quarta-feira, julho 19, 2006

159.ª etapa



MAS QUEM É QUE FALHOU? DE VERDADE?



Falhou!
Foi esta a palavra que fez o pleno, pelo menos nos jornais que hoje li e com os diversos articulistas - que, se já "fizeram" ciclismo há muito não andam na caravana - referindo-se, todos eles, à etapa de ontem do Zé Azevedo. O facto de, numa homenagem de todo merecida, se ter ontem inaugurado o singelo monumento a Joaquim Agostinho, na subida do Alpe d'Huez, parece, lendo apenas aqueles prosadores, que "obrigava" José Azevedo a ganhar a etapa. Passar pelo local à frente de todos; sei lá...

A verdade é que, embora estivessemos em pleno campeonato do mundo de futebol - que é o que faz a agenda dos diários desportivos - houve quem (não interessa apontar nomes) por sua própria conta e risco tivesse traçado uma fasquia demasiado alta para o corredor português da Discovery Channel. Nunca, em nenhuma declaração, a nenhum dos jornais, o Zé Azevedo se pôs de bicos de pé. O que também não é de estranhar. Nem quando "descobriram" que ia sair com o dorsal n.º 1 - já agora, e esta minha tendência de corrigir não acontecia só num dado "sitio" ou por embirração minha, longe disso - um dorsal não se "enverga". Enverga-se uma camisola, uma camisa... um fato. Envergar quer dizer: usar vestido. Ora, não se "veste" um paninho de 25x15 centímetros...

Fizeram-se, no mais negativo que o termo tem, notícias sobre o facto do ir sair com o número 1 no dorso. Depois, à viva força - e aqui não foram só os portugueses - quis-se que Johan Bruyneel dissesse claramente quem era o chefe-de-fila de uma equipa onde essa questão nunca se pôs, de tão evidente que era. Faltando Armstrong, está a ver-se, tudo ficava baralhado.

Mas voltemos àquilo que a Comunicação Social criou e que agora, sacudindo responsabilidades, quer fazer passar por um incrível e inesperado "falhanço" do Zé Azevedo.

Com a selecção de futebol a "dar o berro" nos últimos dois jogos, e quando se aproximavam as etapas de montanha, os mesmos jornais que um dia fazem manchete com a extraordinária contratação de um dos três clubes grandes e, depois de tudo se revelar... inconsequente, não têm a preocupação de se retractar, vieram hoje "cobrar" ao Zé Azevedo algo que eles mesmo tinham "sonhado" como meta, levando a crer que o corredor teria prometido algo que, no final não cumpriu. Falso. Errado. Pouco ético.

O Zé Azevedo nunca disse a ninguém mais do que disse a mim. Que "ficar dentro dos primeiros dez já seria positivo".

Nem ganhar o Tour, nem ganhar etapas... Muito menos passar na frente no Alpe d'Huez.

O estranho é que até jornalistas que estão completamente por fora da realidade que é o ciclismo se tenham dado ao luxo de opinarem. E como é que, em consciência, quem dá as "medalhas" num diário desportivo atribui a de "lata" ao Zé Azevedo? E quem é o responsável pela página 2 do Correio da Manhã para dar uma nota "negativa" ao mesmo ? Quantas corridas acompanharam? Quantas vezes escreveram sobre ciclismo? Quantas vezes estiveram junto a um corredor no final de uma etapa de "morte" quando este mal respirar consegue?

Mas a mensagem negativa passou.
E quem não é dado a seguir esta coisa estranha que é o ciclismo registou: "lata" e "bota abaixo" para José Azevedo.

E houve quem, menos contudente, tenha escrito que o esteve "abaixo do esperado". Mas o que é que era esperado? Que um corredor, um "forçado" desta disciplina bastante mais exigente do que o "rei" futebol repusesse os níveis de auto-estima que a selecção de futebol deixou ir abaixo? Embora ninguém o tenha assumido...

Volto, por isto tudo, a um tema que já "esquentou" mas que veio, lentamente, a "perder gás", o ciclismo, como qualquer modalidade que não o futebol, tem que ser escrito por quem percebe alguma coisa de ciclismo. De futebol todos sabem, agora julgar um atleta em função de "alvos" que foram os próprios jornais (neste caso) a escolher... por favor, poupem-se. Poupem-nos...

4 comentários:

RuiQuinta disse...

Esses jornalistas e treinadores de berma, devem ter suposto que o Zé faria, queria fazer e prometera fazer, o que nunca fez. Sempre disse que queria o top-10, mas sempre quereram fazer dele mais.

Quanto a criticar o Zé com essa medalhas........fico sem palavras. Quando atacou e foi 4º no Mont Ventoux deram-lhe o ouro?

mzmadeira disse...

Não sei Rui... se deram, foi justo que o tenham feito. Agora... a "lata" é que não. Como me apetece dizer... ganda lata!...

José Carlos Gomes disse...

O José Azevedo falou nos dez mais. Ontem hipotecou a hipótese de entrar nos dez melhores.

Falhou ou não falhou?

mzmadeira disse...

E tu arriscas palpites, Zé Carlos? Quem diria que o Oscar Pereiro, depois de ter "descansadamente", sem problemas, entrado numa simples fuga quando tinha mais de 28 minutos de atraso agora era o camisola amarela?
A verdade é que o Zé não deixou de ser o excelente trepador que sempre foi e... não é ele um "aliado" que todos os que queiram atacar o Pereiro não desdenhariam de levar consigo, hoje, por exemplo?
Eu já não digo nada!

Mas respondendo à tua questão. "Se" o Zé tivesse dito que na etapa do Alpe d'Huez ficava nos primeiros dez... tinha falhado!
Tendo ele dito que o seu objectivo era "chegar a Paris dentro dos primeiros dez...", vamos esperar até Paris. Ainda não falhou. Pelo menos nesse aspecto não. É evidente que todos nós o queríamos já dentro dos dez melhores, e mais do que nós, acredita, o primeiro a desejá-lo era ele próprio.
Ontem, quando partiu para a etapa, o Landis era primeiro. Quando a etapa acabou era 11.º, a 10 minutos do lugar que fora seu.
Ontem o Zé era 20.º...
Claro que eu sei que é muito mais fácil cair e rebolar "montanha abaixo" que subir... mas do 20.º ao 10.º são menos "degraus" que do 1.º ao 11.º.

Mas nem a mim quero alimentar ilusões, quanto mais tentar "vender" a hipótese de alguma das coisas que atrás só exemplifiquei venha a acontecer, de facto. Esperemos então...