quarta-feira, janeiro 07, 2009

II - Etapa 303

É NA UNIÃO QUE ESTÁ A FORÇA
(... e meus amigos,
vocês NÃO SÃO o elo mais fraco!)

Não faço a mínima ideia se o Cédric Vasseur, presidente da CPA - Cyclistes Professionnels Associés (no nosso léxico: Associação Internacional dos Corredores Profissionais), é ou não admirador do filósofo alemão Karl Marx. Eu, confesso, sou admirador - e cada vez mais - porque este homem, nascido em 1818 (morreu em Inglaterra, aos 65 anos) que não consta ter nascido de mãe virgem e de ter um pai todo-poderoso que reinasse sobre a terra e os céus, deixou-nos um legado de importância incontornável.

Esqueçam as ligações que, à posteriori, lhe colaram ao nome - embora, na sua génese, eu acredite que a ideia era a de observar a sua doutrina - e quem conhece a sua obra e reconhece a influência que os seus pensamentos tiveram no desenvolvimento da sociedade, sobretudo das classes mais baixas, até muito perto do final do Séc. XX (mais de 180 anos!) saberá interpretar o que vou escrever a seguir.

Sou membro de pleno direito da AIJC - Associação Internacional de Jornalistas de Ciclismo - e recebo mensalmente o boletim da CPA.

Neste último, o presidente deste organismo - que quer, e precisa, e para isso precisa do apoio de todos os Corredores profissionais, devolver aos Corredores o protagonismo que é deles, que é vosso, porque sei que muitos me lêem -, depois de um balanço à temporada de 2008 termina com um - quase diria, pungente - apelo à Classe.

E quando li o documento - cá vem a ligação com Karl Marx - lembrei-me logo de uma das suas mais célebres frases. Recordo que estávamos em meados do Séc. XIX, em plena Revolução Industrial.

E a frase é esta:
OPERÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!
Troquem o operários - que vocês não deixam de o ser - por Corredores...

Numa leitura lúcida e inteligente daquilo que se passa na actualidade, Cédric Vasseur chama a atenção para o facto de o Ciclismo continuar a ser um Espectáculo, espectáculo que continua a motivar multidões e, como ele bem o descreve, as pessoas não vão à beira da estrada, às zonas de partida e chegadas das etapas, para ver os carros topo de gama ou os autocarros quase futuristas que as equipas hoje em dia apresentam. Vão ver os Corredores.

Vão ver os Corredores, os verdadeiros, os únicos artistas deste espectáculo que é o Ciclismo.

E ao que é que estamos a assistir?

Passe a imagem, que podendo não ser bonita não tem nada de pejorativo porque, tal como vocês, os artistas de circo são credores de toda a nossa admiração.

Estamos a assistir que os donos do circo, começando pela União Ciclista Internacional, descendo um degrau até às federações nacionais e mais um outro até aos organizadores (sem esquecer, porque não seria honesto se o não sublinhasse aqui, as equipas), estão muito mais preocupados em tentar salvar os respectivos negócios (e tachos, acrescento eu) do que em fazer qualquer coisa que SALVE o Ciclismo.

Por cá, as últimas notícias que li - e já repararam que deixei de dar notícias, o VeloLuso regressou ao formato inicial, que é o de espaço de opinião, não de um jornalista (que tem um vínculo contratual com uma entidade que lhe paga o ordenado ao fim do mês e perante o qual tem compromissos a que não pode fugir) mas de um fervoroso adepto -, dizia, para que não nos percamos, as últimas notícias que li foi a de que o principal organizador de corridas em Portugal quer baixar as categorias das suas provas internacionais, e até passar algumas a meras corridas domésticas.

Quem quiser ver a coisa pelo lado da sobrevivência do Ciclismo em Portugal até pode achar que isso será o mais correcto. E nem peso na consciência me fica porque há muito venho a dizer que temos corridas internacionais a mais.

Mas se conseguimos perceber um rabo de fora, é porque há um gato escondido.

Corridas internacionais 2.2 custam ao organizador METADE do preço das de 2.1 e corridas domésticas aproximam-se do décimo de encargos, em relação às primeiras. E onde é que se poupa dinheiro? Nos prémios aos Corredores.

É verdade que se não houver quem organize corridas... não há trabalho para os Corredores.

Mas, ao contrário do que se costuma dizer, a verdade não é só uma. Há muitas e cada parte escolhe aquela que lhe der mais jeito.

Sabemos - se o conseguisse provar já o tinha feito - que há equipas que não pagam o que regulamentarmente está estipulado aos seus corredores; temos agora as organizações mais preocupadas em salvar os anéis, em detrimento dos dedos, e os dedos são aqueles que fazem o espectáculo, os Corredores. Sabemos - por mais estranho que isso possa parecer - que a FPC NUNCA se deu ao trabalho de verificar se os contratos que avaliza são verdadeiramente cumpridos; sabemos que a FPC aceita a inscrição de massagistas, mecânicos - apesar de os seus serviços administrativos terem de passar duas licenças à mesma pessoa, porque os massagistas e os mecânicos também precisam de uma licença -, e se for necessário... padeiros, serventes de pedreiro ou entregadores de pizzas... como se fossem corredores para ultrapassar a questão das idades regulamentadas para as equipas Continentais.

Sabemos que há corredores que assinam um contrato de 12 meses, a cobrar 1000 € por mês a uma equipa e, paralelamente, assinam um compromisso de, mensalmente... doarem esses mil euros à mesmíssima equipa. Correm de borla, deixando colegas que o não podem fazer no desemprego.

Mas pronto... este artigo serve apenas para chamar a atenção para o comunicado da CPA, assinado pelo seu presidente, Cédric Vasseur cuja parte final aqui vos deixo...

Eu sei que a Vida não está fácil, mas no meu Alentejo diz-se que só se põe às nossas cavalitas se nós nos baixarmos...

1 comentário:

Marina Albino disse...

Concelho Nacional do Desporto
Salários em atraso em discussão


As propostas para erradicar o fenómeno dos salários em atraso no futebol foram hoje analisadas pelo Conselho Nacional do Desporto (CND) e remetidas para um grupo de trabalho mais restrito.

"O CND remeteu para Conselho do Sistema Desportivo a concretização de grupo de trabalho que até final da época irá preconizar as soluções adequadas a evitar o fenómeno dos salários em atraso", disse o presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), no final da reunião do CND, que decorreu hoje em Lisboa.


Esta notícia que aqui transcrevo, é a prova evidente que só o futebol interessa.
Os incumprimentos de contratos e falta de pagamento de salários no ciclismo, são factos nunca noticiados e a não ser a APCP a alertar e ajudar os ciclistas para accionarem as garantias bancárias, ninguém mais se interessa pelo assunto.