sábado, julho 15, 2006

154.ª etapa



CORRIDA SEM "PATRÃO" OU
"PATRÃO FORA DIA SANTO NA LOJA"?



Gravemente penalizador para o ciclismo foi aquilo que hoje aconteceu na 13.ª etapa do Tour. Não li mais nada que não as classificações e vi o que todos viram na TV. Não sei se houve alguma tentativa de alguém para explicar o sucedido mas, tendo havido, terá sido uma desculpa de mau pagador. Leia-se: de mau atleta ou director-desportivo, ou tenha lá sido quem for.

O que poderá justificar o atraso de quase meia-hora do pelotão em relação aos primeiros homens a cortar a meta? Estava calor? Mas o calor não era o mesmo para todos?

Dei-me ao trabalho de ir ver o regulamento particular da prova e lá está, no Artigo 22.º, que para etapas de grau de dificuldade com coeficiente 1 (que era o caso - também lá está), e para uma média do ganhador da etapa superior aos 42 km/hora o controlo fecharia num tempo de 9% mais do que o feito pelo vencedor. Ora, Jens Voigt gastou 5.24.36 horas para chegar à meta o que significa que TODOS os corredores que gastassem mais de 5.53.45 horas (tinham uma margem de 29.09 minutos) seriam eliminados. Isto é, no caso de hoje, todo o pelotão teria ido para casa não fora a alínea constante do mesmo regulamento que aponta como excepção o caso de o número de eliminados ser superior a 20% dos corredores que tinham alinhado à partida. Claro que, sabendo disto, no pelotão foram muito poucos os que tentaram imprimir uma marcha mais viva e foi essa alínea que os salvou, pois chegaram à meta 29.57 minutos depois de Voigt e Oscar Pereiro. Mais 48 segundos que só não valeram pelo "pormaior" (não é pormenor) de lá virem mais dos tais 20% dos corredores que tinham iniciado a etapa.

Foi feio. Feio em todos os sentidos e os espectadores - que estavam sob o mesmo sol - não mereciam quem ninguém tivesse mexido uma palha para se andar só um pouquinho mais depressa.

Diz-se que este Tour está órfão se um "patrão" - entenda-se: de um corredor claramente favorito - mas se não há "patrão" não faz sentido o dito popular de "patrão fora, dia santo na loja"!

E eu que tenho sido bastante crítico em relação ao pelotão português quando situações destas acontecem vejo-me na obrigação de me retractar. Afinal de contas não são só os directores-desportivos lusos que deixam correr o marfim ao longo de algumas provas (e/ou etapas), esperando que seja o vizinho do lado a assumir as despesas de uma perseguição sempre desgastadora e, se o pelotão dos pelotões - o do grande Tour - se dá ao luxo de se apoiar numa alínea do regulamento que só visa salvaguardar o interesse desportivo da corrida, por parte do organizador, quem sou eu para criticar os responsáveis pelas equipas portuguesas, mais pobres, mais pequenas e, por isto, a porem os técnicos a pensarem, antes de mais, em pouparem os seus corredores?

Perante este exemplo vindo de cima... tenho que me calar. E pedir desculpa a todos que já critiquei por cá.

Mas a situação não deixa de ser feia por isso e, voltando ao princípio, altamente penalizadora em termos da imagem da modalidade aos olhos dos seus adeptos. Para não falar dos patrocinadores!

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