sábado, dezembro 24, 2005

16.ª etapa


Regressemos então àquela... estranha História de Natal! Pergunto-me, sinceramente, quantos terão percebido o que lá estava escrito? Mas vou ficar à espera...

Recupero então, agora, essa mesma História de Natal... antes que o Natal acabe.

Era de dupla leitura a estória.
As galinhas tanto poderiam ser as equipas como... as organizações; os ovos (os bons, os assim-assim ou os maus: os corredores das equipas - sendo os bons os que ganhavam e davam notoriedade às suas cores - ou as equipas, sob o mesmíssemo prisma, em relação ás organizações)...

Descodifiquemos:
Não há corridas boas sem boas equipas, nem equipas boas sem bons corredores... as equipas boas têm de pagar aos bons corredores e querem ser bem pagas pelas organizações que, para serem boas, têm de conseguir pagar às melhores equipas... e de uma forma distinta.

Não se paga o mesmo à Fernanda Ribeiro que ganha quase de certeza, à Fátima Silva que pode ganhar, à Maria Joana que ninguém sabe se tem pernas para ganhar ou a Marlene Sofia que ninguém sabem quem é...

Não tendo, até à data, conseguido dar aquele GRANDE PASSO que seria a mera assinatura de um documento cuja minuta pode ser conseguida em duas dúzias de associações desportivas, a famigerada Associação (ou Liga) de Equipas Profissionais consegue um feito histórico: sustenta o corporativismo necessário para praticamente impôr condições iguais a estruturas que já foram quase diametralmente opostas. O curioso foi que, quem acabou por perder terreno foi aquela que, de longe estava à frente de todas as outras... e não será difícil perceber esta perda de terreno. Basta terem paciência que neste espaço de tudo se falará!...

Mas esta Etapa é para falar das "culpas" das organizações - no seguimento das outras "culpas" que tenho vindo a apontar - no estado a que chegou o nosso ciclismo. Que bateu mesmo no fundo. Acreditem!

Perfeitamente agnóstico e negando, conscientemente todo e qualquer ídolo religioso, não fujo, contudo, à passagem bíblica de que este nosso mundo nasceu do caos... Então, ainda há uma esperança para o ciclismo nacional. Estamos à beira do caos, daí - fazendo fé nos bíblicos escritos - alguma coisa há-de nascer...

Metade das nossas entidades organizadoras de corridas (e, para já, e para evitar equívocos, falo apenas das corridas para as elites, profissionais ou amadoras, não consegue montar uma corrida decentemente aceitável. Se tivermos em conta que 60% das corridas são organizadas pela PAD, mesmo os portugueses, muito avessos a essas coisas de matemáticas, perceberão que... quase 10% das corridas organizadas pela PAD ficam abaixo dos níveis mínimos exigíveis a uma estrutura profissional.

Quem quem tiver a coragem de assumir-se cínico que o faça: a PAD faz mais do que aquilo que lhe é exigido e, tomemos a pretérita temporada como exemplo... o GP do Centro e o Vinhos da Extremadura só surgiram para... darem dias de corrida a um pelotão que, ainda por cima, na maior parte das vezes não soube corresponder.

Noutro espaço de discussão de ciclismo tentou-se, por mais de uma vez, fazer a apologia dos métodos EJN. 75% por cento das opiniões mão mereciam o mínimo de crédito porque eram sustentadas por quem nem sequer conheceu aquela realidade. Dizer que as Voltas EJN eram melhores (na década de 90 do século passado) que as actuais da PAD tem exactamente o mesmo rigor que dizer que as duas Voltas organizadas pelo Diário de Notícias, 50 anos antes, tinham o perfil ideal... quando a organização montava diariamente um acampamento (sim, um acampamento) onde, distribuídos pelas várias tendas - e, no qual, um batalhão de cozinheiros recrutados à tropa, confeccionava dia-a-dia, as refeições para toda a gente. Iguaiszinhas: para as equipas que montavam e desmontavam as tendas e apara os corredores...

Os tempos mudam. A EJN trouxe classificações naquelas folhas contínuas de impressão, que se cortavam pelo picotado... trouxe (já no meu tempo) um filme da etapa, colmatando a péssima cobertura do Rádio-Volta, filme que chegou, é verdade, a estar prontinho á entrada da Sala de Imprensa, quando nós lá chegávamos.

(Aqui um eterno abraço de saudade para o Rodrigo Pinto, do CNID, e para a sua equipa, o Jorge Santos e o Zé Carlos.)

Mas que nunca deixou de ser uma extrutura de... amadores e, assumo o que escrevo: passeantes (no sentido de... turistas?!!!...) ah, sim... já disse que o assumo!

Quem está neste momento em condições de comparar esse tempo com a actualidade? As Salas de Imprensa nos pavilhões das escolas secundárias, de telhado de losalite onde, às 5 da tarde a temperatura acumulada subia aos 45/50 graus?

Onde nós só chegávamos depois da corrida terminada, claro, porque antes não tínhamos lá qualquer espécie de informação? E onde uma hora depois também já não havia ninguém porque... feitas as fotocópias... havia um hotel com piscina, ou um petisco combinado à espera?

Hoje é profissional. Faltando-lhe apenas... dimensão. Não é tão difícil assim orientar uma sala de imprensa onde os três jornalistas que precisam saber coisas... sabem-no... e os outros nem sabem que não sabem!

(Imaginem uma Volta ao nível de uma Vuelta, com jornalistas de seis ou sete países diferentes, sustentados por títulos de jornais dos mais prestigiados do Mundo... e a nossa estruturazinha seria... ciclindrada!)

Mas - e porque isto se estende e vou parti-lo em mais do que uma Etapa - vamos ficar (agora) por aqui no que respeita à responsabilidade das organizações.

Na Volta a Portugal a PAD está muito perto das corridas de segunda linha... espanholas, que são as que melhor conheço. Nas outras que, por descargo de consciência (ou será mesmo má consciência? Isso, francamente, não sei) organiza fazendo um favor às equipas... fica-se pelos chmados serviços mínimos. Mas volto atrás... favor às equipas? Às equipas ou aos patrocinadores? Porque já houve equipas que faltaram a corridas agendadas (não, não eram da PAD, mas serve de exemplo, não?) e há corredores que se aborrecem verdadeiramente com isso de inventarem dias de corrida...

É verdade!

Como epílogo desta Etapa: Não serão as mais culpadas (já volto com exemplos bem mais concretos e gritantes - até porque aqui só falei da PAD - para me explicar) mas as organizações também têm (claro que tinham que ter) responsabilidades neste triste resvalar do nosso ciclismo para o abismo.
Estamos à beira dele e parece-me que não faltarão cabecinhas pensadoras capazes de... derem o passo em frente!

(Segue já na Etapa seguinte)

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