sábado, agosto 15, 2009

II - Etapa 504

A VOLTA NUM SÓ DIA!...

Olhando, analiticamente, certo que com o conhecimento do que já se passou nos primeiros oito dias – e tudo poderia estar diferente, quem garante não? -, para esta edição da Volta a Portugal, apetece perguntar:

Porque é que se mandou tanto foguete se, desde o início, era mais do que previsível que a Corrida se decidiria nestes dois dias que faltam?

Embora a questão seja posta por mim, dou a resposta: não queremos ter uma Volta a Portugal com dois dias; com duas etapas.
Mas a verdade é que é isso que acontece.

Haverá quem contra-argumente – e dentro daquilo que eu penso, com todo o a propósito – que estes oito dias, prólogo à parte, serviram, se não para nos indicar quem vai ganhar a Volta, pelo menos para pôr de lado os habitualmente apontados como favoritos à partida, e que, neste momento, já não têm qualquer tipo de possibilidade, nem de chegar ao pódio.
São assim as provas por etapas e são-no para isso mesmo.

Cumprido este intróito, exerçamos um sempre mas mui complicado e arriscado exercício de adivinhação, que mais não podemos fazer.

Temos a experiência que os muitos anos de estrada nos deram e um conhecimento, mais ou menos alicerçado dos potenciais protagonistas.
Refraseio: dos, obrigatoriamente, protagonistas.
E serão eles a ditar o desfecho de mais uma grande Volta a Portugal.
Não há duas equipas com possibilidades de ganhar esta Volta, há quatro.
E, por mais estranho que isso possa parecer, a mais favorita é a que tem – outra vez – o problema mais bicudo para resolver. E o passado não abona a seu favor.

Sejamos pragmáticos, para começar.
A Liberty Seguros tem a liderança, logo, nem que seja por uma questão de simples respeito, merece que a coloquemos como a primeira favorita.
Contudo, e antes de ir ao que constatámos nos últimos dias, recordo que há três anos tinha o Guerra para ganhar a Volta e queimou tudo no Cândido… que, por exemplo, o ano passado teve – assim tivesse havido clarividência suficiente – o Rui Sousa como quase vencedor mas… apostaram no Guerra.
Não ganharam, nem uma, nem outra.

E, mesmo que alguma CS – está a ser tão fraquinha a cobertura desta Volta – insistam em fechar os olhos à evidência, este ano a mesma equipa já teve [não é por acaso que uso o pretérito perfeito] a Volta quase ganha, com o Nuno Ribeiro, mas parem de nos atirar poeira para os olhos… o número 1 – depois do estouro do Guerra – é o Rubén Plaza.
Por causa do crono final, claro.

O Palmeiras-Tavira, pese embora o ano passado, por esta altura estivesse mais coisa menos coisa como agora está… parece-me estar menos segura. Isto porque o David Blanco (e quem sou eu para garantir que não está a fazer bluff?) me parece menos fresco.

Reduzamos a coisa ao crono de amanhã e Blanco tem apenas sete segundos de vantagem sobre Plaza. Mas a subida da Estrela pelo meio.
Pois é!
É bastante motivador este exercício que estou a fazer.
Olhar a tabela, ver as diferenças de tempos, olhar os nomes e tentar adivinhar o que poderá acontecer.
Quem está em segundo lugar atrás do Nuno Ribeiro?
O João Cabreira a apenas sete segundos…
O João apresenta menos argumentos que o Nuno no crono e relembro que, apesar de não ser exactamente um especialista, em 2003 o Nuno foi segundo em Viseu só atrás do super-especialista Claus Möller.
Então, o Loulé-Louletano tem, antes de mais, que eliminar já hoje o Nuno.
Não tem argumentos?
Nada de mais falso.
Tem o Eládio Jimenez, tem o Pedro Lopes, um moiro de trabalho, e tem… vai ser interessantíssimo ver como os DD vão mexer as suas pedras, a Barbot-Siper-Gaia, ‘só’ com o Bruno Pires, o Hélder Oliveira e Sérgio Ribeiro para apoiarem… um senhor trepador e um melhor contra-relogista – já ouvi dizer que está velho, mas tem a mesma idade do David Blanco – que se chama David Bernabéu.
Que até sabe o que é ganhar uma Volta a Portugal.

Sendo que, em condições normais, o David bateria o Cabreira no crono. Logo, uma aliança, ainda que tácita e não assumida, até convinha a Carlos Pereira.

Pois, e falta o Palmeiras-Tavira.
Vi ontem, como vocês todos viram, o Krassimir Vasilev, numas… ‘iniciativas meio parvas’.
Terá sido isso?

Quero dizer… pareceu a todos, mas os mais avisados não desconfiaram de nada?
O Krassimir, profissional a 200% é um co-equipier de luxo. E já foi Rei da Montanha – o que escapou aos colegas da RTP, hoje, quando falaram dele – na Volta a Portugal.
E na Serra da Estrela.
E o André Cardoso?
E o Nélson Vitorino?
Mesmo o Ricardo Mestre que já deve estar mais ou menos recuperado dos azares dos primeiros dias?
E a abnegação e espírito de equipa que ninguém negará ao Cândido Barbosa?
Sou, sempre fui e até me orgulho disso, péssimo aluno nas matemáticas… mas adoro o Ciclismo. E vejo aqui tantas incógnitas que nada me arrancará da frente do televisor, daqui a algumas horas.

E – confesso-o aqui – guardo um segredo que poucos saberão.

O Américo Silva, e sempre fomos amigos, pese embora engrosse o ‘pelotão’ dos que me esqueceram [envenenado por quantas mentiras?, não sou ingénuo], nunca foi – e isto vem desde o tempo em que eu andava na estrada e pudemos discutir cara a cara – grande estratega.
A táctica da Liberty Seguros, para daqui a pouco, é mais fácil de adivinhar do que as fugas de informação na PGR quando é pra tramar alguém.

O Plaza vai marcar o Blanco, e vai ter com ele os escudeiros-mor da equipa.


O Nuno vai ficar entregue a ele próprio apesar das declarações que ouvimos, logo após a etapa da Senhora da Graça, e cito, de cor, o Américo Silva: “O Nuno Ribeiro é o nosso candidato”.
Para na etapa seguinte – ainda que com o dia de descanso a meio – termos assistidos, eu, pessoalmente, confesso, que perplexo, ao facto de o Rubén Plaza se ter ‘escondido’ no aconchego do grupo, mesmo quando o Nuno procurava uma referência, um apoio, até porque o João Cabreira não o largava e, acredito, nem ter visto passar o Plaza que, em vez de estar desde o início da subida a ajudar, volto a citar para não ser mal interpretado, “o nosso candidato”, o deixou para trás para até festejar, não só o punhado de segundos que conseguiu à força das suas pernas, mas também os 12 de bonificação… por ignorar que a etapa já fora ganha.

Tenho pena, muita pena, pelo Nuno, como o ano passado tive pelo Rui Sousa que podia ter ganho a Volta na Torre não fosse ter sido a sua própria equipa a reduzir vantagens por causa de uns estoirados Rubén Plaza e José Azevedo…

E hoje vai acontecer o mesmo.
Há corredores de quatro equipas que ainda podem ganhar esta Volta.

O que tem menos possibilidades, face ao crono, é o João Cabreira, mas ganhar na Senhora da Graça, depois ter o Eládio Jimenez a ganho na Senhora da Assunção – se poder ganhar na Torre, mesmo com ajudas externas, a equipa de Loulé ganha as três principais etapas – e quase de certeza a Volta, colectivamente – seria assim qualquer coisa como sair o EuroMilhões à formação e Jorge Piedade.

E vai aceitar a ajuda de que esquadra?
E ambas são de peso… da Barbot, ou do Tavira?...

Certo é que será contra estas três citadas que Américo Silva vai ter que delinear a sua própria estratégia. E nunca nos enganou…

Não é o Nuno Ribeiro o número um.
Que vença o melhor, e que tenhamos uma gloriosa jornada de Ciclismo.

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