domingo, setembro 14, 2014

ANO IX - Etapa 35

DÓI-ME CÁ FUNDO VER-VOS PARTIR
AINDA COM TANTA VIDA PELA FRENTE!...
E EU FICAR...
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Aprendi que temos, sempre, que estar preparados para tudo. Já sofri o quanto basta ao perder quem amava, que era a minha Vida; depois os meus Pais... pelo meio Amigos de Infância... e Amigos que conquistei na minha outra família, a do Ciclismo! Dos mais idosos, cujo fim pressentia-mos, aos mais jovens que jamais pensara ver ´sprintar' para chegar LÁ, ONDE QUER QUE SEJA, antes de mim.

Estou por um fio. Praticamente com data marcada e, quando à noite as dores não me deixam dormir, ou me acordam até que novo comprimido faça efeito, vejo o 'filme da minha Vida' passar no tecto pardo do quarto onde eu próprio hei-de ser encontrado morto!

Não digo nomes. Tenho-os no peito porque a grande maioria deles foram tão amigos que lá viveram... até partirem!

Esta noite, quando esperava ver o NOSSO RUI COSTA vencer lá longe, no Canadá... heis que pela voz do Paulo Martins, na Eurosport, levo outro 'soco no estômago'.

O Bruno Castanheira acabara de nos deixar, duas horas antes.
Procurei saber detalhes. Não encontrei muitos.

Regressando a casa, vinda do trabalho, a sua esposa encontrou-o sem vida. Grávida, e com um filhote de apenas 5 anos!

Que te aconteceu Bruno!!!!... Que maldade AMIGO!

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Quando vim para A BOLA já andava há NOVE ANOS NO CICLISMO, cobrindo todas as principais provas nacionais, e até um Campeonato do Mundo. E uma Volta a Espanha, em 1997, ao serviço de A CAPITAL!

A BOLA 'projectou-me', DEU-ME mais, muitas mais, provas internacionais para o meu Currículo - embora isso tenha vindo a ser ostensivamente ignorado, vide a 'capa' do suplemento especial para a volta do ano passado onde até o Kaká, vendedor de plásticos, aparece duas ou três vezes e de onde eu fui, pura e simplesmente apagado, num acto puramente estaliniano - mas quando me contrataram, em 2000, nem foi pelos meus bonitos olhos, nem por aquilo que, afinal, é, de facto, o que já vingava naquela altura e hoje ainda tem mais força... ser 'lambe botas'!

Fiz parte de um Conselho de Redacção, como membro suplente, só participei em três ou quatro reuniões e só numa ou duas almocei com o Director! Nunca lhe pedi para escrever o prefácio de nenhum livro, nem uma vagazinha para uma grande competição! Aliás, As Grandes Competições em que participei foram todas de Ciclismo e, sempre como 'chefe-de-fila', mesmo numa em que o meu Editor, na altura, fizesse parte da equipa!

Contrataram-me porque eu tinha a melhor 'carteira' de contactos de todos os Jornalistas acessíveis àquela altura!

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N'A CAPITAL, por sugestão minha, apresentada já devidamente planeada e sustentada, para fugirmos aos 'gigantes' A BOLA, Record e O Jogo, em 1994, aceite a proposta, passámos a cobrir as corridas de sub-21 que se realizassem na zona de Lisboa, claro. A CAPITAL, até porque era um Jornal vespertino, tinha uma área de distribuição muito delimitada que chegava do Algarve ao Porto, mas só na orla costeira.

Quantas e quantas Volta fiz que, acima de Évora nem conheciam o jornal. E eu fiz Voltas em que em dois terços da mesma não tinha a mínima ideia do que saíra no Jornal. Não havia Internet, eu escrevia - à máquina - mandava para a redacção quatro, cinco peças... e só quando a Volta acabava e voltava a Lisboa percebia que metade nem tinha sido publicada.

Mas foi nessa experiência tentada, não terá durado mais de dois anos, junto do segundo pelotão, o dos mais jovens, que conheci o BRUNO!, então a defender as cores do Paio Pires, a sua terra natal. Mas também conheci, por exemplo, o Grande Mestre Emídio Pinto e o seu Canelas, que alguns anos depois viria a chegar aos Profissionais, e tanta, tanta gente que tanto me ensinou do Ciclismo.

Em 1995 fui convidado para cobrir a Volta à Madeira, o que aconteceu, de novo no ano seguinte. E foi quando, de facto ganhei a amizade de jovens Corredores, como o BRUNO CASTANHEIRA, já no Lourinhanense, da velha raposa António Marta, do Hugo Vítor, do Marco Morais, do Pedro Andrade... Conheci e convivi de perto com o Joaquim Andrade (pai)... não consigo lembrar todos.

O BRUNO CASTANHEIRA foi o melhor de todos - embora o Marco e o Pedro também tenham feito uma excelente corrida, bem como um jovem madeirense, o José Nóbrega, que no ano seguinte viria para o continente, exactamente para o Lourinhanense, mas que não se adaptou e nunca mais soube nada dele. Não havia telemóveis! - tendo perdido essa Volta à Madeira para... o Carlos Marta, com idade para ser seu pai e cujo pai impôs que fosse ele o vencedor. A única vitória à geral que o Carlos, também bom amigo, tem no palmarés. Mas o BRUNO VENCERIA SEM GRANDES DIFICULDADES, apesar dos seus (apenas) 18 anos de idade. Vêem há quanto tempo somos amigos?

Depois, claro, acompanhei toda a sua carreira Profissional. Quase toda... que eu fui 'retirado' em Março de 2008, e jamais voltei ao Pelotão! Também foi esse o seu último ano.

Em 2004 foi declarado Campeão Nacional de fundo, após a desclassificação do vencedor original, por problemas de 'doping''... Mas somou muitas vitórias, principalmente enquanto jovem. Já sénior, foi um dos melhores 'équipiers' do nosso pelotão... e vou recordá-lo sempre com aquele seu sorriso e o... 'tudo bem chefe?', de cada vez que nos cumprimentávamos.

Descansa em paz AMIGO.

À Família, em especial à sua esposa, para além das lágrimas que não sou capaz de segurar, desejo que seja forte nesta hora de infelicidade!

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