sexta-feira, julho 17, 2009

II - Etapa 482

OS MAIS CEGOS SÃO OS QUE NÃO QUEREM VER!...

Esperei, propositadamente, duas semanas para trazer aqui este assunto.
E é, propositadamente, que o abordo hoje.
Oito dias - a última etapa não conta - antes da chegada a Paris.

Não tenho tido muito tempo para seguir a par e passo esta edição do Tour. Claro que nas folgas fico colado à televisão e ao extraordinário trabalho - já nem é elogio, estamos tão habituados de, digo eu, uma década a esta parte - da dupla João Pedro Mendonça/Marco Chagas com quem, todos os dias aprendo mais qualquer coisa.

Mas esperava, por esta altura, que já se tivessem levantado algumas questões.

E elas são tão evidentes. Mais... desde há mais de seis meses que foram sendo plantadas pistas para que, da forma mais subtil possível - foi a única coisa que foi exigida -, a pouco e pouco se fosse abrindo a cortina que, desde o início cobriu a mais falaciosa edição do Tour desde a sua primeira edição.

Atípico!
É a palavra que mais vezes ouvi, quando pude ouvir comentários à corrida.
Mas tudo parece estar a correr normalmente.

Os Pirenéus não fizeram qualquer diferença, muito menos aquela etapa rainha, com Tourmalet e Col d'Aspin pelo meio, mas que terminou 80 quilómetros depois... ao sprint.
E hoje entramos nos Alpes.

Como é possível que, mesmo nas etapas propícias às chegadas ao sprint, as equipas dos sprinters rolem na roda da Astana?

Como é possível um simpático mas amorfo Nocentini, italiano, mas a correr por uma equipa francesa, ande há oito dias de amarelo?

[Sei que não estou a ser totalmente rigoroso, mas estou a apresentar-vos uma teoria e nestas não cabe o rigor, senão um certo feeling... mas não só!]

Mais questões para serem ponderadas...
- Porque é que o ano passado a Astana não foi admitida na Corrida?
- Porque é que, apesar do engulho - que sempre o foi, pelo menos a partir da terceira vitória - este ano com Lance Armstrong as portas lhe fora reabertas?
- Quem é que, para além do trivial, se interessa em procurar informações que as agências noticiosas não dão, ou fazem o mesmo do que aquelas? Dão o que lhes cai no prato!
- Porque é que, aparentemente, a corrida tem de seguir ao ritmo da Astana?
- Quem é que se admira com o fraccionamento da equipa em duas? Ontem [quinta-feira] o Armstrong teve um problema mecânico. Só faltou pedir uma cadeira e uma revista para ir lendo enquanto o problema era resolvido. Uns metros mais à frente, quatro elementos da equipa (mais de metade) encostaram à berma à espera dele.

Como o João Pedro Mendonça disse, e bem, se não é o chefe-de-fila... parece.
Claro que é o chefe-de-fila. E o homem da Astana para ganhar o Tour.

Podem repetir as vezes que quiserem que o Alberto Contador é o melhor Corredor da actualidade. Não duvido. Mas abram os olhos.

Já agora... a quantos controlos anti-doping o Contador foi sujeito nesta edição do Tour? Alguém ouviu ou sabe alguma coisa? O Armstrong parece que é sorteado dia-sim-dia-sim... dá limpo, claro. E é anunciado... pelo próprio!!!

Mas voltemos um pouco atrás... Na etapa de Arcalis o Contador saiu e, tal como havia prometido, Armstrong não reagiu mas, logo na primeira semana e quando de um dia de ventania, abanicos e cortes... o Armstrong ficou - com os seus homens de mão - na frente, enquanto o espanhol perdia tempo.

Este meu exercício não tem nada de irreal.
Aliás... sabe-lo-ão no final os que quiserem reler o que se escreveu nos últimos seis meses.

A ASO é uma máquina de fazer dinheiro. O que havia para ganhar nesta edição já está nos seus cofres, o que era preciso era, ainda que travestida, dar uma imagem de pureza tendo em vista o futuro.

Podem estar certos, não vai haver um único caso positivo neste Tour.
Aposto o meu pescoço.

O que parece que ninguém - porque deixou escapar pistas importantes - deu conta é que, primeiro, nem a presença de Lance Armstrong é tão inocente assim, nem o facto de ele vir a ganhar a Corrida será surpresa. Só para os distraídos...

Outro Tour ganho por um Carlos Sastre qualquer - com o maior respeito que tenho pelo Corredor salamantino - seria um desastre total em termos de audiências, logo, de retornos publicitários.

A presença da Astana, com Lance Armstrong, foi negociada até ao mais ínfimo pormenor. Entre Armstrong e Contador, os franceses preferem que não seja o espanhol a ganhar.

E está está a ser cozido em banho-maria...

Mas não duvidemos da palavra de estadunidense porque ele nunca mentiu.

Está tão seguro de si - é, de facto, um atleta que já conquistou o seu lugar no Olimpo - que vai cumprir à risca o juramento de que não atacará Contador.

Agora saltem para o outro lado, para o do espanhol. Dorme numa cama de faquir e corre cada uma das etapas perseguido por um enxame de vespas. Vai falhar.
Vai fraquejar e perder a Corrida.

E Armstrong dorme tranquilo. Não vai mexer uma palha para prejudicar o seu... chefe-de-fila [com Bruyneel quem acredita nisto?], mas não vai deixar que seja outra equipa a ganhar a Corrida.

Disto já eu sabia há muito. A participação de Lance Armstrong foi negociada e os termos de aceitação dessa negociação só tinham um parágrafo: o vencedor do Tour será ele.

O grave disto tudo, grave para o Ciclismo - mas o Ciclismo não sobrevive sem corridas e corremos o sério risco de passarmos a ter corridas com vencedores antecipados... não, não estou maluco - é que me parece que, para além do acordo com a Astana, foi imposto às demais equipas que... não chateassem muito.

Contra partida... a ASO mete uma cunha e os patrocinadores hão-se aparecer e não acabarão equipas... Na crise em que vivemos, quem se arrisca a sair do atarro?
[É uma palavra alentejana... procurem o significado]

Tirando o facto - que é seguro - de que a presença da Astana tinha que ser com Lance Armstrong, que este, durante os 20 dias de corrida seria sujeito a 15 ou 17 ou 19 controlos... tudo o resto não passa mesmo de um exercício teórico da minha parte.

Daqui a oito dias tiramos a prova dos nove.

PS: Corridas como o Tour, o Giro, a Vuelta, mesmo a Volta a Portugal, não podem ser relatadas. O Ciclismo tem um público próprio, conhecedor, que exige um texto, pequeno que seja, de análise. A etapa já a vimos na televisão.

3 comentários:

Feliciano da Vasa Ferreira disse...

Obviamente o Lance Armstrong é uma boa fonte de receitas directa ou indirectamente!

Mas que grande teoria da conspiração. Atenção existem teorias da conspiração que foram mesmo conspirações!!!!

aamorim disse...

Mais um excelente comentário em defesa do ciclismo!!!
Mais vale assumir em definitivo que o melhor é acabar com a modalidade!!!

Em:
http://www.record.pt/noticia.aspx?idCanal=287c7a92-24ed-46f2-b556-24736888af3e&id=9041f6bb-1b9a-4407-835f-3d1b2b5d0092&comment=sucesso

Eu, tive um ataque de riso com este artigo utópico. Porque será que temos que continuar a aguentar tamanha hipocrisia?

mzmadeira disse...

E aqui deixo outra....

http://www.record.pt/noticia.aspx?id=3fc1fb00-c81b-4bb7-a7af-f210d6f1d6f2&idCanal=287c7a92-24ed-46f2-b556-24736888af3e