terça-feira, julho 04, 2006

138.ª etapa



AZAR DE VALVERDE




Encontro-me entre aqueles que são fãs de Alejandro Valverde. Vi-o ganhar ao sprint uma chegada a Ribamar, num Grande Prémio Joaquim Agostinho, na parte da manhã, e ser segundo, atrás de Jeker, no crono da parte da tarde. Vi-o ganhar em alta montanha. Acho-o um dos mais completos - senão o mais completo - corredor da actualidade. E ainda tem alguns anos para estar no pelotão.

O que lhe aconteceu... faz parte do ciclismo. Nem se rolava a grande velocidade, não aconteceu naqueles momentos "loucos" das chegadas ao sprint, quando se atingem velocidades impensáveis. Foi uma daquelas quedas em que não aconteceu, como muitos já vimos, o corredor "arrastar" pelo asfalto. Caiu... num metro quadrado. Caiu da bicicleta. Mais nada. E terá - ainda não sei o diagnóstico final - fracturado a clavícula. Acabou, para ele o Tour 2006. Há menos um nome sonante no pelotão.

Lindo, lindo, os milhares de pessoas que bordavam as bermas da estrada. Não juro nem aposto, mas se alguém fosse perguntar, uma a uma, àquelas pessoas se deixaram de acreditar no ciclismo por causa da Operação Puerto - ah!, o tal jornal emendou a mão e voltou a traduzir (mal) Puerto por Porto - riam-se-nos na cara. Elas - aquelas pessoas - gostam é de ciclismo. Gostam da cor, do movimento. Gostam (admiram) o esforço dos homens que escolheram ganhar a vida sobre uma bicicleta.

Há quem, pretendendo gostar de ciclismo apenas "olha" para os seus ídolos? Em Portugal acredito que sim. O curioso é que são adeptos de sofá. Em Espanha - só posso falar do que conheço - o ciclismo é sustentado, no que ao público diz respeito, em grande parte pelas peñas de algumas individualidades. Testemunhei isso várias vezes. Os de Béjar chegavam numa dúzia de autocarros para aplaudirem Heras... os manchegos, para apoiarem Sevilla e há mais uma dúzia de exemplos. Por cá falta esse espírito. Mas em Espanha as pessoas gostam de ciclismo.

Em Portugal também há quem goste. São poucos, e desorganizados. E voltamos à velha questão: falta-nos um ídolo. Claro que em Espanha é mais fácil. As pessoas juntam-se em redor de uma figura que representa a sua região. Cá isso não existe.

É excepcional a adesão do público, por exemplo, no Circuito de Torres, no Troféu Joaquim Agostinho. Por um lado é normal. Para a eternidade perdurará a figura de Joaquim Agostinho. Mas há tantos corredores daquela região... algum tem um grupo declarado de fãs? E mesmo os algarvios? Têm a equipa profissional mais antiga do Mundo, mas, ainda assim, não se vislumbra a sua assumpção como bandeira da região.

A LA, principalmente desde que sponsorizada pela Liberty marca uma diferença. Pelo menos na Volta, mas não só, mas não só, lá surge um grupeto de bandeiras azuis e camisolas a promoverem a empresa. A empresa, sim. É uma questão de marketing, mas não lhes levo a mal. A questão que deixo é esta: porque é que os outros sponsors, das outras equipas, não fazem o mesmo?

Entretanto, fugi ao assunto.

A 3.ª etapa do Tour. Abandono de Valverde à parte, a fuga "tinha" que acontecer e não daria em nada, e só um homem merece uma referência especial: Mathias Kessler. O homem é persistente - ou foi-o nestes dois últimos dias - e mereceu o triunfo na etapa. E Tom Boonen, que só quer os "frutos" - leia-se: a camisola verde - hoje ficou dono da árvore. Mas ainda falta a vitória numa etapa. E vai ter tempo para isso.

Resumindo, ninguém pode dizer que a etapa de hoje tenha sido chata. Teve fuga, teve perseguição, deixou mais um candidato de fora e... teve um público extraordinário.

Quem nos dera poder ter assim muitas etapas em Portugal. Que não fossem só as da Sr.ª da Graça e da Torre - quando lá se chega.

Ao nosso Zé Azevedo continuam as coisas a correr a contento. Mantém-se junto aos da frente, mantém-se fora das confusões... mantém as suas (?) - era melhor dizer, as NOSSAS - aspirações intactas.

Amanhã há mais.

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