quinta-feira, julho 13, 2006

147.ª etapa



FIM DO TABÚ: AZEVEDO É O N.º 1 DA DISCOVERY



Depois das duas etapas pirenaicas ainda não consigo fazer uma leitura que possa sustentar a propósito da prestação de alguns corredores, dizendo melhor, de algumas equipas.
Hoje ficou evidente que, depois de ter ganho a Vuelta - por desclassificação de Heras, é verdade, mas disso ele não é responsável - Denis Menchov é o ponta-de-lança da Rabobank que não hesitou em pôr a equipa a trabalhar para o russo. E que grande trabalho fez Michael Boogerd, com Rasmussen também a dar uma grande ajuda. De resto, e depois de a T-Mobile (cada vez é mais evidente que a turma alemã corre de "raiva") ter iniciado as hostilidades no ataque ao Col de Portillon, na frente ficaram os candidatos-mais-candidatos. Entre eles o nosso Zé Azevedo que, contudo, estava sozinho.

Não serve isto de desculpa pois, para além da Rabobank apenas a Gerolsteiner tinha mais do que um homem na frente, e isto mostrou que era mesmo verdade o que Johan Bruyneel dizia. A equipa não tem (não tinha) um líder declarado.

Agora é preciso, e para que a corrida do possa vir a ser visível, que Bruyneel ponha toda a carne no assador - expressão muito querida do Manel Zeferino - porque mais atrasos seriam irremediáveis.

A favor, a Discovery - principalmente em relação à Phonak - tem o facto de mão ter que defender a liderança, mas Floyd Landis é um dos candidatos-candidatos, e ontem demonstrou-o.

Os próximos dois dias não vão dar em nada. Etapas sem dificuldades de maior, serão mais do que presumivelmente "usadas" por corredores já com atrasos irrecuperáveis, o que permitirá algum "descanso" aos favoritos mas com a equipa suíça a ser "obrigada" à despesa de esforços para não deixar saír ninguém que comprometa a sua camisola amarela.

Em relação à Discovery, agora que estamos a menos de uma semana de se entrar na parte realmente decisiva, vai ter que se definir. José Azevedo é já o único que pode chegar-se à frente, em termos de pódio, por isso todos os outros terão que assumir a sua defesa e mais, terão de protagonizar acções de desgaste para com os rivais.

O facto do Zé Azevedo ter, a partir de dada altura - e porque quando escrevo não sei ainda das suas explicações -, preferido meter o seu passo, pode querer significar duas coisas distintas: ou não estava mesmo em condições, ou preferiu ficar-se pela minimização dos prejuízos. Neste caso será porque tem a certeza de que vai poder fazer melhor nas próximas grandes dificuldades.

Vi (e ouvi) as declarações de Johan Bruyneel e não gostei. Pareceu-me estar a deitar, demasiado cedo, a toalha ao chão. Também isto tem duas leituras. Ou está a fazer bluff, deixando que os adversários pensam que a equipa não dá mesmo mais, ou... utilizando uma expressão que normalmente se usa - "quem está no convento é que sabe o que acontece lá dentro" - que não quis queimar já todos os cartuchos.

Não será esta equipa da Discovery capaz de fazer melhor? O atraso de corredores como Popovych ou Savoldelli terá sido apenas obra do acaso (reflector de uma insuficiência da equipa que era de todo inesperada) ou um guardar de trunfos para ocasião mais propícia?

Seja como for, Bruyneel já não tem mais que pensar quem é o homem que deve ser ajudado. Esse é o Zé Azevedo e, agora, todos os outros vão ter que trabalhar para ele. E é preciso não esquecer uma coisa. Apesar de não estar a correr, Lance Armstrong tem ainda um papel importante no seio da equipa e os seus "conselhos" serão mais do que isso. Serão ordens. E só pode haver uma ordem neste momento: levar o Zé Azevedo ao pódio. Pelo menos.

1 comentário:

José Carlos Gomes disse...

Não me parece que a Discovery, com o seu historial, esteja preocupada em defender a posição do 18º da Geral. E também me parece plausível que os responsáveis da equipa não estejam muito interessados em lutar por um lugar nos dez mais.

Logo, parece-me que é mesmo provável que não haja bluff e que a equipa vá correr para as etapas e para outras classificações. O José Azevedo é que paga... Ou que beneficia, se tiver a sorte, a arte e o engenho para ser um dos pontas-de-lança da estratégia de ataque que a equipa parece apostada em delinear.