[Acordo Ortográfico] # SOU FRONTALMENTE CONTRA! (como dizia uma das mais emblemáticas actrizes portuguesas, já com 73 anos, "quem não sabe escrever Português... aprenda!») PORTUGUÊS DE PORTUGAL! NÃO ESCREVEREI, NUNCA, NUNCA, DE OUTRA FORMA!
segunda-feira, dezembro 26, 2005
1.ª neutralização
Conheçia-o de há anos e não me sai da cabeça aquela vozeirão... Não consigo ignorar aqueles seus modos quase bruscos, a sua figura, diria... imponente. Metia respeito mas, depois que o conhessecemos, revelou-se-me um dos últimos sonhadores do jornalismo sem concessões. Ou era, ou não era... Sem padrinhos a quem obedecer... Com o à vontade de quem há décadas tratava, principalmente as modalidades (que eram chamadas de amadoras) por tu. Nomeadamente o basquetebol. Estou a falar do Vítor Hugo que nos fez a tremenda desfeita de nos deixar órfãos dos seus imensos conhecimentos, neste Natal. Atleta, treinador, cronista, colunista... Conhecedor respeitado, tanto que até um dos Governos da Nação o agraciou com a Ordem de Mérito Desportivo...
O Vítor olhou-me de alto a baixo a primeira vez que se deparou comigo como editor da secção Modalidades, mas logo funcionou uma certa empatia. Pelo lado dele, nunca o soube. Por mim... era um dos grandes nomes que já conhecia da rádio e lia, nomeadamente n'A BOLA.
Estando eu muito estreitamente ligado ao ciclismo, surpreendeu-me que o Vítor, há dois ou três anos, em conversa comigo, tenha dito, mais ou menos isto: «Ainda gostava de fazer uma Volta a Portugal!... mas faz-me falta aquele espírito quase de "cigano", de levantar as malas todos os dias e partir para outro lado...»
Soltei uma gargalhada. É quase o mesmo motivo que me faz apaixonado pelo ciclismo. E disse-lhe (atendendo ao estatuto que, afinal de contas, tinha): «Vítor, ainda vou arranjar maneira de encontrar uma função para si. Ainda faz uma Volta comigo!...»
Já não faz. Nem volta a escrever mais nenhuma das suas colunas. Nem a lamentar (e se ele tem - porque não deixa de a ter, só porque nos deixou - razão!): quão diferente é este jornalismo assente nos dados estatísticos da Internet. Sem que não se sinta o cheiro do suor dos atletas, se perceba a euforia dos triunfos e a profunda tristeza das derrotas. E, lá de cima, da tribuna, o Vítor era capaz de as diferenciar... Porque já antes as vivera.
Nos últimos tempos, o Vítor andava um pouco desanimado.
Ligou-me. Também eu estava, por motívos de saúde, fora do jornal. Disse-me que ia ter de ser operado ("Já é a 7.ª ou 8.ª que faço... mas um tipo quando se deita ali... nunca sabe se volta a levantar-se!..."). Parecia que estava a prever um desfecho menos feliz!
Vítor... houve uma coisa que não lhe disse, e agora lamento-o.
Uma pessoa com a sua experiência e conhecimentos nunca poderia estar errada. Aceitemos que cumpriu a sua parte, enquanto esteve connosco. Vou tentar que as suas ideias prevaleçam por mais algum tempo. Pelo menos... aquele que eu por cá me mantiver.
Até sempre, Vítor Hugo...
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