terça-feira, maio 30, 2006

97.ª etapa





AINDA QUE ATRASADO... O GIRO!



Acabou o Giro’2006 e dele se guardará a memória de um Ivan Basso imperial. Com uma corrida à medida dos grandes trepadores, ainda assim a concorrência – à partida – não era de desprezar, a começar pelo vencedor do ano passado, Paolo Savoldelli, mas havia ainda que contar com Gilberto Simoni, Damiano Cunego... Danilo Di Luca... Dito à posteriori, pode até soar a falso. Pode parecer que, “plagiando” o valoroso João Pinto (FCP),... me apresento a fazer um prognóstico no final do jogo. Mas Basso era mesmo quem acolhia o meu voto como principal favorito. Não só por ele, mas também pelo poderio da equipa dinamarquesa CSC. Johan Bruyneel escolheu uma formação que, no papel, era suficientemente forte para ajudar Savoldelli a chegar ao topo... e manter-se por lá. Fê-lo o ano passado, mas no subconsciente dos corredores da Discovery Channel “pesa” – e vai pesar ainda mais alguns anos, assim dure a equipa mais alguns anos – a ausência de Lance Armstrong que, mesmo quando não estava presente... “estava sempre presente”. E, malgrado Bruyneel e a sua equipa técnica terem atempadamente definido cada uma das formações que se apresentará nas principais corridas, havia sempre a possibilidade de qualquer elemento que conseguisse um inesperado destaque – mesmo que apenas na ajuda ao seu chefe-de-fila na altura – pudesse vir a conseguir um lugar sempre sonhado no Tour. Da formação estadounidense que esteve a coadjuvar Salvodelli, apenas Danielson se manteve quase permanentemente junto dele e tudo fez para o “rebocar” nos momentos mais difícil. Rubiera, por exemplo, até porque deverá ser o chefe-de-fila na Vuelta, só apareceu a espaços. Desgarrado, como quase todos os outros.

Damiano Cunego esteve intermitente e Danilo Di Luca foi uma decepção. Quanto a Gilberto Simoni... fez uma boa corrida, mas o seu tempo já passou.

Já Ivan Basso superou as minhas expectativas. Era o “meu favorito” mas, sinceramente, não esperava ver-lhe demonstrações de uma superioridade esmagadora. Mas aconteceram. Nunca vi correr Eddy Merckx. Valem-me os relatos escritos da época, que li com uma admiração extrema. Do meu tempo já são Miguel Induráin e Lance Armstrong e nunca escondi que sempre gostei mais do navarro. Talvez por o ter conhecido. Por ter falado com ele. Admirava a sua força mas, sobretudo – não sei como
“funcionava” Merckx neste aspecto – a sua invulgar capacidade para esconder de todos o que sentia a cada momento. Não esperasse nunca qualquer adversário ler-lhe na expressão facial momentos de fadiga ou de indisfarçável à vontade. Estava era sempre lá. E respondia com uma facilidade de gelar a todos os ataques. E depois nos “cronos” marcava a diferença. Com Armstrong era pouco mais ou menos a mesma coisa, mas que em alguns momentos lhe vi no rosto os inequívocos sinais de que estava a sofrer tanto como os demais, isso vi.

E não vi isso em Basso, este ano. Chegou a ser irritante aquele ar de “Gioconda”... sorriso apenas esboçado, nem sim, nem não... e uma capacidade de resposta – e não só, e não só – apenas ao alcance dos predestinados. Esteve soberbo em duas ou três etapas. Nas outras limitou-se a ser ele mesmo. Foi um justo vencedor.

Não vivessemos nós um (mais um) período de terríveis suspeitas e não teria dúvidas em apontá-lo como sucessor dos dois últimos grandes campeões das bicicletas, Induráin e Armstrong. Mas começo a ter medo de desilusões à posteriori. Ou não tivesse eu relatado, até com maior dose de paixão do que de razão, a extraordinária etapa que Roberto Heras fez em Pajares e esgotado os adjectivos depois de ele ter ganho a (que seria) sua 4.ª Vuelta.
Gato escaldado...

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