sábado, outubro 29, 2005

1.ª etapa


Estamos numa encruzilhada. Dito, desta maneira, até parece que foi de repente que se nos deparou a dúvida sobre qual o caminho a seguir quando, na realidade, há muito que esse caminho não é mais do que o somatório de encruzilhadas, com quase toda a gente a tomar, perfeitamente ao acaso, o rumo que institivamente lhe parece ser o melhor.
E tem tido muito de institivo o caminho que o ciclismo luso tem escolhido desde há uns anos a esta parte.

Convinha, contudo, que os mais interessados fizessem um pequeno esforço de forma a tentarem perceber se esta é, afinal de contas, só mais uma encruzilhada para somar às tantas outras que, de uma maneira ou outra, se foram passando, ou se, pelo contrário, a sorte pode estar prestes a acabar.
Sorte porquê? Porque, em tantas encruzilhadas, alguma vez se há-de ir dar a um caminho... sem saí­da. Já se pensou nisso? Nesta autêntica roleta russa, continua a arriscar-se. Conscientemente? Não, às vezes sou levado a pensar que não. De todo.
Mas somos um Paí­s de crentes. Apesar de tudo.

Ainda não se fez um balanço honesto da temporada finda há cerca de um mês. Provavelmente, e uma vez mais, esse balanço nunca vai ser feito.


Mascaram-se as dificuldades de 2005, acrescentam-se uns pózinhos de ilusão com o timbre de 2006, fecham-se os olhos e, outra vez, escolhe-se um dos caminhos que se oferecem. Pode ser que tenha saída.

E tem tido, para a maioria. Apesar de tudo.

Mesmo ganhando menos, os corredores conseguem enganar-se mais uns meses (que é o que os separa da primeira falha no recebimento dos honorários acordados); com a cedência dos corredores, as equipas técnicas acabam por ver salvo o emprego, nas mesmíssimas condições; com as equipas formadas lá se vão fazendo umas corridas; com as corridas que se fazem, disfarça-se a pobreza de um calendário desiquilibrado...

... desde que tudo dure até Agosto, pois o pensamento de todos está fixado na Volta a Portugal. Aliás e como se viu este ano, até houve quem se tivesse dado ao luxo de não comparecer em corridas - depois de se terem queixado que havia poucas corridas - para, supostamente, se apresentarem melhor na Volta.

E a Volta começou da melhor maneira para aqueles que desde Outubro do ano anterior só pensam em, quase vendendo a alma ao diabo, construirem um grupo na secreta esperança de, naqueles dez dias conseguirem um brilharete. A única equipa do pelotão que chegou a Oeiras sem uma singular vitória para amostra... ganhou a 1.ª etapa da Volta.

Estava justificada a temporada. Por esta hora, pisam-se os mesmos passos, sonham-se os mesmos sonhos, torneiam-se os mesmos problemas de sempre. Sempre fazendo fé que não será desta ainda que, na tal encruzilhada, o instinto de sobrevivência os não salvará do trilho sem saída nem retorno.

Que um dia, inevitavelmente, até por falta de mais escolhas, vai mesmo ser o escolhido.

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