Na verdade, e à partida, parece não 'caber' aqui no VeloLuso a referência ao centenário, ontem comemorado, pela colectividade rubro-negra da cidade banhada pelo, felizmente já despoluído, Rio Trancão... mas ligam-me a Sacavém tão gratas memórias. De índole pessoal - que para aqui não é chamado - mas não só.
A primeira, nos idos anos 70 do século passado quando, ditou o sorteio da Taça de Portugal que o FC Serpa (o clube das minha terra) viesse ali jogar para a Taça de Portugal. Menino, de calções ainda - quando eram só os meninos que usavam calções - lá fui com o meu pai, tios e alguns conterrâneos ver o 'nosso' Serpa. Não me recordo do resultado... mas levámos uma tareia das grandes do, então forte Sacavenense.
Mais tarde, ai pelo mês de Maio de 1987 - já eu andava a 'brincar' (entre aspas mesmo, porque sempre levei muito a sério o que fazia) - voltei ao Campo do Sacavenense para fazer o relato, juntamente com o Afonso Castro e para a nossa jamais esquecida Rádio 2000, de Alverca, do jogo do 'play-off' de acesso à III Divisão Nacional. Ganhámos, os de Alverca, por 3-1, ao Clube Operário de Lisboa, ali da Picheleira.
A partir desse momento foi imparável a ascensão do FC Alverca, que só terminou na I Divisão Nacional. Acompanhei, nomeadamente fazendo os relatos da maioria dos jogos, essa era de ouro do 'Barça do Ribatejo'.
Por esta altura, vocês continuam a não perceber por que raio eu abri uma entrada sobre o centenário do Sacavenense....
Vou contar-vos uma história que os mais novos, e mesmo os mais velhos, mas afastados do núcleo do pelotão velocipédico - olha eu a entrar no Ciclismo! - não sabem.
A história de um miúdo nascido em Sacavém e que, desde tenra idade - era assim naquele tempo - o pai teve de pôr a trabalhar num 'oficio' (era assim que se dizia), mas que, sempre que podia, se escapava para a loja de bicicletas que ficava paredes-meias com o seu local de trabalho.
Primeiro a curiosidade (que já escondia a aptidão), depois a paixão pelas duas rodas, no aspecto da mecânica.
Há várias coisas a ligar-nos. Ok, ele é sacavenense de nascimento e eu não, mas desde 1971 quando cheguei a Alverca que somos vizinhos. Claro que só vim a conhecê-lo mais tarde... O curioso é que, vivendo nós a cerca de um quilómetro um do outro, temos o mesmo barbeiro e é ele quem desce desde o bairro da Arcena, aqui em Alverca, até à barbearia que fica a cinco minutos de minha casa.
E na última 4.ª feira encontrámo-nos lá.
"Sexta-feira o Sacavenense faz cem anos e vão-me homenagear... coisa de dirigentes, que eu não mereço mais homenagens, nem sei quantas me fizeram que nem percebi porquê!», disse-me ele com aquela sua simplicidade e despojo de vaidade que só os Grandes Homens conseguem ter.
Falo - alguns já o perceberam - do Grande Francisco Araújo. Sacavenense de corpo e alma, o único português que foi considerado pelo prestigiado L'Équipe, como o melhor mecânico de Ciclismo do Mundo; o mesmo que 'inventou' pedaleiras para o seu inseparável (laço infelizmente abruptamente cortado em 1994) amigo Joaquim Agostinho... rodas com mais dentes que, na altura ninguém acreditava que algum homem conseguisse fazer rodar. O Joaquim Agostinho conseguiu sempre.
O Chico Araújo foi ontem, uma vez mais - e sem favores - homenageado pelo clube da sua terra do qual é sócio há mais de 60 anos.
O que eu, apesar de falar regularmente com, o Chico não sabia até ontem era que o Sacavenense teve um herói no Ciclismo, nomeadamente na Volta a Portugal.
Nas 4.ª e 5.ª edições da Volta, Augusto Belchior foi quarto na grande corrida portuguesa. Fantástico!
Mas o grande nome do Ciclismo Nacional, sacavenense de nascimento e coração é o Francisco Araújo...
1 comentário:
Estranha forma de comunicar...
Mas, continuamos à espera de novas!!! E, somos muitos.
Espero que tudo esteja bem contigo.
Abraço Madeira.
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