quarta-feira, maio 31, 2006

100.ª etapa



CONFIRMAÇÃO DE UM VALOR SEGURO




Tal como se esperava, depois de dois dias a ver os espanhóis correr (e ganhar etapas), na 6.ª feira passada, quando da jornada julgada como decisiva, os corredores das equipas portuguesas lá apareceram.

Claro que eu sei o porquê desta... contenção. Os plantéis são curtos e, salvo escassíssimas excepções, as equipas do SEU TODO só vão poder
“escolher” UM corredor para ficar de fora da Volta, grande objectivo da temporada. Já há quem tenha amealhado algum pecúlio e, nesta altura da temporada se dê ao luxo de fazer descansar – não será exactamente “descansar”... – as suas principais figuras, mas para que isso aconteça... falta “pano” para o fato completo. E mesmo entre os atletas, cada gota de suor – no Alentejo na semana que passou nem era preciso fazer 200 km de bicicleta para se “limparem” os poros – está já a ser conscientemente reservada lá mais para Agosto. É legítimo? É! É bonito ou bom para o espectáculo – e para o nome da equipa que têm de honrar? Não.

Foi o que escrevi no último artigo dedicado à Alentejana.

Mas na 6.ª feira lá houve quem tenha dado o corpo ao manifesto, com três ou quatro exemplos que não quero deixar passar em branco.

José Rodrigues (Carvalhelhos-Boavista) fez uma etapa de campeão. O franzino escalador axadrezado – um dos nossos melhores trepadores (e ele é isso, mesmo que um qualquer destes dias ganhe uma etapa ao
sprint) – quase fez o pleno nas cinco contagens para o prémio da montanha e, não fora a queda sofrida já na derradeira descida, a pouco menos de uma dezena de quilómetros para a meta, quem pode agora, em consciência, afirmar que não ganharia a etapa? Até mesmo ao sprint? De uma coisa estou certo. Por tudo o que fez... merecia-o.

Hélder Oliveira (Madeinox-Bric-Canelas) foi outro dos grandes heróis da etapa, tal como Ricardo Mestre (DUJA-Tavira), este com apenas 22 anos de idade a revelar-se, também ele, um jovem com apetência para os terrenos montanhosos. Vamos ver como as suas carreiras vão evoluir nos próximos anos, mas que está a despontar uma nova geração, muito homogénea, disso cada vez há menos dúvidas, o que terá de ser creditado ao bom trabalho que, de há uns anos a esta parte vem a desenvolver-se na categoria de sub-23. E claro que, para os que ainda estão neste escalão, ver os colegas do ano passado (não levem isto literalmente... do ano passado ou de há dois anos, não interessa) aparecerem como protagonistas entre os maiores só pode servir de incentivo. Como não se vislumbra que, de repente, vindo do nada apareçam grandes patrocinadores a injectar grandes somas que possam redundar em grandes orçamentos... tudo leva a crer que nos anos mais próximos muitos deles, os melhores, serão alvo das preferências das equipas do primeiro escalão nacional. Até porque o filão espanhol está a chegar ao fim. Por diversos motivos, mas o principal porque já vão conseguindo lugar em equipas no seu país onde não têm que assinar contratos de 1000 euros mas, ao mesmo tempo, concordarem em receber apenas 600!

Mas estou a desviar-me do assunto principal.

De todos aqueles em que podíamos apostar para brilhar nessa etapa, o que mais proveito tirou foi mesmo Sérgio Ribeiro. Mas trabalhou para isso. Como tem vindo a trabalhar toda esta época, aliás, a exemplo do que já fizera em 2005.

Está um SENHOR CORREDOR, este Sérgio Ribeiro e já é mais do que uma promessa. Sem retirar um grama de valor a outros que num passado recente até ganharam voltas a Portugal, muito menos a quem foi medalha de bronze nuns mundiais e de prata nos Jogos Olímpicos, sem querer fazer comparações que seriam despropositadas... tomando como bitola apenas os resultados somados e, sobretudo, a quantidade de resultados
“sonantes”, atrevo-me a dizer que Sérgio Ribeiro é o melhor corredor português da actualidade.

Adivinho a polémica desta declaração. Não, não precisam dizer-me que lhe falta experimentar-se e mostrar-se no grande pelotão internacional, que lhe faltam (ainda) pernas para ultrapassar as verdadeiras montanhas que, numa hipotética (não será tanto como isso) possibilidade de ter de subir os Pirinéus, os Alpes ou os Dolomitas teria de enfrentar, mas vê-se que lhe está na massa do sangue a garra e a força de vontade, principalmente esta,
"matéria" da qual se fazem os campeões.

Procurou a felicidade na etapa de sábado, mas lá está... perdeu a etapa para um desconhecido espanhol que conseguiu no redondo o primeiro triunfo da sua carreira. Ah, se o Sérgio fosse MESMO um
sprinter nato... Mas não desistiu e no último dia encontrou, com toda a justiça, a tal felicidade que procurava.

Ganhou em Beja... ao
sprint, dirão os que não querem ver o que está à vista. Ganhou sim senhor. Nas pernas levava a força de um campeão e na alma o enorme desejo de ganhar. Que ganhar todos querem mas para lá chegar é preciso fibra. E a chegada não era propriamente aquele plano onde os velocistas puros deixam pregados os candidatos a rivais.

Costuma dizer-se que a camisola amarela (que ele já arrebatara na véspera) ou pesa como chumbo ou dá asas. O que manda é a cabeça e quando a cabeça e o coração querem, as pernas ficam leves como o vento que empurra as folhas caídas. Até nisso o Sérgio Ribeiro mostra ser superior. Tem cabeça.

Parabéns, pois, a este jovem corredor que pôs milhares de corações a bater ao ritmo que o seu próprio batia naquelas dezenas de metros finais, em Beja. Sob o escaldante calor alentejano.
Temos homem. Digo eu.

1 comentário:

RuiQuinta disse...

Quanto ao ser o melhor portugues da actualidade não sei, porque o "nosso" Zé é grande, mas prova após prova, tenho menos dúvidas que é o melhor em Portugal ;)

Cumprimentos