quarta-feira, junho 09, 2010

ANO V - Etapa 54

RAIVA E INDIGNAÇÃO!...

Em relação ao que a seguir vou deixar escrito, já não sou, em consciência, capaz de dizer que me surpreendo.

Somaram-se-me, nos últimos dois anos, tantas desilusões (e atenção! podem são ser essas em que estão a pensar...) que a paixão, cega, como o são todas as paixões, pelo Ciclismo - ainda e sempre a MINHA modalidade - parece esvair-se a cada dia que passa.

Queria, digo-o sinceramente, queria, que a chama, ainda que esmorecida, que me fez passar por tantos sacrifícios, mormente de ordem pessoal e, agora, naturalmente irreversível, ainda, no mínimo, me servisse como um sinal. De que nem tudo está perdido.

Eu sei que continua a haver gente boa no Ciclismo. Boa, em todos os sentidos. Mas também fiquei de pé atrás em relação à esmagadora maioria.

Se me saísse o Euromilhões, acreditem ou não, o meu primeiro grande objectivo seria o de vir aqui desmascarar duas mãos cheias de gente que sempre viveu do Ciclismo e pouco (comparativamente foi, definitivamente, pouco) ou nada lhe deram.

Ia gastar os milhões em advogados pois sei que não me perdoariam.
Mas sei que ia ganhar na barra. Contudo, não tenho posses para isso e por isso me calo. Mas não esqueço.

INSENSIBILIDADE E...
(POIS) QUE HEI-DE CHAMAR-LHE?

Estava marca para a passada 3.ª feira a primeira audiência em Tribunal do Processo que opõe a familia do Bruno Neves à companhia de seguros que, na altura, se não segurava todas as equipas do pelotão profissional, poucas haveriam de lhe escapar.

Bom negócio. O Seguro Desportivo é obrigatório e fundamental para a inscrição das equipas... O risco de algum acidente grave, não podendo ser posto de lado, também não é tão grande assim. Bom negócio, repito...

Ora, não sendo, de facto, 'notícia de âmbito desportivo' ninguém falou ou escreveu que, aceitando o resultado da autópsia - introduzo uma questão: se a companhia de seguros a toma como garantida, porque é que ainda há, mesmo a nível institucional, na família do Ciclismo, quem sobre ela levante dúvidas? - essa companhia de seguros, dado que o resultado foi morte súbita, usou as armas que tem ao seu dispor e se 'cortou' no pagamento da indemnização.

'Morte subita, podia ter acontecido com o atleta a dormir', é, tanto quanto sei, a âncora da defesa da dita companhia. Contra todos os factos e a realidade, dolorosa realidade: o Bruno morreu sentado em cima de uma bicicleta, em plena competição desportiva.

Esta é a parte da 'insensabilidade', que vai marcada alí atrás em corpo maior.

Vem agora a parte que não sou capaz de catalogar...

O julgamento estava marcado para a passada 3.ª feira. Pelo lado do Bruno estava a família e as testemunhas arroladas, a Companhia de Seguros também marcou, como é natural, a sua presença e iam ser ouvidos ainda o médico que efectuou a autópsia e o médico oficial da corrida em que o Bruno morreu.

Julgamento com hora marcada, claro: 9.30 da manhã.

Ligeiro atraso... Às 10 horas a Juíza encarregue de julgar o conflito chama os representantes de ambas as partes. Como todos os demais, mau grado ter sido notificado três meses antes - três meses - e haver prova presente em Tribunal que o próprio assinara a recepção da notificação, o Luís Almeida enviou, pelas 9.45 horas um fax a cominicar que, à altura do acidente já não era presidente do clube. Que se tinha demitido! Porque os meus parcos conhecimentos da legislação associativista me deixam na dúvida... o Órgão máximo de qualquer colectividade não é a Assembleia-geral e só desta poderão emanar decisões?

A demissão do presidente do clube chegou a ser discutida? Foi aceite?

É que me parece redutor - e eu sei da história toda - que se envie uma carta a dizer que, a partir desse momento renuncia ao cargo, ainda por cima quando, ANTES de a carta, devidamente registada, como é da praxe, ter chegado à sede do clube, o presidente que, para ele já não era presidente, ter participado numa reunião de emergência com a restante direcção, exactamente na sequência da investida da PJ/CNAD...

O estranho, ou o mais estranho, porque há muita coisa estranha nisto tudo, é que o homem recebeu a intimação para comparecer em Tribunal, em Março, aceitou-a pessoalmente e isso consta do 'canhoto' do registo de correspondência, e só 15 minutos depois da hora marcada para o início da audiência, quando todas as outras partes já estavam nos seus lugares, é que enia um fax a dizer que não compareceria porque... na altura já não era presidente do clube.

Teve três meses para o fazer... Porquê esperar até áquele momento quando, pelo menos de véspera, já sabia que não iria comparecer?

É esta a parte a que não sei o que chamar-lhe.
E como o Euromilhões só será sorteado na próxima sexta-feira, é melhor eu ficar por aqui.

Com um abraço forte e muitos beijinhos para a família que sofre há dois anos e continua a ter que passar por situações destas, termino desta forma:

"Não me digas que não compreendes
"Quando os dias se tornam azedos
"Não me digas que nunca sentiste
"Uma força a crescer-te nos dedos
"E uma raiva a nascer-te nos dentes
"Não me digas que não compreende... (*)
(*) Poema da canção 'Que Força é Essa',
da autoria de Sérgio Godinho
.
Mas o mais importante nisto tudo tem a ver com o sofrimento de uma família. A do Bruno. E com o sofrimento de todos aqueles que lhe eram mais chegados. Esse sofrimento será para sempre mas, de cada vez que parece que alguma coisa - e não estou nem de perto nem de longe, a falar de indemnizações -, dizia, de cada vez que parece que alguma coisa pode, por fim, ser retirada a esse sofrimento, porque já passou, foi resolvida... há-de sempre acontecer o contrário.
Claro que este julgamento vai ter que ser feito. Terá uma nova data e sabemos a que velocidade anda a nossa Justiça. Passarão mais quantos anos? Um? Dois? Mais?... Mas um dia, no futuro (dentro deste espaço) a família e os amigos vão voltar a ver a ferida, que ainda hoje lhes sangra, a voltar a abrir-se. Vão ter que passar por tudo outra vez...
Associo-me à vossa dor, ao vosso desespero. À vossa indignação...
Estarei, como estive desde o primeiro minuto, ao vosso lado, ainda que nos separe a distância física.

2 comentários:

cristina neves disse...

obrigda amigo...:(

BlueDragon disse...

A esse dito Senhor pode chamar-lhe COBARDE.
Foi cobarde quando, enquanto presidente, não soube defender e lutar pelo interesses da equipa e dos seus membros, em particular os ciclistas, e é ainda mais cobarde agora quando perante o sofrimento de uma família se esconde numa desculpa falsa.
Esse Senhor a quando do trágico acontecimento era Presidente e só emitiu vontade de se demitir algum tempo depois. Se não acreditam façam contas porque entre o desaparecimento do Bruno Neves e a Busca da PJ à equipa passaram quase 2 semanas e esse Senhor só depois deste último facto é que qual "rato" decidiu que queria abandonar o barco.
Madeira, se me sair o Euromilhões fique descansado que terei muito prazer em pagar a sua defesa em tribunal.
Família do Bruno, sei que o vosso sofrimento não tem quantificação possível mas peço para que tenham Força e lutem como o Bruno o fazia em cada corrida.