quinta-feira, novembro 24, 2005

10.ª etapa


Deixei aqui atrás, há alguns dias, um post no qual, quem quisesse percebê-lo, poderia ler a minha relutância quanto ao positivo de Roberto Heras a 24 horas de vencer a sua 4.ª Vuelta e marcar lugar na história do ciclismo espanhol e mundial, por ser o 2.º homem a conseguir ganhar por três vezes consecutivas aquela que eu considero a 2.ª maior corrida do Mundo, mas, mais importante ainda, por ter sido o primeiro a ganhá-la por 4 vezes.

Foi uma opinião apaixonada. Confesso-o.

Serei tudo menos ingénuo. Lembro-me de velhos ditos, género... não é só com bifes que se ganha na Torre... bifes!... Ser naïf também tem os seus encantos.

É evidente que não tenho queda para fingir de avestruz. Não enterro a cabeça na areia, faço mesmo questão de andar mais ou menos a par das novidades. Sei como é (esta outra confissão pode custar-me caro, mas quero que, quem me lê, perceba que este espaço é de honestidade) e como se faz...

Mas - parece-me ouvir a voz de quem, lendo isto fique (verdadeiramente) espantado... - o ciclismo é tudo mentira? Afinal são mesmo todos um grupo de mamados. Não!

Não, não, não e não!...

Não é tão fácil falar de ciclismo como o é de... futebol, por exemplo. Não tem nada a ver. E se querem exemplo de desporto onde a batota vinga, quase sempre e cada vez mais, de forma impune, pior... suportada por autênticas equipas de rectaguarda que juram, são testemunhas e garatem a angeliqueidade dos sujeitos... olhem para o futebol.

Seriam precisas mil corridas de bicicleta para ver um corredor agarrar o seu adversário de forma a que este não chegasse antes dele...

Seriam precisas mil corridas de bicicleta para ver um verdadeiro profissional encenar uma lesão, de forma a, na conversão da penalidade prevista nos regulamentos, o adversário ser (indecorosamente) lesado...

No ciclismo, quando se cai é a sério... não é a fingir. E não é sobre o fofo de 7 centímetros de relva. E não chega uma maca para carregar o corredor à beira da estrada, com a corrida parada... para logo voltar à estrada são que nem um pero.

Esta parte toda para justificar que é muito diferente, porque os elementos dos quais partimos e sobre os quais assentamos a nossa opinião, não têm nada a ver...

Não me perdi nos argumentos. Estou a falar do caso-Roberto Heras.

Escrevi aqui, há uns dias atrás, o quão difícil seria aceitar que um atleta fora do comum, quando, com o seu objectivo à vista e praticamente garantido, pudesse cometer um erro tão grave como o de... deixar-se apanhar nas malhas do doping.

Escrevi-o em consciência. Dei exemplo de médias, de quilometragens, de corredores que em dias sucessivos e em condições que qualquer especialista reputaria de inadequadas... fizeram corridas exemplares.

E carreguei na tecla do não acreditar que Roberto Heras pudesse ter caído em tão primário erro.

Entretanto, com toda a gente a clamar a inocência do corredor, parte-se para a decisiva contra-análise.

Não seria a primeira vez que esta negava a evidência dada à luz pela primeira análise, mas aconteceu tão poucas vezes...

E somavam-se outras parcelas nesta conta que não admite ser de subtraír... é só somar!

O corredor em causa é, só... o chefe-de-fila de uma das mais importantes equipas do pelotão principal...
Essa equipa é dirigida só... por um dos mentores do projecto ProTour...
Este projecto, que no seu primeiro ano pouco mais foi que um fiasco (no que ao próprio projecto diz respeito), que continua preso por arames (leia-se: no fio da navalha até as três principais organizações quererem acabar com ele) e que só veio contribuir para um anunciado desmoronamento do ciclismo, pelo menos o europeu, tal como o viamos até ao ano passado... não poderia encaixar um escândalo deste tamanho...

Como a organização da Vuelta, apesar de tudo.

Apesar de estar no outro lado da barricada, no que respeita ao braço de ferro com o ProTour, não quereria ficar com essa... mancha.

E, por razões puramente corporativistas... este caso vai dar em nada.

O senhor Manolo Sáiz vai esquecer os princípios de ética que, em Maio, o levaram a despedir liminarmente e sem direito a defesa, um corredor que, provar-se-ia, estava - pelo menos daquele crime - inocente...

A púdica UCI, respira de alívio e começa, como é habitual, a assobiar para o lado, retomando o agradável passeio à beira do Lago Leman...

O próprio Roberto Heras, deixar-se-á cair estrondosamente no sofá da sua sala e prometerá a si próprio que nunca mais correrá riscos deste calibre...

... e eu avanço que o Roberto Heras nunca mais ganhará qualquer corrida importante.

E há ainda mais uma coisinha... quando, em França, se rebusca nos baús do tempo uma ponta de fio que seja para matar o mito Armstrong... em Espanha e com o beneplácito da UCI (e da AMA, ah, pois é... e da AMA, seja directa ou indirectamente) saca-se das labaredas da actual inquisição que faz uma marcação cerrada ao ciclismo... a mais importante marca norte-americana que está a investir no ciclismo. É bonito!...

Eu é que fiquei completamente baralhado! Sabia-os capazes de truques género brincadeira para animar um serão entre amigos, agora... magias de fazer o Luís de Matos mero aprendiz de ilusionista... isso vai-me custar a aceitar.

quinta-feira, novembro 17, 2005

9.ª etapa


Para os que acham os meus texto demasiado... enleados, dando voltas e voltas para ir ter a um sítio que até se percebe desde o início, abro o jogo: vou falar do caso Roberto Heras.

Não, não acho que venha atrasado. Acho, isso sim, que há assuntos que merecem algum cuidado quando os tratamos. E não venho tomar partido. Tenho a minha opinião, provavelmente expo-la-ei nos próximos dias. Nem venho, nesta etapa, acusar seja quem for.

Salvaguardo que não é nada de pessoal, porque até nem conheço a pessoa em causa. Sei é que, em 15 anos de ciclismo... nunca o vi. Nem de perto, nem de longe. Não obstante isso, permite-se opinar sobre uma questão que, obviamente, não pode perceber porque não faz a menor ideia da realidade da modalidade.

Mais ou menos, e depois de achar que isso dos ciclistas é trigo limpo que andam todos mamados, o especialista em causa alicerçou todos os seus argumentos num facto que ele, na sua fraca preparação, pensou inabalável...
Como foi possível o Roberto Heras ter cumprido um contra-relógio à média de 56 km/hora ??? (até falou em motoretas!)

Primeiro, não citou sequer, porque não sabe, que o Roberto Heras não ganhou esse contra-relógio. Logo, alguém, andou ainda mais depressa do que ele.
Logo aqui, neste ponto, em vez de dizer que é impossível um corredor fazer, de bicicleta uma média destas... devia (se soubesse do que escrevia) acrescentar... principalmente se for apanhado num controlo anti-doping.

Até hoje, o vencedor desse crono está fora desta história. Porquê? Aceitando como válido o raciocínio do tal escriba... não percebo.

Porque é que Fulano, só recorrendo ao doping , quando já tinha a Vuelta ganha, poderia fazer uma média daquelas... e Cicrano, que ainda fez melhor, tanto que ganhou essa etapa, nem sequer é mencionado, quanto mais olhado, por mais de soslaio que fosse, como também, eventualmente suspeito. Que ignora uma das partes (a de que Heras NÃO ganhou o contra-relógio...) é perceptível, que se limitou a apanhar a onda e gastar uma página de jornal para bater num atleta só porque, no caso, é ciclista... é evidente.
(Tantos casos de doping que há... porque é que só o ciclismo parace gerar apetências?)

E depois há vários outros perigos quando nos aventuramos a palpitar (no sentido de dar palpites - que não opiniões, em definitivo... não) sobre disciplinas que não conhecemos, quanto mais pretendemos dominar.

1.º - Estava lá? Reconheceu o percurso? Sabe quantas curvas, rotundas, quantas subidas e descidas tinha o traçado entre Guadalajara e Alcalá de Henares? Percebeu, no local, de que lado soprava predominantemente o vento? Sabe se a cota a que se situa Guadalajara é mais alta ou mais baixa do que a de Alcalá? Em suma... tem a mínima ideia de como era o contra-relógio?

2.º - Sabe que, hoje em dia, uma bicicleta de contra-relógio, cujo preço se aproxima, se é que não ultrapassa, a de um carro tipo utilitário, onde se montam cassettes de mudanças que, em condições ideais, qualquer corredor de categoria mediana faz, sem se esforçar muito, médias de 44 ou 45 km/hora? (Eu disse em condições ideais.)

3.º - É claro que não sabe. A ideia que tem do ciclismo pouco mais avançada andará do que aquela da pasteleira e do corredor com duas câmaras-de-ar cruzadas no dorso...

Mas, sinceramente, o que mais me tocou, foi o facto de toda a trama do comentário assentar no facto de um corredor - no caso o Heras, que até terá sido apanhado nas malhas do doping (mas ignorando olimpicamente, que o Heras foi segundo no crono, logo, que outro corredor andou mais rápido do que ele) - ter rolado a mais de 56 km/hora.

Só por causa disso, vou recordar algumas situações que, tivesse o tal cronista conhecimento delas - e bastaria ter lido diariamente o seu jornal - ficaria, definitivamente baralhado...

Não acusaria ninguém, porque não me parece do género de acusar, mas ahhhh!!!... que eram suspeitos eram...

Recordemos, então! (Estamos a falar da Volta a Espanha).

4.ª etapa, corrida entre Ciudad Real e Argamasilla de Alba. 232,3 km. A mais comprida das etapas da última Vuelta. Estamos no coração de Castilla-la-Mancha. Temperatura do ar: cerca de 44º centígrados (as etapas começam entre o meio-dia e a 1 da tarde e terminam por volta das 5). Quase 250 quilómetros em cima de uma bicicleta debaixo de um forno onde chegava a ser difícil respirar, o vencedor da etapa fez uma média de 41 km hora!

5.ª etapa, Alcazar de San Juan-Cuenca, mais curta - 176 km - temperatura... igual! Uma contagem de montanha a 12 km da meta e a 1100 metros de altitude, um zig-zag de doidos pelos mais de 30 arruamentos da cidade por onde a parte final da etapa decorre... chega um grande grupo, a chegada é discutida ao sprint. Média: 47,6 km/h... mais de 30 minutos de adiantamento sobre o horário previsto...

6.ª etapa, Cuenca-Valdeliñares, 217 km, meta a 1970 metros de altitude. Média final: 39,8 (!) km hora.

8.ª etapa, contra-relógio em Lloret de Mar. 48 km. Uma contagem de 3.ª categoria para o prémio da montanha, a meio. O Mar Mediterrâneo no horizonte, os ventos habituais quando em terra a temperatura teima em superar os 42º centígrados. Média do vencedor: 47,3 km/hora.

Último e definitivo exemplo (partindo do princípio que, quem ler isto, viu a etapa na TV).

15.ª etapa, Cangas de Onis-Alto de Pajares. Enganam muito os míseros 1500 metros de altitude. Sucedem-se as rampas de 17%, temperatura a partir do início da subida, inferior aos 10º. Temperatura no alto: 4º centígrados. Chuva. Nevoeiro. Vento cortante. Extensão da etapa: 191 km (quase 200). Média feita pelo vencedor da etapa que, 40 km antes tinha tido uma outra contagem de montanha (esta de 1.ª categoria) e que já era a 4.ª da jornada, antes derradeira até ao alto de Pajares... 39 km/hora (!)...

Apontar como principal factor de suspeita de que Roberto Heras podia estar dopado, o facto de ter cumprido um contra-relógio perfeitamente plano, sob uma temperatura amena, entre o ceu aberto e a amaeça de chuva, com o vento a favor e... supermotivado com o aproximar do final da corrida, e da conquista, para si, do recorde de vitórias na prova... isto sem contar com as possibilidades técnicas, ao nível da máquina que montava, que estavam à sua disposição, só demonstra uma coisa...

... o articulista em causa não percebe nada de ciclismo. Ninguém o avisou que as bicicletas já não levam bombas para encher pneus e que com duas rodas pedaleiras e uma cassete de 10 carretos, as máquinas têm, para todos os efeitos, 4 vezes mais desmultiplicações de velocidades que qualquer vulgar carro.

Mas o que interessava naquele artigo era cruxificar mais um ciclista. No mesmo jornal, aliás, como em todos os outros, os milhares de caracteres que vi sobre o caso Abel Xavier foram quase só para tentar explicar a presumível inocência do atleta. E depois... confirmado o uso de produto proíbido... fechou-se a loja.
Não mais se voltou a falar no assunto.

Quem quer apostar que na para a próxima terça-feira todos os jornais (incluindo o meu) já têm prevista uma página para tratar do positivo confirmado do vencedor da Volta a Espanha?

segunda-feira, novembro 07, 2005

8.ª etapa


Regressado do fim-de-semana, e com as leituras de jornais em dia, é o Record que me dá a notícia de uma futura Volta a Portugal para juniores. Não sei!... Creio que a uma corrida de 4 dias, mesmo que saibamos que o País é pequeno, chamar-lhe Volta é... exagerado!. Até a Volta a Portugal do Futuro começa a ser difícil de vender... no seu formato de 5 etapas. Afinal de contas... somos um bocadinho maiores que a Holanda e a Bélgica e o Luxemburgo.
E aqui ao lado, em Espanha, por exemplo, não se brinca com a palavra... Vuelta.

Mas isto fica para futuros exercícios. De resto, no site que pode ser considerado o barómetro do estado do ciclismo nacional no seu dia-a-dia, destaco (apoiado pela informação veículada pelo Norte Desportivo) o colapso da Associação de Ciclismo do Porto.
Como é possível? Quem poderá explicar uma coisa destas às pessoas interessadas?

Num país que, desportivamente, respira futebol (também respira outras porcarias... não será por isso) seria, se alguém a isso fosse obrigado, muito difícil explicar como é que uma associação na qual estão inscritas 60% (Maia, V. Conde, Paredes, Boavista, Barbot/Gaia e Canelas/Gaia) das equipas da I Divisão nacional... cometa, pelo lido, hara-kiri sobre hara-kiri...
Mas quem pôs o senhor na presidência?
Há coisas que eu não entendo...
Aliás, é quase impossível, seja através daquele site, seja em conversas particulares, ignorar que a associação portuense... não existe.
O que me fez olhar para as outras...

A do Minho funciona. Bem, acho eu. Tem trabalho para mostrar...
A do Algarve... também. Não é só a Volta ao Algarve, há mais algumas organizações que testemunham o trabalho dos seus responsáveis...
De Setúbal chegam-me inúmeras notícias, especialmente referentes a iniciativas, ou para os mais novos... ou para os veteranos;
Lisboa, do meu querido amigo Aníbal Oliveira, falha-me em informações...
Há os critérios de fim de época. Eu deveria procurar mais? Talvez. Mas não procurando eu... também não tenho tido notícias que mostrem o pulsar da associação lisboeta.

No continente, sobram Aveiro, Santarém, Trás-os-Montes e Beira Interior...

De Aveiro sei da paixão pelas bicicletas e foi lá o último Congresso do ciclismo nacional, no qual participei (porque não voltaram os homens/e mulheres do ciclismo a organizar um Congresso?)... mas mais nada. Há o Abimota! Mas...

Da Beira Interior há notícias de iniciativas... falta a capacidade de fazer passar essas notícias;

De Santarém... fica a impressão que só há os critérios de fim de temporada...

De Trás-os-Montes, e aqui sou obrigado a engolir em seco (mas assumo o que escrevo) do que se fala... não se gosta.

O que fazem, então, as associações nacionais?

Porque têm... ou não têm, mais ou menos peso no todo do ciclismo português?

Mas têm mesmo algum peso?

Acho que ninguém será capaz de responder até que se perceba porque a associação que tem 60% das equipas profissionais é algo... que ninguém será capaz de explicar. Só não é caricato porque é trite. Só não dá para rir porque, de facto... o caso é demasiado sério.

sábado, novembro 05, 2005

7.ª etapa


Hoje é Sábado e, pela manhã, está marcada a Assembleia-geral da FPC.
Algumas cadeiras que, pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, em vigor, bem poderiam estar ocupadas por quem mais interesse tem no que de desportivo se vai falar... estarão vazias.

Não existe, por muito estranho que possa parecer, num país pequeno, com um pelotão pequeno e a viver em permanência numa instabilidade quase insustentável... uma associação de equipas.

Por elas se pede dinheiro aos patrocinadores; em nome delas se oferece o que (nem sempre) se dá aos corredores e... elas não conseguem reunir-se numa associação!

Ao contrário dos corredores.
Ao contrário dos Organizadores.
Ao contrário dos Árbitros.

Quero dizer... No grande palco do ciclismo, a única parte que não consegue chegar a uma base de discussão para que, a partir daí, parta para, no local certo, tentar defender os seus interesses, que seriam os interesses dos seus patrocinadores, afinal de contas, quem lhes garante o facto de existirem (e de ano, após ano, pedincharem dinheiro)... são as equipas.

Porquê?

Se os organizadores encontraram uma plataforma a partir da qual, o maior e o mais pequeno conseguiram definir o que de melhor podia ser feito de forma a satisfazer todas as partes...
Se os corredores, os mais mediáticos e com emprego garantido, e os "pau para toda a obra" (com o meu devido respeito pelos operários do pelotão), conseguiram encontrar um ponto comum, a partir do qual se criou e se tem cimentado a sua organização de classe...
Se os árbitros conseguem estar unidos sob uma mesma bandeira...

... porque, ao fim de todos estes anos, os Grupos Desportivos Profissionais (por acaso, a nível internacional com uma associação tão forte que conseguiu fazer impor, em conluio com a UCI, um ProTour do qual ninguém gosta, estão unidos), porque é que em Portugal se consegue essa originalidade de termos "responsáveis" por equipas, ano após ano, a darem o peito às balas, na defesa do seu pequeno grupo de trabalho, se isto acontece com 70 por cento dos chamados "directores-desportivos", porque é que não há uma Associação de Equipas para, no geral e junto das entidades que julgasse necessário, a começar pela FPC (e a começar por questionar o calendário, que depois, individualmente, vão contestar) não defendam... mais que o seu lugar. Que é, aparentemente, aquilo que os preocupa acima de tudo?

E se há equipas que fazem os seus corredores assinar recibos de "x" para receberem o "y" previamente combinado (e aceite, porque ninguém será obrigado, quero eu acreditar)... não serão os seus "directores-desportivos" os principais responsáveis?

Mas caramba!... Se fazem (quase) todos o mesmo, porque não formalizam a maldita associação e concertam isso? Aproveitando para tentarem, pelo menos, salvaguardar outros aspectos que os deveria preocupar, no que diz respeito à equipa que, em princípio, comandam?

E se, havendo uma equipa em dificuldades para arranjar patrocinador, por exemplo, não haveria a Associação de Equipas (que não existe) poder tentar arranjar forma de ajudar a sua associada?

Ou é por causa disso que não há associação?

Hoje, Sábado, pela manhã, aconteceu uma Assembleia-geral da FPC. A meio da sala, havia cadeiras não ocupadas por um dos membros que nela tem, pela Lei de Base do Sistema Desportivo, assento. A associação de equipas.

Simplesmente porque ela não existe! Expliquem-me porquê.

quinta-feira, novembro 03, 2005

6.ª etapa


Depois de alguns contactos feitos ontem, que neste momento já é madrugada em Portugal, t(r)emo pelo futuro próximo do nosso ciclismo.

Não há uma excepção!...


As equipas que não vão optar pela contenção... não sabem sequer se vão poder ir para a estrada em 2006.

É esta a realidade.

Entretanto, e visitando outros
sítios onde se fala de ciclismo (no caso, e porque em relação a eles tenho uma dívida de gratidão, tenho, em consciência, que o referir: o Cyclolusitano), encontro uma proposta de discussão que me fala do peso dos grandes clubes no ciclismo.


Mas é que nem tenho dúvidas: tudo seria diferente se FC Porto, SC Portugal e SL Benfica tivessem equipas de ciclismo. Aliás, creio que é a única maneira de, assim, de um ano para o outro, recuperarmos alguma estabilidade no pelotão.

Benfica, Sporting e Porto fazem falta no pelotão. É claro que fazem. Não há cidade, vila ou aldeia onde hão haja adeptos destes três clubes... E essa clubite (por muito que me custe, a mim, particularmente) poderá ser o revigorante que está a fazer falta à modalidade.

E é, sejamos honestos, e ao mesmo tempo... um bocadinho espertos (que ser esperto não significa obrigatoriamente ser menso honesto) esta a altura ideal para as equipas dos três grandes voltarem.

Explico: nunca, nos 20 últimos anos (apesar da passagem do Benfica pelo pelotão em 1999 e 2000) as circunstâncias se apresentaram tão de feição.

Há 20 anos havia o Louletano-Vale de Lobo, depois a Lousa-Calbrita e a Sicasal-Acral que já pagavam ordenados anuais na ordem dos 10 mil contos (não era a todos, mas havia quem ganhasse estes valores...)

Depois veio a Maia, e o Benfica, também...

Mais alguns casos excepcionais noutras formações que, apesar de a vida ir encarecendo, há 4 ou 5 anos pagavam... a mesma coisa! Cerca de 1000 contos/mês aos seus chefes-de-fila...

É verdade!

E em 2005, tirando as situações que os dedos de uma mão chegam para contar, ninguém ganhava isso.

Os melhores de hoje ganham o mesmo que os melhores de... há 20 anos.

A média, hoje, fica quase a 10% daquilo que se ganhava há 20 anos.

E a equipa barómetro nas últimas temporadas, a Milaneza-Maia, vive uma crise tão marcante quanto as outras, o que significa que, para ter os melhores corredores - para além do factor de ser Sporting, Porto ou Benfica - seria irrisório o investimento.

Seria a brincar que se encontrariam parceiros...

Sejamos honestos. Há três anos, Benfica, Sporting e Porto não podiam (re)aparecer no pelotão sem a garantia de que tinham equipa para mostrarem ser melhores do que a Milaneza-Maia... Isso podia custar algum dinheiro.

Hoje, agora... para a temporada que se avizinha (não cito verbas porque não traio a confiança de quem em mim confiou e porque... e porque o pior cego é aquele que não quer ver...), com três vezes "cinco tostões" faziam-se três equipas de nível muito igual...

E que emoção seria...

E não me venham com a ridicularia de que não conseguam marcas patrocinadoras.

Será que uma modalidade de pavilhão (volei, andebol, basquete, futsal) consegue, na melhor das hipóteses, juntar semanalmente mais do que 800 a 900 pessoas? E garante mais retorno - sendo que é perfeitamente estanque/fixa no que respeita à zona que abrange - que uma equipa de ciclismo que vai de terra em terra? Por todas as terras? Durante, e falando só nas provas mais pequenas, cinco dias pelo menos?

Não sou especialista em marketing e publicidade... mas terão que me explicar porque não!...

terça-feira, novembro 01, 2005

5.ª etapa


Muitas vezes, quando falo com amigos, de uma forma ou outra ligados à modalidade, já me têm dito: «Era preciso dar algum destaque às escolas de ciclismo, do esforço de algumas das Associações, de muitos carolas, para por os miúdos (e miúdas) a aprenderem, não a andar de bicicleta, mas a aprenderem o ciclismo.»

É quando me lembro que, de facto, há escolas de ciclismo, quase todas sustentadas pelas Associações. E às vezes não consigo disfarçar alguma ternura quando me mostram fotos e os vejo, pequeninos, quase mais pequenos que as bicicletas e com os capacetes que parecem enormes nas suas pequenas cabeças a (imaginando o movimento que falta nas fotos) pedalarem ziguezagueando de forma a contornar os pinos, aprendendo a passar por baixo de uma barra colocada a 60 cm do chão para apanharem alguma coisa do solo sem perder o controlo da bicicleta...

Um destes dias deixei escapar um reparo do qual logo me arrependi, meio comprometido.

«Ainda bem que as Associações assumiram esta parte da formação», disse eu, adiantando para esse amigo: «Se começam para aí a nascer escolas de ciclismo a pagar, como há já algumas dezenas de escolas de futebol...»

Fui interrompido pela sonora gargalhada desse amigo, acompanhada de uma bem assentada palmada nas costas que quase me fez dobrar os joelhos.

«Tudo isto são miúdos que os pais, antigos corredores, ou amantes do ciclismo, nos fazem aqui chegar. Não digo que os não tragam a pensar fazer deles Ullriches ou Armstrongs, mas estão bem cientes de que o ciclismo é algo diferente. Nessas escolas de futebol para miúdos, pagas, os putos vão a sonhar poderem vir a ser o Sá Pinto, o Nuno Gomes, o Vítor Baía... e os pais a sonharem que eles sejam o Cristiano Ronaldo. Não porque joguem bem à bola, mas para que aos 17 anos garantam o sustento de toda a família até ao fim dos seus dias com dois ou três contratos de 3 ou 4 anos... De preferência antes que eles decidam tomar o seu destino nas suas próprias mãos .»

Disse isto e mudámos de assunto. Contudo, eu fiquei a pensar.

Sei de quem pague 250, 300... 500 euros por mês para por um miúdo de seis anos numa das muitas "academias" de futebol (quase todas com ex-figuras da modalidade à frente, a ajudar a vender a ideia de que isso do futebol é como aprender a tocar viola: começa desde pequenino e, por muito tosco que seja, na pior das hipóteses aos 17 toca um arremedo do Concerto de Aranjuez tão bem como o Joaquin Rodriguez...)

Mais do que (independentemente da vaidade pessoal) querer dar ao miúdo algum prazer [o que o pai pretende] é tentar descobrir se tem ali uma pepita de ouro que lhe garanta uma velhice confortável.

Nas escolas de ciclismo, mesmo que os miúdos vão mais por vontade dos pais do que por vocação ou jeito nato, pelo menos a mais negativa das imagens que podem carregar seria a da escusada vaidade (dos pais). O lado mercantilista e o horrendo de se poder pensar que estão a investir dinheiro a pensar que, se der certo, podem reformar-se aos 35 para gerir a carreira do rebento... isso, garantidamente, está perfeitamente fora da realidade das nossas escolas de ciclismo.