quarta-feira, maio 31, 2006

101.ª etapa



TRABALHO DE "CASA" BEM FEITO




No artigo anterior deixei expressos os meus parabéns ao Sérgio Ribeiro. Fi-lo só a ele que merece ser destacado, mas tenho, agora, que os estender a toda a equipa da Barbot-Halcon. Esteve enorme na etapa de Domingo. Era de fácil leitura a etapa até à chegada a Beja, e havia mais duas equipas interessadíssimas em controlar a corrida, o que, de alguma forma, simplificava a vida à equipa de Gaia e, premeditadamente ou não, Carlos Pereira fez bem em assumir as respostas aos primeiros ataques. Primeiro, mostrava aos adversários que estava plenamente confiante nas capacidades dos seus homens, depois, “obrigou” os outros, por mais que não fosse, por descarga de consciência, a trabalharem mais na parte final. Claro que, quando se rola a 50 km/hora, como aconteceu (os últimos 20 km foram cumpridos em pouco mais que 25 minutos), TODOS rolam à mesma velocidade, mas quem puxava eram a Barloworld e a Relax. A Barbot preparava-se para a jogada final.

E aqui soma-se um aspecto que não será do conhecimento de todos.

No Sábado à tarde, depois da chegada ao Redondo, Carlos Pereira meteu-se no carro, com Sérgio Ribeiro, e deslocaram-se a Beja para estudarem a chegada. Já o sabia, mas o próprio Sérgio acabou por o confirmar no final da corrida.
"Mediu" a distância da última curva à meta, “apalpou” o pendente da avenida até ao risco final, tomou referências. “Descobriu” o melhor sítio para lançar o ataque final e surpreender os seus adversários. Estava ganha a primeira parte da tarefa. Depois... depois foi o que os preveligiados tiveram oportunidade de ver. E Daniel Moreno, o segundo classificado, confessou-o após a etapa: não pode responder ao camisola amarela porque desconhecia a chegada. Mas é assim que se faz.

Parabéns, portanto, também para o Carlos Pereira. Não ganhou a corrida por mera sorte ou porque a dominou sem lugar a equívocos. Ganhou-a porque QUIS ganhá-la. E porque contou, para além do Sérgio Ribeiro, com uma equipa que soube sofrer. Mas sabe tão bem sofrer assim...

100.ª etapa



CONFIRMAÇÃO DE UM VALOR SEGURO




Tal como se esperava, depois de dois dias a ver os espanhóis correr (e ganhar etapas), na 6.ª feira passada, quando da jornada julgada como decisiva, os corredores das equipas portuguesas lá apareceram.

Claro que eu sei o porquê desta... contenção. Os plantéis são curtos e, salvo escassíssimas excepções, as equipas do SEU TODO só vão poder
“escolher” UM corredor para ficar de fora da Volta, grande objectivo da temporada. Já há quem tenha amealhado algum pecúlio e, nesta altura da temporada se dê ao luxo de fazer descansar – não será exactamente “descansar”... – as suas principais figuras, mas para que isso aconteça... falta “pano” para o fato completo. E mesmo entre os atletas, cada gota de suor – no Alentejo na semana que passou nem era preciso fazer 200 km de bicicleta para se “limparem” os poros – está já a ser conscientemente reservada lá mais para Agosto. É legítimo? É! É bonito ou bom para o espectáculo – e para o nome da equipa que têm de honrar? Não.

Foi o que escrevi no último artigo dedicado à Alentejana.

Mas na 6.ª feira lá houve quem tenha dado o corpo ao manifesto, com três ou quatro exemplos que não quero deixar passar em branco.

José Rodrigues (Carvalhelhos-Boavista) fez uma etapa de campeão. O franzino escalador axadrezado – um dos nossos melhores trepadores (e ele é isso, mesmo que um qualquer destes dias ganhe uma etapa ao
sprint) – quase fez o pleno nas cinco contagens para o prémio da montanha e, não fora a queda sofrida já na derradeira descida, a pouco menos de uma dezena de quilómetros para a meta, quem pode agora, em consciência, afirmar que não ganharia a etapa? Até mesmo ao sprint? De uma coisa estou certo. Por tudo o que fez... merecia-o.

Hélder Oliveira (Madeinox-Bric-Canelas) foi outro dos grandes heróis da etapa, tal como Ricardo Mestre (DUJA-Tavira), este com apenas 22 anos de idade a revelar-se, também ele, um jovem com apetência para os terrenos montanhosos. Vamos ver como as suas carreiras vão evoluir nos próximos anos, mas que está a despontar uma nova geração, muito homogénea, disso cada vez há menos dúvidas, o que terá de ser creditado ao bom trabalho que, de há uns anos a esta parte vem a desenvolver-se na categoria de sub-23. E claro que, para os que ainda estão neste escalão, ver os colegas do ano passado (não levem isto literalmente... do ano passado ou de há dois anos, não interessa) aparecerem como protagonistas entre os maiores só pode servir de incentivo. Como não se vislumbra que, de repente, vindo do nada apareçam grandes patrocinadores a injectar grandes somas que possam redundar em grandes orçamentos... tudo leva a crer que nos anos mais próximos muitos deles, os melhores, serão alvo das preferências das equipas do primeiro escalão nacional. Até porque o filão espanhol está a chegar ao fim. Por diversos motivos, mas o principal porque já vão conseguindo lugar em equipas no seu país onde não têm que assinar contratos de 1000 euros mas, ao mesmo tempo, concordarem em receber apenas 600!

Mas estou a desviar-me do assunto principal.

De todos aqueles em que podíamos apostar para brilhar nessa etapa, o que mais proveito tirou foi mesmo Sérgio Ribeiro. Mas trabalhou para isso. Como tem vindo a trabalhar toda esta época, aliás, a exemplo do que já fizera em 2005.

Está um SENHOR CORREDOR, este Sérgio Ribeiro e já é mais do que uma promessa. Sem retirar um grama de valor a outros que num passado recente até ganharam voltas a Portugal, muito menos a quem foi medalha de bronze nuns mundiais e de prata nos Jogos Olímpicos, sem querer fazer comparações que seriam despropositadas... tomando como bitola apenas os resultados somados e, sobretudo, a quantidade de resultados
“sonantes”, atrevo-me a dizer que Sérgio Ribeiro é o melhor corredor português da actualidade.

Adivinho a polémica desta declaração. Não, não precisam dizer-me que lhe falta experimentar-se e mostrar-se no grande pelotão internacional, que lhe faltam (ainda) pernas para ultrapassar as verdadeiras montanhas que, numa hipotética (não será tanto como isso) possibilidade de ter de subir os Pirinéus, os Alpes ou os Dolomitas teria de enfrentar, mas vê-se que lhe está na massa do sangue a garra e a força de vontade, principalmente esta,
"matéria" da qual se fazem os campeões.

Procurou a felicidade na etapa de sábado, mas lá está... perdeu a etapa para um desconhecido espanhol que conseguiu no redondo o primeiro triunfo da sua carreira. Ah, se o Sérgio fosse MESMO um
sprinter nato... Mas não desistiu e no último dia encontrou, com toda a justiça, a tal felicidade que procurava.

Ganhou em Beja... ao
sprint, dirão os que não querem ver o que está à vista. Ganhou sim senhor. Nas pernas levava a força de um campeão e na alma o enorme desejo de ganhar. Que ganhar todos querem mas para lá chegar é preciso fibra. E a chegada não era propriamente aquele plano onde os velocistas puros deixam pregados os candidatos a rivais.

Costuma dizer-se que a camisola amarela (que ele já arrebatara na véspera) ou pesa como chumbo ou dá asas. O que manda é a cabeça e quando a cabeça e o coração querem, as pernas ficam leves como o vento que empurra as folhas caídas. Até nisso o Sérgio Ribeiro mostra ser superior. Tem cabeça.

Parabéns, pois, a este jovem corredor que pôs milhares de corações a bater ao ritmo que o seu próprio batia naquelas dezenas de metros finais, em Beja. Sob o escaldante calor alentejano.
Temos homem. Digo eu.

terça-feira, maio 30, 2006

99.ª etapa



FAZER DE CONTA QUE NÃO SE PASSOU NADA




Em relação a “escaldões” [ver dois artigos atrás] confesso que, para já, me sinto um pouco defraudado com a evolução da Operação “Puerto”, em Espanha. Nos países mais liberais, a compra de estupefacientes para consumo próprio não é crime. À luz do Direito espanhol – como no da maioria dos países – o “doping” não é droga, os Códigos Civis não prevêem penas para o seu uso e somente os regulamentos das federações, confederações e comités olímpicos, adoptando as regras da Associação Mundial Antidopagem (AMA) podem, desportivamente, punir os batoteiros. Se bem que haja casos que depois são passíveis de cair sob a alçada da Lei geral.

Sem o estardalhaço das prisões sob os holofotes da Comunicação Social – como aconteceu com o nosso nado-morto
“Apito Dourado” – a Guardia Civil apanhou em flagrante, apesar de para isso se ter valido de escutas telefónicas e gravações de vídeo, meia dúzia de figuras (das gradas, quase todas) do ciclismo espanhol. O processo está sob segredo de justiça, daí nos últimos dias não ter havido quaisquer desenvolvimentos, o que não significa que não se continue a trabalhar na busca da verdade total e de forma a castigarem-se os prevaricadores, mas a sensação é a de que... o pior já passou. A “Interviu”, uma revista espanhola, misto de “Nova Gente” e “Tal&Qual” adiantou alguns nomes de ciclistas envolvidos. Ciclistas que, no seio da rede, são identificados por “pseudónimos”. Fala num “Búfalo” que, segundo a mesma revista, será Quique Gutierrez (um dos corredores que mais surpreendeu no Giro, agora findo) e que “o Búfalo precisa de alimento”, o que proporciona variadíssimas leituras.

Não ajuda em nada, salvo no recrudescer das suspeitas. E, na verdade, enquanto não se souberem os nomes dos REALMENTE implicados... TODOS são envolvidos nas mesmas águas turvas. Quem sai a perder é o ciclismo.

Entretanto, a mais controversa figura do ciclismo espanhol – e não só – dos últimos anos, Manolo Sáiz, é apanhado em flagrante, foi tornado público que entrou num café de mãos vazias e que, depois de a ele se ter juntado o médico (?) Eufiminiano Fuentes, que levava uma pasta consigo, saiu com a mesma pasta onde foram encontrados produtos dopantes, para além de uma anormalíssima verba, em euros e francos suíços, montante que nenhum cidadão vulgar leva no bolso para ir tomar um café... Sáiz foi obrigado a dormir uma noite nas instalações do departamento de investigações da Guardia Civil mas saiu menos de 24 horas depois. Não pode ser detido porque... tratar-se-ia
“apenas um comprador” e não um elemento da rede ligada ao doping e/ou equiparado.

Numa decisão que era de esperar, o patrocinador principal da equipa de Sáiz retirou-lhe o apoio. O segundo patrocinador chegou a anunciar que faria o mesmo mas Sáiz, qual
“sempre-em-pé” já hoje anunciou que garantiu novos apoios para levar a equipa, pelo menos até ao final da temporada.

Tentar salvar a equipa, e os corredores e demais
“staff” parece-me totalmente aceitável, até do ponto de vista humano, mas permitir que seja Sáiz a manter-se à frente dos seus destinos é a prova provada que a “rede” se calhar se estende e espraia bem para além dos Eufiminianos Fuentes e Manolos Sáiz do ciclismo.

Alguém ouviu ou leu alguma reacção das cúpulas da UCI em relação a este caso?



(Um grande amigo meu, em conversa que mantivemos em tom informal, garantiu-me que a equipa estava acabada porque sem patrocinador e com a Liberty Seguros a impedir a utilização do seu nome e das suas cores, pelos regulamentos, e porque, de facto, estes dizem que os equipamentos têm de ser aprovados pela UCI antes da aceitação da inscrição das equipas, não seria possível voltarem a correr. Entretanto, veio a lume o caso Team Coast e, a verdade é que, a meio da temporada não só mudou de nome como de equipamentos, logo... E já li hoje que a equipa vai correr com equipamentos novos, com as cores do segundo patrocinador – que será, por agora, o principal - a Bicicleta Basca e que, para o Dauphiné Libéré já apresentará outros, estes com o novo patrocinador. Uma petrolífera kazaque que entra para o ciclismo depois de contactos efectuados por Alexandre Vinokourov junto do próprio Primeiro Ministro kazaque que é também... presidente da federação de ciclismo daquele país.)

98.ª etapa



GESTOS (MUITO) BONITOS

Ainda em relação ao Giro, gostava de aqui deixar dois destaques. Dois momentos que dificilmente se esquecerão e que retratam o quão grande pode ser o desportivismo e a solidariedade e a amizade no ciclismo. Modalidade de gente que aprendeu a sofrer (e os que não aprendem jamais serão ciclistas, apenas corredores de bicicleta) mas que não esquece outros sentimentos tão ou mais importantes.

O primeiro, foi aquele gesto de Jens Voigt para com Juanma Garate. Se se recordam, instantes antes o corredor da CSC puxou a camisola à boca, no claro gesto de que estava a falar para o micro escondido sob aquela. Para dizer alguma coisa ou... para ver se percebera bem o que lhe haviam dito?

Não posso assegurar, está bom de ver, mas quero crer que a ordem veio de trás. Do DD ou do próprio Basso? E pode ter sido mesmo Voigt a ter a ideia. A verdade é que ele saiu na peugada do espanhol numa óbvia e e mais do que normal jogada táctica. Com um homem na frente a CSC não tinha nada que puxar no grupo de trás, quem quisesse apanhar o corredor da Quick Step que desse às pernas. Por outro lado, com o seu "chefe" e ainda por cima líder da corrida atrás, ninguém esperava que Voigt colaborasse na fuga. O primeiro a perceber isso foi o próprio Garate que, por diversas vezes deixou que as câmaras mostrassem a sua preocupação. Estava ali a trabalhar a trabalhar... e a etapa estava em risco.

Fosse por iniciativa própria de Jens Voigt, fosse porque a ordem lhe foi sussurrada ao ouvido atravez do famoso "pinganillo", fica o gesto. Para recordar sempre. E o Garate quase nem queria acreditar. Foi um dos momentos mais arrepiantes - no melhor sentido do termo - que já pude testemunhar numa corrida de ciclismo.

A outra respeita à singela homenagem do pelotão a David Bramati que de despedia das bicicletas, enquanto corredor, na última etapa do Giro. Não é invulgar, há até inúmeros casos semelhantes, com o pelotão a deixar um corredor passar ligeiramente à frente, por exemplo, na localidade de onde é natural ou vive. Aconteceu, por exemplo, há dois ou três anos com Oscar Sevilla que entrou em Ossa de Muriel (perto de Albacete) à frente do pelotão. Até já houve casos em que o corredor se apeia mesmo da bicicleta para beijar os pais, a mulher ou a noiva... os filhos. Bonito foi ver todo o pelotão a aplaudi-lo juntamente com as gentes que assistiam à passagem do grupo.

Aproveitando o momento volto a manifestar-me totalmente contra estas... "etapas de consagração".

Os adeptos, neste caso, de Milão, passam três semanas a ver os corredores a lutarem, a sofrer, a festejar vitórias ou a chorar derrotas e no dia em que chegam à sua cidade... não têm direito a mais do que um passeio (rolou-se largo tempo abaixo dos 30 km/hora!!!!!) de cicloturismo. Era como se, depois de todo um campeonato de prego a fundo e se tornar campeão do Mundo, Fernando Alonso se apresentasse em Oviedo, perante milhares de admiradores seus a descer a Tendilla de... skate!

Aqueles (largos) milhares de pessoas que preencheram o circuito final (como acontece nos Campos Elísios ou na Castellana) vão para ver ao um espectáculo e não para assistir a uma parada. O Giro, como a Vuelta e o Tour, assim não têm 21 etapas... têm 20 e um arremedo. Imaginem o Teatro Nacional D. Maria (ou um dos Coliseus) cheio para assistir ao "Passa por mim no Rossio" e os actores limitarem-se a passear de um lado para o outro, em fila, pelo palco porque era o último dia de apresentação do espectáculo. Eu não concordo.

97.ª etapa





AINDA QUE ATRASADO... O GIRO!



Acabou o Giro’2006 e dele se guardará a memória de um Ivan Basso imperial. Com uma corrida à medida dos grandes trepadores, ainda assim a concorrência – à partida – não era de desprezar, a começar pelo vencedor do ano passado, Paolo Savoldelli, mas havia ainda que contar com Gilberto Simoni, Damiano Cunego... Danilo Di Luca... Dito à posteriori, pode até soar a falso. Pode parecer que, “plagiando” o valoroso João Pinto (FCP),... me apresento a fazer um prognóstico no final do jogo. Mas Basso era mesmo quem acolhia o meu voto como principal favorito. Não só por ele, mas também pelo poderio da equipa dinamarquesa CSC. Johan Bruyneel escolheu uma formação que, no papel, era suficientemente forte para ajudar Savoldelli a chegar ao topo... e manter-se por lá. Fê-lo o ano passado, mas no subconsciente dos corredores da Discovery Channel “pesa” – e vai pesar ainda mais alguns anos, assim dure a equipa mais alguns anos – a ausência de Lance Armstrong que, mesmo quando não estava presente... “estava sempre presente”. E, malgrado Bruyneel e a sua equipa técnica terem atempadamente definido cada uma das formações que se apresentará nas principais corridas, havia sempre a possibilidade de qualquer elemento que conseguisse um inesperado destaque – mesmo que apenas na ajuda ao seu chefe-de-fila na altura – pudesse vir a conseguir um lugar sempre sonhado no Tour. Da formação estadounidense que esteve a coadjuvar Salvodelli, apenas Danielson se manteve quase permanentemente junto dele e tudo fez para o “rebocar” nos momentos mais difícil. Rubiera, por exemplo, até porque deverá ser o chefe-de-fila na Vuelta, só apareceu a espaços. Desgarrado, como quase todos os outros.

Damiano Cunego esteve intermitente e Danilo Di Luca foi uma decepção. Quanto a Gilberto Simoni... fez uma boa corrida, mas o seu tempo já passou.

Já Ivan Basso superou as minhas expectativas. Era o “meu favorito” mas, sinceramente, não esperava ver-lhe demonstrações de uma superioridade esmagadora. Mas aconteceram. Nunca vi correr Eddy Merckx. Valem-me os relatos escritos da época, que li com uma admiração extrema. Do meu tempo já são Miguel Induráin e Lance Armstrong e nunca escondi que sempre gostei mais do navarro. Talvez por o ter conhecido. Por ter falado com ele. Admirava a sua força mas, sobretudo – não sei como
“funcionava” Merckx neste aspecto – a sua invulgar capacidade para esconder de todos o que sentia a cada momento. Não esperasse nunca qualquer adversário ler-lhe na expressão facial momentos de fadiga ou de indisfarçável à vontade. Estava era sempre lá. E respondia com uma facilidade de gelar a todos os ataques. E depois nos “cronos” marcava a diferença. Com Armstrong era pouco mais ou menos a mesma coisa, mas que em alguns momentos lhe vi no rosto os inequívocos sinais de que estava a sofrer tanto como os demais, isso vi.

E não vi isso em Basso, este ano. Chegou a ser irritante aquele ar de “Gioconda”... sorriso apenas esboçado, nem sim, nem não... e uma capacidade de resposta – e não só, e não só – apenas ao alcance dos predestinados. Esteve soberbo em duas ou três etapas. Nas outras limitou-se a ser ele mesmo. Foi um justo vencedor.

Não vivessemos nós um (mais um) período de terríveis suspeitas e não teria dúvidas em apontá-lo como sucessor dos dois últimos grandes campeões das bicicletas, Induráin e Armstrong. Mas começo a ter medo de desilusões à posteriori. Ou não tivesse eu relatado, até com maior dose de paixão do que de razão, a extraordinária etapa que Roberto Heras fez em Pajares e esgotado os adjectivos depois de ele ter ganho a (que seria) sua 4.ª Vuelta.
Gato escaldado...

sábado, maio 27, 2006

96.ª etapa




BOAS NOTÍCIAS... PARA VARIAR

Hoje - ontem, que já passa da meia-noite - finalmente vimos as equipas portuguesas (algumas) a mostrarem-se na Volta ao Alentejo. Grande etapa fez José Rodrigues (Carvalhelhos-Boavista), grande etapa fizeram Ricardo Mestre (DUJA-Tavira), um jovem com apenas 22 anos, e Hélder Oliveira (Madeinox-Gric-Canelas), de 23. E, embora batido sobre a meta por um espanhol, Sérgio Ribeiro (Balbort-Halcon) já está de amarelo. Estará encontrado o 24.º vencedor da Alentejana... em 24 edições? Não sei se é único no Mundo, mas não é normal. Ninguém ganhou a Volta ao Alentejo duas vezes e os quatro corredores em prova que já o fizeram parecem-me arredados do triunfo.

Outra boa notícia. Segundo o insuspeito "Meta2Mil", que dedica mais de meia página ao regresso do Benfica ao ciclismo, a intensão de João Lagos, de forma a fazer aumentar o número de adeptos nas provas de ciclismo, era a de ter, já em 2007, Benfica, Sporting e FC Porto na estrada. O Sporting terá recusado a ideia e, quanto ao FC Porto... Lagos já terá chegado atrasado. A "Meta2Mil" garante que os "dragões" já têm negociações bastante avançadas com um patrocinador privado que proporcionará o regresso do clube ao ciclismo. Eu acrescento que a marca em causa já patrocinou, há alguns anos, uma equipa sedeada em Setúbal e mais não digo porque a so não estou autorizado. Mas a concretizar-se, a equipa terá três nomes.

Ainda segundo a "Meta2Mil", terá sido ontem oficialmente apresentado o projecto que em 2007 porá na estrada mais ma equipa Profissional Continental, em Espanha, e mais uma apoiada directamente por um Governo Regional, a Karpin-Galicia. Na cerimónia prevista terá sido apresentado o equipamento da nova equipa e os seus responsáveis técnicos e logístico. Álvaro Pino (ex-Kelme e ex-Phonak) será o director desportivo, o nosso bem conhecido Jesus Blanco Villar, o segundo director-desportivo e Joan Mas o manager da equipa que pretende contratar todos os corredores profisionais galegos que estejam em fim de contrato. Em Portugal há alguns.

(Não vou reescrever tudo, mas acabo de confirmar a notícia num jornal galego. Foi mesmo apresentada a equipa)

sexta-feira, maio 26, 2006

95.ª etapa



O QUE É MENTIRA HOJE...

Tenho um defeito. Não gosto que me chamem mentiroso!

Agora, desmintam lá o vosso "desmentido"...

O novo reforço da Paredes-Rota dos Móveis-Beira Tâmega alinhará já à Partida do Porto para cumprir o Grande Prémio CTT-Correios de Portugal, a disputar entre 8 e 11 de Junho.

quinta-feira, maio 25, 2006

94.ª etapa



NÃO PERCEBO... EXPLIQUEM-ME!

O que se passa com as equipas portuguesas nas corridas internacionais?

Parece que as camisolas que estão na Volta ao Alentejo são as mesmas que estiveram no GP Rota dos Móveis e no GP do Minho, onde houve luta todos os dias, onde houve trocas de camisola amarela, onde equipas como a Carvalhelhos-Boavista "deram àgua pela barba" à formação do vencedor final, onde corredores de equipas como a Paredes-Rota dos Móveis e da Imoholding-Loulé ganharam etapas... parece que essas camisolas também estão na Volta ao Alentejo, mas serão as mesmas equipas?

Tento adivinhar o que se poderá estar a passar. São as 4 formações espanholas onde não há UM corredor que se possa dizer seja melhor do que os melhores das portuguesas, que amedrontam? A Barloworld tem Degano. Pronto. O homem até ganhou a um McEwen a 50% no GP Costa Azul... Mas, quem é aquele corredor que vestiu ontem a amarela e a conservou hoje?

Porque é que na etapa de hoje, dos nove (9) corredores que andaram em fuga o único português foi Nuno Marta que abriu a corrida durante... 2 mil metros? E pouco depois da partida. Ajudaram a puxar para anular as fugas? Obrigado. Se não andassem à velocidade do pelotão ficavam todos para trás.

E dou comigo a pensar numa coisa na qual não quero acreditar...

As equipas portuguesas, ou a maioria delas, já o sabia, olha para o calendário, aponta para a Volta e só aparece nas outras corridas porque... tem que ser. Pudessem inscrever a equipa na UCI em Julho para correr a Volta e não o fariam antes... Mas agora decalcam essa "ambição" para o interior de uma corrida?

Nesta Volta ao Alentejo sabe-se, desde que foi conhecido o seu traçado, que a etapa de amanhã poderá ser decisiva e qual é a ideia com que fico ao fim de dois dias de corrida? Que as equipas portuguesas só alinharam à partida de Vendas Novas e de Mora... porque tinha que ser. Auto-limitaram a "sua corrida" à etapa de amanhã. Tenho a certeza que todos os responsáveis terão justificações que julgam plausíveis. E tenho a certeza que as marcas que investiram nas suas equipas, sem televisão, que sempre faz uns planos "giros" das várias camisolas para não ferir susceptibilidades (mas o resumo só passa daqui a oito dias, ao princípio da tarde de sábado, quando as famílias estão a passear nos Centros Comerciais), devem estar "radiantes" por as rádios e os jornais só falarem dos espanhóis e do italiano e de nas fotos só aparecer a publicidade das equipas espanholas e italiana... mas a culpa não é dos repórteres nem dos fotojornalistas!

E volto a falar dos pontos UCI que estamos a dar de mão beijada aos estrangeiros que vêm cá.

Ah!, isso não interessa. A posição do País no ranking UCI não interessa. Levarmos só dois, ou só um corredor aos Mundiais... não interessa.

Acredito.

Cada vez estou mais convencido que a paixão... vá lá, o amor... ok, ok... o interesse dos nossos directores desportivos pelo todo do ciclismo nacional nasce e morre dentro do carro de apoio da respectiva equipa. O que interessa é que continue a haver equipas, para que possa haver... directores-desportivos.

Assim o nosso ciclismo não vai lá.

E amanhã quem garante que não é outro corredor de uma equipa espanhola a ganhar? E nos reduzidos espaços disponibilizados nos jornais... caberão as fugas loucas das duas últimas etapas?

E vamos ficar satisfeitos só com isso?

Eu não fico.

E os patrocinadores? Ficarão?

93.ª etapa



R. I. P. PROTOUR

Faltou dizer, no artigo anterior, que, para já, estão abertas duas vagas para o Tour... serão só duas?

Que a UCI fica com o ProTour nos braços. Saberá o que lhe fazer?

Que as todas as equipas francesas podem começar a preparar-se para o Tour e que as Profissionais Continentais espanholas, ou as que conseguirem ficar de fora do escândalo, podem sonhar com a Vuelta.

92.ª etapa



REQUIEN POR UM GURU

Esperei dois dias até me resolver a abordar o assunto.

Em Espanha, ontem, numa acção montada desde há 4 meses pela Guardia Civil, foram presas cinco pessoas ligadas ao ciclismo e, qualquer delas sem qualquer hipótese de defesa. Manolo Sáiz entrou sem nada nas mãos num café, o tétrico Eufiminiano Fuentes juntou-se-lhe um pouco depois, levando consigo uma maleta, tomaram o cafézinho da praxe, apertaram as mãos e Sáiz saiu trazendo a maleta. Sem estardalhaços, sem televisões em directo, as forças policiais abordaram o “homem” forte do ciclismo espanhol, fizeram-no abrir a maleta... não havia como ocultar o delito. Ao mesmo tempo Fuentes era convidado a acompanhar os agentes da Guardia Civil e, noutros pontos da cidade de Madrid e em Saragoça, mais três detenções, entre elas a doe José Ignácio Labarta que, quem o conhece, tem cara de quem não é capaz de fazer mal a uma mosca.

Ao contrário do nosso “apito dourado”, a polícia espanhola não avançou para o Magistério público com um monte de cassetes debaixo do braço. Gravou durante meses as conversas dos suspeitos cujos telefones pôs sob escuta (por alguma razão terá sido), gravou em vídeo mais de 200 atletas de alta competição – infelizmente, muitos, muitos ciclistas, e de renome, dizem – a entrarem e sair do consultório de um outro médico onde “só” encontrou mais de um milhar de doses de substâncias dopantes e ainda algumas centenas de saquetas de sangue. Parte congelada, parte ainda a ser preparada para isso.

Não vai haver Procuradores Públicos amigos, Juizes, Governadores Civis ou Ministros a quem estas figuras possam ligar pedindo para que o processo seja anulado porque as mensagens telefónicas, codificadas, podem não ter o sentido que a polícia julgou terem. (E não teriam?)

Por cá... o apito dourado vai dar em nada. Como era de prever num País de “comadres”, de favor paga favor, de gente com as costas quentes.

Não acontecerá àqueles polícias espanhóis o mesmo que aos seus colegas portugueses que viram meses de investigação serem considerados lixo, e ainda saem como os maus da fita.

Mas tudo começa bem antes, no organigrama do Estado. Enquanto aqui as coisas avançaram porque um Procurador do Ministério Público teve a coragem (deve estar bem arrependido!) de meter a mão no ninho de vespas, para depois se ver perfeitamente ultrapassado pelo compadrio vigente, que não tem força de Lei mas manda mais do que Ela, em Espanha o processo “nasceu” no Conselho de Ministros, foi ratificado pelo Congresso de Deputados e, a partir daí... nada a fazer.

E Manolo Sáiz bem que foi libertado depois de ouvido, respaldado num problema de hipertensão que “aconselhava” a sua não detenção e sob a figura de “simples comprador” e não de cabecilha da rede. Terá adquirido apenas produtos para “consumo próprio”, coisa pouco, tanto que até lhe sobraram uns trocados de 60 mil euros, em dinheiro vivo. Coisa normal em qualquer vulgar cidadão, o sair a tomar café com um amigo com 60 mil euros no bolso.

Sáiz está em liberdade. Não se sabe ainda se para continuar, ou se no desenvolvimento do caso não ganhará mesmo uma estadia gratuita num dos cárceres da Polícia Civil. Livrou-se por agora a isso, mas não se livrou de ficar com o destino de três dezenas e meia de famílias nas suas mãos porque, como era de prever, a norte-americana Liberty esperou apenas 24 anos para accionar as cláusulas do contrato milionário que dava para tudo, até para o manager da equipa ir tomar café com 60 mil euros no bolso da camisa. As contas fecharam hoje. Esta tarde. Tudo o que é devido à empresa Active Bay, da qual Sáiz é accionista maioritário, que é dona da equipa será pago. A partir de amanhã nem mais um dólar e... os símbolos da Liberty fora das camisolas da equipa espanhola.Mas 60 mil euros devem chegar para encomendar algumas caixas de autocolantes a dizer Active Bay, ou “lo equipo soy yo”... para estamparem sobre a cabeça da estátua da liberdade.

domingo, maio 21, 2006

91.ª etapa



MAS COMO HAVIA DE SER?

Não é a primeira vez, nem será a última. Aliás, desde o início que venho a repetir que, neste espaço, exercerei o meu direito à opinião. E, respeitando as opiniões dos outros, não me escusarei a comentar... comentários, sejam eles postos onde forem. Por isso, não é a primeira vez, nem será a última, que vou comentar uma opinião que li no Cyclolusitano!

O senhor Henrique Gomes, que não conheço pessoalmente mas com quem cheguei a trocar opiniões quando podia escrever no Cyclolusitano, sempre dentro das melhores regras de educação e respeito, insurge-se contra o facto de, aparecendo nesta altura, o Benfica esteja a destabilizar as outras equipas ao encetar contactos e eventuais conversações com corredores que ainda têm contrato com as formações que representam.

Ora, neste ponto, o Henrique Gomes revela, se não alguma certa má vontade contra a nova equipa que se anuncia, alguma ingenuidade quanto à realidade. Acreditará o Henrique Gomes que as outras equipas - todas as outras equipas - quando, ano a ano procuram reforçar-se esperam até ao dia 1 de Setembro para sondarem os corredores que lhes podem vir a interessar?

E se fica "chocado" com o facto de uma equipa, que surge de novo, falar com corredores com contrato com outra equipa... se os contratos são válidos do dia 1 de Janeiro ao dia 31 de Dezembro de cada ano... afinal, os milhões de SMS que as operadoras de telemóveis registam nos últimos minutos de cada ano e nos primeiros do ano seguinte, não serão apenas trocas de desejos de um bom ano novo... muitos deles serão de directores-desportivos respeitadores dos contratos que não falam antes com corredores de outras equipas porque estes têm contrato até às 24 horas do dia 31 de Dezembro.

Quantos exemplos já temos lido de corredores que, correndo este ano numa equipa, já estão comprometidos com uma outra - e falo mesmo a nível internacional? Eu estive na Vuelta do ano passado, onde Paco Mancebo era o chefe-de-fila das Ilhas Baleares mas toda a gente já sabia que este ano correria na francesa AG2R.

Ainda por cima, numa equipa que nasce agora, é evidente que tem que começar - provavelmente, antes de ser anunciada já antes tinha feito sondagens no mercado e até garantido alguns compromissos - a tratar do efectivo que a irá representar. E fazê-lo atempadamente. E muito provavelmente quando Orlando Rodrigues foi convidado - e aceitou o cargo - para director-desportivo, quem o convidou já lhe apresentou meia dúzia de corredores que já terão um compromisso com o Benfica. Orlando Rodrigues gostou, pesou os outros prós e contras e aceitou o desafio. Não o faria no escuro...

Curiosamente, os regulamentos, tanto da UCI como da FPC, prevêm um período de contenção destas informações, proibindo, no seu artigo 2.17.042, que equipas ou corredores revelem, seja negociações para a prorrogação do contrato em vigor, seja de contactos ou acordos para uma futura transferência. Isto está regulamentado. Por isso nenhum corredor ou responsável por uma equipa revelará, antes daquela data, que já assinou ou está comprometido com outra equipa, que no caso de se anunciar que vai continuar (sendo na mesma interdito) há vários exemplos no passado.

Portanto, é mais do que natural que o Benfica já tenha mesmo parte da equipa apalavrada. E os corredores que já estejam comprometidos deixarão de ser menos profissionais por isso? Não acredito. Neste momento são empregados de um patrão e ser-lhe-ão fiéis até final do contrado. Foi o Benfica além da procura de corredores em final de contrato? Em Portugal, neste momento, são raríssimos os exemplos de corredores com mais de um ano de contrato, até porque quase todas as equipas estão na corda bamba... tendo arrancado para esta temporada sem NENHUMA garantia de em 2007 estarem na estrada. Mas pode acontecer. Fazem mal os responsáveis encarnados em contactar corredores cujo contrato com a actual equipa se estenderá para além do próximo dia 31 de Dezembro? Tudo é negociável. Um contrato bem feito terá uma cláusula de rescisão e se o pretendente ao corredor estiver disposto a pagá-la...

Esperemos é que estes novos responsáveis pelo Benfica não façam o mesmo que os seus antecessoceres, embora, em termos de relacionamento profissional, e até pessoal, nada tenha a apontar, nem a José Manuel Antunes nem a António Brás, mas terem escolhido a Volta de 1998 para, durante e aproveitando a corrida, fazerem os primeiros contactos com corredores, ou tentarem convencer algum mais "difícil"... isso é que, de verdade, é susceptível de condenação. De resto, voltando ao princípio... NENHUMA equipa pode esperar pelo dia 31 de Dezembro, quando acabam os contratos, para estabelecerem contactos com corredores que lhe interessem, até porque 15 dias antes encerram as inscrições. Não é?

Um abraço para o Henrique Gomes.

sábado, maio 20, 2006

90.ª etapa



POIS É!... O "LIVRINHO" É QUE MANDA

Quem conhecer, mesmo "ao de leve" os Regulamentos da UCI (e os nacionais, da responsabilidade da FPC), dar-me-á, concerteza o benefício da boa fé com que escrevi o artigo anterior. Já o afirmei, não consigo, ninguém conseguirá, saber de cor as mais de 250 páginas dos regulamentos... mas sei o suficiente para sustentar as minhas opiniões e, na verdade, Equipas Profissionais Continentais NÃO podem correr provas .12!

E no artigo anterior falei do problema, real, da LA-Liberty que não podia correr mais de metade das corridas nacionais, nem podia, como a Maia fez enquanto Equipa da I Divisão, correr em Espanha porque estava "tapada" pela Liberty-"mãe".

A UCI deixou à FPC a resolução do problema e esta viu no facto de serem permitidas equipas mistas nas provas nacionais a saída, mas sobrava ainda um problema. Na essência, quando se falava de equipas mistas era de equipas de clube. Duas formações de clube, juntando os seus melhores corredores poderiam experimentar medir forças com as maiores.

Mas a LA-Liberty não era, não é, uma equipa de clube. Lembro-me - estava lá - que na reunião preliminar entre Colégio de Comissários e Directores-desportivos, quando do I Troféu Sérgio Paulinho, as demais equipas entraram com a intensão de negar-se a aceitar a participação da formação da Charneca, mas sairam mais ou menos convencidas. E, tal como já vinha a fazer e continuou até final da temporada, a LA-Liberty corria como "equipa-mista", bastando-lhe para isso integrar um jovem de uma equipa de clubes que não participasse na mesma prova. Por isso emparceirou com o Pombal, com St.ª Maria da Feira... até com o Águias de Alpiarça.

Entretanto, a FPC "resolvia" a questão e nos regulamentos em vigor este ano pode-se ler em

Título 2 - PROVAS DE CICLISMO DE ESTRADA;

Capitulo 1 - CALENDÁRIO E PARTICIPAÇÃO;

ponto 2.1.007 - CALENDÁRIOS NACIONAIS

que diz, em relação às EQUIPAS MISTAS: A formação de Equipas Mistas é livre.

Como nenhum corredor de uma equipa que participe numa dada prova pode correr por outra equipa, as equipas Continentais estão de fora desta questão, sobrando as de clubes. O Benfica poderá, portanto, formar uma equipa-mista com sete ou oito dos seus profissionais, mais um jovem de uma equipa de clube.

E aquele LIVRE deve ter sido perfeitamente interpretado pelos responsáveis pelo novo Benfica. É que, contando com uma equipa de sub-23 (equipa de clube), os encarnados nem vão precisar de recorrer a acordos com outros emblemas. Nas provas nacionais .12, levarão 8 ou 9 corredores do BENFICA, sendo que um deles será atleta do SL Benfica amador. E isto até pode servir de incentivo aos jovens que venham a formar esta equipa sub-23. O, ou os que mais se destacarem poderão, uma vez por outra, fazer equipa com os nomes mais sonantes do Benfica Profissional.

A não ser que a FPC se dê ao trabalho de "ajeitar" de novo os regulamentos para impedir que o Benfica misto seja sempre e só... BENFICA.

PS: Muito obrigado ao AntónioLi86 que, ao levantar-me esta questão me obrigou a ir folhear o regulamento e, assim, sem que desdiga o que escrevi na Etapa 89, acrescentar algo que, espero, esclareça a situação. Muito obrigado.

sexta-feira, maio 19, 2006

89.ª etapa



ALGUÉM SE LEMBROU DESTE... "PORMENOR"?

Ainda esperei 48 horas para ver se tinha sido apenas esquecimento dos media ou se os cérebros deste novo Benfica não terão passado por cima de um “pequeno” pormenor.

O anunciado foram duas equipas, uma de formação, para competir no pelotão de sub-23; outra para ser inscrita na UCI como Profissional Continental com o intuito de alargar a sua participação a corridas além fronteiras, nomeadamente em França e na Europa Central, onde existem grandes Comunidades Lusófonas e, naturalmente, muitos simpatizantes do emblema da águia...

Mas há, como disse, um
“pequeno” pormenor e não sei se já alguém se deu ao trabalho de o verificar...

Como equipa Profissional Continental, o Benfica só vai poder correr... MEIA DÚZIA de provas em Portugal. As do Calendário do Circuito Europeu, estando-lhe interdita a participação nas corridas .12, podendo, talvez e por deferência especial da Comissão de Estrada da UCI, e porque se está no início da temporada, correr a Prova de Abertura.

Já sei que estão preparados para replicar que a LA Alumínios-Liberty, em 2005 e sendo equipa Profissional Continental fez todas as corridas que quis fazer, no nosso país. Pois foi. Mas fê-lo por deferência da Comissão de Estrada da UCI, depois de uma exposição apresentada através da FPC uma vez que, cumprindo-se o regulamentado, nem podia correr em Portugal – à excepção das seis corridas Internacionais – nem aqui ao lado em Espanha uma vez que ostentava (e ostenta) o mesmo patrocinador que uma equipa espanhola, a Liberty. E foi atendendo a este argumento que a Comissão de Estrada da UCI acabou por delegar na FPC a responsabilidade de decidir se permitia, ou não, a participação da equipa da Charneca nas corridas nacionais. O que, como toda a gente sabe, foi resolvido a contento da equipa.

Ora... ou o Benfica arranja um patrocinador que o “impeça” de correr em Espanha, e a Comissão de Estrada da UCI não poderá ter para com os encarnados uma atitude diferente (mesmo sem a ajuda de Manolo Sáiz) daquela que teve para com a LA Alumínios-Liberty... ou então vai ser muito difícil (para não dizer impossível) encontrar argumentos que convençam os senhores da UCI a permitirem ao novo Benfica mostras-se internamente sem ser nas seis corridas Internacionais do nosso calendário.

88.ª etapa



CLUBES...

Com o regresso do Benfica na ordem do dia - atenção à "navegação" que um FC Porto, ainda que "geminado", também está aí a "rebentar" - reacendeu-se a questão dos clubes de futebol no ciclismo mas, para não vir a ser acusado de "falta de memória" não vou deixar passar em claro a longa - de mais de 20 anos - ligação do Boavista Futebol Clube às duas rodas, destacando-se os triunfos na Volta a Portugal em 1992, com o brasileiro Cássio Freitas, e no ano seguinte, com Joaquim Gomes, isto para além de inúmeras outras vitórias e resultados de destaque, no País e no estrangeiro. Boavista que continua de pedra e cal no pelotão ao qual, este ano regressou o Vitória de Guimarães, ligado à empresa ASC. Mas há mais casos.

O Salgueiros já teve ciclismo - e hoje nem futebol tem -; o Olhanense também (vou concerteza esquecer-me de alguns... e quero apenas referir-me a clubes nos quais o futebol é a modalidade mais importante), o Torrense abriu o caminho à Sicasal... até aqui o meu FC Alverca há 35 anos tinha uma equipa onde pontuava, já em fim de carreira, Américo Silva, não este que treina a LA, mas o que venceu uma Volta a Portugal pelo Benfica.

Deixei de propósito para o fim o Belenenses. Já teve ciclismo sim senhor e, em finais de 2004, embalada pela euforia de uma qualquer desconhecida "mina de ouro" que permitiu prometer vencimentos bem acima da média aos seus futebolistas, a direcção azul, pese embora todos os prazos já tivessem sido ultrapassados, queria mesmo avançar com o regresso da Cruz de Cristo ao pelotão, tendo efectuado deligências junto da FPC para que esta ajudasse a ultrapassar eventuais entraves burocráticos. Valeu o bom senso do presidente da FPC que aconselhou os responsáveis azuis a amadurecerem a ideia. Ao longo do ano de 2005 foi o que se viu... no futebol. Ordenados em atraso, trocas de treinador e... já este ano, no final da temporada, a despromoção ao segundo escalão. O que teria acontecido à pobre equipa de ciclismo se se tivessem lembrado a tempo de a pôr na estrada?

87.ª etapa



A "BOLA DE NEVE" POR QUE ESPERÁVAMOS

O Benfica está de regresso à estrada, por muito que as habituais “aves de mau agouro” tentem minimizar o facto. Já o escrevi, é, pelo menos, de mau gosto pensar que um empreendedor como João Lagos concedesse ligar o seu nome a um projecto que não viesse a sair do casulo.
E volta a falar-se da importância, ou não, de termos os três grandes emblemas desportivos nacionais no pelotão. Eu sou a favor. Fui-o sempre. No meio, desde o topo da pirâmide até a largas franjas da sua base, o sentimento é o mesmo. A motivação, também já a referi. Com Benfica, Sporting e FC Porto no ciclismo todos iriam ganhar. Mas mesmo todos.

Dou um exemplo. Já o Futsal tinha “desenhado” o seu futuro, enquanto modalidade com pontencial, já a AMSAC (St.º António dos Cavaleiros), o Freixieiro, o Sp. Vila Verde, o Forte da Casa, entre outros, compunham um campeonato equilibrado e competitivo e os jornais... nada! Aparecem Sporting e Benfica (agora já há mais clubes do futebol de 11 metidos) e o Futsal ganhou rapidamente espaço em, pelo menos dois dos jornais desportivos.

A Imprensa vive dos jornais que vende. Já não é só da receita simples da venda exemplar a exemplar, mas os números de venda conta na escolha das agências de publicidade para a inserção dos anúncios dos seus clientes. Por isso algumas “guerras” tipo “eu vendo mais do que tu...”
E quem compra os jornais desportivos? Os adeptos dos clubes desportivos. Mais os dos grandes, porque são mais, um pouco menos os dos outros – mas quase toda a gente é do Braga e do Benfica; é do Penafiel e do FC Porto; é do Farense e do Sporting...

Benfica, Sporting e FC Porto são incontornáveis.

No que respeita às modalidades, quem compra jornais? Adeptos? Sim, claro, conheço muitos – um grande abraço ao meu grande, grande amigo Francisco Araújo, sim, esse, o sempre-mecânico de Joaquim Agostinho – que até os compra a peso. Os antigos, entenda-se, desde que tragam uma “breve” sobre Ciclismo.

Sou leitor de tudo o que traga letras, incluindo o Cyclolusitano onde já tive o prazer de colaborar com as minhas opiniões. O “sítio” é avesso a opiniões, ainda por cima de quem percebe alguma coisa do que diz e hoje estou proscrito. Mas, desde o tempo em que, entre uma ofensa pessoal e uma ameaça à minha integridade física, eu podia escrever no Cyclolusitano, que deu para constatar que 97% dos “aficionados” do ciclismo não lêem jornais. Quem compra jornais por causa das modalidades são os directores das equipas, os técnicos, os árbitros e os atletas e familiares.

Não é por acaso que os jornais em 48 páginas dão 4 ou 5 às modalidades.

Voltemos à “pista” que deixei lá atrás, concretamente em relação ao Futsal. Com Benfica, Sporting e FC Porto no pelotão, não digo que se fosse ao exagero de enviar jornalistas a cobrir os treinos, mas as corridas seriam de cobertura obrigatória.

Nenhum dos jornais correria o risco de, sendo as notícias de futebol “caras chapadas” de um para outro, uma franja de adeptos dos três grandes optasse por um porque, para além do futebol, também falava de ciclismo.

Entenderam os mais cépticos?

A partir deste simples exemplo, tudo rolará formando uma imparável “bola de neve”. E as outras equipas – com os respectivos patrocinadores – também sairão a ganhar.
Há a possibilidade de ter um magote de adeptos do Benfica a vaiar um corredor do FC Porto no pódio? Até pode acontecer, mas não quero acreditar. Porque quem vai ao ciclismo vai porque gosta de ciclismo. A presença das três grandes equipas apenas vai fazer aumentar exponencialmente o número de pessoas que vão... ao Ciclismo.

quinta-feira, maio 18, 2006

Fora das Barreiras.3



VIRA O DISCO E TOCA O MESMO...

Na sua tenaz cruzada - admiro-lhe a persistência -, com o seu quê de queixotesca já que vê "moínhos" por todo o lado e não pára de contra eles investir, o engenheiro António Costa, um dos administradores do Cyclolusitano (não percebo porque, referindo-se a este Blog teimam em escrever "noutro sítio"... eu não me importo de publicitar aqui o vosso site!), que muito me agrada ter entre os meus visitantes, "embirrou" agora com a forma como um grande profissional da fotografia, em áreas tão diversas - e sempre com uma qualidade bastante acima da média - como o ciclismo, o desporto automóvel, o ténis e a Festa Brava, escolheu para retratar a chegada a Marvão na última Volta a Portugal do Futuro.

1.º ponto - A foto que exibiu não é da Volta ao Alentejo nem pode ter sido tirada a 30 de Maio de 2005; a etapa da Alentejana que terminou em Marvão saiu de Nisa; na foto vê-se perfeitamente o placard com "Estremoz-Marvão"; edp, ctt e Prevenção Rodóviária são "sponsors" da PAD e não da AMDE; as motos amarelas com o logo de A BOLA estiveram ao serviço da PAD; na Volta ao Alentejo, no dia 30 de Maio de 2005 quem ganhou em Marvão foi Sérgio Ribeiro da Barbot-Pascoal; o corredor que chega na frente, na dita foto, é Afonso Azevedo da Milaneza-Maia; foi no dia 2 de Agosto de 2005;

2.º ponto - o fotojornalista em causa, profissional consciente, não se poria naquela posição se não tivesse a noção de que vinha ali um corredor isolado (chegou com 7 segundos sobre o segundo, Gilberto Sampaio, da Casactiva); o corredor vem na faixa da direita (da sua, dele, corredor, direita), o fotojornalista está atrás da linha que delimita o espaço para se tirarem fotos, à sua esquerda; é uma chegada em alto, a velocidade não ultrapassaria os 25 km/hora e as motos vêm atrás (como deve ser) do corredor; o fotojornalista está perfeitamente visível e não estorva, em nada, nem a acção do corredor nem o trabalho dos condutores das motos;

3.º ponto - o fotojornalista em causa é co-autor do Anuário "Ciclismo 2005", se por acaso já o viu terá percebido que incute um cunho muito pessoal e original no seu trabalho (de qualidade irrepreensível) pelo que, em cada situação procura fazer um "boneco" diferente. Não terá sido, quase de certeza, porque eu não estava no local, para não prejudicar a reportagem televisiva já que, normalmente, as chegadas são filmadas, essas sim, a partir de uma plataforma elevada (quase sempre uma grua);

Como no mesmo post volta a referir-se a uma chegada a Marvão, desta feita, na Volta a Portugal do Futuro, fica claro que apenas se equivocou na prova e daí não vem mal ao Mundo, agora a "triste figura... do profissional (o sublinhado é seu) deitado no chão (está sentado)", terá de admitir que é um bocado forte de mais. E a sua confusão vai mais longe ao dizer "nessa chegada só não me meti atrás das grades, ou em cima delas, porque os ciclistas não me deram tempo..."

Repare na ordem de chegada: Afonso Azevedo; Gilberto Sampaio, a 7s; Vitor Rodrigues, a 9s; André Cardoso e Bruno Oliveira, a 11s, Joaquim Gregório, a 13s; Bruno Pinto e Bruno Barbosa, a 15s, Hélder Magalhães, a 16s e José Mendes, a 18s.

Numa chegada em alto, custa-me imaginar qualquer espécie de confusão e ajuntamento na chegada até porque o único Jornal Nacional que cobriu a prova na íntegra foi A BOLA. Mesmo que a Lusa, com o meu caríssimo amigo Nuno Veiga, fotojornalista residente em Elvas, tenha estado presente, do que não estou seguro, para além do Paulo Maria (o tal da "soneca") só estaria o Alexandre Pona, de A BOLA. Se não é vontade de embirrar...

Mudando de assunto.

Escreve o engenheiro António Costa que "alguém que anda aqui [leia-se: no forúm do Cyclolusitano] mas não lhe apetece aqui escrever, porque acha que isto é uma lixeira [a expressão é sua], mas ele [que sou eu] anda cá..."

Se a "administração" do Cyclolusitano não tivesse sucessivamente recusado a minha reinscrição, concerteza que escrevia. Assim, manda a boa educação que não sendo eu convidado não me pronuncie. Manda, por outro lado, o respeito pelo trabalho de cada um que, quando se cita seja o que for, se acrescente de onde é que o texto, na sua totalidade ou parcialmente, foi retirado. Mas "nesse outro sítio" são useiros e vezeiros no past&copy... e o nome do VeloLuso foi banido, juntamente com o meu.

Todas as minhas preocupações fossem desse calibre!...

86.ª etapa



"PAPOILAS SALTITANTES" REGRESSAM AO PELOTÃO





Sei de cépticos que ainda dirão: «Só quando os vir na estrada!» mas, tal como escrevi anteriormente, seria a primeira vez que uma obra com o dedo de João Lagos não daria alguma coisa. O Benfica está de volta ao Ciclismo. Como defensor do regresso dos três grandes fico satisfeito e quero acreditar que, mais dia menos dia, o FC Porto fará o mesmo. Infelizmente vejo a coisa mais difícil para os lados da Avenida Padre Cruz. Grande, Imenso, Homem que ganhou – muito justamente – em vida, lugar na História do Desporto nacional, o professor Moniz Pereira, na dor que sente pelo declínio do “seu” atletismo não abre sequer uma brecha de esperança a qualquer outra modalidade no Sporting.

Mas este artigo é, antes de mais, para saudar o regresso de Orlando Rodrigues. Já o escrevi uma vez, no meu jornal: o Orlando foi vítima da incultura desportiva deste país, nomeadamente dos autoproclamados amantes do Ciclismo. Aos 21 anos foi segundo na Volta a Portugal (em 1991 - a primeira que eu cobri – ao serviço da modesta Ruquita-Feirense, orientada, curiosamente, pelo último técnico do Benfica, António Brás), depois de uma passagem menos visível pela Sicasal, rumou a Espanha, para a Artiach onde Paco Giner fez dele figura de proa da equipa, tendo ganho duas voltas a Portugal consecutivas, em 1994 e 1995, e quando a formação das bolachas acabou, fundindo-se com a Kelme, passou para a grande Banesto onde se tornou um dos maiores, senão o maior, à altura, co-équipier do pelotão internacional. Faltaram-lhe alguns resultados – esteve, por duas vezes à beira de ganhar etapas no Tour, lembram-se? – e, por isso, após o regresso, apagado, a Portugal, saiu pela porta pequena. Não o merecia. E todos lhe estamos ainda a dever uma homenagem que será de todo justíssima. Discreto, avesso às luzes da ribalta, pese embora sempre tenha sido um corredor – dos primeiros, aliás, no nosso pelotão -, a apresentar discursos sensatos e coerentes, saiu de cena com a mesma humildade com que derramou o seu suor em prol dos homens que tinha que escoltar, em nome da equipa. A Banesto, no caso. E, até hoje, não se lhe ouviu um lamento, o que prova a sua integridade enquanto homem.

É claro que Orlando Rodrigues compreenderá – e estará, de certeza, preparado para isso - que nos próximos tempos surjam dúvidas quanto às suas capacidades de tomar conta do leme e logo de uma nau com o “calado” de uma equipa do Benfica. Nunca cultivámos aquilo que pudéssemos dizer ser uma amizade cimentada, ao contrário do que aconteceu, no que me diz respeito, com outros corredores da sua geração, mas respeito-o muito e acredito que, sabendo o que sei acerca da sua postura enquanto homem, se aceitou este desafio é porque está ciente de que é capaz de corresponder às responsabilidades que se avizinham.

Daquilo que, presencialmente testemunhei da sua carreira, lembro as vitórias no “crono” da Lourinhã e depois da chegada a Lisboa, na última etapa da Volta de 1991, que terminou a escassos 23 segundos de Jorge Silva; lembro-me da quase “sobrenatural” chegada à Torre, em 1995, num dia de Inverno rigoroso, em pleno Agosto, sem pano de meta, por causa do forte vento, sem risco na estrada, por causa da chuva (era uma fita presa debaixo dos pés de dois dos elementos das chegadas que fazia de meta, mas também ela voou) e com um nevoeiro que não dava mais de 10 metros de visibilidade. A luta, quase palmo a palmo, travou-a com o seu amigo Joaquim Gomes, levando Orlando a melhor nas últimas dezenas de metros.

E lembro-me, também com frio, mas tempo seco, de uma etapa com chegada ao alto da Sierra Nevada, na Vuelta de 2000. Orlando a esgotar-se na tentativa de rebocar Abraham Olano serra acima, o navarro a por o pé no chão e, pouco depois, Orlando a desistir também. Estávamos em Pradollano, a pouco menos de 7 km da meta e fomos nós, o Bruno Santos, o Fernando Emílio e eu quem avisou os colegas espanhóis que o seu candidato tinha desistido. Saltaram como uma mola, incrédulos. Pouco depois sabíamos que o “nosso” Orlando também ficara na subida, mas levara até ao fim o trabalho em prol do seu chefe-de-fila.

É este homem que vai dirigir a futura equipa do Benfica. Dele só podemos esperar um trabalho honesto.

A outra grande novidade do dia é a inclusão de Justino Curto no projecto. Amigo do peito, “irmão” de estrada, primeiro como director de corrida do Troféu Joaquim Agostinho, depois quando director da Rotator-JC Leasing, numa Volta a Portugal. Tantas noites a falar de ciclismo... Benfiquista “empedrenido”, homem empreendedor, daqueles de encharcar a camisa... vai ser interessante ver como o “frio” e calculista Orlando Rodrigues e o “explosivo” – em todos os sentidos - Justino Curto vão coabitar sendo certo que cada um é o complemento do outro. No meio – não será, concerteza, exactamente “no meio” - teremos a racionalidade empresarial de João Lagos, um sportinguista de coração – chegou a ser atleta do clube, em ténis, claro – que aposta (outra vez) no Ciclismo, colaborando com o emblema rival de sempre.

E pronto, os maldizentes de sempre meteram a viola no saco e, como é costume nestas situações, saíram de fininho pelo canto escuro da sala. Afinal, a Comunicação Social não “inventara” o regresso do Benfica ao Ciclismo.



PS: Até dentro da CS, houve quem, na 4.ª feira escrevesse que «o ex-ciclista Orlando Rodrigues surge como possível director-desportivo» e hoje rescrevia: «O ex-ciclista nega categoricamente qualquer ligação ao projecto», talvez porque na 4.ª feira se esquecera de falar com ele, ao contrário da concorrência... que irá escrever amanhã? Fico curioso.

85.ª etapa



QUE O SPORTING E O FC PORTO SE LHES JUNTEM DEPRESSA

O Benfica vai anunciar hoje a reactivação da sua Secção de Ciclismo de Estrada. A notícia vinha ontem nos jornais “Record”, em metade de uma coluna, mas com chamada na 1.ª página, e “A BOLA”, em ¾ de página, adiantando ambos os jornais que a nova equipa de Ciclismo do Benfica será autónoma e sustentada por um (talvez mais que um) sponsor, não sendo difícil de adivinhar que, pelo facto de na Conferência de Imprensa de logo à tarde e anunciada pelo próprio clube, ir ter a presença de João Lagos este possa estar ligado, de alguma forma, ao ressurgir da modalidade no clube “encarnado”.

Sou, desde sempre, apologista de que a presença de equipas do Benfica, do Sporting e do FC Porto no pelotão é a forma mais fácil e segura de revitalizar o ciclismo em Portugal. Hoje é o Benfica que volta... fico à espera de notícia semelhante em relação aos outros dois grandes emblemas. Certo é que vai haver mais gente na estrada. Vai haver mais gente a seguir as transmissões televisivas. Vai, em relação a todos os patrocinadores, estar muito mais gente, clientes/consumidores alvo, atenta ao fenómeno ciclismo. Vai haver maior garantia de retorno, isto já para não falar que, com Benfica e, espero que muito em breve, Sporting e FC Porto no pelotão, os próprios Órgãos de Comunicação Social vão passar a olhar para o ciclismo com outros olhos.

Em relação ao Benfica, já o havia comentado, estranho era que a Direcção do Clube, apostada em aumentar o número de sócios, ignorasse a potencialidade do ciclismo como meio de, por essas terras de Portugal, principalmente as que ficam longe dos dois grandes centros urbanos, venderem os famosos
“kits”. Na altura até referi algo que é, ainda hoje, constatável. Embora o camião-loja só tenha andado dois anos na estrada (em 2001 ainda apareceu em algumas corridas, mesmo sem equipa a correr) há mais equipamentos de ciclismo do Benfica envergados por cicloturistas e utilizadores de bicicletas do que, por exemplo, da Maia, pese embora aqueles três anos de prestações inolvidáveis que recuperaram para o ciclismo alguns milhares de adeptos.

Ora, com uma equipa no pelotão, com os seus apaniguados a juntarem-se nas partidas e chagadas... quantos dos tais
“kits” se podem vender num ano? Acham impossível chegar-se, pelo menos, às dezenas de milhar? Eu não.

Mas voltei a ler comentários mais ou menos jocosos em relação à notícia.

É verdade que, depois de 2000 assistimos aos
“flops” NettiSport, de Guerra Madaleno, e do projecto, que nunca o chegou a ser verdadeiramente, de Natalino Lopes. O primeiro caso segui-o de ponta a ponta e rapidamente deu para perceber que dali, dificilmente sairia algo. Basta consultarem a colecção de A BOLA. Estive na Av. dos Combatentes, num luxuoso edifício de serviços onde Guerra Madaleno me deu uma entrevista. Sempre que o assunto “caia” para o dinheiro, ele replicava que estava tudo arranjado, “bastava” vender um monte de papéis (acções, obrigações, títulos de não sei quê...) que tinha numa qualquer “off-shore”. Mas... e dinheiro? Tudo se vai arranjar, era sempre a resposta. Claro que não havia dinheiro. Ainda se fizeram umas fotos, com o Joaquim Gomes e uma bicicleta emprestada...

No caso de Natalino Lopes, sem por em causa a sinceridade das suas intenções, as bicicletas apareceram antes dos corredores. E até apareceu um director-desportivo. Bicicletas de alta gama, o que não era de estranhar dado que ele era (é ainda?) representante para Portugal das melhores marcas. E expo-las, numa conferência de imprensa, em Montes Claros (Monsanto). Ganhou espaço nos jornais, principalmente n’A BOLA, sempre com bicicletas por perto. Anunciou a realização de uma corrida a integrar no calendário nacional. Nunca chegou a haver corrida alguma e, de repente, o ciclismo do Benfica virou-se para o BTT. Quantos benfiquistas terão comprado bicicletas para si, ou para os filhos, levados na onda de poderem ter máquinas iguais às dos futuros atletas da “sua” equipa?

Percebo o “torcer” do nariz por parte de muita gente. Não há duas sem três, poderão pensar. Mas ficam três factos, que pauto de muito importantes e que mereceriam um mínimo de respeito por parte de todos.

1.º, parece que o sentimento dominante é o da negação de credibilidade em relação a dois jornais que são dos que mais vendem em Portugal e em relação aos jornalistas que puseram os seus nomes nas notícias. Será por serem profissionais?

2.º, desta vez não foram elementos externos ao clube que anunciaram o regresso, foi a própria Direcção do Benfica. Luís Filipe Vieira nunca antes – exceptuando as promessas eleitorais - manifestou publicamente qualquer intenção de reactivar a secção, mas prometeu que o Ciclismo voltaria. Ei-lo.

3.º, negar credibilidade a uma acção à qual está ligado o nome de João Lagos parece-me extremamente insensato. E injusto. Não há indício sequer que o empresário tenha alguma vez envolvido o seu nome sem que tenha sido para levar a cabo algo... em grande. Pôs Portugal no mapa do ténis mundial; salvou a Volta a Portugal; salvou o Estoril-Praia e voltou a pôr Portugal no mapa quando trouxe para cá o mítico Dakar. Só pensar que vai dar a cara por um projecto falacioso é ofensivo.

quarta-feira, maio 17, 2006

84.ª etapa



MAS PROTESTAM CONTRA O QUÊ?

Continuam a subsistir grandes dúvidas quanto ao acordo assinado entre a União Ciclista Internacional (UCI) e a Associação Internacional de Jornalistas de Ciclismo (AIJC) – cuja existência há até quem ponha em causa (ver www.aijc.info) – e que visa tão somente entregar a jornalistas especializados em Ciclismo a cobertura das principais provas do Calendário Internacional, as do ProTour e as HC dos Calendários Continentais. O objectivo não é, nunca foi, outro do que assegurar a quem gosta de ciclismo uma informação avalizada. Que os leitores dos Jornais leiam Crónicas, Opiniões e Entrevistas feitas por quem, legitimamente, está profissionalmente preparado para tal; quem ouve Rádio escute entrevistas objectivas, para o que o jornalista terá de ter os conhecimentos necessários para as fazer e não apenas colar o microfone, recolhendo sons e opiniões que ele não faria, porque para tal não tem conhecimentos. Na TV isto não acontece, pelo que passamos à frente.
Ora, até agora, a palavra que mais vezes escrevi foi: Jornalista.
Para quem não sabe o que é ser jornalista, aqui fica:

: Estatuto do Jornalista(Lei n.º 1/99 de 13 de Janeiro)
A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, para valer como lei geral da República, o seguinte:
:: CAPÍTULO I
:: Dos jornalistas
:: Artigo 1.º
:: Definição de jornalista
1 - São considerados jornalistas aqueles que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica.

Tenho a certeza (não, não vou repetir o exemplo caricaturado que já usei várias vezes), que qualquer profissional em qualquer outra área compreende e aceita um regime em tudo idêntico para a sua profissão.

Nenhum advogado pode sentar-se no cadeirão do Juíz; nenhum enfermeiro passa receitas; nenhum agente da PSP comanda o Posto; nenhum soldado raso comanda uma Companhia; ninguém sem carta de condução pode (legalmente) conduzir; nenhum assistente de bordo pode pilotar um avião; o Chefe-da-Casa-Civíl do Presidente da República não promulga leis; nenhum cliente, por muito que saiba de culinária, chega a um restaurante e vai ocupar o lugar do Chefe de cozinha... nenhum contínuo no meu jornal escreve notícias.


Tenho a certeza que toda a gente nem pestaneja, quanto mais por em causa estes casos. Em relação aos Jornalistas... venho a observar reacções do género “deus nos acuda!”. Mas porquê? Será menos nobre a nossa profissão? Será isso?

É que todos os argumentos “passam por cima” da definição de Jornalista, ignorando-a (em muitos casos, porque são pessoas até com formação académica) esse ignorar vem eivado de má-fé.

Esta discussão, para ser séria, terá sempre que começar pela definição de jornalista.

Depois, há o caso da Carteira Profissional. Os vários títulos disponíveis, só por existirem e estarem regulamentados e sustentados na Lei, apenas têm uma leitura: há diferenças. Porque se as não houvesse, só existia um título de jornalista. Se há meia-dúzia é porque não se podem comparar, ou melhor, podem. Comparem-se e vejam-se as diferenças.

Um director-desportivo só o pode ser se tiver um curso, e dentro deste há vários níveis e nem todos dão para se treinar uma equipa de topo. Ninguém reclama.

Depois, e creio que é uma outra parte que tem vindo a ser desonestamente ignorada, a AIJC não é um “clube elitista e fechado”. Quem tiver habilitações profissionais para ser membro, basta-lhe pedir a sua admissão. É evidente que, se não ficar demonstrado que tem, efectivamente, conhecimentos e experiência ganhos na estrada, não serão aceites.

Já uma vez o disse, os 4 jornalistas portugueses inscritos na AIJC – um deles até está radicado em Paris e é “apenas” colaborador do Jornal a BOLA* e não faz serviços em Portugal – estávamos dependentes da delegação espanhola porque não éramos suficientes para ter uma delegação em Portugal. Entretanto, vários colegas houve que, em vez de ficarem a reclamar em “forúns”, nos procuraram para saber o que fazer para se filiarem e os seus processos estão em apreciação, não tendo eu, nem o entretanto – porque vai crescer o número de sócios em Portugal – designado Delegado para Portugal, quaisquer dúvidas de que serão aceites a horas de, quando a Volta a Portugal sair para a estrada já estarem munidos do respectivo cartão.

Então... que dúvidas persistem? Que dúvidas podem persistir? Só vindas de pessoas menos bem intencionadas.

O ciclismo vive do público que acorre à estrada e é de todo legítimo que o público queira guardar uma recordação da sua ida até à corrida. Nada, repito: nada há que impeça ninguém de, antes das etapas começarem se aproximarem do local onde as equipas se concentram e tirar fotografias aos seus ídolos. Mesmo após a chegada, e uma vez que os carros das equipas estacionam algumas dezenas de metros para além do local da meta, nada impede, uma vez mais, o público de acercar-se e qualquer pessoa pedir ao seu ídolo que fique numa foto ao lado do seu rebento.

Nada impede qualquer espectador de, perto da chegada, tirar uma foto aos corredores a aproximarem-se ou a cortar a meta. Não o podem fazer, e creio que isto é tão simples que não entendo a insistência, é na zona interior das barreiras de segurança onde só os profissionais têm lugar.

No que atrás ficou escrito, onde é que sobram motivos para dúvidas?

Vê-se, perfeitamente, nos jogos de futebol – e não só – principalmente se forem à noite, os milhares de flashes a dispararem. É o público que, do seu lugar, quer registar a sua presença naquele evento. Por que cabeça passará, não sendo fotojornalista, que qualquer um pode descer ao relvado e fazer fotos junto à baliza, ou junto aos jogadores que erguem a taça?

O português, embora seja exageradamente complacente na sua condição de cidadão, na qual todos os dias é “maltratado” nada fazendo para fazer vingar os seus direitos, a não ser quando se afasta e vai falando alto para todos ouvirem, mas já de costas voltadas e a abandonar o local sem olhar para trás, não gosta de regras. Ao meu vizinho já lhe chamei a atenção “ene” vezes para não deitar garrafas vazias no contentor do lixo, até porque na rua temos um “vidrão” afastado daquele 20 metros. Um dia respondeu-me: “Não estou para fazer tudo o que ‘eles’ me mandam fazer.” Claro que se um dia for com as garrafinhas e na rua estiver algum elemento da autoridade ele vai por as garrafas no “vidrão”. É a sua forma – pouco honesta, aliás – de se considerar um homem livre. Faz o que muito bem lhe apetece. Não faz nada. Está apenas a enganar-se e a ser mau cidadão.

Este exemplo não cai aqui de “pára-quedas”. Tem a ver com o facto de o português, “manso” por natureza, esperneia e bufa contra todas as regras que lhe são sugeridas ou impostas. Estas aceita-as, não tem remédio, mas sai do local a falar alto para todos ouvirem, sem voltar as costas e apressando-se a sair dali. É cobarde.

O que está a acontecer em relação ao acordo entre a UCI e a AIJC é uma regra.

Perceberam a parábola lá atrás?

Imaginem o homem do talho do vosso bairro vestir uma bata e apresentar-se num bloco operatório de um qualquer hospital. Só porque sabe “cortar”.

* - Que fique registado que o colaborador de A BOLA, radicado em Paris e que é membro da AIJC é "só" o Bruno Santos, que há dois anos atrás recebeu das mãos do próprio Jean-Marie Leblanc uma placa alusiva ao facto de estar a cobrir o seu 40.º Tour. É obra!

segunda-feira, maio 15, 2006

83.ª etapa



ALIVE AND KICKING *




Mesmo à distância - ainda tem de ser assim - fui seguindo as incidências do 27.º Grande Prémio do Minho, que já foi Volta ao Minho e já foi Internacional, teve de dar uns passos atrás mas, pelo que me é dado constactar, mais dia menos dia poderá recandidatar-se a este estatuto. E a região minhota, terra de gente apaixonada pelo ciclismo - um abraço grande para o Manuel "Nelinho" Guimarães e para todos os responsáveis pela organização, na pessoa do Luís Teixeira - bem o merece.

E parece que tivemos, à semelhança do que acontecera há três semanas no GP Rota dos Móveis, outra grande corrida. Disputada, com as diferenças entre os primeiros a guardarem a decisão final para o derradeiro dia, facto que potencia o interesse da corrida. Mas, sobretudo, com várias equipas - outra vez as chamadas "pequenas" a intrometerem-se na luta das maiores, inevitavelmente favoritas à vitória. As vitórias de Jorge Nogaledo, do Paredes (2.ª etapa) e de Pedro Hermida (Imoholding-Loulé), na 3.ª, mais o triunfo de Cláudio Faria (Madeinox-Canelas) no prémio da montanha são disso prova.

Destaque para o triunfo final colectivo da Carvalhelhos-Boavista, com dois corredores nos primeiros 5 (e 3 no top-ten) na geral individual final e para a Madeinox, que meteu 3 homens nos primeiros 15 onde a Riberalves, a La-Liberty e o Vitória-ASC só colocaram 1, sendo que apenas os algarvios da DUJA-Tavira não aparecem neste quadro de Honra. Ainda assim, a equipa da Charneca fez 7.º, com Nuno Ribeiro, dentro do top-ten portanto, e os vimaranenses, a correrem em "casa" merecem um destaque porque o seu melhor homem foi o jovem José Martins. Tem nome de ciclista e, está a mostrar que o saberá honrar. O único homem da formação de Alcobaça, o veterano Rui Lavarinhas, aparece apenas no 13.º posto e nos 30 primeiros só vemos mais Hugo Vítor, o que poderá significar duas coisas, ou a participação na volta à Extremadura espanhola "castigou" demais a equipa, ou Vítor Gamito a poupou porque terá outros objectivos.

E só não me referi [1], ainda, à espectacular vitória de Pedro Cardoso (Maia-Milaneza), a segunda consecutiva e em duas corridas bastante semelhantes, com muita média montanha. Pedro Cardoso está ainda longe de ser um veterano e, encontrado que está o inequívoco chefe-de-fila (sei que o Manuel Zeferino nunca gostou do termo e nunca na "sua" Maia, pelo menos desde a saída de José Azevedo, em 2000, houve um líder claro) da equipa maiata, não será de estranhar que o corredor de Barcelos páre agora umas semanas para preparar-se de forma a aparecer na galeria de potenciais candidatos à luta pela vitória na Volta a Portugal. A equipa é jovem e há o búlgaro Danaíl Petrov, mais à vontade em montanhas de grau mais elevado (e também nos "cronos") pelo que a decisão tem que ser tomada agora. Pôr quem a trabalhar para quem?... e Pedro Cardoso vai precisar de fazer algum trabalho específico.

E volto à Carvalhelhos-Boavista. Pelo que já li, voltou a assumir a vontade de ganhar (aquele novo amarelo nos equipamentos ficam-lhe bem, será por isso? [era brincadeira]) e fez uma última etapa quase perfeita, lançando ataques, não só sucessivos como intencionais e, já agora, para José Rodrigues, um outro corredor com potencial reconhecido, nomeadamente na média montanha, e que tem tido uma carreira algo irregular, manifestamente por não confiarem nas suas capacidades. Tal como acontece com Pedro Cardoso - embora no caso deste a "explosão" se fique a dever mais ao facto de, finalmente, ter oportunidade de aparecer sem ser a trabalhar para companheiros de equipa "academicamente" com mais hipóteses -, José Santos pode ter descoberto o "seu homem" para a Volta a Portugal. Para já, que fique registada a postura dos axadrezados neste período da temporada, muito diferente daquilo que vinha a fazer nos últimos anos. Dois anos, pelo menos.

E que dizer da LA-Liberty? Pela segunda vez, e em pé de igualdade - porque, tal como a Maia, também não foi à Extremadura - com a sua principal rival, arranca de amarelo e depois baqueia de forma estrondosa. Até por ter começado a temporada mais tarde que os companheiros, esperar-se-ia, nesta altura, um Cândido Barbosa mais... mandão. Que mais não fosse, para marcar a sua posição dentro da equipa. Apostar as fichas todas apenas na Volta a Portugal é um risco muito grande. Melhor do que ninguém, Américo Silva deve sabe-lo. Um homem apenas nos primeiros 15... sabe a pouco. "Salvou-se" Nuno Ribeiro mas, visto assim, de longe, fica a ideia de que tarda em aparecer... a equipa. E sem uma equipa forte e "mandona" - leia-se: que controla e defende o seu chefe-de-fila, principalmente se ele vai de amarelo - a Volta pode tornar-se num pesadelo.


* -- "Alive and kicking" - expressão inglesa que, numa tradução muito livre signifiva "Vivo e de Boa Saúde" e utilizei-a para vincar o facto de várias equipas estarem a mostrar-se sem medos, o que aplaudo.

[1] -- Referi, do verbo referir = aludir, contar, dizer...; o que não é o mesmo que referenciar = tomar como ponto de referência, alvejar.
(in "Grande Dicionário da Língua Portuguesa" de José Pedro Machado, edição conjunta da Sociedade de Língua Portuguesa e Ediclube, 1990)

domingo, maio 14, 2006

82.ª etapa - 2.º sector


(Nota prévia, e essencial para a compreensão do artigo anterior: Escrevi este artigo na 5.ª feira, dia 11. Um problema com o servidor do Blogspot impediu a edição desse comentário na altura e perdi todo o seu contrúdo. Não é fácil reescrever, de imediato um artigo de 6 mil caracteres, pelo que deixei passar dois dias. Ontem voltei a escrevê-lo, esforçando-me por respeitar as ideias fundamentais expostas no primeiro, que perdi. E só agora o reli e logo dei por falta de um ponto que acho importante e cuja falta até pode levar a interpretações erradas daquilo que eu queria dizer. Por isso, aqui vai a adenda.)



VOLTA A PORTUGAL.1


Na altura em que falo da dependência que a organização da Volta ainda manifesta, em relação às autarquias, deveria - como havia feito no tal texto que "desapareceu" - ter assinalado que a JLSports/PAD pode, de facto, garantir que a Volta vá àqueles dois, três pontos que todos achamos ser impossível não ter no mapa da Volta. Mesmo que, por dificuldades das autarquias ou mesmo desinteresse destas, não haja comparticipação financeira. E devia-se avançar, como fazem os espanhóis - perdoar-me-ão estar sempre a bater na mesma tecla, mas esta é a realidade que conheço - para mais soluções, em termos de chegadas em alto, instituindo uma rotatividade que só poderia ser benéfica.

Num ano chegava-se à Torre, no outro subia-se e descia-se, mas experimentava-se a recuperação de Santa Helena, por exemplo, ou o Monte Faro (Valença), ou a Serra de São Mamede (Portalegre) e há mais meias dúzia de hipóteses que poderiam ser exploradas. Veja-se como os espanhóis fazem alternar os Pirinéus, as Astúrias e a Andaluzia. Ainda com La Covatilla (Castela e Leão) como opção.

E tentar encontrar outor locais. Se necessário, construí-los, como a Unipiblic fez com o Anglirú. Esta subida, das mais duras que se encontram no ciclismo de estrada, não passava de um trilho que até de bicicleta de montanha era praticamente impossível subir. Pois bem, em parceria com as autoridades locais, o ayutamiento de La Vega, foram divididas as despesas de construção de uma estrada asfaltada e de uma plataforma, no alto, suficientemente ampla para acolher a estrutura de uma chegada. O que ganhou cada uma das partes? La Vega foi posta no mapa. Depois de 1999, quando a subida se estreou, o turismo cresceu exponencialmente naquela zona, pobre, que vivia apenas das minas, sobretudo de carvão. Pela parte da Unipublic, garantiu a "propriedade" da subida, em termos exclusivos, por algunsa anos, sete, se a memória não me atraiçoa, embora só a tenha utilizado três vezes. Continuo a confiar na memória...

Quanto ao como chegar à Torre sem a ajuda das autarquias a ela ligadas, ou ir a Santa Helena sem a Câmara de Tarouca ajudar, ou à Sr.ª do Castelo, ficando Mangualde de fora... só deixo uma pista.

Lembram-se como começou e durante vários, muitos, anos a Volta ao Alentejo fou estruturada e paga? Corrida que rapidamente ganhou o seu espaço e, entre 1996 e 2001 teve dos melhores pelotões que jamais estiveram em corridas portugesas, e vencedores de renome, como se pode constatar no seu historial?

Exactamente. Pode não ser, em termos de Volta a Portugal, tão fácil de executar, mas sempre é uma saída... O segredo está na atempada negociação e - e neste ponto fecha-se o círculo sobre o que faltou no artigo anterior - capacidade de apresentar às autarquias um produto vendável, suficientemente apelativo para justificar o esforço daquelas. Não apenas ir pedir dinheiro.