[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
quinta-feira, novembro 17, 2005
9.ª etapa
Para os que acham os meus texto demasiado... enleados, dando voltas e voltas para ir ter a um sítio que até se percebe desde o início, abro o jogo: vou falar do caso Roberto Heras.
Não, não acho que venha atrasado. Acho, isso sim, que há assuntos que merecem algum cuidado quando os tratamos. E não venho tomar partido. Tenho a minha opinião, provavelmente expo-la-ei nos próximos dias. Nem venho, nesta etapa, acusar seja quem for.
Salvaguardo que não é nada de pessoal, porque até nem conheço a pessoa em causa. Sei é que, em 15 anos de ciclismo... nunca o vi. Nem de perto, nem de longe. Não obstante isso, permite-se opinar sobre uma questão que, obviamente, não pode perceber porque não faz a menor ideia da realidade da modalidade.
Mais ou menos, e depois de achar que isso dos ciclistas é trigo limpo que andam todos mamados, o especialista em causa alicerçou todos os seus argumentos num facto que ele, na sua fraca preparação, pensou inabalável...
Como foi possível o Roberto Heras ter cumprido um contra-relógio à média de 56 km/hora ??? (até falou em motoretas!)
Primeiro, não citou sequer, porque não sabe, que o Roberto Heras não ganhou esse contra-relógio. Logo, alguém, andou ainda mais depressa do que ele.
Logo aqui, neste ponto, em vez de dizer que é impossível um corredor fazer, de bicicleta uma média destas... devia (se soubesse do que escrevia) acrescentar... principalmente se for apanhado num controlo anti-doping.
Até hoje, o vencedor desse crono está fora desta história. Porquê? Aceitando como válido o raciocínio do tal escriba... não percebo.
Porque é que Fulano, só recorrendo ao doping , quando já tinha a Vuelta ganha, poderia fazer uma média daquelas... e Cicrano, que ainda fez melhor, tanto que ganhou essa etapa, nem sequer é mencionado, quanto mais olhado, por mais de soslaio que fosse, como também, eventualmente suspeito. Que ignora uma das partes (a de que Heras NÃO ganhou o contra-relógio...) é perceptível, que se limitou a apanhar a onda e gastar uma página de jornal para bater num atleta só porque, no caso, é ciclista... é evidente.
(Tantos casos de doping que há... porque é que só o ciclismo parace gerar apetências?)
E depois há vários outros perigos quando nos aventuramos a palpitar (no sentido de dar palpites - que não opiniões, em definitivo... não) sobre disciplinas que não conhecemos, quanto mais pretendemos dominar.
1.º - Estava lá? Reconheceu o percurso? Sabe quantas curvas, rotundas, quantas subidas e descidas tinha o traçado entre Guadalajara e Alcalá de Henares? Percebeu, no local, de que lado soprava predominantemente o vento? Sabe se a cota a que se situa Guadalajara é mais alta ou mais baixa do que a de Alcalá? Em suma... tem a mínima ideia de como era o contra-relógio?
2.º - Sabe que, hoje em dia, uma bicicleta de contra-relógio, cujo preço se aproxima, se é que não ultrapassa, a de um carro tipo utilitário, onde se montam cassettes de mudanças que, em condições ideais, qualquer corredor de categoria mediana faz, sem se esforçar muito, médias de 44 ou 45 km/hora? (Eu disse em condições ideais.)
3.º - É claro que não sabe. A ideia que tem do ciclismo pouco mais avançada andará do que aquela da pasteleira e do corredor com duas câmaras-de-ar cruzadas no dorso...
Mas, sinceramente, o que mais me tocou, foi o facto de toda a trama do comentário assentar no facto de um corredor - no caso o Heras, que até terá sido apanhado nas malhas do doping (mas ignorando olimpicamente, que o Heras foi segundo no crono, logo, que outro corredor andou mais rápido do que ele) - ter rolado a mais de 56 km/hora.
Só por causa disso, vou recordar algumas situações que, tivesse o tal cronista conhecimento delas - e bastaria ter lido diariamente o seu jornal - ficaria, definitivamente baralhado...
Não acusaria ninguém, porque não me parece do género de acusar, mas ahhhh!!!... que eram suspeitos eram...
Recordemos, então! (Estamos a falar da Volta a Espanha).
4.ª etapa, corrida entre Ciudad Real e Argamasilla de Alba. 232,3 km. A mais comprida das etapas da última Vuelta. Estamos no coração de Castilla-la-Mancha. Temperatura do ar: cerca de 44º centígrados (as etapas começam entre o meio-dia e a 1 da tarde e terminam por volta das 5). Quase 250 quilómetros em cima de uma bicicleta debaixo de um forno onde chegava a ser difícil respirar, o vencedor da etapa fez uma média de 41 km hora!
5.ª etapa, Alcazar de San Juan-Cuenca, mais curta - 176 km - temperatura... igual! Uma contagem de montanha a 12 km da meta e a 1100 metros de altitude, um zig-zag de doidos pelos mais de 30 arruamentos da cidade por onde a parte final da etapa decorre... chega um grande grupo, a chegada é discutida ao sprint. Média: 47,6 km/h... mais de 30 minutos de adiantamento sobre o horário previsto...
6.ª etapa, Cuenca-Valdeliñares, 217 km, meta a 1970 metros de altitude. Média final: 39,8 (!) km hora.
8.ª etapa, contra-relógio em Lloret de Mar. 48 km. Uma contagem de 3.ª categoria para o prémio da montanha, a meio. O Mar Mediterrâneo no horizonte, os ventos habituais quando em terra a temperatura teima em superar os 42º centígrados. Média do vencedor: 47,3 km/hora.
Último e definitivo exemplo (partindo do princípio que, quem ler isto, viu a etapa na TV).
15.ª etapa, Cangas de Onis-Alto de Pajares. Enganam muito os míseros 1500 metros de altitude. Sucedem-se as rampas de 17%, temperatura a partir do início da subida, inferior aos 10º. Temperatura no alto: 4º centígrados. Chuva. Nevoeiro. Vento cortante. Extensão da etapa: 191 km (quase 200). Média feita pelo vencedor da etapa que, 40 km antes tinha tido uma outra contagem de montanha (esta de 1.ª categoria) e que já era a 4.ª da jornada, antes derradeira até ao alto de Pajares... 39 km/hora (!)...
Apontar como principal factor de suspeita de que Roberto Heras só podia estar dopado, o facto de ter cumprido um contra-relógio perfeitamente plano, sob uma temperatura amena, entre o ceu aberto e a amaeça de chuva, com o vento a favor e... supermotivado com o aproximar do final da corrida, e da conquista, para si, do recorde de vitórias na prova... isto sem contar com as possibilidades técnicas, ao nível da máquina que montava, que estavam à sua disposição, só demonstra uma coisa...
... o articulista em causa não percebe nada de ciclismo. Ninguém o avisou que as bicicletas já não levam bombas para encher pneus e que com duas rodas pedaleiras e uma cassete de 10 carretos, as máquinas têm, para todos os efeitos, 4 vezes mais desmultiplicações de velocidades que qualquer vulgar carro.
Mas o que interessava naquele artigo era cruxificar mais um ciclista. No mesmo jornal, aliás, como em todos os outros, os milhares de caracteres que vi sobre o caso Abel Xavier foram quase só para tentar explicar a presumível inocência do atleta. E depois... confirmado o uso de produto proíbido... fechou-se a loja.
Não mais se voltou a falar no assunto.
Quem quer apostar que na para a próxima terça-feira todos os jornais (incluindo o meu) já têm prevista uma página para tratar do positivo confirmado do vencedor da Volta a Espanha?
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