quinta-feira, dezembro 29, 2005

17.ª etapa


Porque isto é como as velas de um moínho de vento, ou as pás de um moínho de marés... é rodar ao sabor do momento, tentando tirar, desse momento, o maior partido possível...

Olhemos assim o ciclismo português.
Desde a última vez... entráramos na classe dos organizadores.

Não é a Federação, não é a PAD (que já tem um cadernos que não é de encargos é de procuações...) mas, assuma-o quem quiser sendo que, para isso, vai ser preciso ter bastante coragem... Apesar da crise nacional terão de ser estruturas, em princípio, alheias à modalidade, a perceberem o quando, onde e como, devem apostar em investir aqui.

E eu acho que ainda vale a pena investir aqui...

Trabalhe-se desde cedo e... ocupem-se espaços...

O resto será lucro.

Como explicar?

Vamos, e em definitivo, porque é imprescíndivel para umas das partes e perfeitamente exequível para a outra, deixar de ter a Volta ao Algarve da AC Algarve, ou a Volta ao Alentejo da AMDE, ou a Volta ao Minho da AC Minho.

Vamos ter estas entidades a avançar, primeiro com as ideias, depois com os projectos.... finalmente com o garante da organização técnica da corrida... Vamos colocar NOMES, marcas, seja o que fôr... a sustentarem a prova.

Quais os grandes encargos que uma prova de ciclismo actualmente acarreta?

(Mantemo-nos fora dos aspectos técnicos e de organização na estrada...)

... a contratação das equipas, dando-lhes as condições mínimas par poderem apresentarem-se de uma forma que, pelo menos, aos olhos dos leigos, possa parecer... digna; a disponibilidade de uma verba para publicitar, antes e durante.... o acontecimento.

Pessoalmente, acho que a Volta ao Algarve, porque tem um pedido alargado de participação por parte de equipas do primeiro escalão mundial -- que cá virão correr ao abrigo de um artigo de excepção que permite às equipas ProTour correr provas que não são do seu calendário -- não deveria ser obrigada a aceitar a inscrição de todas as equipas nacionais.

Principalmente quando, comprovadamente, algumas delas correm ainda sem equipamentos actualizados, quando ainda não têm a sua frota automóvel completa e.... algumas dúvidas, inclusivé, em relação ao plantel. Numa palavra: ainda não estão definitivamente montadas.

Nos próximos anos não me chocaria a calandariezação de qualquer outra corrida meramente nacional... mesmo coincidindo com a Volta ao Algarve.

Depois, é urgentemente necessário que outras corridas (organizações) assumam, e com toda a consistência... a montagem de uma prova velocipédica como parte integrante de uma estratégia de divulgação regional.

A Volta ao Alentejo tem de esquecer o que (hoje por hoje) já não é mais do que
folclórico. O 25 de Abril e o 1.º de Maio. E tentar colar a sua prova a outras manifestações de índole cultural e etnográfica mas, principalmente, a pender para o sector ecnómico... a Ovibeja poderia ser aproveitada, ou qualquer outra das grandes manifestações (repito) económico-empresariais.

Com a Volta ao Minho teria de acontecer a mesma coisa e corridas como o GP da Costa Azul, ou os
bastardos... GP Estremadura, Oeste, Centro ou Rota dos Vinhos deveriam, não aproveitar-se DA, mas JUNTAR A ... com a sua imagem...

É preciso cativar o mundo empresarial para o ciclismo, e não há tempo a perder...

Aliás, embora num escala que, infelizmente, caiu para o minimalista e daí parece não querer saír..., neste momento, Volta à parte, parece-me que só uma corrida tem o seu financiamento garantido um ano antes: o Troféu Joaquim Agostinho.

Ao longo destes anos, os seus responsáveis, embora nunca o venham a admitir, conseguiram ganhar... um ano.


Isto é, o dinheiro que neste momento estarão a angariar para o Grande Prémio de 2006... é já para 2007 porque o de 2006 está garantido desde o ano passado.
Têm uma desvantagem estas organizações, certinhas, ano após ano: perdem ambição.
As etapas são as mesmas, as equipas são as mesmas... Invertem-se, de algum modo, os papéis... Liberta de uma eventual necesidade de "inventar", a organização
aninha-se no mesmo figurino. E, caídos na rotina, não arriscam um mílimetro (fizeram-no, há dois anos, mas a substituição do Circuito de Torres por um crono individual... logo foi catalogada como má escolha e as coisas voltaram ao princípio).

De resto, Trás-os- Montes, Costa Azul -- e tantos, mas tantos outros pontenciais cenários para corridas de 3 ou 4 dias (também, já não podemos pedir muito mais do que isso) -- só teriam que
agarrar numa época festiva local, ou noutra qualquer manifestação puramente regional... parta lhe colar a respectiva Volta.
O resto da temporada, deveríamos ter uma Taça Nacional... como os franceses.
Com corridas por etapas, sim, e cuja maior parte da despesa a Federação assumisse.

E havia de se organizar um agrupamento legalizado de organizadores, com verdadeiro poder negocial...

«À minha corrida não trazes 5 "neos"... para levares 7 "profs" à seguinte...», são coisas parara discutir a um nível geral, e não nas reuniões técnicas que antecedem, pouco menos de 24 horas cada uma das corridas...

O que é que custará organizar isto? Pergunto...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

1.ª neutralização


Conheçia-o de há anos e não me sai da cabeça aquela vozeirão... Não consigo ignorar aqueles seus modos quase bruscos, a sua figura, diria... imponente. Metia respeito mas, depois que o conhessecemos, revelou-se-me um dos últimos sonhadores do jornalismo sem concessões. Ou era, ou não era... Sem padrinhos a quem obedecer... Com o à vontade de quem há décadas tratava, principalmente as modalidades (que eram chamadas de amadoras) por tu. Nomeadamente o basquetebol. Estou a falar do Vítor Hugo que nos fez a tremenda desfeita de nos deixar órfãos dos seus imensos conhecimentos, neste Natal. Atleta, treinador, cronista, colunista... Conhecedor respeitado, tanto que até um dos Governos da Nação o agraciou com a Ordem de Mérito Desportivo...
O Vítor olhou-me de alto a baixo a primeira vez que se deparou comigo como editor da secção Modalidades, mas logo funcionou uma certa empatia. Pelo lado dele, nunca o soube. Por mim... era um dos grandes nomes que já conhecia da rádio e lia, nomeadamente n'A BOLA.
Estando eu muito estreitamente ligado ao ciclismo, surpreendeu-me que o Vítor, há dois ou três anos, em conversa comigo, tenha dito, mais ou menos isto: «Ainda gostava de fazer uma Volta a Portugal!... mas faz-me falta aquele espírito quase de "cigano", de levantar as malas todos os dias e partir para outro lado...»
Soltei uma gargalhada. É quase o mesmo motivo que me faz apaixonado pelo ciclismo. E disse-lhe (atendendo ao estatuto que, afinal de contas, tinha): «Vítor, ainda vou arranjar maneira de encontrar uma função para si. Ainda faz uma Volta comigo!...»
Já não faz. Nem volta a escrever mais nenhuma das suas colunas. Nem a lamentar (e se ele tem - porque não deixa de a ter, só porque nos deixou - razão!): quão diferente é este jornalismo assente nos dados estatísticos da Internet. Sem que não se sinta o cheiro do suor dos atletas, se perceba a euforia dos triunfos e a profunda tristeza das derrotas. E, lá de cima, da tribuna, o Vítor era capaz de as diferenciar... Porque já antes as vivera.
Nos últimos tempos, o Vítor andava um pouco desanimado.
Ligou-me. Também eu estava, por motívos de saúde, fora do jornal. Disse-me que ia ter de ser operado ("Já é a 7.ª ou 8.ª que faço... mas um tipo quando se deita ali... nunca sabe se volta a levantar-se!..."). Parecia que estava a prever um desfecho menos feliz!
Vítor... houve uma coisa que não lhe disse, e agora lamento-o.
Uma pessoa com a sua experiência e conhecimentos nunca poderia estar errada. Aceitemos que cumpriu a sua parte, enquanto esteve connosco. Vou tentar que as suas ideias prevaleçam por mais algum tempo. Pelo menos... aquele que eu por cá me mantiver.
Até sempre, Vítor Hugo...

sábado, dezembro 24, 2005

16.ª etapa


Regressemos então àquela... estranha História de Natal! Pergunto-me, sinceramente, quantos terão percebido o que lá estava escrito? Mas vou ficar à espera...

Recupero então, agora, essa mesma História de Natal... antes que o Natal acabe.

Era de dupla leitura a estória.
As galinhas tanto poderiam ser as equipas como... as organizações; os ovos (os bons, os assim-assim ou os maus: os corredores das equipas - sendo os bons os que ganhavam e davam notoriedade às suas cores - ou as equipas, sob o mesmíssemo prisma, em relação ás organizações)...

Descodifiquemos:
Não há corridas boas sem boas equipas, nem equipas boas sem bons corredores... as equipas boas têm de pagar aos bons corredores e querem ser bem pagas pelas organizações que, para serem boas, têm de conseguir pagar às melhores equipas... e de uma forma distinta.

Não se paga o mesmo à Fernanda Ribeiro que ganha quase de certeza, à Fátima Silva que pode ganhar, à Maria Joana que ninguém sabe se tem pernas para ganhar ou a Marlene Sofia que ninguém sabem quem é...

Não tendo, até à data, conseguido dar aquele GRANDE PASSO que seria a mera assinatura de um documento cuja minuta pode ser conseguida em duas dúzias de associações desportivas, a famigerada Associação (ou Liga) de Equipas Profissionais consegue um feito histórico: sustenta o corporativismo necessário para praticamente impôr condições iguais a estruturas que já foram quase diametralmente opostas. O curioso foi que, quem acabou por perder terreno foi aquela que, de longe estava à frente de todas as outras... e não será difícil perceber esta perda de terreno. Basta terem paciência que neste espaço de tudo se falará!...

Mas esta Etapa é para falar das "culpas" das organizações - no seguimento das outras "culpas" que tenho vindo a apontar - no estado a que chegou o nosso ciclismo. Que bateu mesmo no fundo. Acreditem!

Perfeitamente agnóstico e negando, conscientemente todo e qualquer ídolo religioso, não fujo, contudo, à passagem bíblica de que este nosso mundo nasceu do caos... Então, ainda há uma esperança para o ciclismo nacional. Estamos à beira do caos, daí - fazendo fé nos bíblicos escritos - alguma coisa há-de nascer...

Metade das nossas entidades organizadoras de corridas (e, para já, e para evitar equívocos, falo apenas das corridas para as elites, profissionais ou amadoras, não consegue montar uma corrida decentemente aceitável. Se tivermos em conta que 60% das corridas são organizadas pela PAD, mesmo os portugueses, muito avessos a essas coisas de matemáticas, perceberão que... quase 10% das corridas organizadas pela PAD ficam abaixo dos níveis mínimos exigíveis a uma estrutura profissional.

Quem quem tiver a coragem de assumir-se cínico que o faça: a PAD faz mais do que aquilo que lhe é exigido e, tomemos a pretérita temporada como exemplo... o GP do Centro e o Vinhos da Extremadura só surgiram para... darem dias de corrida a um pelotão que, ainda por cima, na maior parte das vezes não soube corresponder.

Noutro espaço de discussão de ciclismo tentou-se, por mais de uma vez, fazer a apologia dos métodos EJN. 75% por cento das opiniões mão mereciam o mínimo de crédito porque eram sustentadas por quem nem sequer conheceu aquela realidade. Dizer que as Voltas EJN eram melhores (na década de 90 do século passado) que as actuais da PAD tem exactamente o mesmo rigor que dizer que as duas Voltas organizadas pelo Diário de Notícias, 50 anos antes, tinham o perfil ideal... quando a organização montava diariamente um acampamento (sim, um acampamento) onde, distribuídos pelas várias tendas - e, no qual, um batalhão de cozinheiros recrutados à tropa, confeccionava dia-a-dia, as refeições para toda a gente. Iguaiszinhas: para as equipas que montavam e desmontavam as tendas e apara os corredores...

Os tempos mudam. A EJN trouxe classificações naquelas folhas contínuas de impressão, que se cortavam pelo picotado... trouxe (já no meu tempo) um filme da etapa, colmatando a péssima cobertura do Rádio-Volta, filme que chegou, é verdade, a estar prontinho á entrada da Sala de Imprensa, quando nós lá chegávamos.

(Aqui um eterno abraço de saudade para o Rodrigo Pinto, do CNID, e para a sua equipa, o Jorge Santos e o Zé Carlos.)

Mas que nunca deixou de ser uma extrutura de... amadores e, assumo o que escrevo: passeantes (no sentido de... turistas?!!!...) ah, sim... já disse que o assumo!

Quem está neste momento em condições de comparar esse tempo com a actualidade? As Salas de Imprensa nos pavilhões das escolas secundárias, de telhado de losalite onde, às 5 da tarde a temperatura acumulada subia aos 45/50 graus?

Onde nós só chegávamos depois da corrida terminada, claro, porque antes não tínhamos lá qualquer espécie de informação? E onde uma hora depois também já não havia ninguém porque... feitas as fotocópias... havia um hotel com piscina, ou um petisco combinado à espera?

Hoje é profissional. Faltando-lhe apenas... dimensão. Não é tão difícil assim orientar uma sala de imprensa onde os três jornalistas que precisam saber coisas... sabem-no... e os outros nem sabem que não sabem!

(Imaginem uma Volta ao nível de uma Vuelta, com jornalistas de seis ou sete países diferentes, sustentados por títulos de jornais dos mais prestigiados do Mundo... e a nossa estruturazinha seria... ciclindrada!)

Mas - e porque isto se estende e vou parti-lo em mais do que uma Etapa - vamos ficar (agora) por aqui no que respeita à responsabilidade das organizações.

Na Volta a Portugal a PAD está muito perto das corridas de segunda linha... espanholas, que são as que melhor conheço. Nas outras que, por descargo de consciência (ou será mesmo má consciência? Isso, francamente, não sei) organiza fazendo um favor às equipas... fica-se pelos chmados serviços mínimos. Mas volto atrás... favor às equipas? Às equipas ou aos patrocinadores? Porque já houve equipas que faltaram a corridas agendadas (não, não eram da PAD, mas serve de exemplo, não?) e há corredores que se aborrecem verdadeiramente com isso de inventarem dias de corrida...

É verdade!

Como epílogo desta Etapa: Não serão as mais culpadas (já volto com exemplos bem mais concretos e gritantes - até porque aqui só falei da PAD - para me explicar) mas as organizações também têm (claro que tinham que ter) responsabilidades neste triste resvalar do nosso ciclismo para o abismo.
Estamos à beira dele e parece-me que não faltarão cabecinhas pensadoras capazes de... derem o passo em frente!

(Segue já na Etapa seguinte)

quinta-feira, dezembro 22, 2005

15.ª etapa


No patamar a seguir aos corredores, onde, tirando os estreantes, cheios de ilusões - e muitos com potencialidades -, alguns velhos dinossáurios, que se mantêm em nome daquilo que fizeram no pasado (felizmente, de consciência tranquila e, mais - e muito justamente - à espera de um dia de consagração que valha por toda uma carreira mais ou menos anónima), cohabitam outros tantos que tanto poderiam ser ciclistas como... pedreiros, o que significa que nada trazem de novo à modalidade, exactamente porque não foram, por motivos diversos, capazes de interiorizar que ser-se ciclista é ser-se diferente de qualquer outro desportista, sendo que, ser-se desportista já é diferente de ser-se qualquer outra coisa na sociedade...

... no patamar superior, escrevia eu, estão os chamados directores-desportivos. Corruptela do português, ou apenas adaptação da tradução para a língua pátria dos regulamentos internacionais? Ainda estou por descobrir.

Seriam, em todo o caso, os treinadores... mas gostam (isso é evidente) do termo director-desportivo...

E há-os que são mais directores que treinadores (sendo que na maioria dos casos falta esta figura na equipa)...
... há-os que não passam disso (treinadores) e fazem mal o papel de directores... ... há os directores, que, não sendo desportivos, assumem o papel destes enquanto na versão treinador...
... há, em suma, uma confusão total. Onde, na qual, ninguém terá a coragem de dizer (assumir): alto lá... quem está mal sou eu!...

Isso não!...

Há os que, com a melhor das boas vontades, são vendedores, relações públicas... mendigadores de apoios...
... estes, dividem-se em duas categorias: os que o fazem porque acreditam (não quer dizer que estejam certos, mas temos de dar-lhes o benefício da dúvida), acreditam que estão a trabalhar para o... ciclismo.
... outros não terão pejo (até porque é tão evidente que negá-lo seria pior para eles) apenas procuram garantir a continuidade do seu posto de trabalho...

A equipa faz-se, mas é quase secundária, essa questão. O mais importante é haver algo que justifique a existência do posto de... técnico.

(Não me refiro, aqui, apenas às equipas de séniores, antes pelo contrário)...


E VÊM OS ORGANIZADORES DE CORRIDAS...

E, nesta escadaria, como se ao Sameiro estivessemos a subir, aparecem a seguir os organizadores de corridas. Este aspecto merece, reconheço-o e desde já prometo voltar ao assunto, um capítulo só para eles, mas não podemos passar ao lado se tentamos fazer o diagnóstico do que PORQUÊ se está a enterrar o ciclismo português.

Já não se fazem corridas para preencher egos ou justificar doações autárquicas.

O ciclismo é (sempre foi, mas como sempre foi de gente simples, durante muito tempo esta fingiu que nem se ofendia) um espectáculo e, ao contrário do que espiritos mais mercantilistas poderão pensar, espectáculo não tem de ser sinónimo de fonte de receitas. É, de certeza, algo que, quem com responsabilidades, seja a que nível for, é quase obrigado a oferecer... (perdoem-me o simplismo da forma como o apresento) AO POVO.

Ninguém oferece nada ao povo, porque é o povo que paga TUDO. Mas o ciclismo sempre foi uma modalidade PARA a gente a pobre - daí ter-se criado a tal ideias do espectáculo que vai à casa (à rua.... à terra) das pessoas... completamente de borla. Melhor que o Circo, que terá de ser pago.

O ciclismo era do povo, porque do povo vinham os seus heróis. Nicolau, Trindade, Ribeiro da Silva, Alves Barbosa, Fernando Mendes, Joaquim Agostinho... cavadores, vinhateiros, jornaleiros, gente que sofria, no seu dia-a-dia, bem mais do que subir a serra da Estrela numa bicicleta de 12 quilos com 4 mudanças e camisola de lã... em pleno Agosto.

E como os miudos (não muito miudos já) se reviam neles, como hoje os miúdos (estes sim miúdos, frequentadores de "escolinhas" de futebol, pagas a 2000 euros/mês, mesmo que o rebento meça 1,50 e pese uns gorduchos 65 quilos, se imaginam Figos, Joãos Pintos, Joãos Moutinhos ou Simãozinhos), dizia: como os rapazotes, na altura, se reviam neles (e a história não nos nega outra versão, que é a da implatação dos emblemas dos três grandes clubes nacionais, à conta do ciclismo)... daí nasciam outros heróis.

Uns mais que outros... mas que foram alimentando o pelotão quando não eram ainda os "suplementos nutritivos" da empresa representada pelo próprio director-desportivo da equipa a ditar o que se comer ou não.

Foi um pouco transversal, esta crónica, mas foi-o de propósito.

Pretende, este espaço que humildemente mantenho, ganhar estatuto de Fórum. Limitado. A quem conhece, e queira ajudar. Por isso também, algumas pequenas... provocações (que o não são, e os que se sentirem tocados sambem-lo tão bem quanto eu, que vocês são nem inocentes nem eu... injusto, e sabem que eu sei que vocês sabem que eu... sei... do que estou a falar!)

Se o que todos queremos é salvar o ciclismo... vamos todos juntarmo-nos na sua defesa.

Não sei se, por problemas de saúde, posso voltar aqui antes do Natal. Por isso...

UMAS BOAS FESTAS para todos. Obrigado por me lerem. E não guardem rancores... RESPONDAM!

O próximo capítulo versará sobre os organizadores. Os que, sendo profissionais às vezes se apresentam como a pior cópia dos amadores, e os amadores que parecem terem apostado em não aprender nada com os erros que vão somando ano após ano... sem esquecer a terceira via: os que nem para organizar uma partida de bisca lambida na tasca da aldeia serviam, mas que figuras com alguma responsabilidade (até directiva, a nível da federação) tentam esconder.

Neste espaço, que é livre e quer ser honesto o clarim de alerta soará sempre que isso se justificar.

Renovados votos de BOAS FESTAS para todos.

E que não me faltem as forças para continuar a lutar em prol do ciclismo.

(Também sei fazer autocrítica, por isso estejam à vontade para, dentro do maior civísmo, apontarem erros que eu possa vir a ter cometido. Quem sou eu para poder sequer pretender estar acima de quaisquer crítica?. Não o estou, de certeza. Agora, não se coibam de me criticar só porque sabem que, sem grandes margens de dúvidas, eu saberei contrapor e apontar-vos também as asneiras que têm cometido...)

14.ª etapa


Depois da pequena história de Natal... e no dia em que percebi haver muita gente bastante admirada, quase diria chocada, por não constar nenhuma equipa portuguesa na lista das Profissionais Continentais, o que só cimenta a ideia que tenho de que, nem 1% dos que pretendem falar sobre ciclismo estão minimamente preparados para isso (e bastava lerem os jornais), vamos então tentar dissertar sobre o tema.

Comecemos exactamente por aí...

O ano passado (quero dizer, a época passada, que termina no final deste ano), numa decisão de todo disparatada - porque impensada - o pelotão português teve uma equipa no segundo escalão hierárquico do ciclismo internacional. Sei que a ideia não nasceu cá. Foi parida em Espanha. Mas nem o "génio" - que é mais um "sempre-em-pé" (nunca lhe acontece nada, apesar de à sua volta o chão ruir, as paredes caírem e os telhados virem abaixo - nem as "extensões" na Charneca ou em Manique, perceberam que era idiotice.

Os regulamentos são claros (mas há tanta, tanta, tanta gente que não conhece os regulamentos... que começo a ter sérias duvidas de se, mesmo gente com responsabilidades os conhecem) e nunca duas equipas com as mesmas cores e o mesmo patrocinador poderiam correr juntas numa prova... ora, se para a portuguesa o mais fácil seria correr em Espanha, que é aqui ao lado, e a outra é espanhola (e tinha também interesse, não só em mostrar o patrocínio, mas por a rolar alguns dos 24 corredores do seu grupo de trabalho... qual das duas ia ficar de fora?

(Diz-se, nos "mentideros" que a equipa mãe é que ficou de pagar a inscrição da... afilhada, como Profissional Continental e que nunca o fez. Que esta também não o fez e que ainda se negoceia nos corredores do faraónico complexo de Aigle, na rica e neutral Suíça, de forma a que se esqueça... o incidente.)

E, desde o meio da temporada que se sabia que na próxima época essa mesma equipa se inscreveria apenas como Continental. Os encargos são, significativamente, menores, os ganhos pessoais os mesmos; a divulgação da equipa só se faz mesmo por cá (até porque o seu chefe de fila exigiu - e viu esse desejo cumprido - ter no contrato uma cláusula que o liberta de todo e qualqur escalonamento que o seu director-desportivo faça para, seja que corrida for, que ultrapasse as lusas fronteiras), logo... as idas ao Chile e mais tarde a França... foi mais para disfarçar. Este ano já não acontecerão.

ESTAMOS, POIS, REDUZIDOS AO 3.º PELOTÃO INTERNACIONAL!...

É verdade. E com um excessivo número de equipas, diga-se. As dez que se apresentaram foram aceites pela Federação Portuguesa de Ciclismo. Algumas não inscreveram mais de 9 corredores e já dá para perceber que um, e só um objectivo, as mantém na estrada: a Volta a Portugal. Se na Volta podessem alinhar só com 5 elementos, muitas não teriam inscrito mais.

Estamos, posso dizê-lo,sem passar por papagaio porque ando nisto há década e meia... a um nível que fica ligeiramente abaixo daquilo que o ciclismo português era em... 1990. É a realidade.

Regredimos assustadoramente no tempo, mas também há explicação para isso.

A pequena "História de Natal" que vos deixei atrás, não é a única razão.

Para se ser ciclista - e para começar por baixo - é necessária, pelo menos, uma de duas qualidades. gostar-se muito do que se faz (e por isso não se olha a sacrifícios), ou ter-se de si próprio a (não vejo mal nisso) perspectiva de que pode vingar pela qualidade. Neste segundo grupo, actualmente, e tirando os três emigrantes, no pelotão doméstico chegam-me os dedos de uma só mão para os identificar. Os outros são tarefeiros, com o maior dos respeitos, porque muitos são chefes de família e têm de sustentar a casa; outros querem-no ser em breve e... a razão é a mesma. E ainda vai sendo mais fácil ganhar 300 contos por mês numa equipa de ciclismo do que numa de futebol, da 2.ª Divisão B para baixo. E a Internet acabou com os caixeiros viajantes.

Em 80% dos casos de ciclistas portugueses estamos, não tenham dúvidas, na presença de situações de sobrevivência. Acreditaram... e agora já não conseguem um lugar na Função Pública. Mas o espírito é o mesmo: cumprir apenas os servíços mínimos. Não há Caixas, nem baixas... mas se se diz que há uma lesão... descansa-se (mas ganha-se)... Dos esticadinhos 40 dias de competição que podiam fazer por ano... fazem-se 20... e no fundo do coração, sempre a esperança de que, na próxima temporada, caído em desgraça na actual equipa, haverá sempre outra que lhes estenderá a mão...

Com ciclistas desta estirpe... que ciclismo poderíamos ter?

Falta ambição, falta capacidade de sofrimento, falta dedicação... há casos de desonestidade. Digo-o eu!

E quase podia, agora, aqui, arrancar para outra História de Natal... esta versando sobre algumas "curiosas" actividades pararelas que dão a alguns mais dinheiro do que própriamente cumprir os mínimos que o patrão que os contratou lhes paga honestamente... apesar de, de quando em vez, aparecerem as tais "lesões" e até desistências muito a propósito porque há férias atempadamente marcadas (se calhar não contando terem sido chamados para aquela determinada prova)...


Vou continuar o tema noutra "etapa" para que isto mão fique demasiado longo...

obrigado por estarem a ler.

13.ª etapa


Porque esta é a minha 13.ª etapa e, apesar de não ser suprestigioso, vou aproveitá-la para contar uma história negra. Claro que não é mais que uma parábola, embora algumas semelhanças com a realidade não sejam, de todo... coincidência.

Era uma vez... (começam assim todas as histórias da carochinha)... era uma vez uma família (digamos... o ciclismo, por exemplo) que como forma de sustento só tinha os ovos que as suas galinhas punham. Para comprar as galinhas... precisava que alguém entrasse com o dinheiro, mas depois, e como havia comprador certo para os ovos, as contas equilibravam-se e quem dava dinheiro para que se comprassem as galinhas, até acabava satisfeito porque, uma ou outra vez lá dizia o comprador (e dizia a muita gente e mostrava, que isto da globalização tem que se lhe diga) que os melhores ovos eram os daquele criador específico. Ora, quem tinha avançado com o dinheiro para o tal criador ter um galinheirozinho mais ou menos jeitoso... acabava por dá-lo como bem empregue.

E o que fazia essa grande comprador com os ovos que comprava aqui e ali, um pouco por toda a parte? Omoletes, é claro! E vendia-as a bom dinheiro também... ganhando a sua parte. Que nem era má...

Até que um dia, e como em terra de ceguinhos, quem tem um olho é rei... pensou:
"É verdade que eu ganho dinheiro a vender as omoletes, mas tenho de ter cozinheiros e pagar-lhes... tenho de gastar dinheiro em frigideiras e óleos... hummmmmmm!... Vamos dar uma volta a isto!"

E se bem o pensou, melhor o fez. Como tinha a faca e o queijo na mão, ou melhor, a frigideira e o óleo... fez saber: "Meus amigos... não quero mais ovos! Mas é claro que vocês precisam vender o vosso produto... Vamos então fazer uma coisa. Em vez dos ovos... eu comprovo-vos as omoletes já feitas!..."

Preocuparam-se os criadores. Tinham na mesma as galinhas que iriam continuar a por os ovos, mas se não vendessem os ovos não arranjavam quem lhes adiantasse dinheiro para comprar mais e melhores galinhas... E como fazer as omoletes se a única coisa que tinham eram mesmo os ovos?

Pérfido, o comprador adiantou o como... que já tinha antecipadamente engendrado:

"Vão ver que é fácil. Vocês em vez de me venderem os ovos, compram-me o óleo e eu dispenso-vos as frigideiras, só têm de pagar qualquer coisinha por isso. Depois de fazerem as vossas omoletas... mandam-mas prontinhas e eu continuo a po-las à venda."

E os criadores de galinhas engoliram o isco.
- Continuaram a ter de pedir adiantado para comprar galinhas;
- Deixaram de vender os ovos;
- Tiveram de comprar o óleo e alugar as frigideiras a quem lhe comprava os ovos:
- ... e puseram, de borla (ignorando aqui o facto de lhes terem dado dinheiro para o óleo e o aluguer das frigideiras) as omoletes - mais mal feitas, a maioria das vezes, porque ELES não sabiam fazer omoletes - na mesma montra para ser vendida, em qualidade bastante inferior... aos mesmos clientes de sempre. E depois as omoletes chegavam tarde. E umas sem sal. E outras mal cozidas. E em vez de chegarem à hora de jantar... chegavam já madrugada alta... quando havia menos gente com vontade de comer omolete...

E, num piscar de olhos... começou a faltar dinheiro adiantado para comprar boas galinhas. E as galinhas assim, assim... põem ovos assim, assim... e os ovos assim, assim... dão más omoletes, ainda por cima se não se é especialista em fazer omoletes.

Resultado: os criadores estão quase sem galinhas, com muito pouco dinheiro para lhes dar de comer, sabem que os ovos não vão ser nada de jeito; para continuarem a comprar o óleo e a alugar as frigideiras... vão ter que ter menos galinhas e muitas que ainda nem sequer chegaram à idade de poedeiras... e enfrentam outra ameaça: se as omoletes continuarem a baixar de qualidade, o comprador desinteressa-se.

Quem é que ganhou alguma coisa neste meio tempo? O tal vendedor e um grupo de amigos, uns que já tinham trabalhado com ele, outros que metiam folga para sairem de propósito a levarem as frigideiras e os óleos e até a fazerem eles, lá fora, as omoletes, com os mesmos ovos que antes tinham de comprar, mas que agora tinham de borla (para além do que ganhavam com a venda do óleo e o aluguer das frigideiras)...

Custos: ZERO!
Tudo lucro. Baixou o lucro? Vais baixar ainda mais? Abandona-se o negócio das omoletes.
Há quem esteja disposto a deixar-se levar nas mesmíssimas condições nos campos dos pipis, das moelinhas, dos caracóis e de seja o que for...

Até que percebam que, se são os donos dos bons ovos, e alguém quiser ficar rico a vender omoletas... pois que lhes comprem os ovos. E a preços justos.
E voltaria a concorrência entre os criadores. E os melhores, facilmente conseguiriam quem adiantasse dinheiro para comprarem boas galinhas...

E tudo voltaria ao que foi até há uns três anos atrás...

Mas houve quem tivesse atentado contra a galinha dos ovos de ouro. Já ganhou o que tinha a ganhar... só o dono da galinha perdeu.

Um Bom Natal a Todos.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

12.ª etapa


Nos poucos, incaracterísticos e... quase dizia... rascas, espaços onde alguns ainda acham que se está a discutir ciclismo, podemos rever, qual negativo de fotografia (quando as fotos tinham um negativo) ou como que, olhando-se num espelho, vai mesmo o ciclismo nacional.

As coisas, hoje em dia, não podem separar-se. O futebol português (selecção à parte, porque à frente tem um
CHATO brasileiro que pensa pela sua cabeça) é aquilo que é o adepto do futebol português... rasca. Que vai porque vai e, mesmo não tendo estado com atenção... tem a certeza do que viu. As imagens de televisão e os comentários nos jornais são ÓPTIMOS, se pendem a favor das nossas cores; em caso contrário... seja quem for que tenha dito ou escrito (até para as imagens não se consegue ter uma ideia concreta)... são BARBARIDADES.

Voltamos então ao ciclismo.

O ciclismo português não está bem. Culpa de quem? Há a incontornável crise económica; há aquilo que já se disse noutros locais, mas que repito sem sombra de problema... aqui vai: há quem viva do ciclismo; há quem use de todas as artimanhas (legais, aceitáveis até...) para garantir o seu emprego; e só por isso há equipas que sobrevivem ano após ano.

Mas o ciclismo português não está bem, também, porque lhe está a faltar o apoio popular. O ciclismo, talvez a mais popular de todas as modalidades (futebol àparte) está órfão de público.

Mas porquê?

Primeiro, porque temos vindo a roubar o ciclismo ao público.

Já o escrevi mais do que uma vez.

Enquanto, por exemplo, aqui ao lado, em Espanha, se move
Seca e Meca de forma a ter as partidas e, principalmente, as grandes chegadas, nos grandes corações das grandes cidades... em Portugal, em Setúbal fazem-se chegadas nas Manteigadas só com o pessoal que está à espera de levantar as barreiras e os 3 jornalistas de serviço... fazem-se partidas do Estádio do Algarve, que fica a pelo menos 15 km do local povoado mais próximo; não se publicita uma corrida localizada numa zona onde... não há sequer outra oferta desportiva!

(Estive no GP Centro e ninguém, nem nos tascos à volta da meta, sabia o que estava a acontecer... só que os seus clientes não podiam ir tomar café porquer a rua estava fechada.)

Mas voltemos ao princípio: se, os utilizadores de um dado Site nacional que se debruça sobre o ciclismo podem ser tomados como amostra, o ciclismo português não pode evoluir porque nem os seus adeptos gostam dele, nem o percebem, porque não percebem de ciclismo.

Como vamos defender um desporto que vive do retorno de quem investe em publicidade e o universo a que se destina... não percebe nada da modalidade?

Futuro?

Se alguém tiver alguma ideia... faça favor de avançar com ela.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

11.ª etapa


Para que o tema Heras não fique assim... pendurado.

Disse-o, e não tenho pejo em reafirmá-lo: custa-me a crer que o corredor tenha cometido algo ilícito.

Contudo, e depois (reconheçamo-lo também) do esforço por parte do laboratório - embora não deixe de ficar surpreso com o porquê de, NESTE CASO MUITO PARTICULAR, não só o Conselho Superior do Desporto espanhol tenha decidido gastar os tais 3 mil euros/análise justamente em vésperas do final da Vuelta, e porque é que o Heras se empenhou tanto numa etapa em que só tinha que rolar dentro do seu normal e controlar os quase 4 minutos para Menchov - recomeçando: depois do esforço do laboratório, também aceito que o resultado, ou melhor os resultados... não tenham por onde se lhe pegar.

É positivo a primeira vez, a segunda, a terceira e todas as que fossem analisados!

Quem tramou quem?...

Pode ser que volte ao assunto.

quinta-feira, novembro 24, 2005

10.ª etapa


Deixei aqui atrás, há alguns dias, um post no qual, quem quisesse percebê-lo, poderia ler a minha relutância quanto ao positivo de Roberto Heras a 24 horas de vencer a sua 4.ª Vuelta e marcar lugar na história do ciclismo espanhol e mundial, por ser o 2.º homem a conseguir ganhar por três vezes consecutivas aquela que eu considero a 2.ª maior corrida do Mundo, mas, mais importante ainda, por ter sido o primeiro a ganhá-la por 4 vezes.

Foi uma opinião apaixonada. Confesso-o.

Serei tudo menos ingénuo. Lembro-me de velhos ditos, género... não é só com bifes que se ganha na Torre... bifes!... Ser naïf também tem os seus encantos.

É evidente que não tenho queda para fingir de avestruz. Não enterro a cabeça na areia, faço mesmo questão de andar mais ou menos a par das novidades. Sei como é (esta outra confissão pode custar-me caro, mas quero que, quem me lê, perceba que este espaço é de honestidade) e como se faz...

Mas - parece-me ouvir a voz de quem, lendo isto fique (verdadeiramente) espantado... - o ciclismo é tudo mentira? Afinal são mesmo todos um grupo de mamados. Não!

Não, não, não e não!...

Não é tão fácil falar de ciclismo como o é de... futebol, por exemplo. Não tem nada a ver. E se querem exemplo de desporto onde a batota vinga, quase sempre e cada vez mais, de forma impune, pior... suportada por autênticas equipas de rectaguarda que juram, são testemunhas e garatem a angeliqueidade dos sujeitos... olhem para o futebol.

Seriam precisas mil corridas de bicicleta para ver um corredor agarrar o seu adversário de forma a que este não chegasse antes dele...

Seriam precisas mil corridas de bicicleta para ver um verdadeiro profissional encenar uma lesão, de forma a, na conversão da penalidade prevista nos regulamentos, o adversário ser (indecorosamente) lesado...

No ciclismo, quando se cai é a sério... não é a fingir. E não é sobre o fofo de 7 centímetros de relva. E não chega uma maca para carregar o corredor à beira da estrada, com a corrida parada... para logo voltar à estrada são que nem um pero.

Esta parte toda para justificar que é muito diferente, porque os elementos dos quais partimos e sobre os quais assentamos a nossa opinião, não têm nada a ver...

Não me perdi nos argumentos. Estou a falar do caso-Roberto Heras.

Escrevi aqui, há uns dias atrás, o quão difícil seria aceitar que um atleta fora do comum, quando, com o seu objectivo à vista e praticamente garantido, pudesse cometer um erro tão grave como o de... deixar-se apanhar nas malhas do doping.

Escrevi-o em consciência. Dei exemplo de médias, de quilometragens, de corredores que em dias sucessivos e em condições que qualquer especialista reputaria de inadequadas... fizeram corridas exemplares.

E carreguei na tecla do não acreditar que Roberto Heras pudesse ter caído em tão primário erro.

Entretanto, com toda a gente a clamar a inocência do corredor, parte-se para a decisiva contra-análise.

Não seria a primeira vez que esta negava a evidência dada à luz pela primeira análise, mas aconteceu tão poucas vezes...

E somavam-se outras parcelas nesta conta que não admite ser de subtraír... é só somar!

O corredor em causa é, só... o chefe-de-fila de uma das mais importantes equipas do pelotão principal...
Essa equipa é dirigida só... por um dos mentores do projecto ProTour...
Este projecto, que no seu primeiro ano pouco mais foi que um fiasco (no que ao próprio projecto diz respeito), que continua preso por arames (leia-se: no fio da navalha até as três principais organizações quererem acabar com ele) e que só veio contribuir para um anunciado desmoronamento do ciclismo, pelo menos o europeu, tal como o viamos até ao ano passado... não poderia encaixar um escândalo deste tamanho...

Como a organização da Vuelta, apesar de tudo.

Apesar de estar no outro lado da barricada, no que respeita ao braço de ferro com o ProTour, não quereria ficar com essa... mancha.

E, por razões puramente corporativistas... este caso vai dar em nada.

O senhor Manolo Sáiz vai esquecer os princípios de ética que, em Maio, o levaram a despedir liminarmente e sem direito a defesa, um corredor que, provar-se-ia, estava - pelo menos daquele crime - inocente...

A púdica UCI, respira de alívio e começa, como é habitual, a assobiar para o lado, retomando o agradável passeio à beira do Lago Leman...

O próprio Roberto Heras, deixar-se-á cair estrondosamente no sofá da sua sala e prometerá a si próprio que nunca mais correrá riscos deste calibre...

... e eu avanço que o Roberto Heras nunca mais ganhará qualquer corrida importante.

E há ainda mais uma coisinha... quando, em França, se rebusca nos baús do tempo uma ponta de fio que seja para matar o mito Armstrong... em Espanha e com o beneplácito da UCI (e da AMA, ah, pois é... e da AMA, seja directa ou indirectamente) saca-se das labaredas da actual inquisição que faz uma marcação cerrada ao ciclismo... a mais importante marca norte-americana que está a investir no ciclismo. É bonito!...

Eu é que fiquei completamente baralhado! Sabia-os capazes de truques género brincadeira para animar um serão entre amigos, agora... magias de fazer o Luís de Matos mero aprendiz de ilusionista... isso vai-me custar a aceitar.

quinta-feira, novembro 17, 2005

9.ª etapa


Para os que acham os meus texto demasiado... enleados, dando voltas e voltas para ir ter a um sítio que até se percebe desde o início, abro o jogo: vou falar do caso Roberto Heras.

Não, não acho que venha atrasado. Acho, isso sim, que há assuntos que merecem algum cuidado quando os tratamos. E não venho tomar partido. Tenho a minha opinião, provavelmente expo-la-ei nos próximos dias. Nem venho, nesta etapa, acusar seja quem for.

Salvaguardo que não é nada de pessoal, porque até nem conheço a pessoa em causa. Sei é que, em 15 anos de ciclismo... nunca o vi. Nem de perto, nem de longe. Não obstante isso, permite-se opinar sobre uma questão que, obviamente, não pode perceber porque não faz a menor ideia da realidade da modalidade.

Mais ou menos, e depois de achar que isso dos ciclistas é trigo limpo que andam todos mamados, o especialista em causa alicerçou todos os seus argumentos num facto que ele, na sua fraca preparação, pensou inabalável...
Como foi possível o Roberto Heras ter cumprido um contra-relógio à média de 56 km/hora ??? (até falou em motoretas!)

Primeiro, não citou sequer, porque não sabe, que o Roberto Heras não ganhou esse contra-relógio. Logo, alguém, andou ainda mais depressa do que ele.
Logo aqui, neste ponto, em vez de dizer que é impossível um corredor fazer, de bicicleta uma média destas... devia (se soubesse do que escrevia) acrescentar... principalmente se for apanhado num controlo anti-doping.

Até hoje, o vencedor desse crono está fora desta história. Porquê? Aceitando como válido o raciocínio do tal escriba... não percebo.

Porque é que Fulano, só recorrendo ao doping , quando já tinha a Vuelta ganha, poderia fazer uma média daquelas... e Cicrano, que ainda fez melhor, tanto que ganhou essa etapa, nem sequer é mencionado, quanto mais olhado, por mais de soslaio que fosse, como também, eventualmente suspeito. Que ignora uma das partes (a de que Heras NÃO ganhou o contra-relógio...) é perceptível, que se limitou a apanhar a onda e gastar uma página de jornal para bater num atleta só porque, no caso, é ciclista... é evidente.
(Tantos casos de doping que há... porque é que só o ciclismo parace gerar apetências?)

E depois há vários outros perigos quando nos aventuramos a palpitar (no sentido de dar palpites - que não opiniões, em definitivo... não) sobre disciplinas que não conhecemos, quanto mais pretendemos dominar.

1.º - Estava lá? Reconheceu o percurso? Sabe quantas curvas, rotundas, quantas subidas e descidas tinha o traçado entre Guadalajara e Alcalá de Henares? Percebeu, no local, de que lado soprava predominantemente o vento? Sabe se a cota a que se situa Guadalajara é mais alta ou mais baixa do que a de Alcalá? Em suma... tem a mínima ideia de como era o contra-relógio?

2.º - Sabe que, hoje em dia, uma bicicleta de contra-relógio, cujo preço se aproxima, se é que não ultrapassa, a de um carro tipo utilitário, onde se montam cassettes de mudanças que, em condições ideais, qualquer corredor de categoria mediana faz, sem se esforçar muito, médias de 44 ou 45 km/hora? (Eu disse em condições ideais.)

3.º - É claro que não sabe. A ideia que tem do ciclismo pouco mais avançada andará do que aquela da pasteleira e do corredor com duas câmaras-de-ar cruzadas no dorso...

Mas, sinceramente, o que mais me tocou, foi o facto de toda a trama do comentário assentar no facto de um corredor - no caso o Heras, que até terá sido apanhado nas malhas do doping (mas ignorando olimpicamente, que o Heras foi segundo no crono, logo, que outro corredor andou mais rápido do que ele) - ter rolado a mais de 56 km/hora.

Só por causa disso, vou recordar algumas situações que, tivesse o tal cronista conhecimento delas - e bastaria ter lido diariamente o seu jornal - ficaria, definitivamente baralhado...

Não acusaria ninguém, porque não me parece do género de acusar, mas ahhhh!!!... que eram suspeitos eram...

Recordemos, então! (Estamos a falar da Volta a Espanha).

4.ª etapa, corrida entre Ciudad Real e Argamasilla de Alba. 232,3 km. A mais comprida das etapas da última Vuelta. Estamos no coração de Castilla-la-Mancha. Temperatura do ar: cerca de 44º centígrados (as etapas começam entre o meio-dia e a 1 da tarde e terminam por volta das 5). Quase 250 quilómetros em cima de uma bicicleta debaixo de um forno onde chegava a ser difícil respirar, o vencedor da etapa fez uma média de 41 km hora!

5.ª etapa, Alcazar de San Juan-Cuenca, mais curta - 176 km - temperatura... igual! Uma contagem de montanha a 12 km da meta e a 1100 metros de altitude, um zig-zag de doidos pelos mais de 30 arruamentos da cidade por onde a parte final da etapa decorre... chega um grande grupo, a chegada é discutida ao sprint. Média: 47,6 km/h... mais de 30 minutos de adiantamento sobre o horário previsto...

6.ª etapa, Cuenca-Valdeliñares, 217 km, meta a 1970 metros de altitude. Média final: 39,8 (!) km hora.

8.ª etapa, contra-relógio em Lloret de Mar. 48 km. Uma contagem de 3.ª categoria para o prémio da montanha, a meio. O Mar Mediterrâneo no horizonte, os ventos habituais quando em terra a temperatura teima em superar os 42º centígrados. Média do vencedor: 47,3 km/hora.

Último e definitivo exemplo (partindo do princípio que, quem ler isto, viu a etapa na TV).

15.ª etapa, Cangas de Onis-Alto de Pajares. Enganam muito os míseros 1500 metros de altitude. Sucedem-se as rampas de 17%, temperatura a partir do início da subida, inferior aos 10º. Temperatura no alto: 4º centígrados. Chuva. Nevoeiro. Vento cortante. Extensão da etapa: 191 km (quase 200). Média feita pelo vencedor da etapa que, 40 km antes tinha tido uma outra contagem de montanha (esta de 1.ª categoria) e que já era a 4.ª da jornada, antes derradeira até ao alto de Pajares... 39 km/hora (!)...

Apontar como principal factor de suspeita de que Roberto Heras podia estar dopado, o facto de ter cumprido um contra-relógio perfeitamente plano, sob uma temperatura amena, entre o ceu aberto e a amaeça de chuva, com o vento a favor e... supermotivado com o aproximar do final da corrida, e da conquista, para si, do recorde de vitórias na prova... isto sem contar com as possibilidades técnicas, ao nível da máquina que montava, que estavam à sua disposição, só demonstra uma coisa...

... o articulista em causa não percebe nada de ciclismo. Ninguém o avisou que as bicicletas já não levam bombas para encher pneus e que com duas rodas pedaleiras e uma cassete de 10 carretos, as máquinas têm, para todos os efeitos, 4 vezes mais desmultiplicações de velocidades que qualquer vulgar carro.

Mas o que interessava naquele artigo era cruxificar mais um ciclista. No mesmo jornal, aliás, como em todos os outros, os milhares de caracteres que vi sobre o caso Abel Xavier foram quase só para tentar explicar a presumível inocência do atleta. E depois... confirmado o uso de produto proíbido... fechou-se a loja.
Não mais se voltou a falar no assunto.

Quem quer apostar que na para a próxima terça-feira todos os jornais (incluindo o meu) já têm prevista uma página para tratar do positivo confirmado do vencedor da Volta a Espanha?

segunda-feira, novembro 07, 2005

8.ª etapa


Regressado do fim-de-semana, e com as leituras de jornais em dia, é o Record que me dá a notícia de uma futura Volta a Portugal para juniores. Não sei!... Creio que a uma corrida de 4 dias, mesmo que saibamos que o País é pequeno, chamar-lhe Volta é... exagerado!. Até a Volta a Portugal do Futuro começa a ser difícil de vender... no seu formato de 5 etapas. Afinal de contas... somos um bocadinho maiores que a Holanda e a Bélgica e o Luxemburgo.
E aqui ao lado, em Espanha, por exemplo, não se brinca com a palavra... Vuelta.

Mas isto fica para futuros exercícios. De resto, no site que pode ser considerado o barómetro do estado do ciclismo nacional no seu dia-a-dia, destaco (apoiado pela informação veículada pelo Norte Desportivo) o colapso da Associação de Ciclismo do Porto.
Como é possível? Quem poderá explicar uma coisa destas às pessoas interessadas?

Num país que, desportivamente, respira futebol (também respira outras porcarias... não será por isso) seria, se alguém a isso fosse obrigado, muito difícil explicar como é que uma associação na qual estão inscritas 60% (Maia, V. Conde, Paredes, Boavista, Barbot/Gaia e Canelas/Gaia) das equipas da I Divisão nacional... cometa, pelo lido, hara-kiri sobre hara-kiri...
Mas quem pôs o senhor na presidência?
Há coisas que eu não entendo...
Aliás, é quase impossível, seja através daquele site, seja em conversas particulares, ignorar que a associação portuense... não existe.
O que me fez olhar para as outras...

A do Minho funciona. Bem, acho eu. Tem trabalho para mostrar...
A do Algarve... também. Não é só a Volta ao Algarve, há mais algumas organizações que testemunham o trabalho dos seus responsáveis...
De Setúbal chegam-me inúmeras notícias, especialmente referentes a iniciativas, ou para os mais novos... ou para os veteranos;
Lisboa, do meu querido amigo Aníbal Oliveira, falha-me em informações...
Há os critérios de fim de época. Eu deveria procurar mais? Talvez. Mas não procurando eu... também não tenho tido notícias que mostrem o pulsar da associação lisboeta.

No continente, sobram Aveiro, Santarém, Trás-os-Montes e Beira Interior...

De Aveiro sei da paixão pelas bicicletas e foi lá o último Congresso do ciclismo nacional, no qual participei (porque não voltaram os homens/e mulheres do ciclismo a organizar um Congresso?)... mas mais nada. Há o Abimota! Mas...

Da Beira Interior há notícias de iniciativas... falta a capacidade de fazer passar essas notícias;

De Santarém... fica a impressão que só há os critérios de fim de temporada...

De Trás-os-Montes, e aqui sou obrigado a engolir em seco (mas assumo o que escrevo) do que se fala... não se gosta.

O que fazem, então, as associações nacionais?

Porque têm... ou não têm, mais ou menos peso no todo do ciclismo português?

Mas têm mesmo algum peso?

Acho que ninguém será capaz de responder até que se perceba porque a associação que tem 60% das equipas profissionais é algo... que ninguém será capaz de explicar. Só não é caricato porque é trite. Só não dá para rir porque, de facto... o caso é demasiado sério.

sábado, novembro 05, 2005

7.ª etapa


Hoje é Sábado e, pela manhã, está marcada a Assembleia-geral da FPC.
Algumas cadeiras que, pela Lei de Bases do Sistema Desportivo, em vigor, bem poderiam estar ocupadas por quem mais interesse tem no que de desportivo se vai falar... estarão vazias.

Não existe, por muito estranho que possa parecer, num país pequeno, com um pelotão pequeno e a viver em permanência numa instabilidade quase insustentável... uma associação de equipas.

Por elas se pede dinheiro aos patrocinadores; em nome delas se oferece o que (nem sempre) se dá aos corredores e... elas não conseguem reunir-se numa associação!

Ao contrário dos corredores.
Ao contrário dos Organizadores.
Ao contrário dos Árbitros.

Quero dizer... No grande palco do ciclismo, a única parte que não consegue chegar a uma base de discussão para que, a partir daí, parta para, no local certo, tentar defender os seus interesses, que seriam os interesses dos seus patrocinadores, afinal de contas, quem lhes garante o facto de existirem (e de ano, após ano, pedincharem dinheiro)... são as equipas.

Porquê?

Se os organizadores encontraram uma plataforma a partir da qual, o maior e o mais pequeno conseguiram definir o que de melhor podia ser feito de forma a satisfazer todas as partes...
Se os corredores, os mais mediáticos e com emprego garantido, e os "pau para toda a obra" (com o meu devido respeito pelos operários do pelotão), conseguiram encontrar um ponto comum, a partir do qual se criou e se tem cimentado a sua organização de classe...
Se os árbitros conseguem estar unidos sob uma mesma bandeira...

... porque, ao fim de todos estes anos, os Grupos Desportivos Profissionais (por acaso, a nível internacional com uma associação tão forte que conseguiu fazer impor, em conluio com a UCI, um ProTour do qual ninguém gosta, estão unidos), porque é que em Portugal se consegue essa originalidade de termos "responsáveis" por equipas, ano após ano, a darem o peito às balas, na defesa do seu pequeno grupo de trabalho, se isto acontece com 70 por cento dos chamados "directores-desportivos", porque é que não há uma Associação de Equipas para, no geral e junto das entidades que julgasse necessário, a começar pela FPC (e a começar por questionar o calendário, que depois, individualmente, vão contestar) não defendam... mais que o seu lugar. Que é, aparentemente, aquilo que os preocupa acima de tudo?

E se há equipas que fazem os seus corredores assinar recibos de "x" para receberem o "y" previamente combinado (e aceite, porque ninguém será obrigado, quero eu acreditar)... não serão os seus "directores-desportivos" os principais responsáveis?

Mas caramba!... Se fazem (quase) todos o mesmo, porque não formalizam a maldita associação e concertam isso? Aproveitando para tentarem, pelo menos, salvaguardar outros aspectos que os deveria preocupar, no que diz respeito à equipa que, em princípio, comandam?

E se, havendo uma equipa em dificuldades para arranjar patrocinador, por exemplo, não haveria a Associação de Equipas (que não existe) poder tentar arranjar forma de ajudar a sua associada?

Ou é por causa disso que não há associação?

Hoje, Sábado, pela manhã, aconteceu uma Assembleia-geral da FPC. A meio da sala, havia cadeiras não ocupadas por um dos membros que nela tem, pela Lei de Base do Sistema Desportivo, assento. A associação de equipas.

Simplesmente porque ela não existe! Expliquem-me porquê.

quinta-feira, novembro 03, 2005

6.ª etapa


Depois de alguns contactos feitos ontem, que neste momento já é madrugada em Portugal, t(r)emo pelo futuro próximo do nosso ciclismo.

Não há uma excepção!...


As equipas que não vão optar pela contenção... não sabem sequer se vão poder ir para a estrada em 2006.

É esta a realidade.

Entretanto, e visitando outros
sítios onde se fala de ciclismo (no caso, e porque em relação a eles tenho uma dívida de gratidão, tenho, em consciência, que o referir: o Cyclolusitano), encontro uma proposta de discussão que me fala do peso dos grandes clubes no ciclismo.


Mas é que nem tenho dúvidas: tudo seria diferente se FC Porto, SC Portugal e SL Benfica tivessem equipas de ciclismo. Aliás, creio que é a única maneira de, assim, de um ano para o outro, recuperarmos alguma estabilidade no pelotão.

Benfica, Sporting e Porto fazem falta no pelotão. É claro que fazem. Não há cidade, vila ou aldeia onde hão haja adeptos destes três clubes... E essa clubite (por muito que me custe, a mim, particularmente) poderá ser o revigorante que está a fazer falta à modalidade.

E é, sejamos honestos, e ao mesmo tempo... um bocadinho espertos (que ser esperto não significa obrigatoriamente ser menso honesto) esta a altura ideal para as equipas dos três grandes voltarem.

Explico: nunca, nos 20 últimos anos (apesar da passagem do Benfica pelo pelotão em 1999 e 2000) as circunstâncias se apresentaram tão de feição.

Há 20 anos havia o Louletano-Vale de Lobo, depois a Lousa-Calbrita e a Sicasal-Acral que já pagavam ordenados anuais na ordem dos 10 mil contos (não era a todos, mas havia quem ganhasse estes valores...)

Depois veio a Maia, e o Benfica, também...

Mais alguns casos excepcionais noutras formações que, apesar de a vida ir encarecendo, há 4 ou 5 anos pagavam... a mesma coisa! Cerca de 1000 contos/mês aos seus chefes-de-fila...

É verdade!

E em 2005, tirando as situações que os dedos de uma mão chegam para contar, ninguém ganhava isso.

Os melhores de hoje ganham o mesmo que os melhores de... há 20 anos.

A média, hoje, fica quase a 10% daquilo que se ganhava há 20 anos.

E a equipa barómetro nas últimas temporadas, a Milaneza-Maia, vive uma crise tão marcante quanto as outras, o que significa que, para ter os melhores corredores - para além do factor de ser Sporting, Porto ou Benfica - seria irrisório o investimento.

Seria a brincar que se encontrariam parceiros...

Sejamos honestos. Há três anos, Benfica, Sporting e Porto não podiam (re)aparecer no pelotão sem a garantia de que tinham equipa para mostrarem ser melhores do que a Milaneza-Maia... Isso podia custar algum dinheiro.

Hoje, agora... para a temporada que se avizinha (não cito verbas porque não traio a confiança de quem em mim confiou e porque... e porque o pior cego é aquele que não quer ver...), com três vezes "cinco tostões" faziam-se três equipas de nível muito igual...

E que emoção seria...

E não me venham com a ridicularia de que não conseguam marcas patrocinadoras.

Será que uma modalidade de pavilhão (volei, andebol, basquete, futsal) consegue, na melhor das hipóteses, juntar semanalmente mais do que 800 a 900 pessoas? E garante mais retorno - sendo que é perfeitamente estanque/fixa no que respeita à zona que abrange - que uma equipa de ciclismo que vai de terra em terra? Por todas as terras? Durante, e falando só nas provas mais pequenas, cinco dias pelo menos?

Não sou especialista em marketing e publicidade... mas terão que me explicar porque não!...

terça-feira, novembro 01, 2005

5.ª etapa


Muitas vezes, quando falo com amigos, de uma forma ou outra ligados à modalidade, já me têm dito: «Era preciso dar algum destaque às escolas de ciclismo, do esforço de algumas das Associações, de muitos carolas, para por os miúdos (e miúdas) a aprenderem, não a andar de bicicleta, mas a aprenderem o ciclismo.»

É quando me lembro que, de facto, há escolas de ciclismo, quase todas sustentadas pelas Associações. E às vezes não consigo disfarçar alguma ternura quando me mostram fotos e os vejo, pequeninos, quase mais pequenos que as bicicletas e com os capacetes que parecem enormes nas suas pequenas cabeças a (imaginando o movimento que falta nas fotos) pedalarem ziguezagueando de forma a contornar os pinos, aprendendo a passar por baixo de uma barra colocada a 60 cm do chão para apanharem alguma coisa do solo sem perder o controlo da bicicleta...

Um destes dias deixei escapar um reparo do qual logo me arrependi, meio comprometido.

«Ainda bem que as Associações assumiram esta parte da formação», disse eu, adiantando para esse amigo: «Se começam para aí a nascer escolas de ciclismo a pagar, como há já algumas dezenas de escolas de futebol...»

Fui interrompido pela sonora gargalhada desse amigo, acompanhada de uma bem assentada palmada nas costas que quase me fez dobrar os joelhos.

«Tudo isto são miúdos que os pais, antigos corredores, ou amantes do ciclismo, nos fazem aqui chegar. Não digo que os não tragam a pensar fazer deles Ullriches ou Armstrongs, mas estão bem cientes de que o ciclismo é algo diferente. Nessas escolas de futebol para miúdos, pagas, os putos vão a sonhar poderem vir a ser o Sá Pinto, o Nuno Gomes, o Vítor Baía... e os pais a sonharem que eles sejam o Cristiano Ronaldo. Não porque joguem bem à bola, mas para que aos 17 anos garantam o sustento de toda a família até ao fim dos seus dias com dois ou três contratos de 3 ou 4 anos... De preferência antes que eles decidam tomar o seu destino nas suas próprias mãos .»

Disse isto e mudámos de assunto. Contudo, eu fiquei a pensar.

Sei de quem pague 250, 300... 500 euros por mês para por um miúdo de seis anos numa das muitas "academias" de futebol (quase todas com ex-figuras da modalidade à frente, a ajudar a vender a ideia de que isso do futebol é como aprender a tocar viola: começa desde pequenino e, por muito tosco que seja, na pior das hipóteses aos 17 toca um arremedo do Concerto de Aranjuez tão bem como o Joaquin Rodriguez...)

Mais do que (independentemente da vaidade pessoal) querer dar ao miúdo algum prazer [o que o pai pretende] é tentar descobrir se tem ali uma pepita de ouro que lhe garanta uma velhice confortável.

Nas escolas de ciclismo, mesmo que os miúdos vão mais por vontade dos pais do que por vocação ou jeito nato, pelo menos a mais negativa das imagens que podem carregar seria a da escusada vaidade (dos pais). O lado mercantilista e o horrendo de se poder pensar que estão a investir dinheiro a pensar que, se der certo, podem reformar-se aos 35 para gerir a carreira do rebento... isso, garantidamente, está perfeitamente fora da realidade das nossas escolas de ciclismo.

segunda-feira, outubro 31, 2005

4.ª etapa


Toquei, na última opinião que aqui deixei, no caso das transferências no ciclismo e da abissal diferença que existe entre a sua publicitação e a que acontece com qualquer artista (mesmo que seja - e tantas vezes é... - de cassette pirata) da bola.

Conhece-me - espero eu, sem falsas modéstias - a maioria dos meus leitores. Sabem quem eu sou, o que faço... onde estou. Já terão, os mais ávidos, procurado nas páginas do jornal no qual escrevo, a notícia ou apenas a confirmação de uma notícia que outro colega, de um dos outros jornais, já tenha avançado. E não encontram nada.

E porque é que eu opto por não dar nada, a noticiar em quatro linhas que um homem (e tomo-o apenas como exemplo) como o Pedro Soeiro, com um dos mais ricos curriculos dos corredores ainda em actividade, muda de equipa. Assim, numa notícia desgarrada, perdida entre as outras breves no jornal?

Como sinto a necessidade de me explicar perante todos, aqui o faço. Agora.

Porque acho que ele, a equipa que o projectou, mas que não pode acompanhar, em termos financeiros, uma melhor oferta de outra equipa, e que, sobretudo esta, que fez algum esforço para ter o corredor, merecem algo mais do que uma notícia de quatro linhas.

É uma opção minha. Assumo-a.

Não concorro com ninguém, em termos de dar novidades. Quero ser o mais completo e rigoroso, no que se trata da divulgação do ciclismo. Chamem-me idealista. Chamem-me utópico. Chamem-me sonhador ou... chamem-me parvo.

Esta opção é intocável.

Pelo respeito que me merece(m) o(s) atleta(s), pelo respeito que me merecem todas as equipas, pelo respeito que me merece a modalidade. Sobretudo, para que fique bem vincada a minha posição anti-notícia para encher, no que ao futebol diz respeito e ao respeito que as outras modalidades deveriam merecer.

Já agora, e para não gerar expectativas... os que fazem o favor de vir ler estas linhas não esperem grandes novidades noticiosas. Há uma entidade que me paga todos os meses e à qual devo, mais do que qualquer obrigação, sobretudo... lealdade. E não ultrapassarei esse risco.