GESTOS (MUITO) BONITOS
Ainda em relação ao Giro, gostava de aqui deixar dois destaques. Dois momentos que dificilmente se esquecerão e que retratam o quão grande pode ser o desportivismo e a solidariedade e a amizade no ciclismo. Modalidade de gente que aprendeu a sofrer (e os que não aprendem jamais serão ciclistas, apenas corredores de bicicleta) mas que não esquece outros sentimentos tão ou mais importantes.
O primeiro, foi aquele gesto de Jens Voigt para com Juanma Garate. Se se recordam, instantes antes o corredor da CSC puxou a camisola à boca, no claro gesto de que estava a falar para o micro escondido sob aquela. Para dizer alguma coisa ou... para ver se percebera bem o que lhe haviam dito?
Não posso assegurar, está bom de ver, mas quero crer que a ordem veio de trás. Do DD ou do próprio Basso? E pode ter sido mesmo Voigt a ter a ideia. A verdade é que ele saiu na peugada do espanhol numa óbvia e e mais do que normal jogada táctica. Com um homem na frente a CSC não tinha nada que puxar no grupo de trás, quem quisesse apanhar o corredor da Quick Step que desse às pernas. Por outro lado, com o seu "chefe" e ainda por cima líder da corrida atrás, ninguém esperava que Voigt colaborasse na fuga. O primeiro a perceber isso foi o próprio Garate que, por diversas vezes deixou que as câmaras mostrassem a sua preocupação. Estava ali a trabalhar a trabalhar... e a etapa estava em risco.
Fosse por iniciativa própria de Jens Voigt, fosse porque a ordem lhe foi sussurrada ao ouvido atravez do famoso "pinganillo", fica o gesto. Para recordar sempre. E o Garate quase nem queria acreditar. Foi um dos momentos mais arrepiantes - no melhor sentido do termo - que já pude testemunhar numa corrida de ciclismo.
A outra respeita à singela homenagem do pelotão a David Bramati que de despedia das bicicletas, enquanto corredor, na última etapa do Giro. Não é invulgar, há até inúmeros casos semelhantes, com o pelotão a deixar um corredor passar ligeiramente à frente, por exemplo, na localidade de onde é natural ou vive. Aconteceu, por exemplo, há dois ou três anos com Oscar Sevilla que entrou em Ossa de Muriel (perto de Albacete) à frente do pelotão. Até já houve casos em que o corredor se apeia mesmo da bicicleta para beijar os pais, a mulher ou a noiva... os filhos. Bonito foi ver todo o pelotão a aplaudi-lo juntamente com as gentes que assistiam à passagem do grupo.
Aproveitando o momento volto a manifestar-me totalmente contra estas... "etapas de consagração".
Os adeptos, neste caso, de Milão, passam três semanas a ver os corredores a lutarem, a sofrer, a festejar vitórias ou a chorar derrotas e no dia em que chegam à sua cidade... não têm direito a mais do que um passeio (rolou-se largo tempo abaixo dos 30 km/hora!!!!!) de cicloturismo. Era como se, depois de todo um campeonato de prego a fundo e se tornar campeão do Mundo, Fernando Alonso se apresentasse em Oviedo, perante milhares de admiradores seus a descer a Tendilla de... skate!
Aqueles (largos) milhares de pessoas que preencheram o circuito final (como acontece nos Campos Elísios ou na Castellana) vão para ver ao um espectáculo e não para assistir a uma parada. O Giro, como a Vuelta e o Tour, assim não têm 21 etapas... têm 20 e um arremedo. Imaginem o Teatro Nacional D. Maria (ou um dos Coliseus) cheio para assistir ao "Passa por mim no Rossio" e os actores limitarem-se a passear de um lado para o outro, em fila, pelo palco porque era o último dia de apresentação do espectáculo. Eu não concordo.
1 comentário:
Madeira,
acho este tipo de gestos bonitos, e esplico porque:
o publico que ver ciclismo ao mais alto nível, mas será que se importa que numa das passagens por ali um ciclista que gostam sej "homenageado"?
Penso que não.
Cumprimentos,
Rui
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