domingo, julho 30, 2006

176.ª etapa



NOVIDADES... E MUITO INTERESSANTES



Por mais de uma vez fui questionado - e os meus amogos foram os primeiros a avisarem-me - sobre que papel represento, afinal, eu aqui, neste Blog. Sou mero adepto (observador atento) do ciclismo, ou sou... jornalista?

Seria bem mais fácil se eu fosse vendedor de automóveis. Não haveria hipótese de confusão entre a visão de alguém simplesmente adepto e a sua profissão. Eu próprio já tive necessidade de me defender, tentando fazer passar a ideia de que aqui, neste Blog, sou só um amante do ciclismo. Mas a minha ligação à modalidade, no âmbito profissional, não descola assim.

Mas devo eu, adepto, por de lado o eu jornalista? Há situações em que tal seria cómodo, contudo, para não deixar de tentar, para além de ser sério... parecê-lo, não há maneira!

Se me apresentasse aqui como jornalista, deotologicamente não deveria comentar textos de outros jornalistas. Mas posso fazê-lo, enquanto simples adepto. Apago o Blog, então?
Claro que não. E tenho que sacudir para trás das costas esses pruridos. Sou indivisível.

Por isso, mesmo que caia mal nalgumas pessoas, prossigamos.

De hoje a oito dias por esta hora já terá terminado a 2.ª etapa da Volta a Portugal. Os portugueses gostam de ciclismo e a Volta é a nossa prova raínha. Nos últimos 16 anos, pela primeira vez não estou ocupadíssimo a preparar edições de apresentação da nossa maior prova. Custa-me. Acreditem. Procuro, por isso, ler tudo o que os jornais me dão.

E o que tenho? O que temos todos nós enquanto simples adeptos do ciclismo?
O jornal O JOGO está a fazer uma apresentação equipa a equipa, apontando um homem-chave por equipa. Muito interessante e para guardar.
O Jornal A BOLA está a oferecer-nos algo completamente inédito no ciclismo. Até nas modalidades (que é tudo o que não seja futebol)... está a dar-nos notícias diárias das equipas. O que fizeram, ou vão fazer... quem está lesionado... o que se faz no futebol, com a única diferença de que, em vez de ter duas ou três... vá lá, meia página por equipa tem 800 caracteres. Mas é engraçado.

Fazer isto ao longo da época seria praticamente impossível. Cada corredor treina na área da sua residência, na maioria das vezes a parte de rolar, em estrada, é feita em pequenos grupos formados por corredores de diferentes equipas. Mas em vésperas da Volta, não deixa de ser interessante saber novidades das equipas, mesmo que o noticiário surja fragmentado - hoje três ou quatro equipas, amanhã outras... não deixa de, tenho a certeza, atrair a atenção de quem está sedento de notícias de ciclismo. Da mesma forma que a apreciação equipa a equipa - o que fizeram esta temporada e o que podem vir a fazer na Volta - é, de certeza, congregadora da atenção dos aficionados.

É que a Volta é a segunda manifestação desportiva mais importanmte para os leitores, depois do campeonato nacional de futebol.

Só falei em dois jornais desportivos? Pois foi.
Para um deles a Volta só começa no próximo sábado. E o ciclismo provavelmente acaba a 15 de Agosto!

175.ª etapa



VOLTA A PORTUGAL DO FUTURO



Terminou a Volta a Portugal do Futuro com a vitória final a sorrir a Filipe Cardoso, um jovem já com outro traquejo, até porque já é profissional. O que não belisca nem um pouco o seu triunfo. De qualquer dos modos, a sua inclusão na equipa de Santa Maria da Feira terá condicionado o trabalho dos jovens corredores da equipa de Manuel Correia.

Filipe Cardoso ganhou duas etapas, incluindo a etapa raínha, a chegada a Marvão e ganhou ainda todas as camisolas em jogo... menos a da juventude. Mostrou ter sido mais forte que os demais, daí a justeza do seu triunfo.

Em grande destaque esteve a Anicolor-Siper, de Pedro Silva, que ganhou as outras três etapas - o prólogo foi ganho por José Mendes (ASC-Vila do Conde) - metendo sempre um corredor (pelo menos) nos primeiros 5, em cada uma das etapas. Márcio Barbosa foi 5.º no prólogo e ganhou a 5.ª etapa; Virgílio Neves foi 3.º na 2.ª etapa e Bruno Sancho ganhou as 1.ª e 4.ª etapas e foi 3.º nas 2.ª e 5.ª etapas. Na geral, o melhor da equipa de Mortágua foi Hugo Sancho, que terminou na 4.ª posição. Nos primeiros dez a St.ª Maria da Feira meteu três corredores - incluindo Filipe Cardoso (LA-Liberty) - Anicolor e Casactiva (de José Barros) colocaram dois corredores no top-10; ASC-Vila do Conde, Fonotel (dirigida por Carlos Marta) e Tavira, um cada.

Destaque, pois, para os jovens técnicos que estão a mostrar que no segundo escalão do nosso ciclismo, não só se trabalha bem como esse trabalho tem como rosto alguns técnicos que não há meia dúzia de anos ainda integravam o pelotão principal como corredores.

P.S.: Editei este post porque me tinha enganado no nome, só no nome, que o apelido é o mesmo, do melhor corredor da Anicolor-Mortágua. O 4.º classificado foi Hugo Sancho e não o seu irmão Bruno. Avisado por mais do que uma pessoa - o meu muito obrigado a elas - aqui voltei para repor a verdade, com os meus pedidos de desculpa aos irmãos Sancho.

sexta-feira, julho 28, 2006

174.ª etapa



NÃO É IMPLICAÇÃO MINHA!...



Já sei que um grande amigo meu, mal leia isto, me vai ligar a "dar-me nas orelhas" porque, de facto, até parece implicação minha. Mas não vou deixar de deixar a minha opinião só por causa disso.

Leio, num dos desportivos de hoje, um artigo de opinião no qual, tendo por base os últimos acontecimentos - falo do "caso Landis" - escreve o articulista: «Tal como havia feito quando da Operação Puerto..., o melhor era o ciclismo parar por uns tempos.»

A modalidade vive, é certo, um momento atribulado. Não posso deixar de concordar, mas fiquei verdadeiramente chateado comigo próprio porque, comprador viciado de jornais, terei deixado escapar o correspondente desabafo em relação ao futebol. E já deitei os jornais com mais de 8 dias para o lixo.

É que, estou certo, quem aponta o encerramento do ciclismo como forma de o "endireitar" terá, concerteza, escrito o mesmo em relação ao futebol depois dos casos Mateus - com conselheiros que não votam hoje porque são filhos de directores, mas voltam para votar oito dias depois porque o pai já se demitiu; com juízes que se demitem e depois voltam; com juízes que se demitem para deixar de haver quórum e com os primeiros juízes que se tinham demitido a voltarem agora que estão em maioria -, CalcioCaos - com resultados combinados; campeões que deixam de ser campeões e são despromovidos de divisão; outras equipas que são despromovidas mas depois voltam a ser readmitidas - caso do doping de Nuno Assis, mais recente - com ataques ao CNAD e com o Governo a vir em defesa desta instituição, desautorizando os órgão federativos competentes -, mas de outros como o de Abel Xavier - que, ao contrário do que acontece com os ciclistas, mesmo tendo sido provado que usara um produto proíbido, teve direito a páginas inteiras nos jornais para justificar a sua pretensa inocência -... isto já para não falar do Apito Dourado.

Se calhar este articulista até defendeu, na altura, que o futebol devia parar para pensar... eu é que, estúpido, devo ter deixado passar esse artigo e deitei fora o jornal.

Ah!... como estou arrependido da minha distracção!

173.ª etapa



JÁ TEMIA ISTO...



Chegam-me más notícias de Espanha (só hoje me chegou a Meta2Mil). Dado o vazio legal - não há forma de enquadramento penal para as acções às quais estão ligadas Eufimiano Fuentes, Manolo Sáiz, Ignácio Labarta e outros... - o processo, avança aquele semanário espanhol, corre o risco de ser... arquivado.

Já tinha aflorado este ponto. No caso - e não fora o tal Código Ético assinado pelas equipas - nem as autoridades desportivas poderiam ter feito grande coisa, já que nenhum dos corredores implicados foi apanhado com um positivo. E as autoridades judiciais não têm maneira de implicar ninguém por fazer uma transfusão de sangue. Não está previsto na Lei.

Se Sáiz e Labarta sairam positivamente de cena, por alguma razão Eufiminiano Fuentes não se cansou de dar entrevistas. Sente-se seguro.

Infelizmente.

quinta-feira, julho 27, 2006

172.ª etapa



NÃO COMPREENDO!...



Nestes casos do Heras e agora do Landis há uma coisa que, em definitivo, põe à prova a minha inteligência.
Porque é que o Roberto Heras, com a Vuelta ganha, se faz à estrada no penúltimo dia de corrida para assinar um crono do outro mundo? E foi nesse dia que "deu" positivo!...
Porque é que o Floyd Landis, quando sabia que estava a recuperar a liderança do Tour e até tinha depois um crono para solidificar a sua posição de líder, sabendo que iria obrigatoriamente ao controlo anti-doping... tomou fosse o que fosse?
Porquê?

O doping é inadmíssivel. Ser apanhado por acaso é "azar", mas ajuda a desmascarar os batoteiros, contudo... alguém assalta um banco em plena luz do dia e sai para a rua com os montes de notas debaixo do braço? À vista de todos?

O vencedor da Vuelta, o ano passado, foi desqualificado; o vencedor do Giro, já este ano, foi excluído do Tour por estar presumivelmente ligado a uma rede organizada de dopagem e o vencedor do Tour, não há ainda uma semana, aparece... dopado!!!!!

Já não sei o que dizer...

171.ª etapa



E SE NÃO FÔR ELE?



Terrível. Esmagador. Irresponsável.
A Imprensa, depois de ontem ter avançado com a notícia de um caso positivo no último Tour, hoje, apoiada numa informação veículada por um jornal dinamarquês que não cita as suas fontes, descarrega uma montanha de suspeitas sobre Floyd Landis. Suspeitas não. Na forma em que as li, acusam-no já. Refugiando-se no sempre cómodo "presumivelmente" e em citações de terceiros.

O tal caso de positivo terá aparecido exavtamente na etapa de Morzine, que ele ganhou daquela forma épica que todos recordarão durante muitos anos. Mas no dia anterior, e enquanto líder à partida, Landis também terá ido ao controlo. E não aconteceu nada! Ia logo acontecer na etapa em que ele jogou tudo? O que é que ele estava a jogar então? A sua continuação neste Tour (claro que correu riscos, e o de um desfalecimento, ao fim de tantos quilómetros em solitário, não era o mais pequeno) ou a sua imagem enquanto ciclista? Talvez o seu futuro como atleta de alta competição...

Mas a questão não é essa. Eu também fiquei fascinado e mal consegui manter a equidade que se deve ter, depois de ver a etapa que Roberto Heras fez em Pajáres, na última Vuelta, e fui surpreendido com o facto de ele ter perdido a corrida por ter controlado positivo. Já não digo nada. Só deixo uma pergunta: e se neste caso concreto... não for Floyd Landis o mau da fita? Como se vai reparar o mal que se lhe está a fazer?

E se fôr... Se fôr não sei o que vou pensar a partir de agora. Estou no pelotão dos que ainda acreditam no ciclismo e isso seria uma brutal machadada na minha confiança em relação a todos.


P. S.: Com Oscar Pereiro na segunda posição, já estou a imaginar o que os espanhóis não vão fazer agora. A melhor maneira de "limpar" o fim triste da sua própria Vuelta seria "apanharem" os franceses a viverem o mesmo drama

170.ª etapa



TRÊS NOVIDADES



Sabiam que...

... das 19 localidades que este ano recebem partidas ou chegadas (só Viseu tem chegada e partida), três delas são estreias absolutas na Volta. Enquanto local de partida ou chegada?

Arraiolos, Ansião e Gondomar nunca antes tiveram nelas o "circo" da Volta montado sendo, portanto, a primeira vez, em qualquer uma destas localidades, que os espectadores têm hipóteses de ver os corredores mais de perto. E todas são locais de partida, pelo que não haverá chegadas inéditas.

169.ª etapa



LISBOA A MAIS VISITADA


Tenho lido e ouvido vários considerandos a propósito do facto de, ao contrário do que acontece no Tour e na Vuelta, a principal corrida portuguesa não ter, também ela, uma chegada fixa à capital do País, Lisboa.

Aliás, a última vez que ouvi isto foi mesmo num canal televisivo onde, um "comentador" sustentava que "se as Três Grandes acabam sempre na cidade capital do país..." e na sua ignorância adiantou mesmo os nomes: "Paris, Milão e Madrid" !!!!...
Senhor comentador (que também é dos que NUNCA aqui vêm... apesar de por mais de uma vez o ter apanhado a citar - sem fazer qualquer referência, claro - coisas que eu aqui escrevera)... a capital de Itália é ROMA e, não posso garantir (agora), mas a Volta a Itália, organizada pela Gazzetta dello Sport, sempre terminou na cidade-sede deste diário desportivo: Milão.
Infelizmente a ignorância ainda não paga imposto, senão estaríamos com um PIB de fazer inveja à Suécia!

Mas voltemos ao que interessa.

Apesar de nos últimos dez anos Lisboa só ter tido uma partida e quatro chegadas da Volta...

... sabiam que...

... Lisboa foi partida de 60 (sessenta) etapas nas 67 Voltas a Portugal já realizadas?
... por 32 (trinta e duas) vezes houve etapas a chegar a Lisboa?
... em 21 (vinte e uma) vezes houve etapas disputadas nas pistas do Lumiar (1) e de Alvalade (20)?

Lisboa é a localidade portuguesa onde mais vezes começaram, se realizaram e acabaram etapas da Volta a Portugal.

168.ª etapa



NOTA PRÉVIA...



Confesso que nem me tinha passado pela cabeça avançar com uma iniciativa destas, até porque acho que não é a primeira obrigação de um Blog. Mas, como por outros sítios, que talvez até pudessem fazer umas coisas "giras" - e tanta pena que eu tenho que aquilo não tenha maneira de apresentar melhoras -, a rabaldaria continua e teve de ser um Blog (não, não foi este, foi no www.marginalizante-ciclismo.blogspot.com, do caro amigo José Carlos Gomes) a avançar com uma análise aos principais favoritos para a próxima Volta (no outro lado ainda se discute se a Andalucia vem ou não...), decidi abordar a Volta'2006 sustentado em... curiosidades. Afinal, acho que os meus leitores vão gostar. E os "camaradas" da banda de lá, mesmo que se confessem militantemente ausentes deste espaço (sei que não! sei que não!...), também vão gostar. Principalmente os mais novos, agora que acabou a brincadeira de mandar mails para a Eurosport...

A propósito, alguém leu, ou pode ainda ler a a página 54 da edição do passado dia 23 (domingo) do diário O JOGO? Vejam na linha 25. E depois não digam que sou só eu!...

Portanto, de agora e até ao final da Volta, sempre que se aprouver... podem aqui conferir algumas curiosidades em relação à prova raínha do nosso calendário.

E começo já. Que isto quando se trabalhar por gosto não há tempo para brincadeiras.

Sabiam que...

... partindo da lista provisória dos participantes, apenas dois corredores podem repetir triunfos já alcançados na Volta?
É verdade. Só Claus Möller (Barbot-Halcón), que venceu em 2002, então ao serviço da Milaneza-Maia, e Nuno Ribeiro (LA Alumínios-Liberty), que ganhou no ano seguinte, com as cores da LA-Pecol, podem somar ao seu palmarés um segundo triunfo na Volta.

E, sabiam que...

... também são só dois os técnicos que poderão, num caso (Vítor Gamito) o primeiro e no outro (Manuel Zeferino) mais um - seria o quarto - juntar triunfos enquanto directores-desportivos depois de já o terem conseguido como corredores?

quarta-feira, julho 26, 2006

167.ª etapa



PARABÉNS AOS DOIS



Esta tarde, daqui a pouco menos de 3 horas, o meu querido amigo Guita Júnior, o homem que mais voltas a Potugal seguiu como repórter, tendo, inclusivé, nos anos 60 do século passado, sido o responsável pela sua organização, lança em Lisboa o livro "História da Volta a Portugal". Um livro que, mais do que coligir dados estatísticos, terá nas suas páginas recortes da vida de um homem que vive e respira ciclismo. Alves Barbosa e Marçal Grilo colaboraram na feitura do livro. O primeiro português a participar no Tour, tendo logo ficado na 10.ª posição, é um "contador de histórias". Um homem ainda cheio de vida e com um percurso ímpar no mundo do ciclismo nacional; o professor Marçal Grilo é uma "descoberta" mais recente, mas também ele já demonstrou a paixão que nutre pela modalidade. Será, tenho disso a certeza, um livro que todos os que gostam de ciclismo não deixarão de querer ter nas suas estantes.

Entretanto, também já está aí a "rebentar", se é que não está já à venda, o livro que tem Vítor Gamito como protagonista. Ainda não o vi. Sei que foi escrito por dois jovens jornalistas ligadados à modalidade, jornalistas do quadro da SuperCiclismo, e será, sem dúvida, mais um documento a não perder. Gamito, embora muito mais jovem, tem também muito que contar sobre a modalidade. Ele foi sempre uma figura de vanguarda. Num mundo que, na altura, ainda era dominado pelo empírico, muito jovem ainda já Gamito se distinguia.
Recordo uma das muitas reportagens que fiz na Quinta da Chapuceira, onde ficava o Centro de Estágios da extinta Sicasal-Acral. Depois do almoço que compartilhei com a equipa - um grande, grande abraço a outros dois grandes amigos, o Manuel Graça e o António Carlos - os corredores tinham uma hora ou duas para fazerem a digestão, antes de mais um treino e disputavam a mesa de snooker. Todos menos um. A um canto o Vítor ligava o seu computador portátil - ainda não eram tão vulgares como hoje - e mostrou-me gráficos de planeamento de treinos e curvas de rendimento. Coisas que actualizava diariamente.
Estava até, não sei se ele se lembrará, a "desenhar" uma bicicleta ideal no seu computador.

Tinha vindo de um ano sabático, em consequência de um grave acidente que sofrera e, sei que foi num Grande Prémio Correio da Manhã e que foi um contra-relógio na Marinha Grande. O ano já me escapa, por entre os muitos que já levo nesta vida (1993? 94?). Gamito pulverizou todos os tempos e envergou ali a camisola amarela. Junto de mim estava Orlando Alexandre, que já o tinha treinado e viria depois a ganhar a Volta com o mesmo Gamito, em 2000. «Grande surpresa, heim!?», disse eu a Orlando Alexandre que me respondeu: «Para mim não. Estamos na presença do melhor corredor português na actualidade.»

Provavelmente esta história até nem terá sido aproveitada no livro, mas outras haverá, concerteza deliciosas. Como aquela do dia da Torre em que, a dado momento, e em plena zona chave da subida, o Vítor arrancou o "pinganillo" da orelha, desfez-se, inclusivé, do receptor que o ligava ao carro de apoio, cerrou os dentes e foi, imperial, ganhar a etapa e a Volta desse ano.

É pouca e nem sempre com a qualidade que se desejaria a bibliografia que foca o ciclismo português e é importante que saiam livros a contar a realidade da modalidade, mesmo que seja através de episódios desgarrados. Porque, no caso da "História da Volta a Portugal" muitos dos que a viveram já não estão entre nós e há toda uma geracção que desconhece pura e simplesmente capítulos importantes que a marcaram. E que todos devemos saber para que a memória não se perca com os que se vão.

Claro que ainda não vi o livro do Guita Júnior, mas tenho a certeza de que lá não faltará uma das histórias mais incríveis que já se viveram na nossa grande volta. Quantos sabem que houve uma edição (ou duas? - já não me lembro) da Volta na qual todo o pelotão, ciclistas e resto do staff das equipas e da organização dormiam em tendas de campanha cedidas pelo exército e que duas equipas de cozinheiros acompanharam a Volta para preparar as refeições para todos?

Não percam o livro.

166.ª etapa



DOIS AZARES COMPLICADOS



Os corredores Hélder Miranda (Riberalves-Alcobaça) e Bruno Castanheira (Maia-Milaneza), sofreram ambos, no passado domingo, acidentes na estrada, devido, tudo leva a crer, à desatenção de um automobilista.

Embora, e passados estes três dias já se possa fazer uma leitura mais acertada das consequências dos acidentes - Hélder Miranda que caiu com o ombro no chão foi radiografado tendo sido detectada uma pequena fissura na clavicula, lesão da qual poderá ainda recuperar a contento, e Bruno Castanheira, que foi de rosto ao chão, foi suturado com... 12 pontos (!) - que aponta para o não impedimento da participação de ambos na Volta, não deixa de ser mais um caso de acidentes na estrada que envolvem corredores a treinarem e automobilistas pouco atentos, e pouco respeitantes dos direitos dos primeiros.

Vá lá que, tudo o indica, não passou do susto, umas ligaduras e alguns pontos de sutura, mas poderia ter sido mais grave. Logo agora que estamos a pouco mais de uma semana do arranque da Volta prova onde ambos os corredores são peças importantes para a estratégia das respectivas equipas.


PS: Como vivemos numa sociedade livre, mesmo quem "não lêm este Blog" podem usar a notícia, desde que citando a fonte.

segunda-feira, julho 24, 2006

165.ª etapa



UMA VEZ MAIS, OBRIGADO POR TUDO ZÉ!



Palavras simples, transbordando honestidade - não se esperava outra coisa - não fugindo às responsabilidades. Às que assumira e às que lhe quiseram colar. Excelente a entrevista de José Azevedo a A BOLA, na edição de hoje. Autêntico abrir de coração e, com uma lucidez espantosa, se tivermos em conta que ainda as pernas lhe doiriam de 20 dias em cima da bicicleta, e o coração, de certo apertado por ter a noção de que não fizera a corrida que ele próprio pensara fazer, explica o que aconteceu. Sem tabús.

Este foi o 5.º Tour do . O 19.º lugar conquistado - sim, conquistado - é a sua 3.ª melhor classificação na Grande Boucle. Para muitos, em Portugal, e infelizmente, isso não chegou. Ser crítico tem muito que se lhe diga. Por exemplo, quando se aponta o dedo e se avalia o comportamento de seja quem fôr, devia perguntar-se: se fosse eu teria feito melhor?

Já diz um velho ditado chinês: Nunca esqueças que, quando apontas um dedo a alguém, três dos teus próprios dedos estão a apontar para ti.

O ciclismo é uma disciplina muito própria, diferente de todas as outras. Então numa corrida por etapas é mesmo única. Mais nenhum desporto obriga os atletas a, à custa das suas pernas, fazerem 200 quilómetros hoje, subindo montanhas acima dos 1000 metros (às vezes muito acima), e voltando amanhã e no dia seguinte e no outro (20 dias, nas grandes voltas)...

Num momento de fraqueza não pode deixar de pedalar. Não há paragens de desconto de tempo nem vale a pena atirar-se para o chão obrigando à interrupção do jogo e ganhando uns minutinhos para recuperar ao mesmo tempo que obriga à interrupção do ímpeto atacante do adversário, cerceando os seus objectivos.

Não pode parar, mesmo que lhe doa as pernas e lhe doa ainda mais o coração. Mesmo que a cabeça se recuse a pensar. Não pode parar. E ninguém o pode puxar montanha acima. Terão que ser as suas pernas, fracas - às vezes fugindo às ordens do coração que exige uma pausa para descanso -, a levá-lo.

Quem distribuiu "medalhas" de lata e "cartões vermelhos" directos - estranha esta última simbologia, numa imagem umbilicalmente ligada ao desporto "rei"... - terá percebido isto?

Quem não leu a entrevista do , hoje, n'A BOLA, talvez ainda vá a tempo de comprar o jornal. Não vale a pena tentar noutro qualquer que hoje só há uma entrevista com o .

Lêem-na com atenção e sintam o que o sentiu. Vejam como se sente a mágoa que lhe vai na alma mas, ao mesmo tempo, sinta-se a honestidade das suas palavras. E como não arranja desculpas nem foge com o "rabo à seringa". Esteve, naqueles momentos em que falou com o jornalista, como nos habituou a estar tanto no ciclismo como na vida. Enorme.

Daqui, deste cantinho sem pretenções, mando-te um grande e apertado abraço, . E o meu agradecimento por tudo o que tens feito. Pelo País, por todos nós...

sábado, julho 22, 2006

164.ª etapa



NÃO VÁ O SAPATEIRO ALÉM DO CHINELO…



Reza a
“estória” - que se calhar não passa disso mesmo - que um dia, tendo um renomado pintor exposto um dos seus quadros anonimamente, sem o assinar, e misturando-se entre as pessoas que acorreram à exposição, apanhou um visitante a apontar um defeito no mesmo quadro. «Eu, que sou sapateiro, digo que a tamanca está mal desenhada!», disse alguém. Como se fora mais um dos visitantes, o pintor, ao ouvir aquela exclamação aproximou-se e perguntou ao homem: «Está a tamanca mal desenhada?», ao que aquele respondeu: «Sou sapateiro e digo que a tamanca está mal desenhada… E já agora, aquela curva ali…». Não terminou, interrompido pelo pintor que o “arrumou” dizendo: «Eu sou o pintor. Até aceito a sua observação, mas não vá o sapateiro além da tamanca…»

………….

Está decidido o Tour. Manda a “tradição” que o público de Paris não possa assistir a uma etapa a sério e que o Tour – como várias outras corridas – baixe os taipais com uma etapa de… consagração. Traduzindo: que, ao contrário das outras 19 localidades que acolheram etapas não possa ver ciclismo.
Os corredores, por
“respeito” aos vencedores anunciados, vão chegar aos Campos Elísios em grupo compacto, vão dar umas voltinhas avenida acima, avenida abaixo e no fim ganha o McEwen.
Já aqui manifestei o meu completo desacordo em relação a esta…
“tradição”. Imaginem ir ao último dia de apresentação de uma ópera no qual os cantores-actores se limitavam a inclinar-se perante a plateia entre um sobe-e-desce do pano de palco...

Ao contrário do que poderiam estar à espera – e amanhã vamos ver
“antecipada” nos jornais a inevitabilidade da vitória de Floyd Landis porque “sempre foi o primeiro favorito” – eu não sou um novo-floydiano. Reconheço que chegou à vitória com todo o mérito, o maior que há, que foi o de o ter construído com o seu suor e à custa das suas pernas. Dizem os cronistas que depois do Tour será operado e não voltará a correr. Não sei. Sei é que se assim for, daqui a meia dúzia de anos quando se falar do Landis acontecerá o mesmo que acontece com Bjarn Riis. Ganhou o Tour no ano em que Miguel Induráin falhou o sexto triunfo, depois… acabou. Ainda se fala nele porque é o manager da CSC.

Mas, repito, a vitória de Floyd Landis é inatacável. E conquistou o seu lugar na história. Mereceu-o concerteza, até porque, diz a voz do povo,
“dos fracos não reza a história” e o povo tem sempre razão.

Mas de quem eu quero aqui falar é do Zé Azevedo.

Na busca de títulos
“gordos”, a comunicação social impingiu-nos a todos que, na ausência de Lance Armstrong, ficava aberta a liderança da equipa e que o lugar só poderia ser do .
Depois, mostrando apenas que nos anos anteriores andaram a dormir – porque não perceberam que o escalonamento da US Postal/Discovery Channel foi SEMPRE ordenado alfabeticamente, pelos apelidos (o facto de o
“patrão” Armstrong ser assim o primeiro até vinha a calhar) – fizeram a festa, puxaram os foguetes e correram a apanhar as canas porque o sairia com o dorsal 1. E, na mesma lógica futeboleira usada para vender jornais, “pegaram” ao uma responsabilidade que ele não tinha nem queria ter.
Mas a bola de neve – como é natural – não parou de crescer. Espectadores de berma da estrada abespinharam-se por a imprensa internacional não pôr o na lista – muito aberta – de favoritos à vitória final. A paixão – no ciclismo, como no futebol, como na própria vida – é irracional.

Mesmo quem tentou ser menos espalhafatoso, a dado momento, e para não aparecer completamente desalinhado daquilo que aparentava ser uma
“onda” humana, acabou por, nas entrelinhas, deixar escapar um meio tímido “abanar de bandeira”, em nome do .

Falei com ele na véspera de partir para França e rimos os dois de tudo isto. Mas ele não deixou de me dizer:
“Não quero de maneira nenhuma desapontar seja quem for, mas já vi coisas que me deviam fazer rir, mas me deixam preocupado…»

Pois tinha motivos para isso.

Confesso que quando escrevi as primeiras linhas desta crónica foi com uma intenção, mas vou optar por não ir por aí. Não é em meia dúzia de linhas que se ensina a alguém que de ciclismo só sabe que
“passam depressa vistos da berma da estrada”, o quanto sempre estiveram errados. Nem como explicar-lhes o porquê dos 5.º e 6.º lugares que o já conquistou na corrida francesa, são dele e ninguém lhos tira. Mas a quem não perceber nada deste parágrafo… não valia mesmo a pena tentar explicar.

Conheço o há 12 anos. Estive na sua primeira vitória em corridas, como profissional, estive com ele em três Voltas a Espanha e em todas as voltas a Portugal que ele correu. Estive com ele em três Mundiais. Liga-nos uma relação assente, antes de tudo, num mútuo respeito e não quero fazer transparecer mais do que a realidade. Não somos amigos de nos telefonarmos todas as semanas mas, quando eu quero falar com ele, ele atende-me e também já aconteceu o contrário. Claro que atendi. Mas ele não atende todos. Lá saberá porquê.

A realidade é que o fez o Tour que pode fazer e, conhecendo-o como conheço, ninguém poderá apontar-lhe nada.
N. A. D. A.
Ele não prometeu nada, ninguém tem o direito de lhe cobrar coisa nenhuma.

Mas, como quem maltrata alguém que eu estimo me maltrata a mim também, há coisas que não quero calar. E como este espaço é meu, é pessoal, não o vou fazer. E como estou a falar em termos pessoais, não vou deixar de apontar, claramente, do que e onde foi que li e não gostei.

Não gostei de ver alguém que, de ciclismo há-de saber tanto como eu de couves de Bruxelas, tenha
“presenteado” o com uma “medalha” de lata, no RECORD. No mesmíssimo dia, tenha sido quem fosse, não reconheço ao indivíduo (que será um excelente jornalista, não ponho isso em causa) autoridade alguma para, no CORREIO DA MANHÃ ter colocado o no “bota-abaixo”.
Depois do primeiro
“abuso”, hoje na revista DEZ, do Record, alguém teve a coragem de o colocar na secção “expulsão”!!!!!
Numa semana em que o caso Mateus (sim, esse, no futebol) voltou à estaca zero, em que um douto juiz presidente da Comissão de Disciplina da Liga se demite para que o caso não avance… e entre milhentas outras coisas… na análise à semana desportiva quem merece
“expulsão” é o ! Caramba. É ridículo. Repito para quem não entendeu bem: é R. I. D. I. C. U .L. O., que o mais abjecto da semana tenha sido o JOSÉ AZEVEDO.

Porquê?

Sim, porquê? Porque não confirmou os títulos que parvamente (PARVAMENTE) fizeram? Ora!... Vão catar-se!...

Não vá o sapateiro além do chinelo!...

163.ª etapa



ANDALUCIA-PAUL VERSAN NÃO VEM À VOLTA



A 15 dias do início da Volta, já depois de ter sido apontada como uma das 18 participantes, a equipa espanhola Andalucia-Paul Versan acaba de comunicar à organização que não pode correr a Volta.

A verdade é que, coincidindo com a Volta decorre em Espanha a Volta a Burgos e as formações espanholas são obrigadas a marcar presença. Com falta de atletas, António Cabello, o seu responsável máximo, teve de prescindir da corrida portuguesa. Pelo mesmo motivo, Comunitat Valenciana e Relax-GAM só alinharão com 8 corredores. Por outros motivos, concerteza, tanto a Barloworld como a ELK trazem a portugal também menos um homem pelo que o pelotão terá apenas 17 equipas e, não acontecendo mais nada daqui até lá, um total de 140 corredores.

Relembro que participam, para além das dez equipas nacionais (todas Continentais), as italianas Lampre (ProTour) e Cheramica Flaminia (Cont. Profissional), a britânica Barloworld (Cont. Profissional), as eapanholas Kaiku, Comunitata Valenciana e Relax (Cont. Profissionais) e a austríaca ELK Haus (Cont. Profissional).

Aproveito para esclarecer uma dúvida que surgiu num outro sítio, na Internet. A espanhola Spiuk não poderia nunca correr a Volta a Portugal por ser equipa Continental. Nas corridas HC (Categoria Extra) só podem participar equipas ProTour, Continentais Profissionais e as Continentais do próprio país. Não teve, pois, nada a ver com resultados. A Spiuk não foi convidada porque não o poderia ter sido.

quinta-feira, julho 20, 2006

162.ª etapa



PREVALECEU O BOM SENSO



Nada transpirou cá para fora, e provavelmente ninguém o irá confirmar, mas é verdade, sim senhor, que existiu um movimento entre as equipas portuguesas - ou alguns responsáveis de algumas equipas portuguesas, para ser menos impreciso - no sentido de, pelo menos e aligeirando a "coisa", questionar a presença da Comunitat Valenciana na próxima Volta a Portugal.

Procuro e não encontro uma explicação que sustente esta posição de alguns responsáveis por equipas portuguesas. "Eliminar" adversários antes da partida? Mas, na verdade, e dentro do que sei, essas equipas até podem sonhar com a vitória numa Volta, mas ficarão por isso. Pelo menos este ano. Tal como há já muitos anos disso não passam.

Que motivação, então, terá levado essas pessoas a "criarem" um caso? Isso não sei. Por enquanto.

Ainda antes de a "coisa" transparecer para o conhecimento de alguns, fora do meio, a maioria dos responsáveis pelas equipas portuguesas tomou uma posição contrária ao "veto" da formação alicantina. Os argumentos foram os que todos os de boa vontade esgrimem: sem haver uma decisão judicial, clara e inequívoca, prevalece a presunsão de inocência. Não há motivo para uma tomada de posição desse género.

Entretanto, a iniciativa "morria na casca". Não transpirará para a opinião publica qualquer indício desse... "movimento" e a Comunitat Valenciana vai estar presente na Volta.

Mas...

Mas, a propósito deste tema houve quem, demonstrando a sensibilidade de um elefante numa loja de porcelanas, não tenha sido capaz de evitar acusações extremamente graves que, quer se queira quer não, atingem de forma bem profunda TODAS as equipas nacionais. O que foi dito não tem hipóteses de ser emendado. Está dito: "Falta às equipas nacionais legitimidade para vetarem a participação da formação espanhola porque têm telhados de vidro".

Eu sei que não foram exactamente estas as palavras usadas, mas foi isto o que a pessoa em causa disse.
Não especificando, pôs todas as equipas no mesmo saco.

Não fora o descrédito total - cada um diz uma barbaridade mais bárbara que o antecedente - do "sítio" que já é impossível levar a sério, a personagem teria de responder pela acusação que deixou bem explicita naquilo que escreveu.
Aparentemente sabe de casos - que serão graves - concretos.
Se este irresponsável não me tivesse "banido" do sítio - "porque causava mau ambiente" -, questioná-lo-ia directamente sobre o que é que sabe em relação a practicas eventualmente ilegítimas no seio das equipas portuguesas e no que diz respeito a "doping" - que é disso que estamos a falar -, mas o desafio fica no ar.
Se sabe de alguma coisa, que o diga. Ou então que se cale para sempre.

Mas "aquilo" - o "sítio" - é de tal forma imprescindível para alimentar certas vaidades pessoais que a próxima vez que anunciarem o seu fim será apenas a enéssima vez.
E nunca vai fechar porque a besta criou "figurinhas" que já não sabem viver sem ela.

161.ª etapa



... E DAS CINZAS HAVERIA DE RENASCER



Notavelmente fantástica a corrida de Floyd Landis hoje. Landis que, depois de na véspera ter literalmente "rebentado" voltou hoje - e isso foi desde cedo perceptível - decidido a mostrar o que realmente vale. Diz-de no futebol que só os grandes guarda-redes consentem grandes "frangos". Landis mostrou que só os grandes corredores têm um dia mau. É verdade que os dias maus dos outros ninguém chega a aperceber-se deles, mas há muitos, muitos anos que não tinha o autêntico privilégio de assistir a um espectáculo como aquele hoje proporcionado pelo estado-unidense. E se eu temi que ele tivesse a ir muito para além do esforço que humanamente é possível dispender... Foram "hectolitros" de água o que ele gastou durante a etapa, mas depois da sua vitória temos que nos render. Este homem merece ganhar o Tour.

Entretanto, ainda se discutem as tácticas.
Recuperando a "flacidez" da da Phonak, quando deixou Oscar Pereiro recuperar 28 minutos, passando pela "falta de músculo" das adversárias que permitiram a fuga vitoriosa de Landis.
No primeiro caso, de facto a equipa suíça claudicou em toda a linha e não me venham agora falar em extraórdinária "visão" do seu director-desportivo. Agora, depois de Landia ter recuperado e encurtado para 30 segundos a sua desvantagem em relação ao primeiro, é fácil dizer que a Phonak teria tudo perfeitamente controlado.

Nada, nem ninguém poderia, muito menos que a fuga que levou Pereiro à camisola amarela, prever uma etapa como a que Floyd Landis fez hoje. Foi algo de outros tempos, algo a que o ciclismo moderno não está habituado, muito menos preparado para prever.

Landis renasceu das cinzas, qual Fénix, mas acho que, nestas circunstância mais nenhum outro corredor faria o que ele fez hoje. Tem a ver com coisas que ultrapassam uma mera corrida de bicicletas. Tem a ver com a formação do homem, tem muito a ver com a sua orientação religiosa - sim, porque não? -, tem a ver com a coragem que alguém pode ter de assumir para si próprio um objectivo e depois... "morrer" por ele. Sei que a palavra é demasiado "pesada" mas não foi o que aconteceu?

E os estado-unidenses que Armstrong conquistou para o ciclismo foram ontem exponencialmente multiplicados graças ao feito de Landis. Curiosamente, havia quem, antes de ontem, "provocasse" Landis com o facto de ser líder da corrida sem ter ganho uma etapa. A resposta foi perfeitamente arrasadora. Cá está a etapa ganha. Aqui está o Floyd Landis de regresso à luta pela vitória final mostrando - usando uma "imagem" muito estado-unidense - que só o perú morre de véspera.

E termino da mesma maneira que ontem comecei: é impossível que haja alguém que, vendo estas duas etapas não fique incondicionalmente adepto do ciclismo. Tudo o que de diferente esta difícil disciplina do desporto tem foi posto à apreciação de todos. E foi extraordinariamente bonito.

Apetece-me gritar aos quatro ventos - ou a todos os ventos que houver - VIVA O CICLISMO!

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Entretanto, ontem e em definitivo, ficou demonstrado que o nosso Zé Azevedo não se apresentou ao nível que ele próprio desejaria. Não vale a pena romancearmos sobre a sua participação neste Tour. E, independente, de outras explicações - voltarei ao tema logo termine este Tour - o que ficou à vista de todos é que "faltaram as pernas".
E no ciclismo, sem pernas não se vai a lado nenhum.

quarta-feira, julho 19, 2006

160.ª etapa



ELIMINADOS... OU NÃO?



Este tema já me mereceu um outro artigo, exactamente no dia do tal "avanço" de meia hora que o pelotão resolveu dar ao grupo de fugitivos. Hoje voltou a acontecer que, grande parte do pelotão, 78 corredores, para ser preciso, chegou à meta depois da hora, já com a percentagem de tolerância dada pelo regulamento.

Mas, talvez por ter sido lido de revés, o regulamento foi mal interpretado e li quem tenha sustentado o seu "desejo" de ver todos estes corredores eliminados porque... 20% dos corredores que alinharam à partida cortaram a meta dentro do controlo.

Errado. O que a alínea de excepção diz é que se o grupo de atrasados for maior do que 20% dos corredores que alinharam à partida, o grupo escapa ileso à eliminação. O que, repito, com 78 corredores envolvidos - dos 152 que iniciaram a etapa - "encaixa" perfeitamente (eram mais de 50% do pelotão, à partida) no regulamentado.

Se está certo ou não, não discuto. Está no regulamento. E os corredores, e os seus directores-desportivos, já sabem que, com 150 corredores à partida... os últimos 31 "salvam-se" sempre. Cheguem lá quando chegarem.

E para pedir a eliminação dos atrasados numa etapa com as dificuldades da de hoje... o que fazer então em relação ao dia em que, numa etapa de dificuldade com coeficiente 1, TODA a gente chegou fora de controlo, com as excepção dos 5 ou 6 da frente? Irradiálos?

159.ª etapa



MAS QUEM É QUE FALHOU? DE VERDADE?



Falhou!
Foi esta a palavra que fez o pleno, pelo menos nos jornais que hoje li e com os diversos articulistas - que, se já "fizeram" ciclismo há muito não andam na caravana - referindo-se, todos eles, à etapa de ontem do Zé Azevedo. O facto de, numa homenagem de todo merecida, se ter ontem inaugurado o singelo monumento a Joaquim Agostinho, na subida do Alpe d'Huez, parece, lendo apenas aqueles prosadores, que "obrigava" José Azevedo a ganhar a etapa. Passar pelo local à frente de todos; sei lá...

A verdade é que, embora estivessemos em pleno campeonato do mundo de futebol - que é o que faz a agenda dos diários desportivos - houve quem (não interessa apontar nomes) por sua própria conta e risco tivesse traçado uma fasquia demasiado alta para o corredor português da Discovery Channel. Nunca, em nenhuma declaração, a nenhum dos jornais, o Zé Azevedo se pôs de bicos de pé. O que também não é de estranhar. Nem quando "descobriram" que ia sair com o dorsal n.º 1 - já agora, e esta minha tendência de corrigir não acontecia só num dado "sitio" ou por embirração minha, longe disso - um dorsal não se "enverga". Enverga-se uma camisola, uma camisa... um fato. Envergar quer dizer: usar vestido. Ora, não se "veste" um paninho de 25x15 centímetros...

Fizeram-se, no mais negativo que o termo tem, notícias sobre o facto do ir sair com o número 1 no dorso. Depois, à viva força - e aqui não foram só os portugueses - quis-se que Johan Bruyneel dissesse claramente quem era o chefe-de-fila de uma equipa onde essa questão nunca se pôs, de tão evidente que era. Faltando Armstrong, está a ver-se, tudo ficava baralhado.

Mas voltemos àquilo que a Comunicação Social criou e que agora, sacudindo responsabilidades, quer fazer passar por um incrível e inesperado "falhanço" do Zé Azevedo.

Com a selecção de futebol a "dar o berro" nos últimos dois jogos, e quando se aproximavam as etapas de montanha, os mesmos jornais que um dia fazem manchete com a extraordinária contratação de um dos três clubes grandes e, depois de tudo se revelar... inconsequente, não têm a preocupação de se retractar, vieram hoje "cobrar" ao Zé Azevedo algo que eles mesmo tinham "sonhado" como meta, levando a crer que o corredor teria prometido algo que, no final não cumpriu. Falso. Errado. Pouco ético.

O Zé Azevedo nunca disse a ninguém mais do que disse a mim. Que "ficar dentro dos primeiros dez já seria positivo".

Nem ganhar o Tour, nem ganhar etapas... Muito menos passar na frente no Alpe d'Huez.

O estranho é que até jornalistas que estão completamente por fora da realidade que é o ciclismo se tenham dado ao luxo de opinarem. E como é que, em consciência, quem dá as "medalhas" num diário desportivo atribui a de "lata" ao Zé Azevedo? E quem é o responsável pela página 2 do Correio da Manhã para dar uma nota "negativa" ao mesmo ? Quantas corridas acompanharam? Quantas vezes escreveram sobre ciclismo? Quantas vezes estiveram junto a um corredor no final de uma etapa de "morte" quando este mal respirar consegue?

Mas a mensagem negativa passou.
E quem não é dado a seguir esta coisa estranha que é o ciclismo registou: "lata" e "bota abaixo" para José Azevedo.

E houve quem, menos contudente, tenha escrito que o esteve "abaixo do esperado". Mas o que é que era esperado? Que um corredor, um "forçado" desta disciplina bastante mais exigente do que o "rei" futebol repusesse os níveis de auto-estima que a selecção de futebol deixou ir abaixo? Embora ninguém o tenha assumido...

Volto, por isto tudo, a um tema que já "esquentou" mas que veio, lentamente, a "perder gás", o ciclismo, como qualquer modalidade que não o futebol, tem que ser escrito por quem percebe alguma coisa de ciclismo. De futebol todos sabem, agora julgar um atleta em função de "alvos" que foram os próprios jornais (neste caso) a escolher... por favor, poupem-se. Poupem-nos...

158.ª etapa



MAS QUEM É QUE PODE NÃO GOSTAR DESTE ESPECTÁCULO?



Extraordinária etapa, de ciclismo puro - pelo menos queremos acreditar nisso -, foi a jornada de hoje. Houve tudo. O protagonismo de Michael Rasmussen, a fazer lembrar velhos e gloriosos tempos - por mero acaso, ainda há minutos folheei uma revista (francesa) de ciclismo na qual, num dos artigos, se focava a vitória de um jovem belga, de nome Eddy Merckx que, mal ultrapassado o "col" du Tourmalet, para evitar a "confusão" e o perigo que adviria de uma descida de loucos, se colocou na frente da corrida e fez, em solitário, os 130 (!!!) quilómetros finais, ganhando a etapa, claro. Depois de ultrapassar ainda o Soulor e o Aubisque! Foi em 1969.

Este - voltamos ao Rasmussen - dinamarquês atípico, muito alto e magro, já demonstrara ser um trepador muito acima da média e, contra factos não há argumentos que resistam. É já um dos heróis deste Tour'2006.

Mas houve mais espectáculo, se bem que sob a dura mas real "lei" da estrada. O desfalecimento, em directo, para milhões de telespectadores, do camisola amarela, Floyd Landis; a nova vida que esse galego, que deu os primeiros passos no profissionalismo em Portugal, chamado Oscar Pereiro e que, depois de ter estado a mais de meia hora do primeiro lugar e sem qualquer espécie de ambição que não fora a de chegar a Paris, um belo dia se viu de camisola amarela numa das mais arriscadas "jogadas" que jamais algum director-desportivo (o da Phonak) fez e que ontem se revelou completamente suícida. Demasiado tarde. Landis ontem perderia sempre a camisola amarela, ou será que, reescrito o "argumento" deste Tour tal não aconteceria? Mas não estaria a 10 minutos - mais minuto, menos minuto - do primeiro posto.

E houve ataques e contra-ataques... houve ciclismo.

Nenhum corredor, nenhuma equipa está a conseguir controlar a corrida e a "lei" da estrada vai ditando a sorte deste e daquele, um pouco hoje, mais um pouco amanhã... E assim será até Paris porque ninguém se atreve já a nomear um favorito "mais favorito". Afinal, não era isto que se esperava desde que ficou claro que Lance Armstrong encostava de vez a bicicleta?

E não creio que a corrida tenha perdido interesse por isso. Antes pelo contrário.

terça-feira, julho 18, 2006

157.ª etapa



O "DIGEST" DA TEMPORADA... ATÉ À VOLTA



E pronto, depois de realizadas as duas Clássicas, este fim-de-semana, a seguir é… a VOLTA.

Antes de mais, uma nota bastante positiva para a garra mostrada pela LA Alumínios-Liberty que dominou, quase como quis, as duas corridas e, num
“sprint”, colocou-se como a segunda equipa mais ganhadora da temporada.

E é de estatísticas que venho falar. Só números, que têm a força que têm, mas são os únicos que não estão sujeitos a argumentações académicas. Foi assim a temporada, até à Volta a Portugal.

* Corredores mais ganhadores: Pedro Cardoso (Maia-Milaneza) e Sérgio Ribeiro (Barbot-Halcón), com a vantagem para o barcelense porque dos 5 triunfos (os mesmos que Sérgio Ribeiro) 2 foram em classificações finais de corridas por etapas (contra 1 do corredor da Barbot que, no entanto, ganhou uma corrida de 1 dia). Ambos venceram 3 etapas.

* Bruno Pires (Maia-Milaneza) conquistou 4 triunfos: 1 à geral, 1 numa prova de 1 dia (Campeonato Nacional) mais 2 etapas.
* Tiago Machado (Carvalhelhos-Boavista) é o quarto mais ganhador com 3 vitórias (2 à geral, em provas por etapas e 1 numa prova de um dia, nos Nacionais).
* Danail Petrov (Maia-Milaneza) tem também 3 vitórias, mas só 1 à geral, à qual soma 1 em corridas de 1 dia e a vitória numa etapa.
* Jordi Grau (LA Alumínios-Liberty), João Cabreira (Maia-Milaneza) e Krassimir Vassilev (DUJA-Tavira) são os outros três corredores que lograram vencer provas por etapas.

Em termos de presenças nos pódios (1.º, 2.º ou 3.º nas gerais individuais, corridas de um dia, etapas ou como vencedores dos prémios por pontos, metas volantes e montanha) temos:

* Sérgio Ribeiro (Barbot-Halcón) com 19 presenças no pódio, seguindo-se-lhe: Pedro Cardoso (Maia-Milaneza), 11; Tiago Machado (Carvalhelhos-Boavista), 9; Rui Sousa (LA Alumínios-Liberty), 8; Bruno Neves e Cláudio Faria (Madeinox-Bric) e Pedro Soeiro (Riberalves-Alcobaça), todos com 7, sendo que o matosinhense esteve no pódio, uma vez por ter ganho uma etapa na Volta ao Estado de S. Paulo (Brasil), outra por ter sido 3.º noutra etapa e mais 2 por ter sido 3.º em etapas da Volta à Extremadura (Espanha).

Por equipas, a mais vencedora da temporada foi a Maia-Milaneza, com 17 triunfos (e 33 presenças no pódio, juntando vencedores, 2.ºs e 3.ºs nas classificações à geral, em corridas por etapas, mais os 1.ºs, 2.ºs e 3.ºs em corridas de 1 dia e em etapas, mais por ter vencido as classificações por pontos, metas volantes e montanha); em segundo lugar vem a LA Alumínios-Liberty, com 10 triunfos e as mesmas 33 presenças no pódio; depois a Barbot-Halcón, com 7 vitórias e 27 pódios, tantos como a Madeinox-Bric só somou 3 triunfos. A Carvalhelhos-Boavista, com 5 triunfos está no 4.º lugar, no que respeita a vitórias, mas tem menos 1 lugar no pódio em relação à turma de Canelas. A 5.ª equipa mais vitoriosa é a Riberalves-Alcobaça com 4 triunfos e 16 presenças no pódio.

Todas as equipas têm, pelo menos 1 vitória sendo que as conseguidas pelo Vitória-ASC e pela Paredes-Rota dos Móveis-Beira Tâmega respeitam a 1 vitória, cada uma, em etapas.

Há 27 corredores com, pelo menos, uma vitória, esta temporada, e mais 41 que também, pelo menos uma vez, subiram ao pódio.

Finalmente, em termos de vitórias colectivas em provas (por etapas ou de 1 dia), Carvalhelhos-Boavista e LA Alumínios-Liberty triunfaram 4 vezes cada uma, a Madeinox-Bric, 2 e a Maia-Milaneza, Imoholding-Loulé, DUJA-Tavira e Barbot-Halcón, uma vez cada.


Como disse, são números e valem o que valem. Não deixam, contudo, de ser uma referência quando agora já todos pensam apenas na Volta a Portugal.

156.ª etapa



PROJECTO NACIONAL



Na edição do passado sábado do RECORD, numa coluna intitulada “Ciclismo em Dia”, o meu caro amigo – e excelente companheiro de estrada em muitas, mas muitas corridas que já ambos cobrimos, cada um para o seu jornal –, dizia: o meu caro amigo Alexandre Reis, escrevia que começava a «estar revoltado com a indiferença da comunicação social internacional em relação a José Azevedo» e, um pouco mais à frente, escrevia: «Devido às circunstâncias, acho que o País devia apostar numa equipa para o Protour, com os melhores portugueses. Seria uma boa propaganda, pois apenas somos reconhecidos pelo nosso futebol, mas temos outras qualidades.»

Não podia estar mais de acordo e, aliás, já no VeloLuso – como recordo na parte final – eu tinha falado sobre o assunto. Foi há 4 meses, mas o Alexandre voltou agora a pôr o dedo na ferida.
O nosso ciclismo, que internamente tenta fazer pela vida, lá fora resume-se mesmo ao Zé Azevedo mas, ainda assim, nem um único órgão de comunicação social estrangeiro conseguiu – já não digo agora, mas nos dias que antecederam o Tour – ver nele um potencial candidato aos primeiros lugares. Ao top-10, pelo menos.
Não sei qual será, no fundo, a ideia do Alexandre; eu, na altura, falei em quase uma Selecção Nacional que poderia até levar como nome o de Portugal. Mais qualquer coisa (que seria o patrocinador).


Quem não se lembra da SwissPost (verdadeira “selecção suíça” se tivermos em conta que tinha os melhores corredores do país, ou da já “velha” Rabobank, também ela uma autêntica “selecção” dos melhores holandeses – tanto que até se torna difícil distingui-la da verdadeira selecção holandesa nos Mundiais, por exemplo, onde as cores e até o patrocinador são os mesmos?

O Turismo Português, por exemplo – que já não vendemos mais nada ao estrangeiro do que férias – não podia sustentar essa equipa? Ter uma equipa no ProTour, tê-la a correr em França, na Itália, em Espanha… provas com transmissão televisiva à escala mundial, não seria um bom investimento?

Voltei ao assunto exactamente porque o Alexandre Reis, que está em França a cobrir o Tour, fosse por que razão fosse, para além da tal “irritação” por não ver o nome do Zé Azevedo citado em lado algum – a propósito, ao fim de quantos dias é que pudemos ver o nas transmissões sãs etapas do Tour? E quantos segundos “gasta” a organização com ele? Sinto eu, como sentirão todos os portugueses, uma alegria imensa de cada vez que o organizador se “distrai” e o lá aparece… –, dizia: o Alexandre Reis também percebeu, ainda mais estando ele no terreno, que FALTA PORTUGAL no grande pelotão.

Já li que o orçamento do Benfica, no seu regresso, no próximo ano, será de 5 milhões de euros. Certo que será para “sustentar” duas equipas, comprar viaturas, equipamentos e tudo o que é preciso, mas, com essa verba já se podia arrancar com uma equipa ProTour.

Podemos esperar pelo Benfica. Mas não seria melhor pensar num projecto verdadeiramente nacional?



Recordo o artigo que aqui deixei em Março último… Quem na altura não o leu, pode fazê-lo agora, na íntegra, procurando no Arquivo do mês de Março.

Quarta-feira, Março 22, 2006

36.ª etapa

E SE...

E agora que já temos uma Associação de Equipas Profissionais, se em vez de defenderem correr com as estrangeiras de cá para fora e chamar ao pelotão as sub-23 (repito-me, parece que não se acham capazes de ganhar a mais do que aos miúdos), porque não discutirem, a sério, a possibilidade de criar-se UMA equipa NACIONAL com dinheiro e estruturas para poder candidatar-se ao quadro ProTour? (…/…)

segunda-feira, julho 17, 2006

155.ª etapa



VÁ LÁ, ACERTARAM NO NOME DE... AGOSTINHO



O Telejornal da nossa RTP decidiu dedicar um minuto do seu tempo ao ciclismo. O motivo justificava-o, mas jamais pensei que se somassem tantas... imprecisões em tão curto espaço de tempo. É evidente que sei que um erro qualquer um comete. Dois... vá lá... Tantos num minuto deixou-me de sobrolho franzido.

Sei que a "gralha" é a mais fiel companheira do jornalista e que, apesar de serem vários os olhos que olham para uma peça, de vez em quando lá está ela, arreliadora. E constrangente, na maior parte das vezes.

Mas o que vi não foi uma gralha.
Os erros sucederam-se e eu ia ficando de boca cada vez mais aberta.

O motivo da reportagem foi a pré-inauguração da placa que, na 14.ª curva do Alpe d'Huez, perpectuará a memória do único português que venceu lá no alto. Até hoje, pelo menos. Falo do imortal Joaquim Agostinho.

O garfo ficou a meio caminho, entre o prato e a boca, para não perder nem um fotograma, e logo deixei abrir um sorriso ao ver o meu caríssimo amigo Guita Júnior a falar, quando no oráculo aparecia o nome de... Leonel Miranda! Depois falou o Leonel Miranda... sem ser identificado. Enganaram-se, pensei. Bérnard Hinault também falou e não foi identificado e depois foi Francisco Araújo, o fiel mecânico do campeoníssimo corredor português a não merecer também identificação, mas o meu queixo caiu ao prato quando, muito emocionado, o meu querido Bruno Santos mal conseguiu dizer palavra ao mesmo tempo que o malvado oráculo o "apelidava" de... Francisco Araújo.

Caramba!... Se quem tinha a responsabilidade de sobrepôr os oráculos não conhecia as caras, não podia ter perguntado a alguém na redacção que o ajudasse?

Vá lá... acertaram no nome do homenageado. Nem quero acreditar que só não se enganaram por o nome estar gravado ma pedra que recordará aos vindouros que Joaquim Agostinho é um dos poucos (21 apenas) corredores que foram o primeiro a cortar a meta numa das subidas mais emblemáticas do Tour e do ciclismo mundial.

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Meia hora depois, no Jornal das 9, na rtpN, algumas coisas foram mudadas. O "Xico" Araújo já foi identificado, o Leonel Miranda e o Bruno Santos também. Todos os outros - as imagens foram as mesmíssimas - apareceram sem identificação. Eu sei que foram o Guita Júnior e o Bérnard Hinault, mas a maioria das pessoas saberá? E quantos viram a reportagem na RTP1 e na rtpN ?

sábado, julho 15, 2006

154.ª etapa



CORRIDA SEM "PATRÃO" OU
"PATRÃO FORA DIA SANTO NA LOJA"?



Gravemente penalizador para o ciclismo foi aquilo que hoje aconteceu na 13.ª etapa do Tour. Não li mais nada que não as classificações e vi o que todos viram na TV. Não sei se houve alguma tentativa de alguém para explicar o sucedido mas, tendo havido, terá sido uma desculpa de mau pagador. Leia-se: de mau atleta ou director-desportivo, ou tenha lá sido quem for.

O que poderá justificar o atraso de quase meia-hora do pelotão em relação aos primeiros homens a cortar a meta? Estava calor? Mas o calor não era o mesmo para todos?

Dei-me ao trabalho de ir ver o regulamento particular da prova e lá está, no Artigo 22.º, que para etapas de grau de dificuldade com coeficiente 1 (que era o caso - também lá está), e para uma média do ganhador da etapa superior aos 42 km/hora o controlo fecharia num tempo de 9% mais do que o feito pelo vencedor. Ora, Jens Voigt gastou 5.24.36 horas para chegar à meta o que significa que TODOS os corredores que gastassem mais de 5.53.45 horas (tinham uma margem de 29.09 minutos) seriam eliminados. Isto é, no caso de hoje, todo o pelotão teria ido para casa não fora a alínea constante do mesmo regulamento que aponta como excepção o caso de o número de eliminados ser superior a 20% dos corredores que tinham alinhado à partida. Claro que, sabendo disto, no pelotão foram muito poucos os que tentaram imprimir uma marcha mais viva e foi essa alínea que os salvou, pois chegaram à meta 29.57 minutos depois de Voigt e Oscar Pereiro. Mais 48 segundos que só não valeram pelo "pormaior" (não é pormenor) de lá virem mais dos tais 20% dos corredores que tinham iniciado a etapa.

Foi feio. Feio em todos os sentidos e os espectadores - que estavam sob o mesmo sol - não mereciam quem ninguém tivesse mexido uma palha para se andar só um pouquinho mais depressa.

Diz-se que este Tour está órfão se um "patrão" - entenda-se: de um corredor claramente favorito - mas se não há "patrão" não faz sentido o dito popular de "patrão fora, dia santo na loja"!

E eu que tenho sido bastante crítico em relação ao pelotão português quando situações destas acontecem vejo-me na obrigação de me retractar. Afinal de contas não são só os directores-desportivos lusos que deixam correr o marfim ao longo de algumas provas (e/ou etapas), esperando que seja o vizinho do lado a assumir as despesas de uma perseguição sempre desgastadora e, se o pelotão dos pelotões - o do grande Tour - se dá ao luxo de se apoiar numa alínea do regulamento que só visa salvaguardar o interesse desportivo da corrida, por parte do organizador, quem sou eu para criticar os responsáveis pelas equipas portuguesas, mais pobres, mais pequenas e, por isto, a porem os técnicos a pensarem, antes de mais, em pouparem os seus corredores?

Perante este exemplo vindo de cima... tenho que me calar. E pedir desculpa a todos que já critiquei por cá.

Mas a situação não deixa de ser feia por isso e, voltando ao princípio, altamente penalizadora em termos da imagem da modalidade aos olhos dos seus adeptos. Para não falar dos patrocinadores!

153.ª etapa



FAÇAM UM ESFORÇO, EM NOME DO CICLISMO



Foi, já li, fraquinha a apresentação oficial da 68.ª edição da Volta a Portugal. Com os anos que já levo disto não posso negar que sou compelido a aceitar as razões da empresa organizadora. Tenho de reconhecer que existem, de facto, dificuldades em juntar as pequenas peças do todo que é o puzzle do traçado da Volta e que não a podem apresentar sem que ela esteja completa, mas já não é o primeiro ano, nem o segundo ou terceiro, que a empresa organiza a Volta.

Há, é do conhecimento público, contratos plurianuais... quer dizer que há, de um ano para o outro, uma ideia geral de como vai ser a Volta. O que sobra serão três ou quatro dúvidas e por isso não é fácil perceber que sejam precisos 10 meses (já dando um de férias, a que toda a gente tem direito) para resolver esses dois ou três pontos em aberto.

Claro que o arrastar desta situação leva a que, quem para isso estiver motivado, procure antecipar o traçado. Umas vezes - eu já o fiz - põe-se cá fora o traçado tal qual ele vem depois a ser; outras vezes, como aconteceu este ano, quem investigou não consegue ultrapassar algumas "armadilhas" semeadas no caminho e que acabam por resultar numa primeira informação que não corresponde em 100% à real. Mas rapidamente isso foi emendado e, mesmo tendo de levar com pressões muito sérias, do género "contigo não falo mais", o jornalista lá consegue desempenhar o seu papel mantendo o único juramento válido, na sua consciência: o de, acima de tudo, trabalhar para quem o lê ou ouve.

Tentar minimizar e, em cúmulo, hostilizar um jornalista por este ter feito o seu trabalho acabará, sempre, por ser onerado a quem, de facto, merece reprovação. Neste caso concreto a JLSports/PAD.

Comecei por dizer que sou obrigado a reconhecer que uma organização não pode apresentar um evento se este não está ainda 100% definido, mas no caso da Volta a Portugal é, em definitivo, algo contra-o-ciclismo a persistência nestes atrasos.

O que aconteceu? A Volta foi apresentada quando já pouco havia a apresentar, salvo se a cerimónia trouxesse algo de novo. O que não foi o caso. E depois, a Comunicação Social não soube ou não quiz fazer mais do que o cumprir o serviço de agenda, com a excepção de O JOGO que, escolhendo aquela que considera a etapa-raínha, a ilustrou com um bem elaborado gráfico. Mas... e o resto da corrida? Ficaram-se pelo quadro das etapas, coisa que o RECORD nem fez. E A BOLA, que no próprio dia da apresentação - por uma questão de coerência (já que tivera de saber da Volta por conta própria) lançou-a antes da apresentação oficial - não teve arte nem engenho para pegar na cerimónia de alguma maneira mais... consistente.

E já nem falo da paupérrima "apresentação" da RTP.

Resultado, a apresentação da Volta, que foi sucessivamente adiada para que os principais responsáveis dos seus grandes sponsors pudessem estar presentes... foi um enorme flop. Mau demais para ser aceite sem que se questionem alguns aspectos em jogo.

Nos últimos sete anos só em Dezembro último falhei a apresentação da Vuelta. No auditório da Feira Internacional de Madrid, com capacidade para 3 mil pessoas e sempre cheio, estão todos os alcaldes e jefes de gobierno autonómico das regiões e cidades por onde a Vuelta passará... nove meses depois. No dia da apresentação, os quatro jornais despostivos espanhóis apresentam o traçado que, a partir daquilo que conseguiram saber, elaboraram. Nem mesmo o jornal oficial, a MARCA, consegue dar o itenerário correcto, mas não deixa de o tentar, embora isso dê trabalho. E no dia seguinte, quantos são os engravatados - de ministro a alcalde - que têm voz nas páginas desses jornais? ZERO. Nenhuma linha. Até porque há matéria mais do que suficiente para encher as duas, três, quatro páginas que o evento merece. E há um "pelotão" enorme de gentes do ciclismo que podem ser ouvidas e cuja opinião, por serem conhecedoras, vale a pena.

Por cá, em vez de investigar-se prefere-se esperar pelas folhinas distribuídas no dia da apresentação e olha-se de revés os que tentaram fazer o seu trabalho. De ambos os lados. Da parte da organização chovem "reprimendas", da parte dos leitores somam-se as dúvidas em relação à idoneidade da informação dada. Passaram 30 anos desde que as notícias deixaram de ser obrigatoriamente que o "senhor presidente do Concelho ESTEVE...", mas as "novas" continuam a ser escritas no pretérito perfeito. Critérios!
Quanto às figuras... não há maneira de evitar umas palavrinhas do senhor ministro. Pelo menos. Como se o Portugal que gosta de ciclismo estivesse nelas interessado. Critérios.

Mas façamos o seguinte exercício: olhando para os jornais de hoje - que para a televisão, a coisa nasceu e "morreu" ontem -, que se fica a saber da próxima Volta? Onde começa e acaba cada uma das etapas e que nenhuma delas acaba na Torre. O que, é verdade sim senhor, como escreve o RECORD, já há vários meses se sabia. Mas neste jornal, até hoje, nem uma linha sobre a Volta, desde há muitos meses...

Para além da etapa da Senhora da Graça - bem explicada, e da maneira mais legível, porque em gráfico - aprsentada pel'O JOGO... mais nada. Mais nada para além do que eu já aqui tinha previsto: "Uma primeira parte para os roladores e sprinters, antes do descanso, e quatro dias mais duros, a terminar". Página e meia n'O JOGO, meia página no RECORD (contando com o mapa) e menos de meia página n'A BOLA, contando com o quadro das etapas (pelo menos diz a que horas começa e acaba cada etapa).

Esta crítica faço-a, é óbvio, enquanto leitor e como se não soubesse eu mais nada. Pouco ficaria a saber. A não ser que o ministro mais o presidente da FPC e o senhor João Lagos pedalaram um minuto em três bicicletas presas.

Numa apresentação da Volta que não teve os dez directores desportivos portugueses presentes, nem os potenciais candidatos - pelo menos os que militam no pelotão nacional -, que se poderia esperar? Ficou contente o senhor ministro que teve mais uma oportunidade para aparecer nos jornais, e os senhores responsáveis pelas empresas que são as principais patrocinadoras que puderam respirar um pouco o ar fora dos seus gabinetes. Ou não terão sido tirados de uns merecidos dias de férias para estarém no Museu da Electricidade? Os ciclistas ali, provavelmente, iam só atrapalhar. Roubar protagonismo às gravatas.

É este o ciclismo que, provavelmente, merecemos.