sexta-feira, fevereiro 24, 2006

22.ª etapa


Arranco aqui com a temporada 2006.
Disputaram-se três corridas e a surpresa João Cabreira, na Volta ao Algarve, acaba por
maquilhar uma cara que todos, há muito, já percebemos que dificilmente aparecerá com um sorriso franco.
Que cínicos há muitos, por aí...

A Prova de Abertura, deu o mote. Dá-se avanço a um fugitivo, permite-se que se cave um fosso significativo para, só na parte final o grande grupo reagir. Numa paulada matam-se dois coelhos.

Primeiro: deixa-se perceber que só ha fugas porque o pelotão é molengão;
Segundo: rouba-se (porque o povo não é parvo!...) aos homens que, mesmo sabendo que não têm hipóteses, ainda assim pedalam um bocadinho mais depressa que os funcionários públicos (aqui vai, assumo-o, como o mais perjurativo que a expressão tem, mas o barrete só o enfia quem não tiver orelhas para o segurar!) que, cada vez mais, os corredores parecem ser...
Assina-se o ponto e o objectivo é chegar ao fim. Nem um golpe de asa, nem um sinal de ambição... Se não é a segurança de quem acha (o que nem sempre acontece) que tem o ordenadozinho certinho no fim do mês... parece.

E não peço desculpa por isto. O ciclista português é preguiçoso.
Nos treinos, se a obrigação é pedalar 160 km, não sepreocupa com o tempo que leva a fazê-lo; se tem que correr 3 horas... não liga ao número de quilómetros que faz.

Ganhámos a Prova de Abertura (o que não dexa de ser um
feito para o ciclismo nacional porque até houve uma equipa GIII holandesa que participou na prova).

A tal fuga (que não vale de nada, não há televisão, as pessoas não vêem, não sabem quem vai escapado, chama nomes ao pelotão porque vem atrasado e o trânsito fica tempo demais fechado... e quem ganha a vida com isto não se preocupa nem um pouco), a tal fuga, escrevia, animou a prova mas, tal como era certo e sabido... a discussão foi feita em pelotão com o triunfo a pertencer a Bruno Neves, digno sucessor de um Pedro Silva ou um Paulo Pinto (para falar dos dois maiores sprinters que conheci, Cândido Barbosa à parte)...

Mas as pessoas, ainda por cima no Algarve, terra de apaixonados pelo ciclismo, sabem desmontar esta espécie de farça... O fugitivo que sabe que o é a prazo; o pelotão que podia andar mais mas se fica pelos serviços mínimos. É pouco profissional!

Vamos lá ver... Fugir, assim, sem nexo, vale o quê?
Não há TV, os dois fotógravos estão na meta, à espera, não há rádios em directo e os jornais dão 800 caracteres para dizer quem ganhou.
Por outro lado, o laxismo do pelotão merecia bem mais que os 5 centímetros a uma coluna, nos jornais. O ciclismo é, tem de o assumir para sobreviver, um espectáculo e os maus espectáculos não atraem público. E o ciclismo sem público não faz sentido, se bem que, nos últimos tempos o espectáculo que era para todos se tenha tornado numa indústria para apenas meia dúzia a quem o que se passa na estrada não interessa nem um pouco. (Isto merecerá outra abordagem, um dia destes, fica prometido).

Depois veio a primeira corrida por etapas e a insuportável lamechice dos portugueses. Porque "eles" vêm melhor preparados, porque "eles" são uns tubarões... porque... porque...
Eu explico porque "ELES" são verdadeiros profissionais que até numa corridinha num país que muitos nem sabiam onde ficava se apresentam para... ganhar!

A nossa época acaba em Agosto (nem me falem dos malfadados circuitos, nos quais os prémios são divididos e se combina à partida quem vai ganhar)... Lá fora corre-se até finais de Setembro, em Outubro e Novembro a maioria dos corredores participa nas provas de Ciclocrosse... em meados de Dezembro estão a treinar a sério.
Cá... depois da Volta (quando não se desiste a meio porque já havia uma viagem de férias marcada) é a boa vida. Creio que, para além dos 60 dias de férias dos magistrados, os ciclistas portugueses são a classe que mais férias tem.
A preparação é ao gosto de cada um. Mesmo orientada, não esqueçamos que a maioria dos directores-desportivos tem um conhecimento empírico do que é lançar uma temporada. "Façam quilómetros"...
Não é assim. Não pode ser assim.
E depois os "outros" não vêm de moto. As bicicletas são iguais, logo, a diferença só pode estar nas pernas.
Com um calendário paupérrimo, as equipas portuguesas nada fazem para tentar (ao menos tentar) contrariar as que vêm de fora. O melhor que sabem fazer é renvidicar pelotões... menos fortes. E porque não correrem sozinhos? Rídiculo...

O Grande Prémio Costa Azul foi cedo demais para s equipas portuguesas porque começaram a treinar tarde; o pelotão da Volta ao Algarve foi forte demais para as equipas portuguesas que não têm orçamento. O pelotão português não existe. Assumam-no. Saquem o dinheiro aos patrocinadores e fiquem em casa... Tentem o
Cycling Manager...
Mas a Volta ao Algarve tinha uma surpresa guardada. Outra vez no Malhão, outra vez sob condições meteorológicas impróprias.

Porque fez um bom Costa Azul, porquer é um corredor metódico, logo, fiável, Hugo Sabido era quem reunia o maior concenso no meio dos observadores. Mas havia mais candidatos e, quando aos 3 km para a chegada se ouviu, na Rádio Volta, que José Luís Rubiera (o homem que o ano passado perdera a corrida para Sabido) atacava, eu próprio - à boa maneira portuguesa - deitei a toalha ao chão: não havia hipóteses, o asturiano da Discovery Channel ia vingar-se.
E que alegria, com chuva gelada e um vento de cortar que, a cinco metros da linha de chegada vi um jovem português ganhar. A etapa. A corrida.

Não estou a trabalhar. Não tinha acesso aos corredores, e ao João, que conheci bem em Espanha onde, juntamente com o seu amigo de infância, Vítor Zeferino, acompanhou as últimas etapas da Vuelta de 2003, fico a dever um abraço.

É que me fez reacreditar no ciclismo português. Claro que ali houve mãozinha do maior estratega do nosso pelotão, o meu querido amigo Manuel Zeferino.

Eu apostaria - se a tal fosse obrigado - no Pedro Cardoso, no Danail Petrov... sei lá... em todos, menos no João. E como eu que, modéstia à parte (que modéstia a mais é defeito), acho que percebo um pouco de ciclismo, ponho o pescoço no cepo em como nenhum dos outros adversários anteviu aquele final.

E vem a talho de foice...
O vencedor da Volta ao Algarve foi João Cabreira (Maia-Milaneza); o segundo melhor português foi outro jovem, André Vital (Madeinox)... foram ambos dispensados, no final da última temporada, pelo Boavista, que foi a 9.ª equipa classificada, em 19. Apenas um erro de
casting?
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