sexta-feira, agosto 27, 2010

ANO V - Etapa 83

QUÃO DIFÍCIL É DESATAR
ESTES 'NÓS GÓRDIOS'...

Este é o regresso a um assunto em relação ao qual já me pronunciei na devida altura, mas que não quero deixar de comentar de novo.

Porquê?, perguntarão.

Porque, como é habitual só nas folgas é que consigo arranjar tempo para arrumar os jornais que vou acumulando diariamente – e às vezes nem nas folgas tenho tempo, daí o facto de o assunto sobre o qual vou escrever tenha como base uma notícia publicada em… 24 de Julho!!!

Há mais de um mês.

Mas, repito-me, não deixei de me pronunciar, em termos genéricos, logo no momento.

Contudo só esta tarde li, com olhos de ler a catadupa de incorrecções, omissões… adivinhações (no sentido do… ‘se calhar foi assim’) que nos deixam mais desinformados do que o contrário.

Tem a ver com o castigo aplicado ao Nuno Ribeiro pelo Conselho Disciplinar da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC).

Objectivamente, não com o castigo – que foi o que está previsto nos Regulamento – mas com a data do início deste.

Concentrem-se para ver se conseguem perceber. Eu ainda não consegui.

No dia 3 de Agosto de 2009, o ano passado, foi feito um controlo anti-doping surpresa à equipa do Nuno que estagiava para a Volta a Portugal;

a Volta acabou no dia 15 de Agosto e foi ganha, na estrada, pelo Nuno Ribeiro;

no dia 18 de Setembro tornou-se público – a FPC, e o próprio corredor e a equipa souberam-no, naturalmente, dois ou três dias antes – que o Nuno mais dois companheiros de equipa, os espanhóis Isidro Nozal e Hector Guerra (que, recorde-se, era a primeira aposta da equipa para contrariar o favoritismo do vencedor da Corrida no ano anterior), haviam ‘dado positivo’ no tal controlo feito a 3 de Agosto;

imediatamente, como está nos Regulamentos, os três Corredores foram suspensos de correr.

As demais consequências, como multas, anulação de resultados e duração do castigo haveriam de ser decididos depois pelos conselhos de disciplinas da FPC, no caso do Nuno, e da Real Federação Espanhola de Ciclismo, no caso dos dois Corredores espanhóis;

simultaneamente com a notícia destes casos positivos, acontece o anúncio, primeiro, da rescisão do contrato de patrocínio da marca que dava nome à equipa e também da dissolução desta com manager e director-desportivo a anunciarem, ou a fazerem saber, que abandonavam a modalidade;

como habitualmente, os Corredores ficavam por ‘conta própria’…

[aqui faço um aparte que, creio ou nunca foi noticiado, ou foi-o de tal forma discretamente que, aposto, passou despercebido à maioria dos amantes do Ciclismo: a APCP fez saber que não apoiava juridicamente Corredores envolvidos em casos de doping. Tenho a certeza que assumiu esta posição conscientemente e por convicção, nada tendo a ver com o facto de os prémios para os Corredores, que eram entregues à instituição, terem passado a ser entregues a FPC que só depois os disponibiliza à associação para que os distribua. Mal y Soyt Qui Mal y Pense!]

ao contrário dos seus colegas espanhóis, o Nuno Ribeiro, que sempre sustentou não ter, por livre iniciativa – tê-lo-ão os outros? – ou com conhecimento concreto, tomado nada que não devesse, accionou o que lhe é regulamentarmente reconhecido: uma contra-análise;

ditou-lho a consciência, a certeza de que, de verdade, não tomou nada por livre iniciativa, ou com conhecimento concreto do que lhe estavam a dar… ou foi só para não o admitir o de imediato, que foi, dizem-no os factos, o que os dois espanhóis fizeram?

Conheci o Nuno Ribeiro numa tarde, no já longínquo ano de 2001, no ‘lobby’ de um hotel ali para as bandas da Praça de Espanha onde fui fazer uma reportagem sobre a equipa Nacional que iria disputar os Mundiais de estrada de Lisboa, poucas horas antes de ele próprio ter ficado a saber que, dos convocados era ele o preterido.

Falei com ele depois, ainda de olhos encovados de um choro que não conseguira evitar, prometendo que ainda iria provar que merecia a oportunidade… dois anos depois venceu a Volta a Portugal; dois anos depois merece a confiança de uma das mais poderosas equipas do pelotão internacional e logo é vítima, quando se preparava para alinhar no Giro de 2005, de um ‘descuido’ na aferição da ‘maquinazinha’ do departamento médico dessa equipa;
mas recuemos a 2003.

A Volta terminou em Viseu, no dia seguinte, a meio da manhã estava eu e o Nuno, sentados num banco do jardim, frente à igreja da vila do Sobrado, rodeados de algumas dezenas de conterrâneos seus enquanto ele me concedia uma entrevista. A entrevista do vencedor da Volta… Já o conhecia então, mas voltou a surpreender-me com a sua simplicidade, a sua disponibilidade, a sua humildade…

quero dizer, e de forma clara, que não acredito que o Nuno seja capaz de ser cínico, tão cínico que, sabendo que fizera algo de interdito avançasse para o pedido da contra-análise. Pese embora tanto ele, como eu, como todos nós, saibamos que em 99,8% das vezes a contra-análise confirma o resultado da primeira;

mas temos que ouvir a consciência… Mais, temos que mostrar Urbi at Orbi que estamos de consciência tranquila… mesmo sabendo que alguém vai fazer com que a nossa cabeça role…

Como habitualmente, pedi-vos concentração para perceberem o que está em causa e… dispersei-me…

Voltemos então ao ‘caso’!

Peço, desculpem lá, de novo toda a vossa atenção para os factos…

… a 18 de Setembro de 2009 sabe-se que o Nuno Ribeiro, o Isidro Nozal e o Hector Guerra tinham controlado positivo…
… dos três, apenas o Nuno pediu a contra-análise…
… enquanto o resultado desta não foi conhecido – estou a citar uma notícia que está escrita – e porque não a requereram, os espanhóis Hector Guerra foi multado pela Real Federação Espanhola de Ciclismo em 35 mil euros e Isidro Nozal em 17.500 (!!! metade! Porquê? Não nos é dito!...) e ambos penalizados com dois anos de suspensão com início em, suspendam a respiração… 3 de Agosto de 2009 (a data do controlo), ficando, segundo a mesma notícia (de meia página) ‘livres’ a… 2 de Agosto de 2011!

… isso mesmo, correram a Volta a Portugal durante o período de suspensão! Mais, são castigados a partir de uma data na qual não se sabia ainda qual o resultado do controlo!!!

Não, a notícia não foi rectificada!

Claro que não me surpreendo. Olha eu. Olha quem…

A suspensão dos três corredores só pode ter como início a data da decisão dos conselhos de Disciplina, tanto da FPC, como da RFEC. Será a de 18 de Setembro? Portanto, tendo, os três, sido suspensos a 18 de Setembro de 2009, poderão, todos eles e porque foram sancionados com o mesmissimo castigo de dois anos, voltar a competir a partir de… 17 de Setembro de 2011. Ponto.

Mas o assunto que motiva a notícia não é exactamente este…

… é que (e isto tem vindo, com a conivência de toda a CS) nos querem impingir que, por ter pedido a contra análise e o resultado desta só ter sido dado a conhecer a 29 de Setembro, o Nuno Ribeiro estará suspenso até 28 (e não 29, como está escrito na notícia, isto porque não há mês nenhum que tenha dois dias com o mesmo número) do próximo ano.

Repararam nas incorrecções, nas incongruências, na falta de rigor da informação?

Usemos o… ‘simples’ para explicar esta parte. Se estava suspenso desde o dia 18 de Setembro, e se o castigo que lhe foi imposto foi o de 24 meses, então o Nuno estará livre para voltar a competir a 17 de Setembro de 2011.

Se só vai estar, como diz aquele exercício jornalístico, liberto a 28 (e não, repito, 29) de Setembro de 2011, então o Nuno foi castigado em 26 meses e não em 24.

Então a informação está errada.

Aliás, está sempre errada.

Desde o início do castigo dos espanhóis que nos é dado a começar numa data anterior ao daquela em que se conheceu o resultado dos controlos…

A outra grande inverdade…
O recurso ao pedido da contra-análise jamais alteraria o início do castigo… no caso dessa contra-análise confirmar a primeira. Se o não fizesse, então o Corredor seria automaticamente despenalizado, mau grado ter sido obrigado a um período de inactividade que ninguém lhe poderia restituir.

Aceitando como certa a informação colhida nesta notícia – tão ferida de incorrecções – então o Nuno está a ser vítima de mais uma tremenda injustiça e é essa a minha grande (única motivação de momento), clamar contra a injustiça de quem, aparentemente, não se preocupa com o que está a fazer.

Desde que, a 29 de Setembro de 2009, a contra-análise confirmou o castigo de dois anos – a partir do dia 18 do mesmo mês – a Nuno Ribeiro, que este perdeu a Volta para o David Blanco.
Ah!... homologada haveria prazos, já substancialmente ultrapassados, para que os prémios devidos fossem pagos… pois é!

O grande mistério é este, e aqui deixo o desafio…

… aflitas com os seus orçamentos, porque é que as equipas não se pronunciaram contra a falta do pagamento dos prémios que lhes são devidos?

… e qual é a posição da APCP?

Eu, honestamente… só sei que nada sei!
(Com a devida vénia, Paulo Sousa!)

3 comentários:

Rui Quinta disse...

Boa noite, Madeira.

Na minha opinião, a suspensão terá que começar sim no dia do controlo e não naquele em que se sabe do resultado, pois se fosse para começar no dia em que se sabe do resultado, o Landis seria vencedor do Tour 2006 e o Heras vencedor da Vuelta 2004. Penso que o justo é ser no dia do controlo, como costuma ser, e começar a contar a partir daí, neste caso, os 24 meses.

Cumprimentos

mzmadeira disse...

Claro que sim, Rui.

Se é a partir da data do controlo que lhes são anulados os resultados e ractificadas as classificações, é aí que começa a penalização...

E 2 anos são 24 meses...

Transferir o início do castigo para a data da confirmação da contra-análise, se é que é regulamentar e isso é fácil de saber, é legalmente insusentável. Isso levaria a que ninguém fosse até ao fim porque sabia de antemão que corria o rosco de ver a sua pena aumentada...

É mentira. Uma mentira que nos foi passada... que não passa de uma vil atemorização para eventuais casos futuros, tipo... fica quietinho se não é pior para ti.

Mas há mais... o Nuno recorreu e vai haver quem nos queira fazer acreditar que a sua pena vais ser ainda mais esticada.

Mas tudo isto tem um objectivo claro: protelar sustentando o acto nestas 'núvens de fumo' a homologação dos resultados da Volta. O que me custa, deixei escrito, é que nem as equipas nem a APCP tomem uma posição vincando o quanto estão hipotecadas...

... reféns do quê? Isso gostaria eu de saber para o denunciar publicamente...

mzmadeira disse...

E fica EVIDENTE, com a ajuda do Rui, e confessando eu que me equivoquei na primeira análise, que o castigo terá que ser aplicado a partir da data em que as amostras positivas foram recolhidas, caso contrário, se o fosse apenas na data da decisão do CD... então os resultados até essa data teriam que ser validados. Não funciona a figura da reoctavidade!
Logo, e à semelhamça do que, cumprindo o que está Regulamentado, a RFEC fez, a FPC também o devia ter feito, simplificando... o castigo do Nuno terá que ser começado a contar a partir do dia 3 de Agosto, sendo-lhe anulados todos os resultados entretanto alcançados, incluindo a vitória na Volta a Portugal. E, se o castigo é de dois anos, no dia 2 de Agosto do próximo ano terá o castigo cumprido.

Estou pelos cabelos com o facto de várias federações desportivas - e a de futebo, então, é recorrente - se auto-excluam, em nome de uma obediência a uma estrutura superior que não se enquadra em nenhum artigo de nenhuma Carta Institucional de nenhum país, acrescentado a isto os Regulamentos que gerem a União Europeia, no caso da UEFA (e juntemos-lhes a UEC) ou da Carta das Nações Unidas (FIFA ou UCI), parecem estar acima da Lei Geral... chamemos-lhe Universal.

E, insisto... transferir o início da pena do Nuno, de 3 de Agosto para 29 de Setembro... das duas, uma... ou a pena não é a regulamentar, de dois anos, ou terão que lhe ser reconhecidos e aceites os resultados que fez até... 29 de Setembro. E aí o Vencedor da Volta de 2009 foi mesmo o Nuno Ribeiro. Se o castigo de dois anos só começa a contar a partir de 29 de Setembro, expliquem-nos então os responsáveis e/ou os seus 'grilos falantes' que critérios foram usados. E, já agora, ao abrigo de que regulamentos...

E quando uso a expressão 'grilos falantes' refiro-me a todos os que escrevem sobre ciclismo, excluindo, como é de todo compreensível, os porta-voz da FPC. A esses reconheço o dever de lealdade para com quem lhes paga.

Se ninguém se pronunciar... quem é que me impede de, pelo menos, pensar - e nisso sou livre, sê-lo-ei enquanto viver - que todos comem da mesma malga? Que uma mão lava a outra e que ambas lavam a cara? É verdade... desconfio de todos.