quinta-feira, dezembro 22, 2005

15.ª etapa


No patamar a seguir aos corredores, onde, tirando os estreantes, cheios de ilusões - e muitos com potencialidades -, alguns velhos dinossáurios, que se mantêm em nome daquilo que fizeram no pasado (felizmente, de consciência tranquila e, mais - e muito justamente - à espera de um dia de consagração que valha por toda uma carreira mais ou menos anónima), cohabitam outros tantos que tanto poderiam ser ciclistas como... pedreiros, o que significa que nada trazem de novo à modalidade, exactamente porque não foram, por motivos diversos, capazes de interiorizar que ser-se ciclista é ser-se diferente de qualquer outro desportista, sendo que, ser-se desportista já é diferente de ser-se qualquer outra coisa na sociedade...

... no patamar superior, escrevia eu, estão os chamados directores-desportivos. Corruptela do português, ou apenas adaptação da tradução para a língua pátria dos regulamentos internacionais? Ainda estou por descobrir.

Seriam, em todo o caso, os treinadores... mas gostam (isso é evidente) do termo director-desportivo...

E há-os que são mais directores que treinadores (sendo que na maioria dos casos falta esta figura na equipa)...
... há-os que não passam disso (treinadores) e fazem mal o papel de directores... ... há os directores, que, não sendo desportivos, assumem o papel destes enquanto na versão treinador...
... há, em suma, uma confusão total. Onde, na qual, ninguém terá a coragem de dizer (assumir): alto lá... quem está mal sou eu!...

Isso não!...

Há os que, com a melhor das boas vontades, são vendedores, relações públicas... mendigadores de apoios...
... estes, dividem-se em duas categorias: os que o fazem porque acreditam (não quer dizer que estejam certos, mas temos de dar-lhes o benefício da dúvida), acreditam que estão a trabalhar para o... ciclismo.
... outros não terão pejo (até porque é tão evidente que negá-lo seria pior para eles) apenas procuram garantir a continuidade do seu posto de trabalho...

A equipa faz-se, mas é quase secundária, essa questão. O mais importante é haver algo que justifique a existência do posto de... técnico.

(Não me refiro, aqui, apenas às equipas de séniores, antes pelo contrário)...


E VÊM OS ORGANIZADORES DE CORRIDAS...

E, nesta escadaria, como se ao Sameiro estivessemos a subir, aparecem a seguir os organizadores de corridas. Este aspecto merece, reconheço-o e desde já prometo voltar ao assunto, um capítulo só para eles, mas não podemos passar ao lado se tentamos fazer o diagnóstico do que PORQUÊ se está a enterrar o ciclismo português.

Já não se fazem corridas para preencher egos ou justificar doações autárquicas.

O ciclismo é (sempre foi, mas como sempre foi de gente simples, durante muito tempo esta fingiu que nem se ofendia) um espectáculo e, ao contrário do que espiritos mais mercantilistas poderão pensar, espectáculo não tem de ser sinónimo de fonte de receitas. É, de certeza, algo que, quem com responsabilidades, seja a que nível for, é quase obrigado a oferecer... (perdoem-me o simplismo da forma como o apresento) AO POVO.

Ninguém oferece nada ao povo, porque é o povo que paga TUDO. Mas o ciclismo sempre foi uma modalidade PARA a gente a pobre - daí ter-se criado a tal ideias do espectáculo que vai à casa (à rua.... à terra) das pessoas... completamente de borla. Melhor que o Circo, que terá de ser pago.

O ciclismo era do povo, porque do povo vinham os seus heróis. Nicolau, Trindade, Ribeiro da Silva, Alves Barbosa, Fernando Mendes, Joaquim Agostinho... cavadores, vinhateiros, jornaleiros, gente que sofria, no seu dia-a-dia, bem mais do que subir a serra da Estrela numa bicicleta de 12 quilos com 4 mudanças e camisola de lã... em pleno Agosto.

E como os miudos (não muito miudos já) se reviam neles, como hoje os miúdos (estes sim miúdos, frequentadores de "escolinhas" de futebol, pagas a 2000 euros/mês, mesmo que o rebento meça 1,50 e pese uns gorduchos 65 quilos, se imaginam Figos, Joãos Pintos, Joãos Moutinhos ou Simãozinhos), dizia: como os rapazotes, na altura, se reviam neles (e a história não nos nega outra versão, que é a da implatação dos emblemas dos três grandes clubes nacionais, à conta do ciclismo)... daí nasciam outros heróis.

Uns mais que outros... mas que foram alimentando o pelotão quando não eram ainda os "suplementos nutritivos" da empresa representada pelo próprio director-desportivo da equipa a ditar o que se comer ou não.

Foi um pouco transversal, esta crónica, mas foi-o de propósito.

Pretende, este espaço que humildemente mantenho, ganhar estatuto de Fórum. Limitado. A quem conhece, e queira ajudar. Por isso também, algumas pequenas... provocações (que o não são, e os que se sentirem tocados sambem-lo tão bem quanto eu, que vocês são nem inocentes nem eu... injusto, e sabem que eu sei que vocês sabem que eu... sei... do que estou a falar!)

Se o que todos queremos é salvar o ciclismo... vamos todos juntarmo-nos na sua defesa.

Não sei se, por problemas de saúde, posso voltar aqui antes do Natal. Por isso...

UMAS BOAS FESTAS para todos. Obrigado por me lerem. E não guardem rancores... RESPONDAM!

O próximo capítulo versará sobre os organizadores. Os que, sendo profissionais às vezes se apresentam como a pior cópia dos amadores, e os amadores que parecem terem apostado em não aprender nada com os erros que vão somando ano após ano... sem esquecer a terceira via: os que nem para organizar uma partida de bisca lambida na tasca da aldeia serviam, mas que figuras com alguma responsabilidade (até directiva, a nível da federação) tentam esconder.

Neste espaço, que é livre e quer ser honesto o clarim de alerta soará sempre que isso se justificar.

Renovados votos de BOAS FESTAS para todos.

E que não me faltem as forças para continuar a lutar em prol do ciclismo.

(Também sei fazer autocrítica, por isso estejam à vontade para, dentro do maior civísmo, apontarem erros que eu possa vir a ter cometido. Quem sou eu para poder sequer pretender estar acima de quaisquer crítica?. Não o estou, de certeza. Agora, não se coibam de me criticar só porque sabem que, sem grandes margens de dúvidas, eu saberei contrapor e apontar-vos também as asneiras que têm cometido...)

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