quinta-feira, julho 13, 2006

149.ª etapa



QUE VOLTA PODEREMOS TER?



Já escrevi que gosto desta Volta e, ao mesmo tempo, deixei expressa a crítica em relação à etapa da Torre. Parece uma contradição, mas não é. Enquanto adepto – e mesmo no exercício do meu direito à opinião, enquanto membro da
“tribo” do ciclismo, muito mais envolvido do que um simples adepto – é impossível não desejar que a principal corrida do nosso calendário, aquela que irá entronizar, pelo menos nos doze meses a seguir, um corredor como vencedor da “grandíssima” – como dizem os espanhóis – deixe de parte a única hipótese de termos uma etapa ao nível dessa grandeza, e essa foi, é e será sempre uma chegada à Torre, mais, já que “quero” escolher, escolho também a subida pelo lado da Covilhã, a mais difícil, a mais espectacular… aquela que fará sempre recordar o vencedor lá no alto.

Mas não há chegada à Torre e pronto! Isso reduz a meros exercícios de retórica aquilo que escrever sobre o assunto. Fico por aqui.

Não há Torre mas há Volta e eu, feita a ressalva que ficou atrás, já disse que gostava do traçado. Porquê?

Pois bem, porque se não há Torre – e este ano é improvável que apareça outro Efimkin (até porque a etapa da Estrela é no penúltimo dia de corrida) – e se a subida ao alto do Monte Farinha, até bem perto da Ermida da Senhora da Graça, por mais difícil e exigente que seja a etapa no seu todo, não consegue já marcar as diferenças que marcava há dez anos atrás, a Volta não pode ser ganha, nem num lado, nem no outro. Vai ter que ser ganha… ao longo dos dez dias de competição. E isso é muito mais complicado do que
“escolher” três ou quatro candidatos e esperar para ver se no dia da Estrela está ou não num… bom dia.

Olhando
“inocentemente” para o mapa da corrida, a primeira tendência será – e vamos ver, vamos ver o que se vai escrever – para a dividir da forma mais primária em: uma primeira parte para os roladores, os homens das fugas e os sprinters; uma segunda já com algumas dificuldades de permeio, preparando os candidatos para os quatro últimos dias… decisivos.

Mas aqui é que
“a porca torce o rabo”, como se diz no Alentejo.

Escolhamos um candidato. Um, à sorte.
Depois há os outros todos. Quantos? Três? Quatro? Mais?
Para se ser candidato à vitória na Volta a Portugal tem que se ser (mesmo) um corredor bastante completo. Onde é que os adversários vão tentar ganhar vantagem?
Numa fuga?
É improvável, dadas as naturais e normais marcações.
Na Senhora da Graça?
Talvez. É uma etapa dura, com uma contagem para o prémio da montanha de 3.ª categoria, ainda no primeiro quarto da jornada, e depois duas de 1.ª, já na metade final, antes da subida do Monte Farinha. Quem quer que seja candidato vai estar à espreita e vai estar à espreita daquilo que os adversários directos vão fazer.
Digamos que chegam todos em igualdade de circunstâncias a Mondim de Basto, a 8 km da meta. Quanto tempo se ganha nessa subida? 1 minuto? Mais? Menos? Quase de certeza menos para rivais que se equivalerão
E depois, onde é que se ganha mais tempo?
É difícil. A preocupação maior deverá ser… onde é que não se pode perder demasiado tempo.
Na chegada à Guarda?
É durinha, mas que diferenças – cá está, outra vez – se podem ganhar naqueles 2200 metros? Metade do tempo que se leva de perda, pensando
“sacar” o resto no crono final, se estivermos perante dois corredores com previsíveis desempenhos diferentes no esforço contra o relógio?

Aqui há um problema.
Sem oportunidade de se terem
“medido” ao longo da época (só fizeram, nesta altura, os que fizeram, dois cronos) vai ser como que uma aposta no escuro.
Estarei eu bem? Estará ele ao meu nível ou… estará melhor?
Quem poderá ajuizar em consciência?
O
crono final será, concerteza, uma etapa emocionantíssima, mas será um risco tremendo guardar a decisão para esse dia. Ninguém vai querer fazê-lo e isso só acontecerá se as circunstâncias o ditarem.

E então a Serra da Estrela?
Pois é. Mas, como já escrevi, onde é que os candidatos vão
cruzar espadas?
A caminho do Sabugueiro, quando ainda faltam 100 km para a meta?
Na subida a partir de S. Romão? Vai alguém tentar
“sacudir” os adversários lançando-se decidido a caminho da Torre quando, transposta esta ainda falta 76,6 km, uma descida exigentíssima e depois mais de 50 km a rolar até ao Fundão?
E se um atacar… que fazem os outros – partindo do princípio que por esta altura ainda há mais do que um corredor para vencer a prova? Respondem assumindo o ónus de uma perseguição em alta montanha e acreditando que, aconteça o que acontecer terão tempo de sobra para rectificar o que acontecer na subida? Ou marcarão o seu passo, confiantes de que basta minimizar os estragos de forma a poderem recuperar no
crono?

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