quinta-feira, julho 13, 2006

148.ª etapa



UM EXCITANTE “JOGO DE XADREZ”,
JOGADO NA RECTADUARDA



Retomemos então o exercício iniciado no artigo anterior.
Vamos continuar a imaginar.
Imaginemos que um dos potenciais vencedores até é um corredor muito forte nas chegadas em grupo. Não tem nada a ver – ou tem? se calhar tem – com o caso concreto do Cândido Barbosa.

O ano passado, depois da etapa do Fundão, o corredor de Rebordosa conseguiu, meta volante a meta volante, final após final, fazer minguar a vantagem de Vladimir Efimkin até menos de um minuto. Mas o ano passado, como se costuma dizer, o Cândido corria atrás do prejuízo e, tenazmente, lutou tudo o que pode para se chegar ao russo. Este só teve que fazer contas para chegar à conclusão de que, apenas nos sprints o português não chegava lá. Nós ignorávamos o que Efimkin valia no
crono, mas ele, Efimkin, sabia.

Pode, este ano acontecer algo parecido?
Pode um corredor-candidato desgastar-se dia após dia, após dia envolvendo-se em todos os
sprints até à 6.ª etapa para ganhar… um minuto a outro adversário que até pode ser mais forte do que ele na Senhora da Graça? Diz a lógica que não.
Uma coisa é ter a Volta perdida e correr atrás dela sendo que, se o esforço continuado passar a respectiva factura… de perdida a Volta não passava. Outra é (seria) desgastar-se a recolher segundos enquanto o(s) rival(is) rolavam calmamente no pelotão apenas para marcarem o mesmo tempo na chegada, perdendo só as bonificações.
E mais, para um corredor se fazer a todos os
sprints é preciso ter toda a equipa mecanizada e mentalizada para controlar a corrida de forma a que as chegadas sejam em grupo. O desgaste, não só do potencial-candidato, mas de todos os seus companheiros seria arrasador. E quem estaria depois em condições para o ajudar nos momentos mais problemáticos?

Então, parece que já chegámos a duas conclusões: é melhor não contar com as etapas de montanha para ganhar tempo suficiente para se chegar, primeiro à camisola amarela, depois para segurá-la, e gastar cartuchos nos
sprints, intermédios ou finais, é arriscar uma factura para a qual depois, na hora H, não há “liquidez” para rebater.

O que sobra então?
Jogar na surpresa de uma fuga que
“mate” a corrida?
Atenção. Não é credível que um candidato à vitória final consiga entrar numa fuga que chegue ao fim. Os outros não o permitirão. Mas… E se acontecer mesmo uma fuga com alguém com quem não se está a contar, que este alguém consiga amealhar uma vantagem
“engraçada” e que depois, entre o controlar a sua corrida e estar de olho na corrida dos rivais pré-conhecidos… não sobrarem forças aos candidatos-candidatos para irem buscar o “intruso”? Pode acontecer.

Vamos então abreviar.
Se a montanha pode dar em nada; se a opção de controlar a corrida para uma chegada ao
sprint, para além de desgastante para a equipa também não é garantido que ganhe o “seu” homem; se vai ser obrigatório – quer queiram, quer não – estarem todos permanentemente atentos no pelotão para não serem surpreendidos por alguma fuga… onde raio é que se pode ganhar esta Volta a Portugal, da qual eu disse que gostava do traçado e continuo a dizer (tirando a desfeita de não haver Torre)?

Nos carros de apoio!
Esta Volta vai ser ganha pelo director-desportivo que melhor souber lidar com a pressão diária que se adivinha. Que melhor estratégia traçar e que consiga que o todo da equipa respeite e cumpra a sua missão. Esta Volta vai ser ganha pela equipa que for mais coesa, tiver maior espírito de sacrifício e acreditar cegamente no seu chefe.
Vai ser uma Volta de muita luta, desgastante, quer física quer psicologicamente, quer para os corredores-candidatos, quer para os directores-desportivos que os comandam.
E vai ser tremendamente desgastantes para o colectivo que tiver no seu seio um dos candidatos.
E até deixaria aqui um palpite se pudesse rejuvenescer e trazer de volta à estrada homens como Gonçalo Amorim, Paulo Barroso, João Silva, Carlos Carneiro… Falta neste lote da equipa da Maia de 2001 e 2002 o Pedro Cardoso que, este sim, vai estar a correr, mas, arrisco (pouco, eu sei) que com funções bem diferentes das de então. A força daquela equipa, mais do que nos homens que ganharam a Volta e chegaram a fazer tremer o pelotão internacional, assentava neste bloco de trabalhadores incansáveis. Não há, actualmente, no pelotão português nenhuma com um bloco deste nível, por isso… atenção aos espanhóis da Comunitat Valenciana.

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