quarta-feira, novembro 19, 2008

II - Etapa 282

ENVERGONHEMO-NOS
Passaram seis meses desde a investida conjunta de brigadas - e não permitirei que o esqueçam - da Direcção Central de Investigação da Corrupção e da Criminalidade Económica e Financeira (DCICCEF) da Polícia Judiciária (vejam no organograma desta instituição quais as áreas de intervenção desta directoria e tentem explicar-me o que terá a ver com desporto!), e do CNAD.
"Toda a gente sabe" mas, curiosamente, não me lembro de ter lido os nomes dos dois únicos, entre os nove elementos que foram alvo suspensão para efeito de consequente processo disciplinar, Corredores em casa dos quais foram, de facto, apreendidas substâncias proibidas.
E falta saber como é que foram descobertas. Quem as descobriu.
Insisto que a justiça desportiva não se pode aproveitar de provas conseguidas pela polícia de investigação.
Mas isto é tema para ser esgrimido pelos advogados, para já, dos suspensos.
E porque para já?
Porque a verdade é que, SEIS MESES depois, nem o Magistério Público, ao qual a DCICCEF entregou o apurado com a apreensão de material diverso - todos sabem a história - constituiu mais nenhum arguido, nem a FPC conseguiu implicar (dentro desta estória) mais nenhum dos outros sete suspensos.
Recordemo-los: Luís Almeida (presidente do Cycling Clube da Póvoa, nesta qualidade, e não na de patrocinador, é evidente); Manuel Zeferino, director-desportivo; Marcos Maynar, médico da equipa; Paulo Silva, massagista e os Corredores (por ordem alfabética) Afonso Azevedo, Cláudio Faria, Pedro Cardoso, Rogério Batista e Tiago Silva.
Neste meio tempo, e num outro quadro que nada tem a ver com a operação de 19 de Maio, a FPC "conseguiu" castigar o Pedro e o João Cabreira que, com Bruno Pires, tinha sido um dos dois únicos Corredores portugueses da equipa a não serem suspensos. Agora, os dois primeiros estão-no mas, repito, num outro quadro que nada tem a ver com a tal operação.
Os cinco Corredores espanhóis do Póvoa Cycling Clube nunca foram tidos nem achados neste caso.
Recuemos dois parágrafos.
A verdade é que a FPC não conseguiu - e alguém ainda acredita que vai conseguir? - implicar mais nenhum dos outros elementos e o Magistério Público mantêm-se quedo e mudo, o que indicia que também ele não tem elementos suficientes para implicar nenhum daqueles homens.
Na edição de hoje [perdão, já é de ontem...] o jornal O Jogo cita declarações de Pedro Cardoso à Agência Lusa. Diz o Pedro, e agora cito eu O Jogo, "Continuamos à espera que nos digam alguma coisa porque não estão a lidar com nove pessoas, estão a lidar com nove famílias.»
Na mouche, Pedro, mas eu digo mais, não são nove, são - e já deixando o médico e o presidente de fora -, são 14 famílias.
Catorze famílias. Catorze lares. Catorze trabalhadores que não recebem os seus honorários há meses. Catorze famílias com os mesmos encargos de todas as famílias portuguesas que não têm a sorte de ser ricas. Pagamento das casas onde moram, dos carros que conduzem, do infantário, para os que têm filhos pequenos...
Até agora, e pelo que pude ler na Imprensa e, no caso do suporte digital, nos sites e blogs que normalmente consulto, apenas três dos 12 Corredores da equipa - todos eles espanhóis - já encontraram equipa para a próxima temporada. Dos portugueses, apenas o Bruno Pires o poderá fazer porque todos os outros ou já estão a cumprir castigo, ou estão suspensos de uma... suspensão inqualificável.
Vivemos num Estado de Direito e não se pode impedir um trabalhador de exercer a sua profissão só porque alguém acha que são suspeitos. Até que o seu processo seja transitado em julgado qualquer criminoso, mesmo confesso, tem direitos. Nomeadamente a não ser apontado pela CS como culpado. Daí a popularidade que nos últimos anos ganhou a palavra presumível.
Eu acho que quem me lê habitualmente já está acostumado à minha forma de escrita, contudo, para os recém chegados recuemos àquela parte em que escrevi: "Mas isto é tema para ser esgrimido pelos advogados, para já, dos suspensos."
Eu explico.
Não ponho de parte que esteja por aí alguma coisa a rebentar, só insistio que eu, Manuel José Madeira, não acredito que, seja a PJ, seja a FPC tenham seja o que fôr que possa incriminar aqueles sete homens (já descontando os dois que deverão estar já a cumprir castigo, coisa que ainda não li também), e as sucessivas cortinas de fumo que nos têm soprado para os olhos é mais uma ajuda para a minha teoria.
Se houvesse alguma coisa, já se sabia e não perdíamos tempo com minudências.
Caramba, já estou outra vez a fugir ao que quero aqui focalizar...
Porque é que eu escrevi: "Mas isso é tema para ser esgrimido pelos advogados, para já, dos suspensos."
É que tenho a certeza que breve, breve também os advogados da FPC vão ter que arregaçar as mangas.
Porquê?
O Jogo, o único jornal que lembrou a data, lança novos dados e não são tão irrelevantes assim.
Tentem seguir o meu raciocínio...
A FPC suspende sete pessoas sem que de facto tenha, concretamente, o mínimo motivo para o fazer. Quem manda fez de adivinho e pensou ganhar créditos com uma operação de caca? - mantenho a minha opinião, ferida de ilegalidade uma vez que os elementos do CNAD jamais poderiam ter acesso ao que os polícias da DCICCEF, porque munidos de mandados de busca, conseguiram ter - e se nada for provado nos tribunais, que são a instância com competência para isso, vai ter sete casos de pedido de indemnizações, não só por ilegal impedimento de exercerem a sua actividade, mas também por danos morais, uma vez que os seus nomes foram associados a actos que não serão provados.
Pior...
Sem ter autoridade para tal - se tinha suspendido meia equipa, nada impedia que a outra metade continuasse a correr - a FPC, embora travestindo-a de aconselhamento, na prática, obrigou os organizadores a não convidarem a equipa da Póvoa para as suas provas.
E a equipa, que até inscreveu um novo director-desportivo não podia ser impedida de correr. Não podia... A FPC não tem esse poder. Não quando no máximo o que tem é suspeitas. Terá, como qualquer outra instância neste País, que esperar até ter provas incriminatórias. O tempo do José Estaline já é história. Felizmente!
E no dia em que todo este imbróglio for desmontado, só por manifesto corporativismo a FPC não perderá o estatuto de Utilidade Pública. Com tudo o que de negativo isso trará para o Ciclismo.
Mas O Jogo de ontem confronta-nos com cenários ainda mais negros.
Já o escrevi aqui, na altura que julguei a mais certa, que, apesar de tudo, eu jamais conseguiria escrever algo de negativo em relação ao Luís Almeida. Conhecemo-nos de raspão. Falámos o quê? Uma... duas vezes. Mas a paixão que este homem tem pelo Ciclismo desarma-me. E a verdade é que ele tem feito pela modalidade muito mais do que eu.
Ora, o Luís Almeida, que começou por se demitir da presidência do Póvoa Cycling Clube, por carta dirigida ao próprio clube, aparentemente não sabe que as coisas não funcionam assim. Eu para mudar de servidos de Internet, para mudar o nome do titular de um número de telefone da PT e para anular uma assinatura de telemóvel, para além do tempo e dinheiro - em chamadas - gastos ainda fui obrigado a ultrapassar burocracias que não lembram ao diabo.
Desde comprovativo do meu vencimento mensal, enquanto trabalhador por conta de outrem, até à necessidade de enviar cópias de, pelo menos três entidades, das quais eu sou cliente, demonstrando que sim, que pago as minhas facturas dentro do prazo, tudo isso me foi exigido.
O Luís Almeida - e eu contei aqui o caso e nem uma vírgula era mentira - achou, na simplicidade que é como homem, que bastava uma carta para o clube para se desvincular.
Pois não é assim.
O clube está inscrito na federação com determinados dados e só a alteração dos dados na FPC, confirma eventuais alterações em cada uma das equipas, seja a troca de um Corredor, seja a troca do... presidente.
Não aconteceu, para todos os efeitos, o Luís Almeida é o presidente do Póvoa Cycling Clube.
Mas o Luís Almeida, para além do cargo institucional, era (é) também o principal sponsor da equipa. Mesmo com cinco corredores suspensos, a LA-MSS ainda tinha o mínimo de corredores exigidos para correr qualquer prova. E os sponsors teriam tido a oportunidade de aparecer.
Só que - numa decisão estalinista - foi "aconselhado" a todos os organizadores que não convidassem mais a equipa. É evidente que neste País de borregos, mais ninguém - nem a PAD, que no ano anterior tinha acolhido duas equipas espanholas impedidas de correr no seu país teve a coragem para ignorar a ordem... perdão, enganei-me, o "conselho" da FPC no sentido de não convidarem a equipa da Póvoa que, estando o Manel Zeferino suspenso, tratou de arranjar outro técnico para orientar a equipa na estrada.
E o Luís Almeida - e os demais patrocinadores, incluindo a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim - podem pedir contas à FPC.
Que explique porque, e repito, ultrapassando a sua competência, decide afastar uma equipa da estrada quando ela - apesar dos castigos ainda por explicar - tinha corredores suficientes para poder correr. E se tivesse continuado a correr, poderia contratar outros.
Aqui já não estão só os advogados dos Corredores. O espaço abre-se ao advogado da equipa e, sobretudo, aos advogados dos patrocinadores. E, porque não resta outra hipótese, aos advogados da FPC.
Os Corredores do Póvoa Cycling Clube têm toda a razão em reclamar os seus vencimentos, uma vez que só não competiram porque a FPC "aconselhou" a que a equipa não fosse convidada pelos organizadores. Sendo que é verdade que a escolha das equipas é responsabilidade dos organizadores, têm os advogados da equipa que, vindo de onde veio, o "conselho para que ela não fosse convidada" viola para aí duas dúzias de artigos, desde a Constituição aos próprios regulamentos da própria FPC que obrigam os organizadores a convidarem todas as equipas.
Encolheram-se todos, como ratos, subservientes à vontade do "dono".
Então, e se o processo seguir dentro dos trâmites julgados normais, que dividam entre si o que devem à equipa. Isto já sem falar em processos paralelos, colectivo, ou individuais, porque cada um tem o direito de recorrerá Justiça de forma a ver reposta a legalidade.
E quem fugiu à legalidade foi a FPC.
Se todos... Corredores, técnico, massagista, médico, fizerem accionar a defesa dos seus direitos desportivos, e depois porque a razão também está do seu lado, por danos morais e de imagem... derrubam esta direcção da FPC. Que vai ter que vender anéis e dedos e tudo para poder pagar as indemnizações.
Deixem-me deixar aqui um apelo.
Sincero.
Não desistam de defender os vossos direitos.
Jamais o façam.

4 comentários:

Nuno Inácio disse...

E, infelizmente, vai continuar a contar até todos apagarem da sua memória o maior escandalo de ingerencia do ciclismo nacional.

aamorim disse...

É verdade, passaram seis meses...
De realçar a lembrança do jornal "O Jogo". Pena foi a notícia do jornal "A Bola" (direito de resposta). Enfim, diferente formas de abordar o assunto.
Abraço Madeira.

P.Veloso disse...

"Num pais pequeno e de horizontes limitados, onde a mediocridade é uma espécie de medida universal, presume-se que o sucesso não possa ser explicado apenas com competência, trabalho e dedicação..."
Força a Todos os que de perto trabalham com a LA-MSS/Póvoa

Anónimo disse...

Não é só a crise actual que explica o mau momento no ciclismo.

A total passividade e o “deixa andar” deste caso que nunca mais tem a conclusão à vista também deve pesar no eventual não investimento no ciclismo como meio de promoção, afinal uma situação destas pode acontecer a qualquer um quando menos de espera e “lá se vai o investimento”.

Seis meses e nada resolvido é de facto uma autentica vergonha, para não chamr outra coisa.

A todos aqueles que estão a sofrer com este processo, força porque paciência, essa já deve estar mais que esgotada!