terça-feira, março 17, 2015

ANO X - Etapa 6

É DURO VER-VOS PARTIR ASSIM, AMIGOS
ANTÓNIO DE SOUSA,
CONTIGO TAMBÉM MORRI UM POUCO
.

Chegamos a uma certa idade e, ao mesmo tempo que o nosso próprio corpo nos coloca em "alerta Laranja", percebemos que estamos a ficar velhos. É quando começamos a perder os Pais, os Amigos. Aqueles que escudavam a nossa própria vontade de viver.

Porque os tínhamos ali. Nos confortavam nos momentos menos bons.
A Minha Mãe, tinha ela muito poucos anos do que aqueles que eu já tenho... O Manel, companheiro de liceu desde o primeiro ano, que se foi com pouco mais de 40 anos, tal como a Leonor, colega Jornalista na minha aventura na Rádio local, depois notável Jornalista no Expresso, no Correio da Manhã Rádio e, finalmente na TSF. Tinha 40 e muito poucos anos; o Casimiro, da Rádio Portalegre, moço para a minha idade, o João Carlos, da Antena 1, ambos companheiros de estrada em muitas dezenas de Corrida de Ciclismo. O 'menino' Bruno Neves os meus enormes amigos Gonçalo Amorim e Bruno Castanheira, ambos Corredores de 'vi nascer' para a modalidade. O Boaventura Bonzinho, o Abel de Figueiredo... Dois mestres com quem convivi. Provavelmente não por esta ordem, mas agora não consigo precisar.

Mas não só. O Carlos (já não me recordo o apelido) que era o técnico de comunicações do Troféu Joaquim Agostinho, moço simples que pouco mais teria que 30 anos e que me desenrascava sempre, mas sempre e foram muitas vezes, de cada vez que o meu computador tinha uma 'birra'! E o Francisco Nunes, e o Serafim Ferreira e o Bruno Santos, meu companheiro em tantas Salas de Imprensa, principalmente na Volta a Espanha; e o Fernando Pereira, o homem que se levantava mais cedo todos os dias para ir à frente da sua equipa fazer a marcação do percurso das etapas; e o Manuel Maduro, e o Engenheiro Brito da Mana... E o Doutor Louro, o homem do som em tantas, tantas corridas.

Era, sempre foi, transversal a minha amizade com a maioria da Família do Ciclismo. Do rapaz de menos de 30 anos, que regulava as comunicações na Sala de Imprensa, ao 'velho e querido Boaventura Bonzinho'; do Fernando Pereira, homem simples, mas amigo do seu amigo, que "apenas" marcava o percurso - e vai entre aspas porque quem o conheceu sabe bem que não era... apenas isso, ao Francisco Nunes, Organizador da Volta a Portugal, entre outras corridas; do Eng.º Brito da Mana - para quando uma prova com o seu nome, em homenagem por tudo o que fez pelo Ciclismo de Tavira? Do Algarve? E ia-me escapando o nome do Doutros José Barreiros de Magalhães... Que momentos passámos juntos, comigo, recém chegado à 'família', embevecido com as suas histórias... E o meu velho Joaquim Ezequiel... Vou-me esquecer de muitos, fico-me por aqui.

Peço perdão por aqueles que me esqueci.

Já perdi muitos amigos no Ciclismo.
Os que a morte levou, e os que se 'esqueceram' de mim.


MAS ESTOU AQUI E AGORA PARA CHORAR
A MORTE DO ANTÓNIO DE SOUSA


Não exijam a esta cabeça cansada e desorientada que aponte datas... Sei, perfeitamente, que foi numa Volta a Portugal que terminou em Matosinhos!

Nãos nos conhecíamos de lado nenhum, nem vou fazer de conta que sim, que o lia todos os dias n'A BOLA! Eu estava na pequenina A CAPITAL. E, como sempre aconteceu nas 9 Voltas que fiz pelo vespertino, então de Cabo Ruivo, fi-la sozinho.

Mas não era a minha primeira, já tinha amigos, e o António de Sousa entrou quase de imediato para o rol. Lembro-me que a parceira dele nessa volta era uma jovem, a Berta Rodrigues, que - desculpa Berta - lhe punha a cabeça em água, 'obrigando-o' a refazer quase todos os textos... Ao fim de dois almoços e um jantar, o António, que teve a coragem de reconhecer que o meu trabalho era... era só bom, me pediu ajuda. Que eu levasse um gravador e registasse as perguntas que todos fazíamos aos principais protagonistas. Ele nunca mo confessou, mas acho que não ia preparado para aquilo e nem 'phones' tinha, tanto que todos os dias me pedia: «Manel, empresta-me os 'phones'?» E eu emprestava.

Eu usava o gravador de manhã, antes das etapas começarem! Como o jornal só saía no outro dia à tarde, tinha que arranjar histórias durante a manhã. Que só escrevia à noite, no quarto do hotel.

Mas chegadas tinha o meu bloco e a minha esferográfica. Foi sempre assim que trabalhei. 

Depois, o quê, um ano, dois? Eu passei para  A BOLA e cheguei a sub-editor das Modalidades. Falávamos todos os dias. E ele nunca me negou nenhum pedido. Eu precisava de uma fotografia de algo a ver com as Modalidades... Tinha-a - com o seu sucessor foi muito, muito mais difícil -, precisava, não só a 'visita' de um fotojornalista a determinado pavilhão, porque poderia haver campeão, festa... Tinha-a!

Depois, eu fiquei doente, e de baixa. E ele também, quase ao mesmo tempo... Quando voltei, ele já se tinha retirado...

Nunca mais falámos.
Nuna mais falaremos...
Choro a tua morte, meu amigo. Descansa em paz!

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