quinta-feira, dezembro 29, 2005

17.ª etapa


Porque isto é como as velas de um moínho de vento, ou as pás de um moínho de marés... é rodar ao sabor do momento, tentando tirar, desse momento, o maior partido possível...

Olhemos assim o ciclismo português.
Desde a última vez... entráramos na classe dos organizadores.

Não é a Federação, não é a PAD (que já tem um cadernos que não é de encargos é de procuações...) mas, assuma-o quem quiser sendo que, para isso, vai ser preciso ter bastante coragem... Apesar da crise nacional terão de ser estruturas, em princípio, alheias à modalidade, a perceberem o quando, onde e como, devem apostar em investir aqui.

E eu acho que ainda vale a pena investir aqui...

Trabalhe-se desde cedo e... ocupem-se espaços...

O resto será lucro.

Como explicar?

Vamos, e em definitivo, porque é imprescíndivel para umas das partes e perfeitamente exequível para a outra, deixar de ter a Volta ao Algarve da AC Algarve, ou a Volta ao Alentejo da AMDE, ou a Volta ao Minho da AC Minho.

Vamos ter estas entidades a avançar, primeiro com as ideias, depois com os projectos.... finalmente com o garante da organização técnica da corrida... Vamos colocar NOMES, marcas, seja o que fôr... a sustentarem a prova.

Quais os grandes encargos que uma prova de ciclismo actualmente acarreta?

(Mantemo-nos fora dos aspectos técnicos e de organização na estrada...)

... a contratação das equipas, dando-lhes as condições mínimas par poderem apresentarem-se de uma forma que, pelo menos, aos olhos dos leigos, possa parecer... digna; a disponibilidade de uma verba para publicitar, antes e durante.... o acontecimento.

Pessoalmente, acho que a Volta ao Algarve, porque tem um pedido alargado de participação por parte de equipas do primeiro escalão mundial -- que cá virão correr ao abrigo de um artigo de excepção que permite às equipas ProTour correr provas que não são do seu calendário -- não deveria ser obrigada a aceitar a inscrição de todas as equipas nacionais.

Principalmente quando, comprovadamente, algumas delas correm ainda sem equipamentos actualizados, quando ainda não têm a sua frota automóvel completa e.... algumas dúvidas, inclusivé, em relação ao plantel. Numa palavra: ainda não estão definitivamente montadas.

Nos próximos anos não me chocaria a calandariezação de qualquer outra corrida meramente nacional... mesmo coincidindo com a Volta ao Algarve.

Depois, é urgentemente necessário que outras corridas (organizações) assumam, e com toda a consistência... a montagem de uma prova velocipédica como parte integrante de uma estratégia de divulgação regional.

A Volta ao Alentejo tem de esquecer o que (hoje por hoje) já não é mais do que
folclórico. O 25 de Abril e o 1.º de Maio. E tentar colar a sua prova a outras manifestações de índole cultural e etnográfica mas, principalmente, a pender para o sector ecnómico... a Ovibeja poderia ser aproveitada, ou qualquer outra das grandes manifestações (repito) económico-empresariais.

Com a Volta ao Minho teria de acontecer a mesma coisa e corridas como o GP da Costa Azul, ou os
bastardos... GP Estremadura, Oeste, Centro ou Rota dos Vinhos deveriam, não aproveitar-se DA, mas JUNTAR A ... com a sua imagem...

É preciso cativar o mundo empresarial para o ciclismo, e não há tempo a perder...

Aliás, embora num escala que, infelizmente, caiu para o minimalista e daí parece não querer saír..., neste momento, Volta à parte, parece-me que só uma corrida tem o seu financiamento garantido um ano antes: o Troféu Joaquim Agostinho.

Ao longo destes anos, os seus responsáveis, embora nunca o venham a admitir, conseguiram ganhar... um ano.


Isto é, o dinheiro que neste momento estarão a angariar para o Grande Prémio de 2006... é já para 2007 porque o de 2006 está garantido desde o ano passado.
Têm uma desvantagem estas organizações, certinhas, ano após ano: perdem ambição.
As etapas são as mesmas, as equipas são as mesmas... Invertem-se, de algum modo, os papéis... Liberta de uma eventual necesidade de "inventar", a organização
aninha-se no mesmo figurino. E, caídos na rotina, não arriscam um mílimetro (fizeram-no, há dois anos, mas a substituição do Circuito de Torres por um crono individual... logo foi catalogada como má escolha e as coisas voltaram ao princípio).

De resto, Trás-os- Montes, Costa Azul -- e tantos, mas tantos outros pontenciais cenários para corridas de 3 ou 4 dias (também, já não podemos pedir muito mais do que isso) -- só teriam que
agarrar numa época festiva local, ou noutra qualquer manifestação puramente regional... parta lhe colar a respectiva Volta.
O resto da temporada, deveríamos ter uma Taça Nacional... como os franceses.
Com corridas por etapas, sim, e cuja maior parte da despesa a Federação assumisse.

E havia de se organizar um agrupamento legalizado de organizadores, com verdadeiro poder negocial...

«À minha corrida não trazes 5 "neos"... para levares 7 "profs" à seguinte...», são coisas parara discutir a um nível geral, e não nas reuniões técnicas que antecedem, pouco menos de 24 horas cada uma das corridas...

O que é que custará organizar isto? Pergunto...

1 comentário:

José Carlos Gomes disse...

A minha opinião, que é a de alguém que acompanha o ciclismo há alguns anos sem nunca ter estado "metido" na modalidade, é a de que o ciclismo ficou para trás em relação a outros desportos.
Mesmo gozando de condições ímpares de visibilidade - é certo que só a Volta tem transmissões em directo, mas o destaque que obtém é maior do que o de praticamente todas as modalidades excepto o futebol -, o ciclismo não evoluiu. E creio que a culpa é dos dirigentes da modalidade, entre os quais se incluem, porque é isso que interessa para este texto, os organizadores de corridas.
Todos assistimos às enormes resistências que houve à entrada da PAD na modalidade. E porquê? Porque essa organização veio profissionalizar a "coisa", enquanto que o statu quo existente, porventura, preferia que tudo continuasse a rolar em torno de um grupo de amigos que até gostava de fazer umas habilidades, que eram a organização de provas.
Infelizmente, o exemplo da PAD ainda não foi seguido e era preciso que o fosse. As principais provas, aquelas que referiste no texto, que não pertencem ainda ao universo PAD têm de profissionalizar-se, não há dúvida. Com isso há organizadores que perderão o gosto de comandar a organização toda de uma ponta à outra. Paciência! Se gostam realmente de ciclismo têm de perder um bocado da sua vaidade e do seu gosto pessoal e deixar o ciclismo crescer. Porque sem esse crescimento organizativo a modalidade está condenada a definhar até à morte.