sábado, julho 15, 2006

153.ª etapa



FAÇAM UM ESFORÇO, EM NOME DO CICLISMO



Foi, já li, fraquinha a apresentação oficial da 68.ª edição da Volta a Portugal. Com os anos que já levo disto não posso negar que sou compelido a aceitar as razões da empresa organizadora. Tenho de reconhecer que existem, de facto, dificuldades em juntar as pequenas peças do todo que é o puzzle do traçado da Volta e que não a podem apresentar sem que ela esteja completa, mas já não é o primeiro ano, nem o segundo ou terceiro, que a empresa organiza a Volta.

Há, é do conhecimento público, contratos plurianuais... quer dizer que há, de um ano para o outro, uma ideia geral de como vai ser a Volta. O que sobra serão três ou quatro dúvidas e por isso não é fácil perceber que sejam precisos 10 meses (já dando um de férias, a que toda a gente tem direito) para resolver esses dois ou três pontos em aberto.

Claro que o arrastar desta situação leva a que, quem para isso estiver motivado, procure antecipar o traçado. Umas vezes - eu já o fiz - põe-se cá fora o traçado tal qual ele vem depois a ser; outras vezes, como aconteceu este ano, quem investigou não consegue ultrapassar algumas "armadilhas" semeadas no caminho e que acabam por resultar numa primeira informação que não corresponde em 100% à real. Mas rapidamente isso foi emendado e, mesmo tendo de levar com pressões muito sérias, do género "contigo não falo mais", o jornalista lá consegue desempenhar o seu papel mantendo o único juramento válido, na sua consciência: o de, acima de tudo, trabalhar para quem o lê ou ouve.

Tentar minimizar e, em cúmulo, hostilizar um jornalista por este ter feito o seu trabalho acabará, sempre, por ser onerado a quem, de facto, merece reprovação. Neste caso concreto a JLSports/PAD.

Comecei por dizer que sou obrigado a reconhecer que uma organização não pode apresentar um evento se este não está ainda 100% definido, mas no caso da Volta a Portugal é, em definitivo, algo contra-o-ciclismo a persistência nestes atrasos.

O que aconteceu? A Volta foi apresentada quando já pouco havia a apresentar, salvo se a cerimónia trouxesse algo de novo. O que não foi o caso. E depois, a Comunicação Social não soube ou não quiz fazer mais do que o cumprir o serviço de agenda, com a excepção de O JOGO que, escolhendo aquela que considera a etapa-raínha, a ilustrou com um bem elaborado gráfico. Mas... e o resto da corrida? Ficaram-se pelo quadro das etapas, coisa que o RECORD nem fez. E A BOLA, que no próprio dia da apresentação - por uma questão de coerência (já que tivera de saber da Volta por conta própria) lançou-a antes da apresentação oficial - não teve arte nem engenho para pegar na cerimónia de alguma maneira mais... consistente.

E já nem falo da paupérrima "apresentação" da RTP.

Resultado, a apresentação da Volta, que foi sucessivamente adiada para que os principais responsáveis dos seus grandes sponsors pudessem estar presentes... foi um enorme flop. Mau demais para ser aceite sem que se questionem alguns aspectos em jogo.

Nos últimos sete anos só em Dezembro último falhei a apresentação da Vuelta. No auditório da Feira Internacional de Madrid, com capacidade para 3 mil pessoas e sempre cheio, estão todos os alcaldes e jefes de gobierno autonómico das regiões e cidades por onde a Vuelta passará... nove meses depois. No dia da apresentação, os quatro jornais despostivos espanhóis apresentam o traçado que, a partir daquilo que conseguiram saber, elaboraram. Nem mesmo o jornal oficial, a MARCA, consegue dar o itenerário correcto, mas não deixa de o tentar, embora isso dê trabalho. E no dia seguinte, quantos são os engravatados - de ministro a alcalde - que têm voz nas páginas desses jornais? ZERO. Nenhuma linha. Até porque há matéria mais do que suficiente para encher as duas, três, quatro páginas que o evento merece. E há um "pelotão" enorme de gentes do ciclismo que podem ser ouvidas e cuja opinião, por serem conhecedoras, vale a pena.

Por cá, em vez de investigar-se prefere-se esperar pelas folhinas distribuídas no dia da apresentação e olha-se de revés os que tentaram fazer o seu trabalho. De ambos os lados. Da parte da organização chovem "reprimendas", da parte dos leitores somam-se as dúvidas em relação à idoneidade da informação dada. Passaram 30 anos desde que as notícias deixaram de ser obrigatoriamente que o "senhor presidente do Concelho ESTEVE...", mas as "novas" continuam a ser escritas no pretérito perfeito. Critérios!
Quanto às figuras... não há maneira de evitar umas palavrinhas do senhor ministro. Pelo menos. Como se o Portugal que gosta de ciclismo estivesse nelas interessado. Critérios.

Mas façamos o seguinte exercício: olhando para os jornais de hoje - que para a televisão, a coisa nasceu e "morreu" ontem -, que se fica a saber da próxima Volta? Onde começa e acaba cada uma das etapas e que nenhuma delas acaba na Torre. O que, é verdade sim senhor, como escreve o RECORD, já há vários meses se sabia. Mas neste jornal, até hoje, nem uma linha sobre a Volta, desde há muitos meses...

Para além da etapa da Senhora da Graça - bem explicada, e da maneira mais legível, porque em gráfico - aprsentada pel'O JOGO... mais nada. Mais nada para além do que eu já aqui tinha previsto: "Uma primeira parte para os roladores e sprinters, antes do descanso, e quatro dias mais duros, a terminar". Página e meia n'O JOGO, meia página no RECORD (contando com o mapa) e menos de meia página n'A BOLA, contando com o quadro das etapas (pelo menos diz a que horas começa e acaba cada etapa).

Esta crítica faço-a, é óbvio, enquanto leitor e como se não soubesse eu mais nada. Pouco ficaria a saber. A não ser que o ministro mais o presidente da FPC e o senhor João Lagos pedalaram um minuto em três bicicletas presas.

Numa apresentação da Volta que não teve os dez directores desportivos portugueses presentes, nem os potenciais candidatos - pelo menos os que militam no pelotão nacional -, que se poderia esperar? Ficou contente o senhor ministro que teve mais uma oportunidade para aparecer nos jornais, e os senhores responsáveis pelas empresas que são as principais patrocinadoras que puderam respirar um pouco o ar fora dos seus gabinetes. Ou não terão sido tirados de uns merecidos dias de férias para estarém no Museu da Electricidade? Os ciclistas ali, provavelmente, iam só atrapalhar. Roubar protagonismo às gravatas.

É este o ciclismo que, provavelmente, merecemos.

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