sábado, julho 22, 2006

164.ª etapa



NÃO VÁ O SAPATEIRO ALÉM DO CHINELO…



Reza a
“estória” - que se calhar não passa disso mesmo - que um dia, tendo um renomado pintor exposto um dos seus quadros anonimamente, sem o assinar, e misturando-se entre as pessoas que acorreram à exposição, apanhou um visitante a apontar um defeito no mesmo quadro. «Eu, que sou sapateiro, digo que a tamanca está mal desenhada!», disse alguém. Como se fora mais um dos visitantes, o pintor, ao ouvir aquela exclamação aproximou-se e perguntou ao homem: «Está a tamanca mal desenhada?», ao que aquele respondeu: «Sou sapateiro e digo que a tamanca está mal desenhada… E já agora, aquela curva ali…». Não terminou, interrompido pelo pintor que o “arrumou” dizendo: «Eu sou o pintor. Até aceito a sua observação, mas não vá o sapateiro além da tamanca…»

………….

Está decidido o Tour. Manda a “tradição” que o público de Paris não possa assistir a uma etapa a sério e que o Tour – como várias outras corridas – baixe os taipais com uma etapa de… consagração. Traduzindo: que, ao contrário das outras 19 localidades que acolheram etapas não possa ver ciclismo.
Os corredores, por
“respeito” aos vencedores anunciados, vão chegar aos Campos Elísios em grupo compacto, vão dar umas voltinhas avenida acima, avenida abaixo e no fim ganha o McEwen.
Já aqui manifestei o meu completo desacordo em relação a esta…
“tradição”. Imaginem ir ao último dia de apresentação de uma ópera no qual os cantores-actores se limitavam a inclinar-se perante a plateia entre um sobe-e-desce do pano de palco...

Ao contrário do que poderiam estar à espera – e amanhã vamos ver
“antecipada” nos jornais a inevitabilidade da vitória de Floyd Landis porque “sempre foi o primeiro favorito” – eu não sou um novo-floydiano. Reconheço que chegou à vitória com todo o mérito, o maior que há, que foi o de o ter construído com o seu suor e à custa das suas pernas. Dizem os cronistas que depois do Tour será operado e não voltará a correr. Não sei. Sei é que se assim for, daqui a meia dúzia de anos quando se falar do Landis acontecerá o mesmo que acontece com Bjarn Riis. Ganhou o Tour no ano em que Miguel Induráin falhou o sexto triunfo, depois… acabou. Ainda se fala nele porque é o manager da CSC.

Mas, repito, a vitória de Floyd Landis é inatacável. E conquistou o seu lugar na história. Mereceu-o concerteza, até porque, diz a voz do povo,
“dos fracos não reza a história” e o povo tem sempre razão.

Mas de quem eu quero aqui falar é do Zé Azevedo.

Na busca de títulos
“gordos”, a comunicação social impingiu-nos a todos que, na ausência de Lance Armstrong, ficava aberta a liderança da equipa e que o lugar só poderia ser do .
Depois, mostrando apenas que nos anos anteriores andaram a dormir – porque não perceberam que o escalonamento da US Postal/Discovery Channel foi SEMPRE ordenado alfabeticamente, pelos apelidos (o facto de o
“patrão” Armstrong ser assim o primeiro até vinha a calhar) – fizeram a festa, puxaram os foguetes e correram a apanhar as canas porque o sairia com o dorsal 1. E, na mesma lógica futeboleira usada para vender jornais, “pegaram” ao uma responsabilidade que ele não tinha nem queria ter.
Mas a bola de neve – como é natural – não parou de crescer. Espectadores de berma da estrada abespinharam-se por a imprensa internacional não pôr o na lista – muito aberta – de favoritos à vitória final. A paixão – no ciclismo, como no futebol, como na própria vida – é irracional.

Mesmo quem tentou ser menos espalhafatoso, a dado momento, e para não aparecer completamente desalinhado daquilo que aparentava ser uma
“onda” humana, acabou por, nas entrelinhas, deixar escapar um meio tímido “abanar de bandeira”, em nome do .

Falei com ele na véspera de partir para França e rimos os dois de tudo isto. Mas ele não deixou de me dizer:
“Não quero de maneira nenhuma desapontar seja quem for, mas já vi coisas que me deviam fazer rir, mas me deixam preocupado…»

Pois tinha motivos para isso.

Confesso que quando escrevi as primeiras linhas desta crónica foi com uma intenção, mas vou optar por não ir por aí. Não é em meia dúzia de linhas que se ensina a alguém que de ciclismo só sabe que
“passam depressa vistos da berma da estrada”, o quanto sempre estiveram errados. Nem como explicar-lhes o porquê dos 5.º e 6.º lugares que o já conquistou na corrida francesa, são dele e ninguém lhos tira. Mas a quem não perceber nada deste parágrafo… não valia mesmo a pena tentar explicar.

Conheço o há 12 anos. Estive na sua primeira vitória em corridas, como profissional, estive com ele em três Voltas a Espanha e em todas as voltas a Portugal que ele correu. Estive com ele em três Mundiais. Liga-nos uma relação assente, antes de tudo, num mútuo respeito e não quero fazer transparecer mais do que a realidade. Não somos amigos de nos telefonarmos todas as semanas mas, quando eu quero falar com ele, ele atende-me e também já aconteceu o contrário. Claro que atendi. Mas ele não atende todos. Lá saberá porquê.

A realidade é que o fez o Tour que pode fazer e, conhecendo-o como conheço, ninguém poderá apontar-lhe nada.
N. A. D. A.
Ele não prometeu nada, ninguém tem o direito de lhe cobrar coisa nenhuma.

Mas, como quem maltrata alguém que eu estimo me maltrata a mim também, há coisas que não quero calar. E como este espaço é meu, é pessoal, não o vou fazer. E como estou a falar em termos pessoais, não vou deixar de apontar, claramente, do que e onde foi que li e não gostei.

Não gostei de ver alguém que, de ciclismo há-de saber tanto como eu de couves de Bruxelas, tenha
“presenteado” o com uma “medalha” de lata, no RECORD. No mesmíssimo dia, tenha sido quem fosse, não reconheço ao indivíduo (que será um excelente jornalista, não ponho isso em causa) autoridade alguma para, no CORREIO DA MANHÃ ter colocado o no “bota-abaixo”.
Depois do primeiro
“abuso”, hoje na revista DEZ, do Record, alguém teve a coragem de o colocar na secção “expulsão”!!!!!
Numa semana em que o caso Mateus (sim, esse, no futebol) voltou à estaca zero, em que um douto juiz presidente da Comissão de Disciplina da Liga se demite para que o caso não avance… e entre milhentas outras coisas… na análise à semana desportiva quem merece
“expulsão” é o ! Caramba. É ridículo. Repito para quem não entendeu bem: é R. I. D. I. C. U .L. O., que o mais abjecto da semana tenha sido o JOSÉ AZEVEDO.

Porquê?

Sim, porquê? Porque não confirmou os títulos que parvamente (PARVAMENTE) fizeram? Ora!... Vão catar-se!...

Não vá o sapateiro além do chinelo!...

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