem na imagem para poder ler)

terça-feira, abril 24, 2012

ANO VII - Etapa 32

É PRECISO ACREDITAR!...

Pobres coitados dos que não imaginam sequer do que estou a falar...
Numa situação normal... teria pena de vó. Agora só consigo ter aquela 'raiva que se sente nos dentes'...

Não fizeram nada para justificar os riscos assumidos por poucos, que, mesmo sendo poucos, eram TODO UM POVO.

Todos vocês, e falo dos que têm menos de 35 anos, 'mamaram' na 'teta' de uma LIBERDADE recém conquistada.... Depois, a maioria, fincou-lhe o dente. Os 'filhos da Revolução' nada sabem dela... abominam-na, a maioria. Deviam ter a minha idade, ou mais cinco ou seis anos...

Há 38 anos, por esta hora, ultimavam-se os derradeiros preparativos para soprar para longe o cizentismo em que os vossos pais viviam. Ou escravos dos senhores da terra, no interior do País, ou, na mesma escravos, das cinco ou seis famílias que 'davam um melhor emprego', na Cintura Industrial de Lisboa, até pagavam melhores - muito melhores - ordenados, que depois 'recuperavam' de imediato numa súbita e liberalista 'politica' de oferecer [é uma maneira d dizer, claro] andares, imaginem, andares novinhos em folha - aos que ganhavam mais - isto enquanto avalanches de imigrantes deixavam o interior e vinha para os arredores de Lisboa, para os mesmíssimos 'bidonvilles' - famosos nos suburbios de Paris, e das grandes cidades alemãs, onde o portuga, anafalbeto, trabalhava 14 horas por dia pago a preço de escravo, ainda assim, MUITO MELHOR que no Barreiro, na Amadora, em Cabo Ruivo ou nos terminais de contentores do Poço do Bispo ou de Alcântara.

SIMMMMM... a 'cinco tostões' [vocês não sabem o que é...] reconstruiram a mesma França e e a mesma Alemanha que agora nos atiram para a valeta e, os mais 'corajosos', ainda nos dão uns valentes pontapés.

Há 38 anos, por esta hora, um grupo de miúdos - que não vampirizaram os pais para irem para a Faculdade, mesmo não tendo outro objectivo que não fosse o de se embebedarem no Bairro Alto, nas Docas ou na 24 de Julho (só para falar em Lisboa), de sexta a domingo, e, depois, 'comas alcoolócos à parte, ficarem a curtir a bezana de segunda sexta, só indo ao 'campus',- melhor, à cantina, porque a comida é paga pelo contribuite - dizia, há 38 anos, por esta hora, miúdos, muitos deles que só calçaram, pela primeira vez, sapatos na tropa, vieram por aí abaixo para fazer uma 'revolução', léxito que para eles também era totalmente desconhecido.


A eles, a todos eles, o meu eterno agradecimento, mesmo que hoje nos encontremos como estamos e alguns deles estejam do outro lado.

Post Scriptum
Eu sei perfeitamente que não foi na noite de 23 para 24 de Abril de 1974 que as coisas aconteceram!
Não me tomem por tolo.

Mas tinha que dividir este tema em duas partes.

Não, não sou do partido do '25 de Abril Sempre'!
Não tenho deus, não tenho partido, não tenho dono...
mas...

SEMPRE COM O 25 DE ABRIL.  

ANO VII - Etapa 31

SIMPÁTICO EM DE TODO INESPERADO (ATÉ PARA MIM)!...


terça-feira, abril 03, 2012

ANO VII - Etapa 30

ATÉ SEMPRE, EZEQUIEL!...
Senhor Ezequiel!

Meu Caro Amigo,
escrevo-lhe esta Carta com a maior das dores dor por saber que já não vou a tempo que o meu Amigo a lei-a.
A Vida é assim. Dizem!
A Vida...

'Sacudido' pela mensagem que me chegou ao telemóvel paralizei.
A Vida... é assim! Num instante vai-se sem que alguém [ou alguma coisa, na qual, peço-lhe desculpa, não acredito] nos pergunte se queremos, ou estamos preparados. E é sempre a mesma questão que me atormenta: Porque é que os Bons terão de partir primeiro?!

Sei que na sua imensa e desconcertante humildade se bateria na defesa de que não era melhor do que ninguém. Isso sempre fez de si um Homem diferente e, indissossiável disso, um Homem querido por toda a gente. E como não?

Conhecemo-nos há mais de 20 anos, a nossa amizade foi-se cimentando e, como sempre foi desinteressada, era genuína. O Ezequiel, aliás, não era Homem para ter amigos a 'fingir'. Eu sei disso. E lembro-me das muitas e longas conversas que tivemos. Segredos que guardarei em nome dessa amizade.

Calcorreámos milhares de quilómetros por essas estradas fora. Desde o 1.º Grande Prémio 'A Capital', em 1991, até... que interessa? Não será a morte física que nos separará. Quando muito, e porque não acredito em mais nada, até que eu me vá igualmente. Até lá, como se diz, "ninguém morre enquanto houver quem o recorde" a isso, meu Caríssimo Ezequiel, estou irredutivelmente comprometido. O Ezequiel há muito que faz parte do restrito grupo de Amigos - que foi minguando, confesso-o - que escusa de "fingir" que já cá não está. Claro que está! E estará sempre enquanto eu o recordar.
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Como recordo aquele jantar - num GP Correio da Manhã - no Rossio ao Sul do Tejo (Abrantes)...
Como recordo aquela etapa de uma Volta ao Alentejo que fiz a seu lado, no Carro Vassoura, desde Valência de Alcântara, em Espanha, ao Alto da Pena, em Castelo de Vide onde chegámos quase duas horas depois do vencedor da etapa. (E aqueles moços espanhóis que não andavam!... E o almoço de sandes compradas à beira da estrada!)

E as Voltas a Portugal? Das 15 que eu fiz só me lembro de uma que o Ezequiel faltou. A 'máquina' pregou-lhe uma peça, mas logo, logo voltou para junto da Grande Família.

Do desgosto que sempre calou por ser preterido no Troféu Joaquim Agostinho àquela 'confissão' por alturas da passagem - muito especial, porque não está aberta ao trânsito comum - pelo paredão da luso-espanhola barragem de Cedillo [Volta ao Alentejo]...

«Sabes Manel quanto venho ganhar este ano? Pois digo-te: o dobro do que ganhei o ano passado; ora, se o ano passado não vim ganhar nada... faz tu as contas. Mas não estou a queixar-me. Eu até nem cobro o combustível que gasto. Arrangem-me uma caminha para dormir, almoçar não posso... venho pelo jantar, para estar juntos dos amigos.»

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Conheci largas dezenas de pessoas - estiquemos até às centenas - durante os 15 anos que andei na estrada. Nenhuma como o Joaquim Ezequiel.

Há anos que a saúde - a falta dela - ameaçava que, mais dia, menos dia, mais ano, menos ano, a morte no-lo havia de roubar, mas ele foi resistindo e ensinando-nos a resistir. Com a bonomia e com um espírito de juventude interior - que nada tem a ver com a idade - que muitos, com um terço da idade dele jamais saberão demonstrar, soube ser feliz.

Há já alguns anos - 'mea culpa' - que não falávamos.
Desde que que fui 'cuspido' do Ciclismo por egozinhos medíocres, que nunca deixaram de o ser... mesmo vendo a sua vontade cumprida.
Não chegou para que a minha Amizade pelo Senhor Ezequiel fosse 'mordiscada'.

Nem mesmo depois, quando egos ainda maiores tudo fizeram para me manter afastado da Minha Família [mas falharam redundamente na sua OBRIGAÇÃO de dar esta notícia].

Família que, para que conste, não era, nunca foi, a dos doutores mas as dos Homens simples.
Como o Joaquim Ezequiel.

Amigo, não choro a sua partida porque sei que prefere assim.
Agarro-me à sua memória.
À memória de uma Família que já não existe - pelo menos por cá - e espero que... esperem por mim. Onde quer que estejam!

Até breve e um Abraço apertado.

ANO VII - Etapa 29



ANO VII - Etapa 28