quinta-feira, julho 20, 2006

161.ª etapa



... E DAS CINZAS HAVERIA DE RENASCER



Notavelmente fantástica a corrida de Floyd Landis hoje. Landis que, depois de na véspera ter literalmente "rebentado" voltou hoje - e isso foi desde cedo perceptível - decidido a mostrar o que realmente vale. Diz-de no futebol que só os grandes guarda-redes consentem grandes "frangos". Landis mostrou que só os grandes corredores têm um dia mau. É verdade que os dias maus dos outros ninguém chega a aperceber-se deles, mas há muitos, muitos anos que não tinha o autêntico privilégio de assistir a um espectáculo como aquele hoje proporcionado pelo estado-unidense. E se eu temi que ele tivesse a ir muito para além do esforço que humanamente é possível dispender... Foram "hectolitros" de água o que ele gastou durante a etapa, mas depois da sua vitória temos que nos render. Este homem merece ganhar o Tour.

Entretanto, ainda se discutem as tácticas.
Recuperando a "flacidez" da da Phonak, quando deixou Oscar Pereiro recuperar 28 minutos, passando pela "falta de músculo" das adversárias que permitiram a fuga vitoriosa de Landis.
No primeiro caso, de facto a equipa suíça claudicou em toda a linha e não me venham agora falar em extraórdinária "visão" do seu director-desportivo. Agora, depois de Landia ter recuperado e encurtado para 30 segundos a sua desvantagem em relação ao primeiro, é fácil dizer que a Phonak teria tudo perfeitamente controlado.

Nada, nem ninguém poderia, muito menos que a fuga que levou Pereiro à camisola amarela, prever uma etapa como a que Floyd Landis fez hoje. Foi algo de outros tempos, algo a que o ciclismo moderno não está habituado, muito menos preparado para prever.

Landis renasceu das cinzas, qual Fénix, mas acho que, nestas circunstância mais nenhum outro corredor faria o que ele fez hoje. Tem a ver com coisas que ultrapassam uma mera corrida de bicicletas. Tem a ver com a formação do homem, tem muito a ver com a sua orientação religiosa - sim, porque não? -, tem a ver com a coragem que alguém pode ter de assumir para si próprio um objectivo e depois... "morrer" por ele. Sei que a palavra é demasiado "pesada" mas não foi o que aconteceu?

E os estado-unidenses que Armstrong conquistou para o ciclismo foram ontem exponencialmente multiplicados graças ao feito de Landis. Curiosamente, havia quem, antes de ontem, "provocasse" Landis com o facto de ser líder da corrida sem ter ganho uma etapa. A resposta foi perfeitamente arrasadora. Cá está a etapa ganha. Aqui está o Floyd Landis de regresso à luta pela vitória final mostrando - usando uma "imagem" muito estado-unidense - que só o perú morre de véspera.

E termino da mesma maneira que ontem comecei: é impossível que haja alguém que, vendo estas duas etapas não fique incondicionalmente adepto do ciclismo. Tudo o que de diferente esta difícil disciplina do desporto tem foi posto à apreciação de todos. E foi extraordinariamente bonito.

Apetece-me gritar aos quatro ventos - ou a todos os ventos que houver - VIVA O CICLISMO!

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Entretanto, ontem e em definitivo, ficou demonstrado que o nosso Zé Azevedo não se apresentou ao nível que ele próprio desejaria. Não vale a pena romancearmos sobre a sua participação neste Tour. E, independente, de outras explicações - voltarei ao tema logo termine este Tour - o que ficou à vista de todos é que "faltaram as pernas".
E no ciclismo, sem pernas não se vai a lado nenhum.

1 comentário:

Jorge-Vieira disse...

Viva amigo Madeira:

Estive a ler mais esta sua etapa, e claro, achei sensacional.
Sensacional foi também a etapa que o Floyd Landis nos ofereceu enquanto espectadores do ciclismo, que me lembre a mais bela etapa que vi nestes ultimos do Tour, não quero com isto tirar algum brilhantismo ao Lance Armstrong, mas o que o Landis fez, jamais passaria na cabeça de qualquer um dos mortais naquele Tour... e nos varios DD's das equipas.
Aquela etapa foi um hino ao ciclismo, e numa altura em que se fala tanto de futebol, que tal passarem muitas e muitas vezes um feito que muitos achavam impossivel, e quando já todos davam o homem como morto para Tour, eis que o mesmo surge imparavel (movido a água) e preparando-se para ganhar este Tour, merecido sem qualquer sombra de duvida.
Quanto ao nosso Zé, é pena ver que ele não esteve á altura dos acontecimentos, quem sabe por culpa da equipa, por culpa do DD que nunca assumiu um chefe de fila. Mas nada disto abala aquilo que o nosso Zé tem feito, e como ele sempre um homem com H grande, sempre disse aquilo que sentia, nunca o escondeu, e quando assim é, á que lhe atribuir todo o merito.

P.S. - Amigo Madeira, tenho estado bastante tempo ausente, sempre que posso sigo o seu blog, e espero que retorno o mais rapidamente à sua actividade profissional para nos trazer os seus conhecimentos através do jornal "A Bola"