segunda-feira, janeiro 09, 2006

20.ª etapa


(este tópico iniciei-o na Etapa 19, por isso, e para que faça sentido...
é melhor puxar isto um pouco abaixo e, já agora, ler tudo desde o princípio...)



Parte II


Temos então as brigadas do CNAD a depararem-se com... faltosos. E houve tanta história recambolesca que cada uma delas dava outra história - desde quem tenha saltado muros e regressado à estrada, a quem, cruzando-se, cara a cara com os inspectores, tivesse negado ser quem, na realidade é... passando por quem, avisado, de casa, que os médicos estavam à sua espera, tivesse acabado com o treino e, a partir de porto seguro, e em ligação permanente com o seu médico, tivesse gasto duas ou três horas a tomar pílulas de diversas cores de forma a que, quando chegasse a casa, se o CNAD ainda lá estivesse, o que mijasse para o frasco saísse tão puro como as virgens das histórias de fadas, que hoje por hoje... isso é coisa de história de fadas.

Temos então (ou teríamos, se fosse o caso de querermos enveredar assim pelo género policial) meia dúzia de casos engraçados, para rir (ou talvez não, ou talvez não!!!) e 11 corredores que não estavam em casa quando as brigadas aparecerem, nem apareceram, enquanto as mesmas brigadas não se foram...

Relatórios feitos, autos levantados e comunicados ao Conselho de Disciplina da FPC - ao CD, porque é este órgão que tem de se ocupar disto, não a Direcção cujas funções, estatutariamente são, como é evidente, outras -, este (o CD) chama os 11 absentistas e ouve-os.
Cada um contou a sua história, melhor ou pior e, consoante a história se segurou ou não, oito foram mandados em paz... e três, porque de tão mal contada, ninguém podia acreditar
(ou pior ainda... alguém fez saber aos relatores do processo que... quem disse que o senhor X nem sequer morava ali naquela casa fora o próprio senhor X; que o barulho estranho ouvido mas que não puderam, por uma questão de cortesia, confirmar - o contrário seria saltarem dos sofás onde tinham sido convidados a esperar e então dariam de caras com o senhor Y a fazer marcha atrás e a desaparecer atrás do quintal, para não ser visto - e, mesmo a história do rapaz que procurou desesperadamente anular o rasto daquilo que o CNAD gostava de lhe ter apanhado, tomando um atrás de outro, "dissipadores" de evidências)
aabaram castigados pelo CD que, preso de mãos e pés, perante as fragilidade das defesas... pouco mias podia fazer.

Ditaram-se os castigos.
Aqui dou a minha opinião: regulamentos são regulamentos, é certo, e todos devemos aceitá-los, mas o castigo que foi dado a Rui Lavarinhas tinha todo o ar de machado afiado para que a cabeça rolasse de forma a servir de exemplo.
Os conselheiros são homens e parto do príncipio de que são homens do ciclismo. Se o Lavarinhas já tinha sido sacrificado num castigo anterior (para servir de exemplo???) porque raio penalizá-lo ainda mais? Numa situação de igualdade (salvo a possibilidade de eu estar enganado), porquê aplicar-lhe a pena máxima, abaixo da irradiação?
Esta parte escapa-se-me, mas ainda saberei o que aconteceu.

Os outros dois dois atletas levaram o mesmíssimo castigo que um outro já apanhara por ter sido apanhado... dopado! Certo que o regulamento diz que faltar a um controlo é equivalente a dar positivo, mas caramba... os conselheiros são homens e sabem (ou deviam saber) aplicar a lei de uma forma justa.

Entretanto, os três castigados apresentam recurso.
De tudo o que eu sei, e já deixei escrito, não tenho a mínima dúvida que eles (os corredores) ou já o sabiam, ou vieram a sabê-lo, ou os seus representantes (sempre partindo do princípio que são advogados conscienciosos) chegaram lá... ouvindo possíveis testemunhas.

E, ao Conselho Jurisdicional - isto sou eu a adivinhar - vão chegando, ao mesmo tempo, as histórias daquele que disse aos inspectores, quando o chamaram pelo nome, que não era ele... e do que se apressou a recolher-se em sítio seguro e, seguindo indicações do médico, foi tomando as pílulas amarela e laranja e vermelha e verde... de forma a que se, quando chegasse a casa, se os inspectores do CNAD ainda lá estivessem à sua espera... as azuis que tomara de manhã já tivessem sido completamente camufladas...

E estes homens (os juízes do CJ) chegam à conclusão de que os três "condenados" só o tinham sido porque eram piores a contar mentiras do que os demais... e resolvem "limpar" toda a gente. Custa a aceitar?
Dá algumas náuseas, aceito que sim... mas eu, no lugar deles teria feito EXACTAMENTE A MESMA COISA. Não sei explicar porquê... esperando que na próxima vez estejam todos em casa? Ou que todos sejam suficientemente espertos para enganarem o Conselho de Disciplina?
Já não sei... e também não quero saber agora...

Acho, muito francamente, que às vezes há decisões erradas, na sua génese, que são mais justas do que outras assumidas friamente. Acho que o que aconteceu se enquadra nisto.

Só espero ter feito uma leitura o mais próximo possivel daquilo que aconteceu.
Não queria um dia chegar a saber que a segunda decisão teria sido apenas (embora não tenha sido mais que isso, mas QUERO EU QUE NÃO TENHA SIDO assim tão... puerilmente) apenas um caso de... uma mão que lava a outra.

5 comentários:

José Carlos Gomes disse...

Cuidado, com estas denúncias, a próxima época velocipédica pode ficar marcada por uma notícia à margem da corrida: "Jornalista atropelado por carro de apoio".

:)

mzmadeira disse...

Caro Zé Carlos, o amigo, assumindo-se como jornalista, confessou que nunca se moveu nesta área específica... Eu ando cá há 16 anos. Todos sabem que eu sei... e todos sabem que eu sei que eles sabem que eu sei :-)...

E depois, são estórias (reias, que isso garanto) de que se falará apenas nas (cada vez mais) pequenas tertúlias...

Sem pretender beliscar o profissionalismo de ninguém, aí se os jornalistas de futebol tivessem a coragem de, nem que fosse neste estilo de levantar apenas pistas, dizerem o que sabem...

Mas eu que, enquanto jornalista de "futebol" cheguei a ser impedido de entrar nas instalações de determinado clube... sei, à partida, que no ciclismo isso não pode acontecer.

E acho que mantenho fortes laços de amizade com algumas pessoas do ciclismo exactamente porque eles sabem que eu sei... e que sei que eles sabem que eu sei... :-)

E nenhum deles se pode gabar de, por fosse que espécie de influência fosse, tivesse impedido que, nas alturas certas, eles, ou as suas equipas, tenham, implacavelmente sido alvo da minha escrita. E houve momentos de crispação, não o nego... mas depois todos percebemos que cada uma das partes fez... o seu trabalho.

Não sei (sim, claro que sim.... o Zé Carlos era frequentador do Fórum do Cyclolusitano... Aí sim, fui por mais de uma vez ameaçado, ou a minha integridade física foi ameaçada... mas também percebi que era mais fogo de palha que outra coisa. Nunca lhe dei grande importância.

José Carlos Gomes disse...

Eu estava apenas a brincar...

Mas uma coisa posso confirmar: os jornalistas de futebol sabem muitas coisas de que os seus leitores nem sonham.

Confirmei-o uma vez que me calhou fazer um serviço no qual me cruzei com jornalistas de futebol: esperar a saída do tribunal de Gondomar de arguidos no "Apito Dourado". As histórias que ali se ouvia...

molin disse...

O que os jornalistas sabem ou deixam de saber acaba por ficar à margem da questão central. Foram ou não os castigos do Conselho de Disciplina, aplicados a apenas três dos onze ciclistas faltosos, correcto do ponto de vista da justiça desportiva?

É bem verdade que nenhum de nós poderá afirmar com grande grau de exactidão o ponto de correcção dos castigos aplicados. Afinal, só mesmo os membros do CD e os próprios ciclistas estiveram presentes nas audições dos visados e o sumo dessas conversas terá originado a "absolvição" de uns e o castigo de outros.

Quem está de fora, e sem conhecimento das respectivas explicações (porque será que os órgãos de justiça desportiva, para além de basear as suas decisões em artigos e alíneas que ninguém conhece, nunca fazem acompanhar os seus veredictos de uma explicação racional?) poderá perguntar-se "Mas porque raio foram só estes três quando estavam onze nas mesmas circunstâncias?" Para mim é, no mínimo estranho. Muito estranho.

Mas o verniz estala quando o supremo órgão de justiça da federação de ciclismo contraria uma decisão do CD e anula os castigos aos três "sacrificados". Não concordo muito com mzm quando pergunta porque razão queria fazer de lavarinhas um novo exemplo, quando tal já tinha acontecido anteriormente. A meu ver, e porque a senhora da estátua está de olhos vendados, a justição deve ser cega e não olhar a nomes. Mas já estou inteiramente de acordo com mzm quando aplaude e explica a decisão do Conselho Jurisdicional. Independentemente de terem sido ditas mentiras ou verdades nas audiências aos ciclistas (uns com mais jeito de mentir do que outros), a verdade é que foram todos apanhados em falta. Nenhum esteve presente na hora das análises. Para o CNAD - e se realmente os regulamentos dizem que faltar a um controlo é o mesmo que acusar positivo (o que acho de um abuso atroz!) - os ciclistas ausentes tiverem presentes substâncias proibidas nas análises que não fizeram.

Pegando na estúpida analogia usada por Adalberto Ramos no jornal O Jogo, no dia que esse mesmo diário desportivo anunciava o fim da carreira de Rui Lavarinhas (com dois anos de suspensão!) é o mesmo que ser acusado de ser ladrão porque no dia e na hora de um determinado roubo devia-se ter estado num determinado sítio e não esteve.

A única coisa que eu gostava que me explicassem era os critérios usados para castigasr apenas três dos onze ciclistas apanhados em falta no controlo-surpresa. Não acredito que tenha sido só com base nas declarações que cada um prestou ao CD.

mzmadeira disse...

Como não tenho espírito de "caça-fantasmas", desde o início que só vi uma hipóteses para o CD ter tomado a atitude que tomou. Porque, se cada um de nós reivindica para si o estatuto de impolutos, deve assumir que os outros não são menos do que nós próprios...

... logo, a minha leitura de que os três castigados apenas tenham pecado por uma defesa... mais frágil.
(E isso também foi culpa deles)

Entretanto, quando eu digo que o Lavarinhas já fora usado como "exemplo" é porque sei que, quando do castigo de seis meses que antes tinha apanhado... só o apanhou porque quem escolheu para o defender não foi capaz de fazer uma defesa suficientemente consistente. Se até o médico da equipa punha a cabeça no cepo... como é que o corredor foi castigado?

Passemos à frente, até porque sei que há situações mal explicadas lá para trás... e com isso, eu não tenho nada a ver...

Em relação às dúvidas do Molin...
... a primeira é escusada...
Se os três foram castigados... onde quer chegar com essa pergunta?

Como tentei explicar... só estes três foram castigados porque as "desculpas" que arranjaram não se sustentavam!...
Podiam ser verdade, mas nada, ou muito pouco nelas, podia ser agarrado de forma a que se decidisse de outra forma...
Eu não posso dizer que não estive só porque não estive...
Ou que estive num sítio sem apresentar uma única pessoa que testemunhe que lá estive...
Até posso lá ter estado... mas se não tenho ninguém que o confirme...
E neste caso não são os componentes do CD a serem desconfiados... Caramba, se aceitam que eu diga que estive ali... sem apresentar ninguém que testemunhe que, de facto, eu estive além... então têm de aceitar TUDO o que lhe disserem como verdadeiro!...
Rídiculo!...

Em relação à decisão do CJ... Creio já ter deixado mais ou menos explicado o que aconteceu...
Havia demasiados "diz-se que se disse" (sendo possível saber-se que a maioria era verdade... mas sem que o Conselho tivesse ponta por onde lhe pegar...)

Decidiu, já que os "espertos" tinham conseguido escapar ao castigo, livrar os mais "parvos" do mesmo castigo...
Pode não ser muito ortodoxo... mas, e como já antes escrevi, fez-se justiça. E isso é o que interessa!...

Apesar de saber que tenho telhados de vidro, aceito, de qualquer dos modos, comentar essa parte de um colega jornalista ter sido infeliz num comentário que fez.

E faço-o recorrendo a um ditado popular: NÃO VÁ O SAPATEIRO ALÉM DA CHINELA!...

Claro que agora tenho de explicar isto, e sei o risco que corro. De que me julguem assoberbado, vaidoso, convencido...

Mas a verdade é esta:
Quantos JORNALISTAS em Portugal percebem o mínimo de ciclismo para poderem fazer EDITORIAIS? Dois? Três? Aquele que foi citado, de certeza de que não é um deles... NUNCA O VI numa corrida de bicicletas.

NÃO PODE, portanto, ser usado como exemplo.

O último parágrafo da mensagem do caro MOLIN, acho que já foi respondido...

Só queria acabar agradecendo o facto de ter colaborado com este blog...

Se mais pessoas aparecerem a querer discutir situações concretas, podemos fazer deste espaço, um espaço útil para a discussão do ciclismo.

E o nosso ciclismo precisa ser discutido.

(Já agora, a todos os que só vêm espreitar... porque não deixam a vossa opinião sobre o tema que ponho à discussão?)

EU AGRADECIA MUITO. Muito mesmo...