sábado, julho 01, 2006

131.ª etapa



APANHADOS NAS MALHAS QUE TECERAM


O cinismo dos
“senhores” do ciclismo, com Hein Verbruggen (que saiu tanto da UCI como Manolo Sáiz saiu da sua equipa) e este mesmo, à frente, na ânsia de controlarem a modalidade e com esse monstro que criaram (o ProTour), não olharam a meios e chegaram ao ponto de criar uma Carta de Ética. E não é que, com esse documento “ajudaram” as autoridades a fazer esta “limpeza”? Bem feito!

Entretanto, por tudo o que é espaço de discussão esgrimem-se, acaloradamente argumentos do género
“quem é que está limpo e que é que não está” e vão batendo-se algumas teclas que já devem estar gastas de tanto nelas se bater.

Há cerca de meia dúzia de anos atrás, a UCI tornou obrigatório, para todas as equipas profissionais – na altura as das I e II divisões, que os GSIII foram criados como patamar para que os jovens corredores saídos da formação pudessem competir e ganhar experiência antes de abraçarem o profissionalismo (*) – , dizia: obrigatório para todas as equipas profissionais incluírem um médico e que os massagistas fossem diplomados para exercerem as suas funções. E os médicos seriam responsabilizados por qualquer situação menos clara.

Para quê? Para que, e porque, deixemo-nos de ingenuidades, o tratamento extra-desportivo que qualquer atleta de alta competição exige não ficasse nas mãos de
“curiosos”. Para que esses mesmos médicos assumissem a supervisão dos planos de treino – que ficaram, ma esmagadora maioria dos casos, sob a sua responsabilidade – e do que, eventualmente os atletas necessitassem em termos de suplementos, quer fossem eles nutritivos, quer com o intuito de lhes proporcionar uma recuperação mais rápida. O que no ciclismo, principalmente nas corridas de três semanas é fundamental. Claro que cumprindo escrupulosamente, não só com o juramento que todos fazem quando se tornam médicos, mas também tendo em conta a lista de produtos proibidos que todos conhecem. E faz sentido. Para curar uma simples constipação eu posso tomar alguns medicamentos que os atletas não podem – porque contêm, na sua composição, elementos que estão definidos como proibidos. E, salvo a experiência adquirida com os anos por outras pessoas nas equipas, só um médico pode receitar o medicamento A e não o B. Pelas razões atrás expostas.

Nesta
“euforia” - no pior dos sentidos – que se vive, já li que TODOS os médicos são, pelo menos suspeitos. Se todos os médicos usassem os mesmos métodos, o senhor Eufeminiano Fuentes, que até se “afastou” do ciclismo não teria clientes. Não será assim? Há outros que usarão métodos parecidos (ou iguais) mas que não foram apanhados? Se calhar há. Mas meter TODOS no mesmo saco parece-me ser um tanto ou quanto, pelo menos precipitado.

E depois há a tentativa de
“explicar” vitórias anteriores, de outros corredores, com a “esperteza” de, tendo utilizado métodos à margem do regulamentado nunca foram apanhados. É desacreditar por completo no ciclismo. É juntar a sua voz às muitas que apontam o dedo aos praticantes desta modalidade considerando-os a todos uns “mamados”, usando uma gíria antiga.

Se noutras áreas da sociedade, até mesmo, se noutras áreas do desporto, não achamos estranho que haja pessoas que se destacam das demais . E, pelo menos uma vez por ano, quando dos prémios Nobel, mais de uma dúzia de figuras é destacada dos seus pares por terem feito o que os outros nunca antes tinham conseguido, porque é que no ciclismo não aceitamos que, de tantos em tantos anos apareça um corredor claramente superior aos demais sem que logo se levantem suspeitas que só o é (ou foi) porque recorreu a meios ilícitos?

E porque é que só se fala do ciclismo? Se bem me lembro, nas primeiras horas desta
Operação Puerto falou-se que estariam envolvidas algumas dezenas de atletas, não só ciclistas, mas de outras modalidades. Não estou errado, estou? Que é feito dos outros? Só o L’Équipe – embora rapidamente se tenha esquecido dele – apontou o dedo ao espanhol Rafael Nadal, mas estávamos em vésperas do Roland Garros. Coincidências!... E o ténis é outra modalidade na qual a rápida recuperação do esforço dispendido é fundamental.



(*) – Só em Portugal se desvirtuou a ideia original, em relação aos Grupos da III Divisão

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