segunda-feira, janeiro 09, 2006

19.ª etapa


O ciclismo português está como o País que o pariu... a andar para trás.
Tirando a vintena de famílias (nem sei se ponho ou não aspas na palavra...) que são quase 4 vezes mais do que aquelas que faziam o mesmíssimo papel no tempo do Botas, hoje quem tem dinheiro e enriquece - porque alguém há-de enriquecer!... - fá-lo a nível quase individual. É o jogo da Bolsa, são as micro-empresas... resumindo e para aquilo que nos interessa, de facto: a coisa está preta no que respeita às equipas de ciclismo conseguirem patrocínios.

Em 2006 o ordenado médio no pelotão não vai ultrapassar, de certeza, os 300 contos, na moeda antiga e, se tivermos em conta que ainda há dois anos se ganhavam 2000 contos... muita coisa fica explicada.

Este arranque induz, de imediato, o (eventual) leitor num clima de pessimismo, mesmo de negativismo. Antes que seja lançado o verdadeiro tema desta crónica que vai induzi-lo ainda mais no mesmo erro logo que eu disser qual é...
Só que a minha intenção primeira não vai encaixar aí...

Hoje vou falar de erros.
Erros são de imediato conotados com falhas das estruturas ou falta de capacidade destas... e não sei se é o caso.

Hoje vou falar de três corredores que foram castigados disciplinarmemte há pouco mais de um mês e que agora foram... ilibados.

Aqui d'el Rey, exclamarão os mais apressados, os mais apaixonados e os menos informados de como isto funciona.

Primeiro, os factos: usando a prerrogativa que lhe está atribuída, pôs o CNAD, em Julho último, em campo, meias dúzia das suas equipas no intuíto claro e indisfarçável de "caçar" ciclistas.
Se calhar fez o mesmo com os homens e mulheres do atletismo, com os da natação, com os do hóquei em patins e com os do basquetebol. Confesso que, em relação a qualquer uma destas modalidades... não sei se o CNAD se preocupou ou não... A culpa também não é só minha (mesmo enquanto jornalista) já que, quando é com o ciclismo - mesmo partindo do princípio que tenho mais hipóteses de saber, a verdade é que SE SABE (parece, às vezes, que se quer que se saiba) e em relação às outras modalidades... se há controlos, são tão discretos o quanto os do ciclismo deveriam ser!...

Qual elefante em loja de porcelanas, o CNAD fez os "estragos" que se esperava mesmo à boca do início da Volta a Portugal num claro exercício de onanismo, tentando chamar sobre si as atenções.
Mal comparado, se fossem polícias, os elementos do CNAD eram o "Dirty Harry" ou qualquer dos personagens representados pelo Bruce Willis ou o Sylvester Stallone. Justiceiros, mas sempre a deixarem um rasto de cacos atrás deles... mesmo, PRINCIPALMENTE ISTO, que não fosse necessário parir um prato para fazer o que havia a fazer...

Mas o CNAD pôs-se a fazer visitas. Antes da Volta, que durante esta, escapava-se-lhe o protagonismo. Porque é que uma unidade que só deveria preocupar-se com a saúde dos atletas tem tanta vontade de ser notícia... isso já pode ser motivo para outra crónica.

O CNAD vai, então (de surpresa, claro) a casa de duas vintenas de corredores.
Alguns deles não são encontrados nos domícilios que, mandam os regulamentos - será assim com os atletas de outras modalidades também? - têm de ser facultados aos inspectores.

Estamos a, mais ou menos, um mês do início da Volta a Portugal e, tanto na FPC como directamente nos clubes, chovem os pedidos, com caracter de urgentes, de confirmação de moradas, ou a indicação das novas, de muitos corredores.

Como qualquer trabalhador - de qualquer profissão - estrangeiro, os corredores, para que lhes seja concedido visto e autorização de permanência no País, têm que provar que trabalham (têm que mostrar um contrato de trabalho) e que têm cá residência... Só uma mentalidade "chapa-4" esperaria que um corredor de bicicletas, que pode treinar perto de casa, junto da família, e apresentar-se ao serviço dois dias antes, vinha, por exemplo, da Bulgária para o Porto... em termos definitivos.

Há moradas que não são verdadeiras? Não... há cidadãos que não estão 365 dias na mesma morada... Mesmo que, num ano, só estejam lá... 10 dias.
Não perceber, ou fingir que não se percebe isto, é aceitar que estão a lidar com assuntos sobre os quais não percebem nada.

Mas os médicos do CNAD, de facto, só têm que saber recolher amostras aos atletas controlados. A culpa não é deles.

Foram dezenas, os pedidos (incessantes) do CNAD de confirmação de moradas... e os clubes acabaram por sabê-lo, o que anulava o factor surpresa... Mas no CNAD lá deverão saber como trabalham.

Resumindo, e para que isto não fique maior que uma crónica do MST n'A Bola, cumpridas todas as deligências, feitas as contas, no final dos "raids" do CNAD, 11 corredores não estavam nem apareceram em casa, pelo menos durante o tempo em que as brigadas esperaram por eles...


(continua na Etapa 20)

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