DUAS CONFIRMAÇÕES NA "ABERTURA"
Realizaram-se este fim-de-semana as corridas de Abertura para os dois primeiros escalões do Ciclismo português e, em ambas as corridas o resultado final pautou-se pela confirmação dos seus vencedores. Ainda que de forma um tudo nada diferente. Já explicarei.
Primeiro, no sábado e, pelo que ouvi na Rádio Gilão (abraço grande para os amigos Luís Santos e Jorge Nunes), numa corrida marcada por um dia anormalmente invernoso (chuva e muito frio), os mais novos (sub-23) estiveram iguais a si próprios proporcinando uma corrida bastante animada que viria a ser ganha pelo feirense Ricardo Vilela, com a formação orientada por Manuel Correia a cometer a proeza de meter seis corredores nos primeiros dez. A primeira confirmação, a da qualidade, sempre pendular, do conjunto de São João de Vêr, malgrado as sucessivas sangrias que vem a experimentar, ano após ano.
Será - eu, pessoalmente, não tenho grandes dúvidas acerca disto - o projecto mais consistente, no que respeita à formação, em Portugal. E lembro-me muito bem das conversas que fui tendo com o Manel Correia - que faz o favor de ser meu amigo - nos últimos anos. Nomeadamente quando, há dois anos atrás chegou a pairar a ameaça de o pelotão profissional dobrar, em termos de números, porque haveria uma série de equipas sub-23 com intensão de apostarem no profissionalismo. Disse-me, então, o Manel que o seu projecto não alinharia nessa aventura. As estruturas e apoios de que dispõe chegam para poder ter uma equipa competitiva - para ganhar qualquer corrida - no escalão das antigas esperanças e ele - mais os outros responsáveis pelo projecto - não arriscariam esse passo no escuro correndo o risco de ver desmoronar-se o projecto em si. Gostei de ouvir, então.
Neste ano de 2007 voltou a equipa a sofrer nova sangria. É normal e devia ser motivo de contentamento para os seus responsáveis. É sinal de que estão a trabalhar bem e a conseguirem formar jovens que, depois, suscitam a cobiça das formações profissionais. Uma vez que a aposta numa equipa de Elite ainda não faz parte dos seus planos, terão que aceitar, pacificamente, esta situação. Até porque os jovens que orienta terão, cada um deles, individualmente, ambições. E o não lhes cortar as pernas é o primeiro passo para poderem ter uma equipa voluntariosa. Como o tem vindo a ser a E. Leclerc nos últimos anos.
Por isso não percebi o desabafo do Manel Correia, aos microfones da Rádio Gilão, no sábado, quando, foi a ideia que ficou, se queixou de terceiros que fazem... «uma concorrência desleal». O Manel não disse isso - eu pelo menos disso não tive conhecimento - quando o Luís Pinheiro e o Filipe Cardoso foram contratados por uma equipa do escalão superior. Aliás, eu não ouvi (nem li) uma palavra do Manel Correia quando, o ano passado, pôs os seus jovens pupílos a trabalhar para um outro corredor que até já nem era da sua equipa, "roubando-lhes" a possibilidade de poderem vir a ganhar a Volta a Portugal do Futuro. Por isso, não percebi o seu... desabafo.
Mas pronto, a primeira confirmação, a que me referi logo no parágrafo inicial vai inteirinha para a equipa Santa Maria da Feira/E. Leclerc/Moreira Congelados - francamente!... não esperam que os jornais escrevam isto tudo, pois não? - que, logo na primeira corrida da época mostrou continuar a ser a mais forte do pelotão sub-23.
A segunda confirmação vai direitonha, é bom de ver, para o Manuel Cardoso (Riberalves-Boavista). Aos 23 anos é já, sem sombra para dúvidas, o nosso melhor sprinter e mostrou-o, ontem, em Faro. Como é evidente, não vi a corrida e, outros compromissos, assumidos anteriormente, impediram-me até de ouvir a Rádio Gilão. Sobra-me a informação divulgada pelo meu grande amigo Fernando Petronilho, mas não fica assim tão difícil de adivinhar o quão significativa foi a sua superioridade olhando apenas para a foto da chegada. Partindo do pressuposto de que o grupo da frente (ou o pelotão completo? não sei!...) se fez ao sprint final, a vantagem de três bicicletas conseguida pelo jovem nascido em Paços de Ferreira é elucidativa. Certo que - ao que julgo saber - Angel Edo (ASC-Vitória), por exemplo, não participou, tal como aconteceu com Cândido Barbosa (Liberty Seguros) ou com a equipa do Benfica. Mas estavam lá todos os outros sprinters que iremos ter no pelotão, em 2007. Digamos que, dando de barato, aquele espaço entre o Manuel Cardoso e o homem (o espanhol Francisco Pacheco) da Barbot-Halcon poderia ter sido preenchido pelos que não puderam estar presentes nesta corrida, mas, a crer na descrição da chegada, nenhum poderia ter-se imposto ao jovem axadrezado. Está de parabéns o professor José Santos que tem nas mãos um dos mais valiosos diamantes do nosso ciclismo, no momento.
Agora, já a partir de 4.ª feira, teremos na estrada a primeira corrida por etapas. A Volta ao Algarve. Já o escrevi aqui, no VeloLuso, que não me admiraria nada mesmo se as cinco etapas fossem discutidas ao sprint mas... perante essa possibilidade - e sendo que o pelotão da Semana Algarvia vai contar com esse monstro do sprint que é Alessandro Petacchi - fico, ansiosamente, à espera da resposta que o Manuel Cardoso possa vir a dar na estrada. E, imaginem, quanto não será incentivante para este jovem corredor - mesmo que perca o duelo - aparecer a discutir as chegadas com o grande Petacchi. Só por isso, acho que é importantíssimo termos corridas internacionais no nosso país. E eu adivinho que o Manuel Cardoso não sai da Algarvia sem uma vitória.
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