segunda-feira, fevereiro 12, 2007

422.ª etapa


OLHA QUE CORRIDA MAIS BONITA!...

Tive hoje acesso a todos os pormenores da próxima Volta ao Algarve. Como sei que o responsável pelo traçado foi o vice da AC Algarve, aqui deixo os meus parabéns ao Bernardino Caliço.

Adivinho, em certas cabeças, algumas críticas, nomeadamente em relação à extensão das etapas.
Não têm razão. Aliás, uma pessoa pelo menos deverá estar satisfeita. Um director-desportivo, dos mais credenciados da nossa praça, há anos que se queixa que o calendário nacional é mal desenhado, em relação à Volta. Fazem-se grandes prémios de 5 dias nos quais, e na totalidade, pouco se vai acima dos 400 km e, depois, na Volta, aparecem etapas de 200 quilómetros.

Pois bem, não falei ainda com o Bernardino Caliço – hei-de fazê-lo – mas tiro-lhe o meu chapéu. O traçado desta Volta ao Algarve’2007 não será perfeito – que venha o primeiro organizador a dizer que a sua corrida o é – mas aproxima-se muito disso.

Apesar do Malhão – que este ano não será final de etapa – apesar do Cerro de S. Miguel, apesar do Caldeirão e, sobretudo, apesar de Fóia, a corrida está homogénea. Vão todas as cinco etapas terminar por ser decididas ao sprint? Talvez.
Sim. Acredito que sim.
Mas isso só acontecerá se houver equipas dispostas a controlar a corrida. E não é isso que, qualquer equipa que queira ganhar terá sempre que fazer?

Felizmente, o “tudo ao molho e fé em deus” é uma imagem que, pouco a pouco, vem a desaparecer da forma de correr, também dos portugueses.

É a primeira corrida da temporada. Óptimo. Todos sabemos que metade do pelotão aposta apenas na Volta a Portugal. Não para ganharem a prova, mas para se mostrarem. Faltam ainda seis meses para a Volta. Aproveitem agora. Mostrem o que podem valer. E qualquer façanha, tendo em conta a qualidade do pelotão que vai estar no Algarve terá que ser devidamente recompensada com o justo destaque.

Agora…

Espero que não tenham olhado o primeiro terço da temporada apenas como um espaço temporal para afinarem alguns aspectos do treino que deveriam ter sido feitos no defeso. E espero não vir a ouvir desculpas do género… «eles chegam cá já com mais quilómetros nas pernas».
Porque isso É VERDADE, mas foram somados… na pré-temporada. Esta vai ser a primeira corrida a sério para todos os participantes… Espero, também, que os portugueses não se alheiem da necessidade de aproveitarem as corridas lusas para somarem pontos UCI…

Já dei uma vista de olhos pelos percursos e dei também uma olhadela nos pormenores das chegadas. Mais uma vez, acho-as quase perfeitas. Sei de um amigo que não concorda comigo. Acha as rectas da meta curtas de mais. Isto quando, repito, se perspectivam chegadas ao sprint.
Não são. A mais curta terá 350 metros, é o suficiente. E é preciso olhar a outro pormenor. As chegadas, quase todas elas com várias curvas antes da recta da meta, tornam-se bastante técnicas, com evidente vantagem para que conhece o terreno. Não sei se terá sido essa a intenção mas, mesmo que o não tivesse sido, foi bem pensado.


A chegada a Lagos é extraordinária. Mais de 1400 metros de recta – ainda que com uma rotunda sensivelmente a meio – seria, em qualquer corrida, incluindo as Três Grandes, uma chegada 5 estrelas. Do melhor que se pode desenhar.
As outras são bem mais curtas e, como já escrevi, bastante técnicas, com a vantagem a pender para os corredores que já as conhecem. E aqui os portugueses deveriam estar em vantagem. E deveriam tirar disso algum proveito. Imaginem o Manuel Cardoso – só para falar de um jovem corredor a quem eu auguro um futuro muito promissor – a entrar melhor colocado na recta da meta que o Petacchi. Imaginem a luta ombro a ombro. Imaginem que o Manel consegue ganhar. Imaginem a motivação que isso não traria ao nosso jovem sprinter.

Agora, se o Manuel Cardoso não conhece as chegadas, é responsabilidade da equipa técnica levá-lo lá. Há aqui alguém que tenha testemunhado a forma como o Sérgio Ribeiro ganhou, o ano passado, em Beja? Ele disse-o aos microfones da Rádio Voz da Planície, que eu ouvi. Foi estudar a chegada na véspera.

Mas resumindo…
Etapas longas? Óptimo!...
Chegadas mais ou menos complicadas? Óptimo…
Parabéns à Associação de Ciclismo do Algarve.

Parabéns ao Rogério Teixeira e parabéns ao Bernardino Caliço.
Eu defendo que a Volta ao Algarve se deve candidatar ao calendário de topo. Seja ele o ProTour ou enquadrado noutra qualquer realidade que venha, entretanto, a substituí-lo.

E que eu não oiça que a corrida foi traçada à medida das equipas estrangeiras.

Interpretá-lo-ei como uma confissão de que em Portugal não se sabe preparar uma temporada.
É que o primeiro a ganhar alguma coisa é o único que entrará para a segunda corrida aligeirado de responsabilidades.
Ou não é?

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